Antônio
Conselheiro
Aniversário
de nascimento
13/03/1830
– 13/03/2015
185
anos
A única foto
conhecida de Antônio Conselheiro, místico rebelde e líder espiritual do arraial
de Canudos (1893-1897), Bahia, Brasil. Foto tirada duas semanas após sua morte,
pelo fotógrafo Flávio de Barros, a serviço do Exército.
Nascimento 13 de março de 1830
Vila do Campo Maior
Morte 22
de setembro de 1897 (67 anos)
Ocupação Líder social
Antônio Vicente
Mendes Maciel (Quixeramobim, 13 de março de 1830 — Canudos, 22 de setembro de
1897), mais conhecido na História do Brasil como Antônio Conselheiro, que se
autodenominava "o peregrino”, foi um líder religioso brasileiro.
Figura carismática
adquiriu uma dimensão messiânica ao liderar o arraial de Canudos, um pequeno
vilarejo no sertão da Bahia, que atraiu milhares de sertanejos, entre
camponeses, índios e escravos recém-libertos, e que foi destruído pelo Exército
da República na chamada Guerra de Canudos em 1896.
A imprensa dos
primeiros anos da República e muitos historiadores, para justificar o
genocídio, retrataram-no como um louco, fanático religioso e contrarrevolucionário
monarquista perigoso.
Antônio Vicente
Mendes Maciel nasceu em 13 de março de 1830, na cidade de Quixeramobim,
interior do Ceará, então um pequeno povoado perdido em meio à caatinga do
sertão central da paupérrima província do "Ceará Grande". Desde o início
da vida, seus pais queriam que Antônio seguisse a carreira sacerdotal, pois
entrar para o clero era naquela época uma das poucas brechas que os pobres
teriam para ascender socialmente. Com a morte de sua mãe, em 1834, a meta de
transformar Antônio Vicente em padre tem seu fim. Seu pai casa-se novamente; há
registros de que a madrasta espancava e maltratava o menino severamente[carece
de fontes].
1855 – Morre o pai de Antônio, e ele é
obrigado a abandonar os estudos e assumir o comércio da família aos 25 anos de
idade; malogram de vez quaisquer sonhos sacerdotais. Estes negócios não vão
nada bem (mais tarde Antônio será processado devido a não quitação de suas
dívidas)[carece de fontes].
A Revista
Ilustrada, de Angelo Agostini, veículo de propaganda republicana durante o
Império, retratava Conselheiro de forma caricatural, com séqüito de bufões
armados com velhos bacamartes, tentando "barrar" a República.
Exemplo de como a
imprensa da época reagiu ao messianismo.
Em 1857 Antônio
casa-se com Brasilina Laurentina de Lima, jovem filha de um tio seu. No ano
seguinte, o jovem casal muda-se para Sobral, onde Antônio Vicente passa a viver
como professor do primário, dando aulas para os filhos dos comerciantes e
fazendeiros da região, e mais tarde como advogado prático, defendendo os pobres
e desvalidos em troca de pequena remuneração. Passa a mudar-se constantemente,
em busca de melhores mercados para seus ofícios; primeiro vai para Campo Grande
(atual Guaraciaba do Norte), depois Santa Quitéria e finalmente Ipu, então um
pequeno povoado localizado bem na divisa entre os sertões pecuaristas e a
fértil Serra da Ibiapaba.
1861 - Flagra a sua mulher em traição
conjugal com um sargento de polícia em sua residência na Vila do Ipu Grande.
Envergonhado, humilhado e abatido, abandona o Ipu e vai procurar abrigo nos
sertões do Cariri, já naquela época um pólo de atração para penitentes e
flagelados, iniciando aí uma vida de peregrinações pelos sertões do nordeste.
1874 - No Sergipe, o jornal O Rabudo
traz a primeira menção pública de Antônio Maciel como penitente conhecido nos
sertões: Há seis meses que por todo o centro desta Província e da Província da
Bahia, chegado (diz ele) do Ceará, infesta um aventureiro santarrão que se
apelida por Antonio dos Mares. O que, a vista dos aparentes e mentirosos
milagres que dizem ter ele feito, tem dado lugar a que o povo o trate por S.
Antônio dos Mares. Esse misterioso personagem, trajando uma enorme camisa azul
que lhe serve de hábito a forma do de sacerdote, pessimamente suja, cabelos mui
espessos e sebosos entre os quais se vê claramente uma espantosa multidão de
bichos (piolhos). Distingue-se pelo ar misterioso, olhos baços, tez desbotada e
de pés nus; o que tudo concorre para o tornar a figura mais degradante do
mundo. (O Rabudo, 22 de Novembro de 1874)
1876 - Já famoso como "homem
santo" e peregrino, Antônio Conselheiro é preso nos sertões da Bahia, pois
corre o boato de que ele teria matado mãe e esposa. É levado para o Ceará, onde
se conclui que não há nenhum indício contra a sua pessoa: sua mãe havia morrido
quando ele tinha seis anos. Antônio Conselheiro é posto em liberdade e retorna
à Bahia.
1877 - O Nordeste do Brasil passa por uma das
mais calamitosas secas de sua história; levas de flagelados perambulam famintos
pelas estradas em busca de socorro governamental ou de ajuda divina; bandos
armados de criminosos e flagelados promovem justiça social "com as
próprias mãos" assaltando fazendas e pequenos lugarejos, pois pela ética
dos desesperados "roubar para matar a fome não é crime". Cresce a
notoriedade da figura de Antônio Conselheiro entre os sertanejos pobres; para
eles, Antônio Conselheiro, ou o "Bom Jesus", como também passa a ser
chamado, seria uma figura santa, um profeta enviado por "Deus" para
socorrê-los.
