domingo, 21 de abril de 2024

 

Aniversário de Augusto

Filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e de Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos, Augusto dos Anjos nasceu em 20 de abril de 1884, no antigo engenho Pau D'Arco, no município de Sapé – Paraíba. Completaria hoje 140 anos de nascimento.

Identificado como o único poeta pré-modernista brasileiro, revelava em seus poemas desesperança e angústia, opinião dos grandes intelectuais, porém no meu modesto e insignificante conhecimento do mundo da sinceridade e a simplicidade, juntamente com o filósofo Zé Cachorro, achamos que ele era o Cara!

Escolhemos para representar neste dia, um dos sonetos mais conhecidos e lidos.

 

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de sua última quimera.

Somente a Ingratidão – esta pantera –

Foi tua companheira inseparável!

 

Acostuma-te à lama que te espera!

O homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

 

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

 

Se alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

 

Grijalva e Zé

Campina Grande 20 de abril de 2024

sábado, 17 de fevereiro de 2024

SOU RICO NA PARAÍBA - BLOG DO GRIJALVA MARACAJÁ HENRIQUES CONTANDO HISTÓRIAS

 

SOU RICO NA PARAÍBA

 

Zé Cilibrina, cabra metido a namorador, ainda novo, lá pelos dezesseis anos mal vividos. Vivia às custas dos pais e de vez enquando, trabalhava pegando um bico aqui e acola no município de Jardim Ceará. Seu pai desde cedo lutava nos trabalhos dos engenhos de rapaduras que ali tinha demais.

O bicho arranjou uma namorada das bandas da rua, Cacete Armado. Lugar onde após o sol se pôr por cima das Cacimbas, o pau sempre quebrava. Tinha sempre famílias honestas e honradas morando nas vizinhanças. Mas, fama é fama. Muitas mocinhas desmanteladas tiravam onda de “Flor do meu Bairro”.

Porém, seu Marcolino e dona Juventina, batiam o pé e não aceitava aquela história de ter uma nora nascida e batizada num ambiente de tanta promiscuidade. Onde a cana, a zinebra, o vinho de jurubeba, o aluá e até a famosa gengibirra se esparramava pelos becos fecundos e infinitos, alegrando, no começo e depois vinha os acertos de contas dos desatinos relembrados.

Como podia uma moça criada nesse meio ser uma boa esposa. Não! Tinha que tirar Cilibra, como era carinhosamente chamado pelos familiares, desse abismo incomensurável.

Todas as noites, após os labores da luta improfícuas na terra mãe, ia até a bica mais próxima, se banhava na cabeça e os pés, comia um arrozinho, às vezes com pequi e se danava para a rua, a procura do seu amor.

O danado do menino tinha um medo de alma condenado, aí sua tia Jurbeli, teve uma ideia macabra.

- Pessoal, vamos preparar um medo nesse danado que nunca mais ele sai à noite.

Todos acharam uma boa ideia, por enquanto.

Seu Marcolino combinou que na volta da rua iria ficar de tocai na vereda, em baixo de uns pés de burras leiteiras, mulungus, seriguelas, dos dois lados, formando de dia uma boa sombra, mas a noite, para o medroso era temeroso passar sem se benzer e rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria para o Padim Cíço. Até diziam que ali, em tempos passados um cabra havia morrido de uma queda de burra que empancou e cismou em passar, como diz a história que animal vê alma de outro mundo.

 Seu Marcolino na hora determinada, desceu para o local assombrado, vestido por cima da roupa um lençol branco, um velho chapéu preto e ficou a escuta do filho querido.

Cilibrina depois dos arrochos na namorada, agoniado pela hora avançada, partia, meio cismado, em direção a casa velha amarela dos pais. Ao se aproximar do local fatídico, começou logo a rezar debulhando seu rosário azul e branco comprado em Juazeiro. No local onde era, diziam que antigamente existia uma velha cruz, fechava os olhos e de peito aberto, respirando forte, acelerou os passos, quando de repente, seu pai sai de trás dos troncos velhos e enrugados, fazendo um latomia dos infernos.

O cabra cai de joelhos e grita:

- Não me mate, sou rico na Paraíba e tenho um caminhão rodando no sul.

