TRISTE REALIDADE
Etanol - beco
sem saída
21 de janeiro de 2014 | 2h 07
Xico Graziano*
O Estado de São Paulo
Pasmem:
o Brasil está importando etanol dos Estados Unidos! O país que inventou o
Proálcool, pátria dos veículos flex, o maior produtor mundial de
cana-de-açúcar, anda de marcha à ré no combustível renovável. Primeiro incentivou,
depois maltratou sua destilaria, dando prioridade à poluente gasolina. Um
vexame internacional.
Navios
carregados de álcool anidro norte-americano começaram a descarregar 100 milhões
de litros no Porto de Itaqui (Maranhão). É somente o começo, destinado ao
abastecimento do Nordeste. No total, as importações serão bem mais volumosas.
Para facilitar, o governo Dilma desonerou de impostos (PIS e COFINS) as compras
de etanol no exterior, dando um tapa na cara dos produtores nacionais. Surreal.
Há
décadas, na agenda planetária os combustíveis renováveis começaram a se impor
nos transportes, preliminarmente, por causa do encarecimento do petróleo.
Recentemente, com a ameaça do aquecimento global, nações investiram na busca de
energias alternativas, ambientalmente vantajosas diante das de origem fóssil. O
sonho dos países desenvolvidos, liderados pela Europa, é esverdear sua matriz
energética utilizando fontes solares, eólicas ou oriundas da biomassa. Todos
avançaram nas energias chamadas limpas. Aqui andamos para trás.
Tudo
caminhava bem. Eleito o PT, no seu primeiro mandato o presidente Lula recebeu
George W. Bush usando o boné dos usineiros. Interessado em abastecer o
crescente mercado dos Estados Unidos, o setor sucroalcooleiro nacional estava
animado. O etanol brasileiro, mais competitivo, ganharia o mundo. Nesse
contexto vitorioso, as montadoras lançaram, em 2003, os carros flex, dando mais
segurança aos consumidores. Em cinco anos a quilometragem rodada por veículos
movidos a etanol ultrapassou os a gasolina, trazendo grande vantagem ecológica.
Segundo Décio Gazzoni (Embrapa), especialista em agroenergia, as emissões
líquidas de CO2 equivalente causada pela queima de um litro de etanol somam
apenas 400 gramas, ante 2.220 gramas da gasolina. Além da redução do
desmatamento na Amazônia, o País também contribuía para a agenda do clima
reduzindo as emissões de CO2 na atmosfera em razão do efeito substituição da
gasolina pelo etanol. Show de bola.
A
partir de 2009, surpreendentemente, entramos na contramão da História. Uma
trágica concepção da política pública levou o governo Lula a dar prioridade à a
gasolina da Petrobrás, em detrimento do álcool combustível. Ninguém sabe
explicar ao certo os motivos dessa reversão. Houve, isso é patente, uma
contenção artificial dos preços da gasolina, impedindo, por tabela, o etanol de
remunerar seus custos de produção. Pode ter segurado a inflação. Mas quebrou a
Petrobrás e faliu o setor sucroenergético nacional. Ao invés de dominar o
mercado exportador, o Brasil tornou-se importador de etanol. De milho.
Influenciados
pelo movimento ambientalista, os norte-americanos, na Califórnia especialmente,
decidiram apostar no combustível alternativo. Sua acertada escolha, porém,
exigiu uma mudança técnica com relação ao Brasil: utilizar o grão de milho, e
não o caldo da cana-de-açúcar, nas destilarias. Por que razão? Acontece que o
cultivo da cana-de-açúcar é próprio das regiões tropicais, onde as lavouras
permanecem no terreno por vários anos, sucessivamente colhidas. Nos países temperados,
o frio intenso do inverno interrompe o cultivo contínuo dos campos.
Do
Golfo do México para cima, geograficamente, as condições climáticas tornam-se
restritivas para as espécies vegetais cultivadas de forma
"semipermanente", como a cana. Somente sobrevivem ao período gelado
as plantas que perdem as folhas sazonalmente, como as frutíferas, por exemplo.
Ou certas árvores adaptadas, como os pinheiros. Basta olhar as recentes
tempestades de neve nos EUA para verificar a interrupção do ciclo agrícola.
Nenhum canavial resistiria àquelas baixas temperaturas.
Sobrou
para os gringos triturarem o milho nas destilarias. Colhidas as lavouras e
estocados os grãos, o armazenamento permite estender seu consumo meses afora.
Montanhas de milho aguardam a hora de ser moídas e fermentadas nas dornas,
produzindo o álcool que o mundo adotou como etanol.
Qualquer
matéria-prima contendo açúcares ou carboidratos pode sofrer fermentação. Nesse
processo químico-biológico, conduzido por bactérias em condições anaeróbicas, o
rendimento final é variável. É aqui que o etanol brasileiro vence de goleada
seu similar oriundo do milho. Na média, um hectare plantado com cana gera 7.200
litros de etanol; com milho, a mesma área produz 3.100 litros. Essa maior
produtividade energética se reflete nos custos e na contabilidade ambiental. Em
2009 a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos divulgou parecer
comprovando que o uso do etanol de cana como substituto da gasolina permitiria
uma redução de 44% nas emissões de gases-estufa. Com o milho, cairia para
apenas 16%. Tudo conspirou a favor do Brasil.
Mas
saiu errado. Após um período de forte expansão, com grandes investimentos,
chegou a pasmaceira, seguida da quebradeira. Em vez do sucesso, seguiu-se o
desânimo. Os carros flex passaram a encher o tanque com gasolina. No interior
do País, entre 385 unidades, 100 encontram-se endividadas, praticamente
paralisadas ou fecharam as portas. Dezenas de projetos nem saíram do papel.
Frustração total.
Lula, em nome do
populismo, destruiu uma das maiores invenções brasileira. As importações de
etanol de milho do Brasil configuram o maior fracasso mundial de uma política
pública na área da energia renovável. Dilma Rousseff, pregressa ministra de
Energia, adota discursos contemporizadores. Está, na verdade, num beco sem
saída.
*Xico Graziano é
agrônomo, foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado
de São Paulo. E-mail: xicograziano@terra.com.br
Nota do postador**:
Parece a História do
Pavão Misterioso*. Lembra-me o começo da tentativa da revolução cubana (que ainda
nunca acabou), onde milhares de pessoas naquela ilha eram obrigadas a prestar
quatro horas de trabalho nos canaviais, sem nenhuma remuneração. Cuba queria
ser o maior produtor de açúcar do mundo. Até que na minha inocência, também acreditei.
Hoje vejo a desgraça que se encontra aquele povo. Será que o governo do PT não vai
fazer como o problema dos médicos? Trazer escravos para cortar canas aqui, (eles
possuem muita pratica) já que o Ministério do Trabalho e outros órgãos de
defesa humanitária tentam dificultar o trabalho honesto dos nossos homens e
mulheres no corte da cana, alegando ser muito perigoso e criando tantas besteiras
que por trás deve existir algo misterioso.
*O romance do pavão
misterioso da autoria de José Camelo de Melo Rezende, é um clássico dos
Cordéis.
**O postador é historiador
Positivista.