quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

DONA MARIQUINHA


DONA MARIQUINHA*
João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)


            Dona Mariquinha não pensava noutra coisa, senão ir morar na cidade. Não suportava mais viver dentro das brenhas, com luz de lamparina, água de cacimba, lugar sem igreja, sem escola para os meninos, uma solidão danada.
            - Vamos embora Amaro, isto não é vida de cristão.
            - Como? Mulher de meu Deus. Pagar aluguer de casa, luz, água, ter que andar bem vestido e comprando quase tudo. Tu não pensas nisso Mariquinha?
            - Bobagem, Amaro. Virás aqui no sítio de vez em quando, empregam-se as duas meninas; lavo e engomo e a gente se arranja.
            - Estás caçando sarna para te coçar. É o que tu andas procurando.
            - Ou homem mole da brucuta. Era melhor que eu vestisse essas tuas calças. Não tem coragem para enfrentar a vida. Será que queres que a gente morra nestes ermos. Não se tem nem com quem conversar.
           - Mariquinha, a cidade é boa, mas os gastos são muitos. Tudo ali é pago. Vejas bem. Aqui se tem leite, ovos, galinhas e tudo mais que se produz. Quando falta uma coisa, tem outra. Sabes como é. Come-se e vende-se o que sobra. É muito diferente. Nunca se passou necessidade dura.
            - Ora, quanta dificuldade põe em tudo. Não queres ir, fica-te aqui e bota a gente lá, fica aí produzindo para manter a família. Nasceu mesmo para virar bicho. Pois vires. Eu, não. Vires sozinho, ta!
            Amaro não agüentou mais o tirinete diário. Vivia já azucrinado. Não suportava mais aquele inferno. Foi à cidade, alugou uma casinha e levou para lá a família.
            A dona Mariquinha parecia que estava sentada numa ponta de nuvem, flutuando no espaço sideral. Seu Amaro passava a semana no seu sítio, cultivando suas terras e criando o seu gadozinho. Ia à cidade nos dias de feiras e nos domingos.
            - Olha Amaro, não te esqueças do dinheiro do aluguer, da luz, da água e da feira.
            - E onde é que eu vou buscar. Estas pensando que peba põe.
            - E para que foi que te casastes comigo. Deixa de ser molenga. Estás pensando que casar é só juntar os cobertores e roncar a noite inteira.
            - E onde andam as meninas. Dando de pernas pelas ruas, será?
            - Que nada. Empregadas, todas duas. Trabalham num bar.
            - Trabalhando em bar, onde só se junta cafajeste. Onde anda o teu juízo. Vou já busca-las.
            E foi. Quase tem uma síncope. As meninas servindo mesas de vagabundo e ouvindo indiretas jocosas e safadas.
            -Ei, venham cá as duas. Vamos embora.
            O cafajeste dono do bar aproximou-se e protestou.
            - Vai levar as meninas. Esta não. Dei emprego as duas e preciso delas.
            - Amaro respondeu com um tapão na marra do chocalho. O cabra levantou-se com gosto de gás. Ia pegar o Amaro para vingar-se. Levou outro tapão de direita e nova queda. – Levante-se para outra. Amaro levantou-o pelas aberturas e despojou-lhe a esquerda. Deixou-o lá de cara pegando fogo.
            Entrou em casa com as meninas, olhou para a mulher tremendo as bochechas. Queria saber o que é que ela pensava de sua família. Era pobre, mas não era nenhum cafajeste. Como era que tinha a coragem de entregar as filhas, a um sujo daquele, num ambiente porco.
            - Ora, Amaro, as meninas sabem se defender. As coisas hoje são assim. Do contrário não se ganha dinheiro e nem se vive. E como era que se ia passar sem empregar as meninas. Ganham o dinheiro delas, ganham presentes e assim vai-se vivendo sem tanto atropelo.
            - Escute bem. Já quebrei a cara do dono do bar e não faço questão de quebrar mais uma. Quero minhas filhas é numa vida limpa, de gente que presta.
            - Arruma os picoalhos e vamos de volta!
            - Vocês querem ir ou não, meninas, perguntou ensinuantimente dona Mariquinha.