 

 

domingo, 4 de fevereiro de 2024

UM AMIGO DE INFÂNCIA

 

UM AMIGO DE INFÂNCIA

Do livro Memórias e Memórias Inacabadas de Humberto de Campos.

                NO dia seguinte ao da mudança para a nossa pequena casa dos Campos, em Parnaíba, em 1896, toda cheirando ainda a cal, a tinta e a barro fresco, ofereceu-me a natureza, ali, um amigo. Entrava eu no banheiro tosco, próximo ao poço, quando os meus olhos descobriram no chão, no interstício das pedras grosseiras que o calçavam, uma castanha de caju que acabava de rebentar, inchada, no desejo vegetal de ser árvore. Dobrado sobre si mesmo o caule parecia mais um verme, um caramujo a carregar a sua casca do que uma planta em eclosão. A castanha guardava, ainda, as duas primeiras folhas úmidas e avermelhadas, as quais eram como duas joias flexíveis que tentassem fugir do seu cofre. – Mamãe, olhe o que eu achei! – grito, contente, sustendo na concha das mãos curtas e ásperas o monstrengo que ainda sonhava com o sol e com a vida. – Planta, meu filho... Vai plantar... Planta no fundo do quintal, longe da cerca... Precipito-me, feliz, com a minha castanha viva. A trinta ou quarenta metros da casa, estaco. Faço com as mãos uma pequena cova, enterro aí o projeto de árvore, cerco-o de pedaços de tijolo e telha. Rego-o. Protejo-o contra a fome dos pintos e a irreverência das galinhas. Todas as manhãs, ao lavar o rosto, é sobre ele que tomba a água dessa ablução alegre. Acompanho com afeto a multiplicação das suas folhas tenras. Vejo-as mudar de cor, na evolução natural da clorofila. E cada uma, estirada e limpa, é como uma língua verde móbil, a agradecer-me o cuidado que lhe dispenso, o carinho que lhe voto, a água gostosa que lhe dou. O meu cajueiro sobe, desenvolve-se, prospera. Eu cresço, mas ele cresce mais rapidamente do que eu. Passado um ano, estamos do mesmo tamanho. Perfilamo-nos um junto do outro, para ver qual é mais alto. É uma árvore adolescente, elegante, graciosa. Quando eu completo doze 136 Humberto de Campos anos, ele já me sustenta nos seus primeiros galhos. Mais uns meses e vou subindo, experimentando a sua resistência. Ele se balança comigo como um gigante jovem que embalasse nos braços o seu irmão de leite. Até que, um dia, seguro da sua rijeza hercúlea, não o deixo mais. Promovo-o a mastro do meu navio, e, todas as tardes, lhe subo ao galho mais empinado onde, com o braço esquerdo cingindo o caule forte, de pé, solto, alto e sonoro, o canto melancólico da Chegança, que é, por esse tempo, a festa popular mais famosa de Parnaíba: Assobe, assobe, gajeiro, naquele tope real... Para ver se tu avistas, Otolina, Areias de Portugal! Mão direita aberta sobre os olhos como quem devassa o horizonte equóreo, mas devassando, na verdade, apenas os quintais vizinhos, as vacas do curral de Dona Páscoa e os jumentos do sr. Antônio Santeiro, eu próprio respondo, com minha voz gritada, que a ventania arrasta para longe, rasgando-a, como uma camisa de som, nas palmas dos coqueiros e nas estacas das cercas velhas, enfeitadas de melão São Caetano: Alvíssaras, meu capitão, Meu capitão-general! Que avistei terras de Espanha, Otolina, Areias de Portugal! A memória fresca e límpida reproduz, uma a uma, fielmente, todas as passagens épicas, todas as canções melancólicas e singelas da velha lenda marítima com que o majestoso mulato Benedito Guariba, uma vez por ano, à frente dos seus caboclos improvisados em marujos portugueses, alvoroça as ruas arenosas da Parnaíba. O vento forte, vindo das bandas da Amarração, dá-me a impressão de brisa do oceano largo. O meu camisão branco, de menino da roça, paneja, estalando, como uma bandeira solta. O cajueiro novo, oscilando comigo, dá-me a sensação de um mastro erguido nas ondas. E eu, sugestionado pela imaginação, via – eu via! – as vagas Memórias 137 rolando diante de mim, na curva do horizonte, onde o céu e o mar se beijam e misturam, as terras claras de Espanha, e areias de Portugal. Pouco a