PRIMEIRO - CADERNO DO AGRICULTOR
Agrº. João Henriques
Lá vem o Velho chico descendo dos
contrafortes da serra da Canastra, numa longa e constante caminhada, cortando o
planalto-central, varando as caatingas secas, despenhando-se em Paulo Afonso,
para trazer-nos as suas águas límpidas ou barrentas e férteis. E o Velho Chico,
no salto da cachoeira, nos manda também a energia, no impulso das suas águas,
naqueles 80 metros de queda. E depois de transpor a garganta das corredeiras,
espraia-se e corre manso entre os barrancos que se distancia à medida que se
aproxima do litoral. E mais largo e mais tranquilo, refluindo nos remansos,
vem, afinal, derivando as suas águas para as várgeas e lagoas, as terras dos
farturosos arrozais.
Mas o Velho Chico de nossa intimidade, é
ainda um rio inconformado, inconformado porque não cumpriu a sua destinação.
Não nasceu e avolumou-se para ser tragado pelo mar.
O São Francisco, Deus o criou para a
integração política, social e econômica nacional. Abriu-lhe caminho pelos sertões,
para que os brasileiros pudessem conquistar as imensas áreas de sua dilatada
bacia fluvial e aí florescesse uma civilização dinâmica, fundamentada no sulco
dos arados, na hidroeletricidade e, sobretudo, na irrigação.
A energia hidrelétrica, já percorre
sertões, caatingas e litorais, iluminando cidades, impulsionando industrias,
criando riquezas, dinamizando atividades. Mas a utilização de suas águas no amanho
do solo, na implantação de agricultura intensiva, está ainda na sua fase
primaria. O barranqueiro não se apercebeu ainda do imenso potencial que são as
águas do Velho Chico, fator de desenvolvimento das atividades rurais. E no dia em
que com a energia hidrelétrica do próprio rio, as águas subirem as barrancas e
as terras não sentirem mais a sede e os campos se conservarem sempre verdes e
exuberantes, esta região privilegiada, tornar-se-á o maior celeiro deste
nordeste. E o lavrador e o criador verão que as águas do São Francisco, são, na
verdade, um manancial de ouro líquido que ainda está esperando pelas bateias do
lavrador.
No dia em que cada agricultor ribeirinho
tiver a sua motobomba molhando as terras que cultiva, sem se preocupar que
venham ou não as chuvas, então o rio São Francisco, o nosso Velho Chico,
sentirá cumprida a sua predestinada missão – IRRIGAR.
Quando o Velho Chico transbordar,
inundando as terras dos combros, e aí deixando a sua “colha” que enriquece o
solo e aumenta as colheitas, ele nos dá uma boa lição, fazendo lembrar e
sugerindo o seu aproveitamento na irrigação dessas extensas áreas ribeirinhas,
de produção intermitente e escassa.
O rio sobe, o rio desce, estala o verão,
as terras se ressecam, as lavouras definham, as pastagens se empobrecem e as
águas vão passando como se delas não precisássemos, como se não fossem a maior riqueza
do lavrador ribeirinho.
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