sábado, 24 de junho de 2023

3º CADERNO DO AGRICULTOR

 

3° - CADERNO DO AGRICULTOR

CAÇAS E CAÇADAS

Agroº. João Henriques

 

            Creio que todos estão percebendo o desaparecimento mais ou menos rápido de nossas espécies de animais silvestres. Aliás, não poderia ser de outra formar se não respeitamos as determinações do Estatuto da Caça e Pesca, que fixa a época das caçadas. E o objetivo da lei é justamente impedir que se matem os animais na fase de reprodução, evitando, pelo menos assim, que as espécies desapareçam, como já aconteceu com algumas em certas zonas. As emas, os veados, as perdizes e codornas, as pacas, os urús, as seriemas, os jacus, os tatus verdadeiros e outros animais úteis, já se tornaram raridades em muitos lugares ou mesmo não mais existem. E nas zonas onde ainda são encontrados, a perseguição é constante, tendendo também a exterminá-los. Torna-se, por isso urgente, inadiável, por em execução o Código de Caça e Pesca, como medida de proteção à nossa fauna silvestre. E não se justifica de forma alguma essa exploração desregrada de nossos mais belos recursos naturais. E não é razoável e nem justo que depredemos as riquezas naturais e deixemos como herança aos nossos descendentes, uma natureza espoliada, dilapidada, arrasada.

Há os que caçam para se alimentar e aqueles que o fazem por simples esporte, como uma diversão, para mostrar a perícia da pontaria. E por esses esportes detestáveis, pagam os inocentes animais, que vivem nas selvas e nos campos, sem nos dar preocupação e, ao contrário, muitos deles de grande utilidade à agricultura.

O hábito de caçar nos veio dos tempos primitivos quando a agricultura ainda não existia ou era rudimentar. O homem vivia da caça, da pesca e de outros recursos naturais, então abundantíssimos. Os processos de caça, porém, eram também rudimentares e resumiam-se a armadilhas e as setas dos índios, impotentes para a exterminação das espécies. A espingarda, porém, da qual há quem possua coleção, é rápida e mortífera, indo buscar ao longe, ora correndo, ora no voo.

Data: Num pretérito, muito passado.

 

quarta-feira, 21 de junho de 2023

 

2° - CADERNO DO AGRICULTOR

AGRONÔMO JOÃO HENRIQUES

PÁSSAROS E INSETOS

 

Segundo a opinião dos naturalistas, o mundo vegetal seria destruído pelos insetos se não fosse continuamente defendido pelos pássaros e outros pequenos animais. Na verdade, a imensa proliferação dos insetos, cobriria a terra e encheria o espaço, se não fossem eles intensamente perseguidos e destruídos pelos seus inimigos naturais. Para se ter uma ideia, basta lembrar que um casal, apenas, do caruncho do milho, arroz e trigo, conhecido cientificamente por sitophilus crysae, em 15 gerações, produzira cerca de 1.000.000 de novos insetos. Sabendo-se que um saco de milho contém aproximadamente, 200.000 grãos, dentro de 5 meses, destruiriam eles, pelos menos 5 sacos de milho, considerando-se, unicamente, uma semente para cada caruncho... E observando a rapidez com que as lagartas destroem os arrozais, os milharais e aos algodoais e as culturas de maracujá, quando, quase sempre, o lavrador nem sequer se apercebe que as borboletas e mariposas estão fazendo solertemente, a sua postura. Aparentemente, alguns insetozinhos, apenas, esvoaçando entre as culturas, não oferece perigo. E é por isso que a crendice popular supões que as lagartas se originam espontaneamente, que saem da terra ou de qualquer lugar misterioso. Mas é que cada borboleta, cada mariposa deposita seguidamente, nas folhas das plantas, dezenas ou centenas de ovos que, dias depois, eclodem, dando origem a milhares e milhões de larvas.

Um só formigueiro possui até 2.000.000 de formigas, número igual à população de uma grande cidade.