pouco, a noite vem descendo. Um véu de cinza envolve docemente os coqueiros dos quintais próximos. Os bezerros de Dona Páscoa berram com mais tristeza. As vacas, apartadas deles, respondem com mais saudade. Os jumentos do sr. Antônio Santeiro zurram as cinco vogais e o estribilho ipsilon marcando sonoramente as seis horas. Os do sr. Antônio de Monte, ao longe, conferem e confirmam o zurro, o focinho para o alto, olhando o milho de ouro das primeiras estrelas. E eu, gajeiro de uma nau ancorada na terra, desço, tristemente, do folhudo mastro do meu cajueiro, sonhando com o oceano alto, invejando a vida tormentosa dos marinheiros perdidos, que não tinham, pelo menos, a obrigação de estudar, à luz de um lampião de querosene, a lição do dia seguinte. Aos treze anos da minha idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica. Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraçando-me ao seu tronco, aperto-o de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa correlhe do caule ferido. Na ponta dos ramos mais altos abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas de crianças com frio. – Adeus, meu cajueiro! Até à volta! Ele não diz nada, e eu me vou embora. Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitado em despedida. E estou em São Luís, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: “Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças...” há, se bem me lembro, uns versos de Kipling, em que o Oceano, o Vento e a Floresta palestram e blasfemam. E o mais desgraçado dos três é a Floresta, porque, enquanto as ondas e as rajadas percorrem terras e costas, ela, agrilhoada ao solo com as raízes das árvores, braceja, grita, esgrime com os galhos furiosos, e não pode fugir nem viajar... Recebendo a carta de minha mãe, choro, sozinho. Choro, pela delicadeza da sua ideia. 138 Humberto de Campos E choro, sobretudo, com inveja do meu cajueiro. Por que não tivera eu, também, raízes como ele, para me não afastar nunca, jamais, do quintal em que havíamos crescido juntos, da terra em que eu, ignorando que o era, havia sido feliz? Volto, porém. O meu cajueiro estende, agora, os braços, na ânsia cristã de dar sombra a tudo. A resina corre-lhe do tronco mas ele se embala, contente, à música dos mesmos ventos amigos. Os seus galhos mais baixos formam cadeiras que oferece às crianças. Tem flores para os insetos faiscantes e frutos de ouro pálido para as pipiras morenas. É um cajueiro moço e robusto. Está em toda a força e em toda a glória ingênua da sua existência vegetal. Um ano mais, e parto novamente. Outra despedida; outro adeus mais surdo, e mais triste: – Adeus, meu cajueiro! O mundo toma-me nos seus braços titânicos, arrepiados de espinhos. Diverte-se comigo como a filha do rei de Brobdingnag com a fragilidade do capitão Gulliver. O monstro maltrata-me, fere-me, tortura-me. E eu, quase morto, regresso a Parnaíba, volto a ver minha casa, e a rever o meu amigo. – Meu cajueiro, aqui estou! Mas ele não me conhece mais. Eu estou homem: ele está velho. A enfermidade cava-me o rosto, altera-me a fisionomia, modifica-me o tom da voz. Ele está imenso e escuro. Os seus galhos ultrapassam a cerca e vão dar sombra, na rua, às cabras cansadas, aos mendigos sem pouso, às galinhas sem dono... Quero abraçá-lo, e já não posso. Em torno ao seu tronco fizeram um cercado estreito. No cercado imundo, mergulhado na lama, ressona um porco... Ao perfume suave da flor, ao cheiro agreste do fruto, sucederam, em baixo, a vasa e a podridão! – Adeus, meu cajueiro! E lá me vou outra vez e para sempre, pelo mundo largo, onde hoje vivo, como ele, com os pés na lama, dando, às vezes, sombra aos porcos, mas, também, às vezes, doirado de sol lá em cima, oferecendo frutos aos pássaros e pólen ao vento, e, no milagre divino do meu sonho, sangrando resina cheirosa, com o espírito enfeitado de flores que o vento leva, e o coração, aqui dentro, cheio de mel, e todo ressoante de abelhas...

