José
Peregrino era um rapaz pacato, atencioso, trabalhador e bom filho. Morava num
povoado chamado Carrapicho à beira de um grande rio. Porém, muito acanhada no
seu desenvolvimento econômico e social, o que sempre acontece com essas cidades
que são satélites de outras mais desenvolvidas.
O cara
era muito estudioso e sempre sonhava em ser bancário; Banco do Brasil e Banco
do Nordeste, os dois melhores empregos que existiam por aquelas bandas.
Estudava
dia e noite nas Apostilas vendidas nos Correios, onde todos os anos adequaria
as atualizadas, esperando os concursos dos dois bancos. Sempre era reprovado.
Mas, não desistia do seu grande sonho.
Os
amigos os chamavam para participara de festinhas, bate-papos no coreto da pracinha.
Achavam que o cabra era abilolado. Não
tinha acordo, não tinha tempo nem para namorar. Tinha que estudar para os
concursos que já estavam sendo novamente anunciado pelas rádios da região.
Seu
pai artesão de cerâmica sempre contradizia essa sua mania.
-
Filho. Venha me ajudar a amassar o barro e aprender uma arte honesta. Essa
mania de viver com a cara metida nesses livros não vai levar a lugar algum.
Precisamos aumenta a nossa produção e eu sozinho com sua mãe não estamos mais aguentando.
De vez enquanto dava na veneta e participava na olaria nos serviços mais
pesados, não tinha aprendido a arte dos pais. Modelagem de jarros, quartinhas,
potes, comedores para aves, alguidares de todos tamanhos e mais uma infinidade
utensílios tirado do barro amarelado da região. Era um dos mais procurados pelo
bom acabamento.
Sempre
ouvia dos colegas e da família que tivesse mais fé em Deus e nos santos. Sua
mãe sempre rezava e aconselhava sobre esse assunto religioso e a importância da
fé naqueles que as pessoas não veem, porém existem de verdade.
- Meu
filho, tome meus conselhos vá procurar o frei Simão lá em Penedo, converse com
ele, se confesse, conte seus sonhos de vida. Ele é um homem muito sábio, quase
um milagreiro.
Peregrino,
pegou uma lancha, atravessou o rio e foi bater na igreja Nossa Senhora da
Corrente. Entrou e sentou-se num dos bancos antigos, esperando que alguém
aparecesse. Certo tempo depois, aparece uma senhora vindo lá dos fundos com um
espanador, limpando as imagens nos seus nichos.
-
Minha senhora eu queria falar com o frei Simão, ele está?
- Está
terminando suas obrigações e daqui a pouco aparece. Sente-se aí e espere.
Logo
mais aparece um sujeito muito esquisito, vestindo uma batina marrom, de
cavanhaque ruivo, careca de cima a baixo, uns olhos esbugalhados, alpercatas de
couro, um rosário do tamanho do mundo amarrado na cintura.
-
Pronto frei Simão, esse rapaz que falar com o senhor.
- Diga
meu filho o que deseja?
-
Minha mãe mandou que eu viesse falar com o senhor sobre como fazer uma
promessa. Estou estudando para concurso dos bancos há muito tempo e ainda não
consegui êxito. Aí minha mãe que sempre se confessa com o senhor e pediu que eu
falasse contando meus sonhos de trabalhar em banco para ver se Deus me ajudava
a passar nas provas.
- Vá ali para o confessionário!
Peregrino
continuou sua vida do mesmo jeito. Estudos, olaria e agora não perdia uma missa
na igreja do Frei Simão.
Até que enfim marcaram o dia do novo concurso.
O cabra preparou-se logo cedo e partiu para a cidade vizinha onde seria
realizado as provas. Mês depois saiu o resultado.
Aprovado!!!
O
cabra quase endoidece de tanta alegria, saía gritando sua vitória. De casa em
casa, de rua em rua. Todos davam parabéns pela vitória depois de tantas
derrotas.
O
tempo foi passando e as pessoas logo se esqueceram da vida de Peregrino. O
homem desaparecera das ruas e da vida na vila de Carrapicho Estrelado. Todos
pensavam que tinha sido nomeado para uma cidade longe, fora do Estado talvez.
Benevides,
antigo amigo e as vezes crítico e metido a gaiato, um dia foi passar uma semana
na capital Maceió e participar do conhecido banho de mar a fantasia, festa
realizada no carnaval.
Como
todo turista, Benevides, após a ressaca da festa, começou a visitar os pontos
importantes da cidade. Praias, Lagoas, monumentos, prédios governamentais, suas
igrejas e conventos.
Entra
no Convento Sagrado Coração de Jesus, convento dos Capuchinhos, que estava
completamente vazia e num silencio sepulcral. Senta-se num dos bancos e fica
orando com os olhos fechados. De repente ouve passos arrastados e abre os
olhos. Depara-se com um frade de batina marrom, barba fechada, cabisbaixo e
agarrado num rosário enorme, debulhando as Ave-Marias e os Pais-Nossos. Ao se
aproximar mais um pouco, Benevides tem um susto medonho ao ver aquela cara.
-
Peregrino, é você meu amigo ou estou sonhando acordado?
O
frade que estava muito compenetrado, também se assustou com a indagação.
Virando-se em direção ao banco onde se encontrava Benevides disse.
- Meu
velho amigo, o que o trazes aqui? Sou eu mesmo!
- Mas
homem, o que está fazendo nessa batina, e o banco?
Apertaram
as mãos e o frade sentou-se ao lado do amigo.
- É
uma história difícil de contar. Minha mãe pediu que fosse me confessar com o
frei Simão e contasse sobre minha situação nos estudos.
Ele
muito gentilmente disse que era falta de fé e que eu fizesse uma promessa muito
difícil de pagar para alcançar minha graça. Assim fiz!
Prometi
a meu Deus, a Nossa Senhora e ao Santo Antônio de Pádua que se passasse no
concurso eu iria virar frade e aí está a promessa cumprida. Promessa é
promessa!