Conversa Fiada
Engenho Burra
Leiteira, ficava no Município de Carambola. Lugar onde o cão perdeu as esporas.
Da sede municipal para lá, fica umas três léguas de beiço, que se fosse medir
daria bem umas quatros. No entanto, a fazenda possuía muita terra boa de cana
de açúcar que produzia boas rapaduras com um doce insuperável; talvez pelas
terras de massapê. Dava emprego a muita gente das redondezas. Todo mundo já
tinha sido morador do engenho. Era quase um oásis. O velho engenho funcionava,
já havia vários anos, a força de éguas e bois mansos. Passado de pai para filho, acho que vinha dos
tempos dos Afonsinhos. O atual proprietário era o coronel Marsurpião
Pinto Barbosa dos Anzóis Pereira, filho único. Cabra sem cabresto. Não valia o
que o pinto come. Mas mesmo assim era respeitado por toda aquela região sem lei
e sem ordem. Era o delegado, Juiz e promotor. Parteiro, médico, farmacêutico e
dentista e nas horas precisas e urgentes, virava padre.
Casou-se com uma
moça prendada lá da capital, quando fora estudar pra ser gente, porém seus
miolos não ajudaram e voltou sem diploma, mas com uma certidão de casamento bem
passado.
Dona Anfrosina
era feia, mas tinha seus encantos secretos e filha de pais bem possuídos nos
bens. Ele também não era lá uma flor para se admirar. Tinha uma cara mais
parecida com jumento novo. O casamento foi um encontro do destino desalmado.
Afinal de contas
quando o velho pai bateu a caçoleta, ficou senhor de engenho. Coronel. Título
que naquela época passava de pai para filho, para os menos avisados.
Botou o negócio
para funcionar às mil maravilhas, no entanto, sua querida e submissa esposa não
botava menino pra fora. Passava o tempo e nada. Foram até aos médicos da
capital tentar uma solução. O médico aconselhou dormir numa rede e botar fogo
em baixo. Nada!
A mulher dizia que o problema era com ele. Por
sua vez dizia que ela tinha vergonha de se mexer. Fogo morto no casamento. Nem
um bruguelo pelo menos.
O homem queria um
herdeiro para eternizar seu poderio nas terras de meu Deus.
O cabra então
começou a pular fora do ninho pensando que era ele que tinha o ovo goro e para
provar e não servi de mangação para os amigos e parentes virou um bode danado.
Não podia ver uma saia se mexer que caia em cima. Principalmente as filhas dos
moradores. Dizia que mulher é como miunça, deu no couro... Não escapava nada.
Era o rei dali.
Um dia, chega seu
Zenobio com a família para trabalhar nas terras do seu coronel Pinto como era
mais conhecido. Ele a esposa Bertina e a filha Rosa de Judá, criada com todo o
mimo que um casal podia dar a uma filha. Quinze anos de beleza e de doçura.
Um belo dia Bertina
chama Zé e lhe diz. - Buliro com Rosa!
- Quem foi o fio
de uma égua que fez isso com Rosinha. Vou matar esse desgraçado. Vou sangra e
tirar até a última gota de sangue desse bandido.
- Foi o coroné!
- Vou agora mesmo
tomar satisfação com esse velhaco.
Partiu em procura
da casa grande do engenho. Pediu para falar com o coronel.
- Entre e sente
seu Zenobio, o homem vem já – Disse sua dona Anfrosina.
- Bom dia meu
cidadão. Tudo em paz? O que é que manda? Estamos as ordens. Que uma aguinha
fria com pedacinho de rapadura?
- Não senhor. Vim
tratar de um assunto muito sério. Vim dar uma denúncia ao senhor.
- De jornal?
- Não senhor!
- Vim dizer que ofenderam
minha filha.
- Comeu alguma
comida estragada?
- Não senhor!
- Vim dizer que
defloraram minha filha!
- Oxente. Mulher
vem cá. O engenho agora vai melhorar, vai passar trem por aqui vão derrubar
muita mata.
- Não senhor. Vim
dizer que comeram minha filha.
- Vigi meu Deus, com
farinha?
Seu Zenobio,
levantou-se e saiu sem olhar para trás. Ganhou o oco do mundo com Bertina,
Rosinha sua querida filhinha e mais um herdeiro do coronel dono do engenho
Burra Leiteira.
Granja Lírio do
Brejo, 20 de novembro de 2021 as 19.40 horas.
Grijalva Maracajá
Henriques
(Lembranças do
Sítio Cerquinha das laranjas em Penedo Alagoas e de seu Zé Vicente com suas
histórias engraçadas)