            - Queremos, sim. Aquilo acolá onde mamãe nos colocou é um antro de sem-vergonhice. Só se ouve palavrão e indiretas. A gente tinha até nojo. E mais cedo ou mais tarde iria acontecer alguma coisa ruim.
            - Está vendo aí, Mariquinha, o que anda fazendo. Não prezas o decoro de tuas filhas. Onde está o teu juízo. Nos calcanhares, é?
            - Bem, elas vão e eu fico. De mato não quero nem a sombra. Enjoei.
            - Olha. Ir terás que ir. Voltarás por tua conta e risco. Comigo não contarás. Vou agora mesmo entregar a casa e pagar as contas da bodega e outras. Não quero ninguém no meu rastro. E vou te pedir uma coisa. Não me digas uma palavra contrária ao que estou falando. Perderias o teu tempo. Sairemos logo hoje. Quero acabar de criar minhas filhas decentemente, lá na roça mesmo.
            A mulher teve vontade de contestar e ainda fez alusão de abrir a boca, mas conteve-se. Amaro não estava para brincadeira.
            - Venham cá, meninas. Será que aconteceu alguma coisa com vocês? Falem com franqueza!
            - Não, pai. Tentaram, convidando a gente para sair à noite, mas não aceitamos e nunca aceitaríamos.
            - E contaram a tua mãe?
            - Não, não falamos nada.
            Dona Mariquinha teve medo de que elas afirmassem que sim, como de fato havia acontecido. E, intimamente Dona Mariquinha, achava que não seria nada de mais. Os costumes da cidade não eram os mesmos lá dos matos. O marido não se civilizava. Continuava o mesmo brocoió de sempre. Se não lhe faltasse coragem, dizia-lhe aquilo bem na cara. Era um grosso e difícil de tirar-lhe a casca. Matuto era mesmo uma peste. Pois não era. Não dava uma folga às meninas. Daquele jeito iriam morrer encruadas, sem conhecer as coisas boas da vida. Um marido burro era mesmo uma lástima. Para que diabo queria as duas meninas. Era melhor manda-las logo para um convento, para mofarem e criar teia de aranha.
            - Tudo pronto. Vamos embora.
            Dona Mariquinha saiu engolindo em seco. Era melhor ter um colapso e cair ali mesmo de canelas esticadas.
            Mas enquanto isto, ia caminhando como quem ia pisando em brasas. Teria que convencer as meninas a voltar para a cidade, viver como desejava.
            Entrou em casa, deu um muxoxo, deu umas duas pesadas nas paredes, cuspiu no chão como nojo, engoliu em seco. Nem quis tomar banho para não tirar o cheiro da cidade. Estava mesmo danada. Abriu a porta da cozinha, bateu-a com força com vontade de abri-la em bandas.
            - O que é isto aí?
            - Foi mãe abrindo a porta...
            - Olha Mariquinha, não quero mais ouvir porta bater. E não te aviso mais.
            - Bateu por acaso...
            - Nem por acaso. Segura a mão. E tira da cabeça a lembrança da cidade. Lá só irás a passeio ou nas quatro festas do ano. A menos que faças o que prometestes. No entanto, será definitivo. Sou um matuto, mas nem sou idiota e nem tenho duas palavras. E há uma coisa mais do que certo. Não levarás as meninas, mesmo porque elas não têm o teu pensamento de goiaba bichada.
            - Não me ofendas. Não sou goiaba bichada.
            - Perdão, Mariquinha, disse com um arzinho rizonho.
            - Também não me ridicularize matutão que nem sabe morar na cidade.
            - Cidade é para quem pode, e não necessita empregar as filhinhas moças num frege daquele. Não te proíbo de ires para onde quiserdes.
            - Estás me expulsando de casa?
            - Eu longe disso. Sozinha pode ir para onde quiseres. Minhas filhas ficarão comigo é lógico.
            - Nada de lógico. As bichinhas não se divertem aqui nesse cafundó de Judas. É só trabalhar, trabalhar...
            - É isto que está certo e não se desbandeirarem, como desejas, nas unhas dos cafajestes. E sabes de uma coisa, vamos mudar de conversa.
            -Queres até me proibir de falar.
            - Ainda não, mas seria o certo, com quem tem pouco juízo.
            - Sou doida então?
            - Quase e depois de velhota!
            - Como é? Velhota é a tua avó, pé rapado, roceiro, pai da ignorância.
            - Cala esse covo, curica, brucuta, caninana, antes que eu perca as estribeiras...
            - Quer dizer que estás me ameaçando.
            - Quase. Querias viver à custa da virgindade de tuas filhas, isto sim. Mas cheguei a tempo. Nem deves mais dizer que são tuas filhas.
            - Podem não ser tuas.
            - Como é?
            - Digo, para criá-las. Bem sabes que sempre fui uma mulher honesta. Foi só maneira de dizer.
            - Bem, terminou o falatório.
            - Fiques se quiseres e dentro do meu regime e não procures desviar as meninas.
            Mariquinha calou-se e enfurnou-se. As meninas foram vê-la.
            - A senhora está errada e dizendo o que não devia dizer. Papai está certo e estamos ao seu lado. Olhe se ele não chega à gente teria se perdido. Sabe como é. A coisa vai aos poucos. Uma conversinha, uma intimidade, um presentezinho, uma tapinha, um beliscão e quando menos se espera a coisa acontece o gato pega! E depois é pior do que dente cariado ninguém tapa mais. Aqui na roça, não. Tem menos cabra sem vergonha. E a gente trabalha no que é nosso e não falta comida em casa e nem roupa no baú. É outra vida. Quando se quer vai-se à cidade.
             Mas não tem luz, não tem água encanada, meninas. Não tem gente para conversar. E é mato, mato e bicho.
            - É, mas em compensação, na cidade não tem o luar daqui, o céu tão estrelado, os passarinhos cantando, o terreiro cheio de galinhas, o leite no curral, e o milho verde na roça à hora que se quer.
            - Sim, acrescentou a outra. E os cajueiros, as pitombeiras, as ubaias, os cocos catolé, as murtas e as jabuticabas.
            - Sim, essa história também de gente pra conversar, aqui não falta. A gente mesmo conversa e tem os vizinhos e as visitas. Já na rua tem muito é fofoqueira e cabra pelintra e nojento. Cachaceiro e ladrão. E o que é que a senhora lucra lá na rua. Viu lá algum passarinho verde, mãe. Baixe esse fogo, vá criar suas galinhas, seus perus e guinés. Fazer seus queijinhos de coalho e a manteiga de garrafa como fazia. Isto sim. E fiquemos certa, nós duas estaremos com papai. Se fosse pela senhora, naquele emprego miserável, terminaríamos na rua e mataríamos papai de desgosto. O que foi que lhe virou a cabeça. O que está lhe faltando, diga. Se papai fosse uma pessoa violenta já a coisa estaria mudada.
            - É, tudo contra Mariquinha. Sou mesmo uma mulher infeliz. Ninguém me obedece, ninguém me escuta, cada um que ter razão. Mariquinha não vale mais nada.
            - Não é assim. Respeitamos a senhora como uma mãe, e, papai tem sido muito paciente com as suas doidices.
            - Sou doida, então? Acham que sou?
            - Ser doido é uma coisa e fazer bobagem e doidice é outra. A senhora tem sua irmã na rua e porque não vai passar lá algum tempo. Matar esse desejo, essa gana pela cidade. Vá. Fala-se com papai e ele vai consentir.
            - É mesmo? Ótima idéia!
            E a coisa deu certo. Mariquinha meteu-se dentro da casa da irmã que a recebeu sob certa reserva e desconfiança. Havia de descobrir a causa. Marelita era diferente. Tinha vontade de morar na roça. O marido lutava como um bicho para manter a família e não viver sacrificado.
            - Tem uma coisa, Mariquinha. Aqui todos trabalham. Não penses que vais ficar pelas portas conversando fiado, não. Catarino não é o boboca do teu marido que deixa fazer o que queres, olha aí à filharada que ele tem para vestir e comer. Vais tomar conta de alguma coisa. Arrumação da casa e lavagem da roupa. Eu cuidarei da cozinha e do resto.
            - Ah! Essa não. Queres me matar, é. Fazer de empregada?
            - Matar coisa nenhuma. Catarino sempre anda dizendo: quem come do meu pirão, prova do meu cinturão. Abre teus olhos. Não te queres ver parada e odeia mulher pelas janelas e pelas calçadas. E ele não é o Amaro, não. É um ótimo marido e um ótimo pai, mas tudo dentro de sua linha.
            E lá se foi primeira semana, a segunda, a terceira. Mariquinha não queria dar o braço a torcer facilmente. Terminou um mês no rojão de dona Marilita. E a meninada exigindo roupa lavada e engomada. – Mamãe sozinha dava conta de tudo. Chegou a tia e tudo anda atrasado. Mãe bote a tia para trabalhar, mãe. É só comendo e loando.
            - Olha Marilita, acho que vou a casa. Já faz um mês que não vejo a família.
           - Nada disso. Vais ficar mais uns tempos me ajudando. Podemos trocar os serviços. Passarás para a cozinha. Mas, uma coisa te digo. Catarino não tolera comida mal guisada. E ele, quando se altera, é madeira de dar em doido.
            - Não, Marilita. Tenho que ir a casa. Estou morta de saudades. Vou e volto logo. Não confias em mim?
            - Confio, mas terás que falar com Catarino.
            - Não. É desaforo. Não sou empregada dele nem tua.
            - Não te metas nessa. Se ele te pega, cose-te as orelhas.
            E quando Catarino chegou para o almoço, Marilita contou. Catarino foi direto à dona Mariquinha.
            - Muito bem. Quer ir embora, não é. Faz muito bem. E vou lhe adiantar umas verdades. Vá para casa tomar conta de sua família, acabe com essa vagabundagem de querer morar na cidade. Crie juízo. E não me faça desconfiar de outras coisas, se não vou contar Tim-Tim por Tim-Tim ao Amaro. Se você fosse minha mulher já teria lhe amaciado. Olhe aqui como se vive tranqüilo. Eu, Marilita e a turma. Não se discute não se briga e todos trabalham ou estudam com boa vontade. Apague o fogo, mulher velha, mãe de duas moças e mulher de um santo como é o Amaro. Aliás, eu soube que queria botar suas duas meninas a perder. Será que isso é verdade. Ah! Se eu tivesse me casado contigo. Foi tua sorte. Já havia de arrancado a moela. Toma o exemplo de tua irmã. Isto é que uma dona de casa e uma mãe de família. Que diabo quer fazer aqui na rua, matutona. E pede a Deus que Amaro e tuas filhas ainda te queiram. Se fosse eu não queira te ver nem a careta. Andas atrás de que? Fala. Vamos te levar de volta. Voltarás quando quiseres.
            Mariquinha entrou em casa com cara de mau recado. Entrou, falou com o marido e as filhas, desconfiada. Depois do almoço a irmã despediu-se. Mariquinha foi ao terreiro da casinha, chamou as galinhas, deu-lhe mais um pouco de milho que as galinhas nem quiseram. Fez carinhos no papagaio. Chamou o cachorrinho, alisou-lhe a cabeça. Contornou a casa. Os pés de bugaris estavam verdes e florados. O galo cantou e o canarinho amarelo estalava na biqueira da casa. Mariquinha chorou escondida. Não queira que vissem aquela dor do seu arrependimento. A vida da cidade não era como ela pensava. Luz, água, casa, passeios, tudo custava dinheiro e a cidade só produzia dívidas. E nem sonhava que fosse preciso trabalhar tanto. Teve pena da irmã, com toda aquela luta desesperada para sobreviver. E lembrou-se do que a irmã lhe dissera: Catarino daria tudo para ter a vida do Amaro. Uma fazendinha, as roças de milho e feijão, a despensa cheia, um gadinho no campo. Galinhas e ovos para comer e vender.
            Tomou conta da casa com disposição. Ia até a roça ajudar na colheita. O marido, seu Amaro, tinha sempre um agrado na mesa. Uma farofinha de ovos, umas espigas de milho assado, uma fruta qualquer, coisa fora do normal. Mariquinha não deixava nada por fazer. E fazia com uma tranqüilidade e um bom gosto admirável.
            - Mamãe, vamos à missa do domingo. Faz tempo que a gente não vai rezar.
            - Vão vocês com seu pai. Não posso deixar a casa sozinha; abandonada. Aquilo lá já me enjoou.
            - Mas mãe, vamos rezar, ouvir a missa e o sermão do padre Bento.
            - Não e não. Se o reverendo quiser que eu ouça missa e sermão que venha fazê-los aqui.
            - Por mim, a rua, tirando a família de minha irmã, já podia ter se afundado. Que diabo de cidade! Aquilo é um monturo. Tudo difícil, luta de cão. Deixe-me em paz. Levem o Amaro, que vive aqui internado e só sai nos dias de feira.
            - Mãe não gostava tanto de cidade?
            - Não me atropelem. Adoro o cheiro do mato, os meus pés de bugaris, a sombra da pitombeira. E vou lá deixar o coitado desse papagaio sem ter com quem conversar.
            - Pai, vamos à missa amanhã?
            - Chama tua mãe.
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            - Não quer ver nem a cara do padre e nem da gente da cidade!
            Seu amaro por pirraça e para fazer raiva a mulher, concordou com as filhas, dizendo que passaria dois dias por lá. Iria vender alguma coisa na feira do sábado e ficaria para a missa no domingo.
            Logo cedo seu Amaro preparou o carro de boi, colocou em cima uns cabritos para vender, dois sacos de farinha, três de milho, um bocado de queijo de coalho, uma dúzia de capão gordos, que ia vender ao padre, doze dúzias de ovos de capoeira e um monte de melancia. Bem arrumados, subiram no carro de boi e foram em direção da rua, deixando a mulher, de boca aberta com tanta satisfação que seu Amaro desta vez ia para a cidade.
            As meninas ficaram logo na casa da tia e o velho partiu com suas troçadas para a feira que era instalada na frente da igreja, na rua principal.
À noite para surpresa de todos; o padre Demerval, havia planejado uma quermesse para angariar fundos para a limpeza da sua igreja. Resolveram então, todos, participar da festinha de rua. Muitas moças e rapazes desfilando entre as pequenas barracas e em torno do coreto da praça. Logo, Dora e Ceiça, andavam de conversas com dois rapazes que já conhecia. Talvez, paqueras dos tempos antigos. A coisa rolou até tarde da noite, e, no domingo, na missa, os dois casais sentavam juntinhos, rezando e ouvindo o sermão sobre – Comportamento Antes do Casamento – do padre Demerval. Pediram ao pai que só viajassem na segunda de madrugada, pois não tinham se divertido tanto na vida. Estavam tão radiantes que o velho consentiu. Via a felicidade estampada nas caras das duas.
Os três chegaram cantando no terreiro da casa. Gritando que estavam com fome que botasse o café na mesa que queriam voltar logo para a cidade.
Dona Mariquinha ouvindo aquela latumia, botou a cabeça na janela e ficou sem saber se estavam doidos ou tinham se embriagado na viagem.
 Haviam combinado fazer uma boa brincadeira com a teimosa, dizendo que iriam morara de vez na rua. Que já havia alugado casa, pois a fazendinha estava próspera e as meninas estavam de namoro certo, arranjado na noite da festa, coisa para casamento.
Perguntou olhando para a cara assustada de dona mariquinha:
Como é? Você é quem decide. Quer ir de vez?


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            Está com vontade de se mudar para lá. Agora já pode. Tem boas safras e o gado está aumentando o leite e queijo dá para a feira.
            - Certo. Mudem-se vocês e ele. O que foi que deu em Amaro. Não conte comigo. Era só o que me faltava. Sair do meu sítio onde tenho tudo para me meter naquele inferno.
            - Era só brincadeira, mãe.
            - Logo vi... Mas digam-me uma coisa. Aqueles cachorros não buliram com vocês. Não me neguem.
            - Que nada, mãe.
            - Pois tenham cuidado. Essas coisas só depois de casadas e com gente que preste. Gente assim como o Amaro.
            As duas meninas olharam-se e riram.
            Dona Mariquinha foi à sala e sorvia gostosamente o perfume dos bugaris.

Em 17.5.1985
*O conto faz parte do livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.
Faltou a folha nº. 20 no meio do conto (tentei completar).



           

           

           
           
           
           

             

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