1888 – Fim da escravidão; muitos
ex-escravos, libertos e expulsos das fazendas onde trabalhavam sem ter então
nenhum meio de subsistência, partem em busca de Conselheiro.
1893 – Cansado de tanto peregrinar
pelos sertões e então sendo um "fora da lei", Conselheiro decide se
fixar à margem Norte do Rio Vaza-Barris, num pequeno arraial chamado Canudos.4
Nasce ali uma experiência extraordinária: em Belo Monte (como a rebatizou
Antônio Conselheiro, apesar de encontrar-se num vale cercado de colinas), os
desabrigados do sertão e as vítimas da seca eram recebidos de braços abertos
pelo peregrino. uma comunidade onde todos tinham acesso à terra e ao trabalho
sem sofrer as agruras dos capatazes das fazendas tradicionais. Um "lugar
santo", segundo os seus adeptos. Os grandes fazendeiros e o clero sentem
que seu poder está sendo ameaçado, e começam a se articular em busca de uma
"solução" ao problema.
1896 – Ocorre o episódio que
desencadeia a Guerra de Canudos: em 24 de novembro deste ano, é enviada a
primeira expedição militar contra Canudos, sob comando do Tenente Pires
Ferreira. Mas a tropa é surpreendida pelos "fanáticos" de Antônio
Conselheiro, durante a madrugada, em Uauá. Após uma luta corpo-a-corpo são
contados mais de cento e cinquenta cadáveres de conselheiristas. Do lado do
exército morreram oito militares e dois guias. Estas perdas, embora
consideradas insignificantes quanto ao número nas palavras do comandante,
ocasionaram o retiro das tropas. Em 29 de dezembro de 1896 tem início uma
segunda expedição militar contra Canudos.3 Assim como a primeira, esta
expedição foi violentamente debelada pelos conselheiristas.
1897 – Tem início a terceira expedição
contra Canudos; comandada pelo capitão Antônio Moreira César, conhecido como
"o Corta-Cabeças", por suas façanhas "heróicas" na
Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul. Mas, acostumado aos combates
tradicionais, Moreira César não estava preparado para eliminar Canudos, e foi
abatido por tiros certeiros de homens leais a Antônio Conselheiro. A tropa foge
em debandada, deixando para trás armamentos e munição. Para os conselheiristas,
trata-se de uma prova cabal da "santidade" do beato de Belo Monte. Em
5 de abril de 1897 tem início a quarta e última expedição contra Canudos; desta
vez o cerco foi implacável; até muitos dos que se rendiam foram mortos;
eliminar Canudos e seus "fanáticos habitantes" tornou-se uma questão
de honra para o exército.
22 de setembro de 1897 - Morre Antônio
Conselheiro. Não se sabe ao certo qual foi a causa de sua morte. As razões mais
citadas são ferimentos causados por uma granada, e uma forte
"caminheira" (disenteria).
5 de outubro de 1897 - São mortos os
últimos defensores de Canudos, e o exército inicia a contagem das casas do
arraial.
6 de outubro de 1897 - O cadáver de
Antônio Conselheiro é encontrado enterrado no Santuário de Canudos sua cabeça é
cortada e levada até a Faculdade de Medicina de Salvador para ser examinada
pelo Dr. Nina Rodrigues, pois para a ciência da época, "a loucura, a
demência e o fanatismo" deveriam estar estampados nos traços de seu rosto
e crânio. O arraial de Canudos é completamente destruído.
3 de março de 1905 - Um incêndio na
antiga Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, em Salvador (BA), destrói a
cabeça de Antônio Conselheiro, que lá se encontrava desde o final da guerra de
Canudos, em outubro de 1897.
O diagnóstico de
louco, mais especificamente de portador de uma Psicose sistemática progressiva
(termo equivalente ao delírio crônico proposto por Magnan) e a paranóia dos
italianos, (referindo-se à Eugênio Tanzi e Gaetano Riva) por uma célebre
autoridade sanitária da época, o Dr. Nina Rodrigues (1862 - 1906), no qual se
fundamentaram os escritos da época (inclusive de Euclides da Cunha), ainda hoje
se constitui como um entrave para o reconhecimento de seu mérito como líder
comunitário empreendedor, responsável pela organização de mais de 24 mil
pessoas em um ambiente extremamente adverso (Martins 6 ) e até mesmo como um
homem religioso com verdadeiros ideais cristãos como se propunha a ser.
A pecha de
loucura e fanatismo com os conceitos da época de psicologia das multidões
inspiradas na obra de Gustave Le Bon (1841—1931) também são responsáveis por
toda uma lógica de interpretação das revoltas sociais como ocasionadas por
influência de uma personalidade psicopática, a insanidade moral proposta por
Henry Maudsley (1835–1918), num ambiente de ignorância, pobreza ou
degenerescência tal como se designava na época, incluindo entre esses fatores
psicossociais características biológico raciais.
Há dois centros
culturais relacionados à Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos. Um
localizado em Quixeramobim no interior do Ceará, conta a história de seu
conterrâneo, está situado no centro da cidade, próximo ao Banco do Brasil. O
outro situado em Canudos, Bahia, criado pelo Decreto 33.333, de 30 de junho de
1986, (publicado no Diário Oficial de 1º de julho) mantido e administrado em
parceria com a UNEB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário