domingo, 26 de fevereiro de 2023

 

EVOLUÇÃO

Augusto dos Anjos

 

Se devassássemos os labirintos

Dos eternos princípios embrionários,

A cadeia de impulsos e de instintos,

Rudimentos dos seres planetários;

Tudo o que a poeira cósmica elabora

Em sua atividade interminável,

O anseio da vida, a onda sonora,

Que percorrem o espaço imensurável;

Veríamos o evolver dos elementos,

Das origens às súbitas asceses,

Transformando-se em luz, em sentimentos,

No assombroso prodígio das esteses;

No profundo silêncio dos inermes,

Inferiores e rudimentares,

Nos rochedos, nas plantas e nos vermes,

A mesma luz dos corpos estelares!

É que, dos invisíveis microcosmos,

Ao monólito enorme das idades,

Tudo é clarão da evolução do cosmos,

Imensidade nas imensidades!

Nós já fomos os germes doutras eras,

Enjaulados no cárcere das lutas;

Viemos do princípio das moneras,

Buscando as perfeições absolutas.

Extraído do livro Parnaso do Além-túmulo - Francisco Cândido Xavier (psicografia)

 

domingo, 12 de fevereiro de 2023

VIDA DE ZÉ LOURENÇO

 

77 anos da morte de Zé Lourenço.

 

 

 

 


 

 

 

A comunidade remanescente dos camponeses do Caldeirão e fazenda União do beato José Lourenço, um beato perseguido, lembra nesse dia, sua passagem para o plano espiritual.

77 anos de falecimento do beato José Lourenço

Profa.Ms

Maria Loureto

Pesquisadora e historiadora.

 

 

 



 

 

RECORTE DE UMA HISTÓRIA DE PERSEGUIÇÃO.

 

Zé Lourenço, o beato, sob às orientações do Padre Cícero, larga a comunidade de beatos e vai cuidar da agricultura, oferecendo trabalho, abrigo e alimento, ensinando a fazer penitência e fazer oração.

 

Baida D' anta, Caldeirão e União.

Comunidades que recebiam os enviados do Padre Cicero Romão.

 

Sob a luz da fé e cresça na Santa Cruz, enfrentou a injustiça sem esquecer Jesus.

 

Tentaram sua vida tirar, por inveja muito tentaram,

Mataram inocentes, mas eles não mataram.

 

Zé Lourenço morreu em seu leito na fazendo união, perto dele estava, seu amigo Mozart Cardozo o médico de Cicero Romão.

 

O exemplo de coragem, força, trabalho e união, confundia a igreja, forças armadas e multidão, só não a Deus, que o levou com mansidão.

 

Escreveu; Maria Loureto de Lima.

Pesquisadora.

 

José Lourenço Gomes da Silva, mais conhecido como beato José Lourenço, (Pilões de Dentro, 22 de janeiro de 1872 — Exu, 12 de fevereiro de 1946) foi o líder da comunidade Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, localizada na zona rural do Crato (Ceará).

 

Biografia

José Lourenço Gomes da Silva era paraibano da cidade de Pilões de Dentro, nascido em 1872, filhos de escravos alforriados – Lourenço Gomes da Silva e Teresa Maria da Conceição. Muito jovem foi trabalhar na agricultura, afastado da família, que migrara para Juazeiro do Norte. Aos vinte anos de idade, José Lourenço vai para Juazeiro, onde reencontra sua família e se torna beato.

 

Baixa Dantas

Em Juazeiro, José Lourenço conquista a confiança do vigário local e é encarregado de liderar uma missão, para onde o Padre Cícero enviaria os flagelados da região. José Lourenço então arrendou terras no sítio Baixa Dantas, no município do Crato, para exploração agrícola comunitária. Lá permaneceria de 1894 ou 1895 até 1926, ano em que o sítio é vendido pelo proprietário, coronel João de Brito, sem qualquer indenização ao beato e seus seguidores.[1]

 

A comunidade do sítio desenvolveu-se rapidamente, o que despertou a fúria dos fazendeiros. Possivelmente com o intuito de colocar o beato em descrédito, espalhou-se a notícia de que os membros da comunidade veneravam o boi Mansinho, um mestiço de zebu que pertencera ao Padre Cícero.[2][3] Em 1921, a Igreja Católica, que já estava irritada com os supostos fenômenos sobrenaturais ocorridos em Juazeiro do Norte, pressionou o Padre Cícero para que tomasse uma decisão. Para evitar maiores transtornos, Floro Bartolomeu, um político local, amigo do Padre Cícero, ordenou que sacrificassem o boi e prendessem José Lourenço. O beato foi solto semanas depois, a pedido do padre Cícero. [1]