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

BLOGO DO GRIJALVA - CADERNO DO AGRICULTOR - O CAJUEIRO - Agº. JOÃO HENRIQES

 

CADERNO DO AGRICULTOR

O CAJUEIRO

Agrº. João Henriques

O cajueiro é uma das plantas mais belas e mais úteis da flora tropical. Nativo nas zonas costeiras nordestinas, propagou-se pelo interior, sobretudo levado pelos índios cariris e outras tribos que migravam pelo litoral na época das safras desse excelente fruto. Aliás, o fruto verdadeiro é a castanha.

Dentre as numerosas utilidades do cajueiro, enumeraremos as seguintes, bastante para definir o seu valor. A castanha nos dá a amêndoas, alimento dos mais ricos, produz óleo comestível e de sua casca extrai-se outro tipo de óleo de valor industrial. O caju, além de ser um fruto de excelente paladar, contendo, sobretudo alto teor de vitaminas C e sais minerais, dele se retira o suco, para o preparo da afamada cajuína, fabricação de vinhos e licores.

Da polpa fabrica-se doce apreciadíssimos. E quando não é utilizado para esse fim, é empregada como forragem ou na fertilização das terras.

A árvore serve para magnífica arborização dos campos e pátios das fazendas, presta-se para estacas vivas, produz lenha e ainda é a árvore ideal para plantio de pimenta do reino, infelizmente, tão pouco cultivada entre nós. Serve, igualmente, de arrimo nas plantações de maracujá. A resina é empregada, na roça, como sucedâneo da goma arábica. Por outro lado, é planta medicinal e, portanto, totalmente aproveitável da raiz à sobra que nos dá.

A Paraíba e o Ceará que industrializam intensamente o caju, tem realizado grandes plantações maciças, com êxito excepcional. Atualmente em Alagoas, fundou-se a primeira fábrica para aproveitamento das castanhas e, segundo estamos informados, surpreendentemente, essa nova indústria já adquiriu durante a safra que termina, mais de 700 toneladas de castanha. Aparentemente isso, deveria parecer impossível, mas aí está o grande valor de uma iniciativa.

A cooperativa da colonização de Penedo está intensificando a plantação de cajueiros, utilizando sementes selecionadas. Ali já se observam cajueiros em f formação, como início da campanha que a Cooperativa está fazendo para implantação de indústria de aproveitamento de frutas tropicais, As zonas dos municípios de Igreja Nova, São Sebastião, Junqueiro, Arapiraca e outas áreas circunvizinhas em direção norte e oeste, são excelentes para a produção de caju. Vamos, pois, intensificar a cultura dessa planta tradicional, útil e amiga.

 

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

PROMESSA É PROMESSA - GRIJALVA MARACAJÁ HENRIQUES - BLOG CONTANDO HISTÓRIAS

 

José Peregrino era um rapaz pacato, atencioso, trabalhador e bom filho. Morava num povoado chamado Carrapicho à beira de um grande rio. Porém, muito acanhada no seu desenvolvimento econômico e social, o que sempre acontece com essas cidades que são satélites de outras mais desenvolvidas.

O cara era muito estudioso e sempre sonhava em ser bancário; Banco do Brasil e Banco do Nordeste, os dois melhores empregos que existiam por aquelas bandas.

Estudava dia e noite nas Apostilas vendidas nos Correios, onde todos os anos adequaria as atualizadas, esperando os concursos dos dois bancos. Sempre era reprovado. Mas, não desistia do seu grande sonho.

Os amigos os chamavam para participara de festinhas, bate-papos no coreto da pracinha.  Achavam que o cabra era abilolado. Não tinha acordo, não tinha tempo nem para namorar. Tinha que estudar para os concursos que já estavam sendo novamente anunciado pelas rádios da região.

Seu pai artesão de cerâmica sempre contradizia essa sua mania.

- Filho. Venha me ajudar a amassar o barro e aprender uma arte honesta. Essa mania de viver com a cara metida nesses livros não vai levar a lugar algum. Precisamos aumenta a nossa produção e eu sozinho com sua mãe não estamos mais aguentando. De vez enquanto dava na veneta e participava na olaria nos serviços mais pesados, não tinha aprendido a arte dos pais. Modelagem de jarros, quartinhas, potes, comedores para aves, alguidares de todos tamanhos e mais uma infinidade utensílios tirado do barro amarelado da região. Era um dos mais procurados pelo bom acabamento.

Sempre ouvia dos colegas e da família que tivesse mais fé em Deus e nos santos. Sua mãe sempre rezava e aconselhava sobre esse assunto religioso e a importância da fé naqueles que as pessoas não veem, porém existem de verdade.

- Meu filho, tome meus conselhos vá procurar o frei Simão lá em Penedo, converse com ele, se confesse, conte seus sonhos de vida. Ele é um homem muito sábio, quase um milagreiro.

Peregrino, pegou uma lancha, atravessou o rio e foi bater na igreja Nossa Senhora da Corrente. Entrou e sentou-se num dos bancos antigos, esperando que alguém aparecesse. Certo tempo depois, aparece uma senhora vindo lá dos fundos com um espanador, limpando as imagens nos seus nichos.

- Minha senhora eu queria falar com o frei Simão, ele está?

- Está terminando suas obrigações e daqui a pouco aparece. Sente-se aí e espere.

Logo mais aparece um sujeito muito esquisito, vestindo uma batina marrom, de cavanhaque ruivo, careca de cima a baixo, uns olhos esbugalhados, alpercatas de couro, um rosário do tamanho do mundo amarrado na cintura.

- Pronto frei Simão, esse rapaz que falar com o senhor.

- Diga meu filho o que deseja?

- Minha mãe mandou que eu viesse falar com o senhor sobre como fazer uma promessa. Estou estudando para concurso dos bancos há muito tempo e ainda não consegui êxito. Aí minha mãe que sempre se confessa com o senhor e pediu que eu falasse contando meus sonhos de trabalhar em banco para ver se Deus me ajudava a passar nas provas.

-  Vá ali para o confessionário!

Peregrino continuou sua vida do mesmo jeito. Estudos, olaria e agora não perdia uma missa na igreja do Frei Simão.

 Até que enfim marcaram o dia do novo concurso. O cabra preparou-se logo cedo e partiu para a cidade vizinha onde seria realizado as provas. Mês depois saiu o resultado.

Aprovado!!!

O cabra quase endoidece de tanta alegria, saía gritando sua vitória. De casa em casa, de rua em rua. Todos davam parabéns pela vitória depois de tantas derrotas.

O tempo foi passando e as pessoas logo se esqueceram da vida de Peregrino. O homem desaparecera das ruas e da vida na vila de Carrapicho Estrelado. Todos pensavam que tinha sido nomeado para uma cidade longe, fora do Estado talvez.

Benevides, antigo amigo e as vezes crítico e metido a gaiato, um dia foi passar uma semana na capital Maceió e participar do conhecido banho de mar a fantasia, festa realizada no carnaval.

Como todo turista, Benevides, após a ressaca da festa, começou a visitar os pontos importantes da cidade. Praias, Lagoas, monumentos, prédios governamentais, suas igrejas e conventos.

Entra no Convento Sagrado Coração de Jesus, convento dos Capuchinhos, que estava completamente vazia e num silencio sepulcral. Senta-se num dos bancos e fica orando com os olhos fechados. De repente ouve passos arrastados e abre os olhos. Depara-se com um frade de batina marrom, barba fechada, cabisbaixo e agarrado num rosário enorme, debulhando as Ave-Marias e os Pais-Nossos. Ao se aproximar mais um pouco, Benevides tem um susto medonho ao ver aquela cara.

- Peregrino, é você meu amigo ou estou sonhando acordado?

O frade que estava muito compenetrado, também se assustou com a indagação. Virando-se em direção ao banco onde se encontrava Benevides disse.

- Meu velho amigo, o que o trazes aqui? Sou eu mesmo!

- Mas homem, o que está fazendo nessa batina, e o banco?

Apertaram as mãos e o frade sentou-se ao lado do amigo.

- É uma história difícil de contar. Minha mãe pediu que fosse me confessar com o frei Simão e contasse sobre minha situação nos estudos.

Ele muito gentilmente disse que era falta de fé e que eu fizesse uma promessa muito difícil de pagar para alcançar minha graça. Assim fiz!

Prometi a meu Deus, a Nossa Senhora e ao Santo Antônio de Pádua que se passasse no concurso eu iria virar frade e aí está a promessa cumprida. Promessa é promessa!