Os agricultores procuram combatê-las, protegendo, assim, as suas culturas. Mas, ai de nós, se não fossem os pássaros e outros pequenos animais que as perseguem ininterruptamente, caçando-as como alimento. Há pássaros que destroem uma quantidade impressionante de insetos adultos e larvas e muitas espécies criam os seus filhotes quase exclusivamente com larvas de insetos. Os tatus, os tamanduás, os bem-te-vis, as galinhas, as andorinhas e os sapos, por exemplo, são grandes amigos do lavrador. O número desses protetores naturais da agricultura, é imenso e não caberia aqui cita-los. As galinhas, todos sabem, não poupam as formigas e muitas larvas do solo.

Como se vê, o agricultor deve, por todos os meios ao seu alcance, proteger a fauna, isto é, os pássaros e outros pequenos animais, pois, assim estará protegendo a flora e as suas lavouras, em suma, a suas economias e o bem estar da humanidade.

Eles nos ajudam a manter o equilíbrio biológico da natureza.

 

Data: Num pretérito, muito passado.

domingo, 18 de junho de 2023

1º - CADERNO DO AGRICULTOR

 

PRIMEIRO - CADERNO DO AGRICULTOR

Agrº. João Henriques

 

Lá vem o Velho chico descendo dos contrafortes da serra da Canastra, numa longa e constante caminhada, cortando o planalto-central, varando as caatingas secas, despenhando-se em Paulo Afonso, para trazer-nos as suas águas límpidas ou barrentas e férteis. E o Velho Chico, no salto da cachoeira, nos manda também a energia, no impulso das suas águas, naqueles 80 metros de queda. E depois de transpor a garganta das corredeiras, espraia-se e corre manso entre os barrancos que se distancia à medida que se aproxima do litoral. E mais largo e mais tranquilo, refluindo nos remansos, vem, afinal, derivando as suas águas para as várgeas e lagoas, as terras dos farturosos arrozais.

Mas o Velho Chico de nossa intimidade, é ainda um rio inconformado, inconformado porque não cumpriu a sua destinação. Não nasceu e avolumou-se para ser tragado pelo mar.

O São Francisco, Deus o criou para a integração política, social e econômica nacional. Abriu-lhe caminho pelos sertões, para que os brasileiros pudessem conquistar as imensas áreas de sua dilatada bacia fluvial e aí florescesse uma civilização dinâmica, fundamentada no sulco dos arados, na hidroeletricidade e, sobretudo, na irrigação.

A energia hidrelétrica, já percorre sertões, caatingas e litorais, iluminando cidades, impulsionando industrias, criando riquezas, dinamizando atividades. Mas a utilização de suas águas no amanho do solo, na implantação de agricultura intensiva, está ainda na sua fase primaria. O barranqueiro não se apercebeu ainda do imenso potencial que são as águas do Velho Chico, fator de desenvolvimento das atividades rurais. E no dia em que com a energia hidrelétrica do próprio rio, as águas subirem as barrancas e as terras não sentirem mais a sede e os campos se conservarem sempre verdes e exuberantes, esta região privilegiada, tornar-se-á o maior celeiro deste nordeste. E o lavrador e o criador verão que as águas do São Francisco, são, na verdade, um manancial de ouro líquido que ainda está esperando pelas bateias do lavrador.

No dia em que cada agricultor ribeirinho tiver a sua motobomba molhando as terras que cultiva, sem se preocupar que venham ou não as chuvas, então o rio São Francisco, o nosso Velho Chico, sentirá cumprida a sua predestinada missão – IRRIGAR.

Quando o Velho Chico transbordar, inundando as terras dos combros, e aí deixando a sua “colha” que enriquece o solo e aumenta as colheitas, ele nos dá uma boa lição, fazendo lembrar e sugerindo o seu aproveitamento na irrigação dessas extensas áreas ribeirinhas, de produção intermitente e escassa.

O rio sobe, o rio desce, estala o verão, as terras se ressecam, as lavouras definham, as pastagens se empobrecem e as águas vão passando como se delas não precisássemos, como se não fossem a maior riqueza do lavrador ribeirinho.