 

Caldeirão

Ver artigo principal: Caldeirão de Santa Cruz do Deserto

Depois da confusão, José Lourenço Gomes da Silva decidiu transferir a comunidade para o Caldeirão, um local mais afastado. Entretanto as perseguições continuaram e, em 11 de maio de 1937, com a conivência do clero e de latifundiários locais, a comunidade foi invadida e arrasada por forças policiais, apoiadas por aviões da FAB. Cerca de 700 camponeses foram mortos. [4]

 

Caldeirão era uma comunidade autossustentável que dava abrigo a famílias camponesas que fugiam da exploração imposta pelos latifundiários. O caso do massacre do Caldeirão costuma ser comparado à guerra de Canudos (1896-1897), na Bahia, e à guerra do Contestado (1912-1916), na fronteira entre os estados do Paraná e Santa Catarina — episódios com desfechos semelhantes.

 

José Lourenço fugiu para Exu, onde morreu em 1946 de peste bubônica, tendo sido sepultado em Juazeiro do Norte.

 

Ação judicial

Em 2008, a ONG cearense SOS Direitos Humanos ajuizou uma Ação Civil Pública na Justiça Federal do Ceará requerendo que a União Federal e o Estado do Ceará informem a localização da cova comum onde o Exército e a Polícia Militar do Ceará enterraram as vítimas do Sítio Caldeirão, massacradas em 1937.

 

A ação foi extinta, sem julgamento de mérito, pelo juiz da 16.ª Vara Federal de Juazeiro do Norte, a pedido do Ministério Público Federal que em seu parecer declarou:

 

a) o massacre ocorreu há mais de 70 anos e estava prescrito

b) não há como encontrar os restos mortais pelo tempo que o crime ocorreu.

A SOS Direitos Humanos, inconformada com a decisão do juiz, apelou ao TRF da 5.ª região, em Recife, aduzindo que:

 

a) o crime de desaparecimento de pessoas é imprescritível,

b) os restos mortais estão em local árido, a Chapada do Araripe, e portanto podem ser encontrados, a exemplo da família do Czar Romanov, que foi morta em 1918 e encontrada nos anos de 1991 e 2007.

 

 

Em 11 de maio de 1937, centenas de sertanejos, seguidores do beato paraibano José Lourenço foram massacrados pela Polícia e pelo Exército, na fazenda denominada Caldeirão, situada no Crato, Ceará. O episódio ficou conhecido como Massacre do Caldeirão. A terra havia sido doada aos romeiros pelo Padre Cícero no final da década de 1920. Conhecida como Caldeirão dos Jesuítas, passou a ser chamada de Caldeirão da Santa Cruz do Deserto pelos romeiros. No Caldeirão, cada família tinha sua casa e a produção era dividida entre todos. Na fazenda havia também um cemitério e uma igreja, construídos pelos próprios membros. A comunidade chegou a ter mais de mil habitantes. O modo de vida comunitário e a sociedade igualitária atraíram famílias de todo sertão que abandonaram o trabalho árduo nos latifúndios para ir viver no Caldeirão. A comunidade rural começou a ser acusada de “comunista”. Em 1937, sem a proteção de Padre Cícero, que falecera em 1934, o Caldeirão foi invadido e destruído pelas forças do governo de Getúlio Vargas. O número de mortos é até hoje desconhecido. Estimam-se 400 ou 700 mortos. Seus corpos não foram encontrados pois o Exército e a Polícia Militar do Ceará nunca informaram o local da vala comum onde foram enterrados. Presume-se que a vala coletiva esteja no Caldeirão ou na Mata dos Cavalos, na Serra do Cruzeiro (região do Cariri). José Lourenço conseguiu fugir para Pernambuco onde morreu aos 74 anos e foi enterrado em Juazeiro.

 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

 

O CHORO DO GADO

Parte III

 

Nas chuvadas primeiras de novembro, o gado alimentado no capim agreste da chapada Araripina a seca toda, sente o prenúncio do verde no sertão e procura as ladeiras para descer às pradarias alcatifadas de beldroegas. É a carência orgânica a exigir “despastagem”.

Nos meus descuidados doze anos acompanhava a retirada para as fazendas daquele nosso gado da planura da Araripe. Centenas de rezes enchiam o caminho com sobra derramada pelo mato lateral, sempre acossada pelos vaqueiros da “esteira” para que não se desencaminhassem. Meu pai na guia do rebanho com um vaqueiro para evitar desvios, e eu no coice com outros vaqueiros, me julgando aprendiz deles. Longos e afinados aboios a dar a nota plangente da viagem expressavam o contentamento daqueles que faziam a função, misto de dever e prazer, obrigação e lazer.

De repente, no lambedor do Alto do Mulungu, terreno salgado constantemente lambido pelos animais, um touro mestiço de pescoço grosso, por certo cioso da liderança no rebanho, soltou forte urro multiplicado pelo eco e estacou a esfregar a testa num pé de pau. A manada se comprimiu. As reses escavacando o chão com as patas e torcendo as moitas com os chifres urravam e uma só vez. Berreiro langoroso num crescente sincopado tomou conta do ar. Choravam convulsivamente num choro coletivo. Os olhos úmidos da vacada lacrimejavam.

- O gado chora, meu amo – disse Zé Felix se dirigindo a mim, e, instintivamente retirou o chapéu de couro da cabeça e o colocou no peito, em reverência. Outros vaqueiros o imitaram.

O espetáculo indescritível, jamais vi igual! Retivemos os cavalos que montávamos em respeito ao choro do gado ao cheirar ossada bovina recente, que os urubus haviam limpado.

Aos poucos, tangido de mansinho, o rebanho retornou a caminhada a passo lento, cabeças abaixadas farejando o solo. Os aboios, espaçados, curtos, ecoavam carregados de tristeza.

Eu tinha doze anos de existência! O temo vem se acumulando sobre mim sem toldar a memória daquela bucólica cena que me feriu a sensibilidade. Foi a cena mais tocante e irremediavelmente inesquecível da minha vida rural-pastoril! Quando me ocorrer transitar por ali, passo em silencio rememorando aquele quadro.

Nunca vi humanos chorarem tão intensamente os seus mortos. A natureza tem mistérios.

E haja saudade!

Napoleão Tavares Neves.

 

 

sábado, 4 de fevereiro de 2023

 



                                    ANTEVISÃO

 Caetano Pero Neto

 

 

Quando a nuvem

acionou seus canhões invisíveis,

ribombando no espaço,

ouvi a mensagem da abundância.

 

Quando o raio

cortou o tecido espesso das trevas

com a lâmina da morte em esplendor,

respirei o ar puro do céu lavado.

 

Quando o vento sacudiu o arvoredo

com seu rebenque aéreo,

enxerguei as flores

que permaneceriam

fiéis aos frutos.

 

Quando o aguaceiro jorrou dos céus,

com as suas cataratas imensas,

inundando os caminhos,

vi a mesa farta,

rodeada de crianças felizes.

 

Quando o sofrimento aparece,

diante de nós,

crivando-nos o ser com farpas intangíveis,

vejo nossas almas

nos píncaros do Planeta,

sob o fulgor sem sombra do zênite,

cada qual carregando em si mesma

o seu próprio Universo,

prontas a desferir

o vôo livre e belo

para o sem-fim da Perfeição.

 

Do livro Poetas Redivivos

Espíritos Diversos

Psicografia: Francisco Cândido Xavier

Pero Neto (Itápolis, 21 de agosto de 1916 - São Paulo, 23 de dezembro de 1937) foi um poeta e advogado brasileiro.

 Filho de Nicolau Pero e Olímpia Ferreira Pero, diplomou-se aos 15 anos de idade e aos 16 anos foi aceito no vestibular para o curso de Direito na Faculdade de Direito de São Paulo. Em seu sepultamento, um dos oradores, em um gesto de reconhecimento pelas suas contribuições como presidente da Associação Acadêmica Álvares de Azevedo e como orador da caravana artística do centro acadêmico XI de Agosto, foi Ulysses Guimarães. Às vésperas de sua morte, deixou um romance incompleto, o qual seria batizado de "Os Boiadeiros", vários discursos, diversos contos e inúmeras poesias. Devido a sua brilhante atuação junto a Faculdade de Direito de São Paulo, o Centro Acadêmico XI de Agosto publicou "Xangô e Outros Poemas", coletânea de poesias deixadas por Pero Neto.

 

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.