sexta-feira, 4 de setembro de 2020

 

O VELHO CHICO

 

Agrº. João Henriques

 

 

La vem o Velho Chico descendo dos contrafortes da serra da Canastra, numa longa e constante caminhada, cortando o planalto central, varando as caatingas secas, despenhando-se em Paulo Afonso, para trazer-nos as suas águas límpidas ou barrentas e férteis. E o Velho Chico, no salto da cachoeira, nos manda também a energia, no impulso das suas águas, naqueles oitenta metros de queda. E depois de transpor a garganta das corredeiras, espraia-se e corre manso entre os barrancos que se distanciam à medida que se aproxima do litoral. E mais largo e mais tranquilo, refluindo nos remansos, vem, afinal, derivando as suas águas para as várzeas e lagoas, as terras dos farturosos arrozais.

Mas o Velho Chico de nossa intimidade, é ainda um rio inconformado, inconformado porque não cumpriu a sua destinação. Não nasceu e avolumou-se para ser tragado pelo mar.

O São Francisco, Deus o criou para a integração política, social e econômica nacional. Abriu-lhe caminho pelos sertões, para que os brasileiros pudessem conquistar as imensas áreas de sua dilatada bacia fluvial e aí florescesse uma civilização dinâmica, fundamentada no sulco dos arados, na hidroeletricidade e, sobretudo, na irrigação.

A energia hidrelétrica, já percorre sertões, caatingas e litorais, iluminando cidades, impulsionando industrias, criando riquezas, dinamizando atividades. Mas a utilização de suas águas no amanho do solo, na implantação da agricultura intensiva, está ainda na sua fase primaria. O barraqueiro não se apercebeu ainda do imenso potencial que são as águas do Velho Chico, fator de desenvolvimento das atividades rurais. E no dia em que com a energia hidrelétrica do próprio rio, as águas subirem as barrancas e as terras não sentirem mais sede e os campos se conservarem sempre verdes e exuberante, esta região privilegiada, tornar-se-á maior celeiro deste nordeste. E o lavrador e o criador verão que as águas do São Francisco, são, na verdade, um manancial de ouro líquido que ainda está esperando pelas bateias do lavrador.

No dia em que cada agricultor ribeirinho tiver a sua moto bomba molhando as terras que cultiva, sem se preocupar que venham ou não as chuvas, então o rio são Francisco, o nosso Velho Chico, sentirá cumprida a sua predestinada missão – Irrigar.

Quando o Velho Chico transborda, inundando as terras dos combros, e aí deixando a sua “colha” que enriquece o solo e aumenta as colheitas, ele nos dá uma boa lição, fazendo lembrar e sugerindo o seu aproveitamento na irrigação dessas extensas áreas ribeirinhas, de produção intermitente e escassa.

O rio sobe, o rio desce, estala o verão, as terras se ressecam, as lavouras definham, as pastagens se empobrece e as águas vão passando como se delas não precisássemos, como se não fossem a maior riqueza do lavrador ribeirinho.

 

            Penedo, 04 de setembro de 1965