DONA
MARIQUINHA*
João Henriques da
Silva
(In Memoriam
20/09/1901 – 16/04/2003)
Dona
Mariquinha não pensava noutra coisa, senão ir morar na cidade. Não suportava
mais viver dentro das brenhas, com luz de lamparina, água de cacimba, lugar sem
igreja, sem escola para os meninos, uma solidão danada.
-
Vamos embora Amaro, isto não é vida de cristão.
-
Como? Mulher de meu Deus. Pagar aluguer de casa, luz, água, ter que andar bem
vestido e comprando quase tudo. Tu não pensas nisso Mariquinha?
-
Bobagem, Amaro. Virás aqui no sítio de vez em quando, empregam-se as duas meninas;
lavo e engomo e a gente se arranja.
-
Estás caçando sarna para te coçar. É o que tu andas procurando.
-
Ou homem mole da brucuta. Era melhor que eu vestisse essas tuas calças. Não tem
coragem para enfrentar a vida. Será que queres que a gente morra nestes ermos.
Não se tem nem com quem conversar.
-
Mariquinha, a cidade é boa, mas os gastos são muitos. Tudo ali é pago. Vejas
bem. Aqui se tem leite, ovos, galinhas e tudo mais que se produz. Quando falta
uma coisa, tem outra. Sabes como é. Come-se e vende-se o que sobra. É muito
diferente. Nunca se passou necessidade dura.
-
Ora, quanta dificuldade põe em
tudo. Não queres ir, fica-te aqui e bota a gente lá, fica aí
produzindo para manter a família. Nasceu mesmo para virar bicho. Pois vires.
Eu, não. Vires sozinho, ta!
Amaro
não agüentou mais o tirinete diário. Vivia já azucrinado. Não suportava mais
aquele inferno. Foi à cidade, alugou uma casinha e levou para lá a família.
A
dona Mariquinha parecia que estava sentada numa ponta de nuvem, flutuando no
espaço sideral. Seu Amaro passava a semana no seu sítio, cultivando suas terras
e criando o seu gadozinho. Ia à cidade nos dias de feiras e nos domingos.
-
Olha Amaro, não te esqueças do dinheiro do aluguer, da luz, da água e da feira.
-
E onde é que eu vou buscar. Estas pensando que peba põe.
-
E para que foi que te casastes comigo. Deixa de ser molenga. Estás pensando que
casar é só juntar os cobertores e roncar a noite inteira.
-
E onde andam as meninas. Dando de pernas pelas ruas, será?
-
Que nada. Empregadas, todas duas. Trabalham num bar.
-
Trabalhando em bar, onde só se junta cafajeste. Onde anda o teu juízo. Vou já
busca-las.
E
foi. Quase tem uma síncope. As meninas servindo mesas de vagabundo e ouvindo
indiretas jocosas e safadas.
-Ei,
venham cá as duas. Vamos embora.
O
cafajeste dono do bar aproximou-se e protestou.
-
Vai levar as meninas. Esta não. Dei emprego as duas e preciso delas.
-
Amaro respondeu com um tapão na marra do chocalho. O cabra levantou-se com
gosto de gás. Ia pegar o Amaro para vingar-se. Levou outro tapão de direita e
nova queda. – Levante-se para outra. Amaro levantou-o pelas aberturas e
despojou-lhe a esquerda. Deixou-o lá de cara pegando fogo.
Entrou
em casa com as meninas, olhou para a mulher tremendo as bochechas. Queria saber
o que é que ela pensava de sua família. Era pobre, mas não era nenhum
cafajeste. Como era que tinha a coragem de entregar as filhas, a um sujo
daquele, num ambiente porco.
-
Ora, Amaro, as meninas sabem se defender. As coisas hoje são assim. Do contrário
não se ganha dinheiro e nem se vive. E como era que se ia passar sem empregar
as meninas. Ganham o dinheiro delas, ganham presentes e assim vai-se vivendo
sem tanto atropelo.
-
Escute bem. Já quebrei a cara do dono do bar e não faço questão de quebrar mais
uma. Quero minhas filhas é numa vida limpa, de gente que presta.
-
Arruma os picoalhos e vamos de volta!
-
Vocês querem ir ou não, meninas, perguntou ensinuantimente dona Mariquinha.
-
Queremos, sim. Aquilo acolá onde mamãe nos colocou é um antro de
sem-vergonhice. Só se ouve palavrão e indiretas. A gente tinha até nojo. E mais
cedo ou mais tarde iria acontecer alguma coisa ruim.
-
Está vendo aí, Mariquinha, o que anda fazendo. Não prezas o decoro de tuas
filhas. Onde está o teu juízo. Nos calcanhares, é?
-
Bem, elas vão e eu fico. De mato não quero nem a sombra. Enjoei.
-
Olha. Ir terás que ir. Voltarás por tua conta e risco. Comigo não contarás. Vou
agora mesmo entregar a casa e pagar as contas da bodega e outras. Não quero
ninguém no meu rastro. E vou te pedir uma coisa. Não me digas uma palavra
contrária ao que estou falando. Perderias o teu tempo. Sairemos logo hoje.
Quero acabar de criar minhas filhas decentemente, lá na roça mesmo.
A
mulher teve vontade de contestar e ainda fez alusão de abrir a boca, mas
conteve-se. Amaro não estava para brincadeira.
-
Venham cá, meninas. Será que aconteceu alguma coisa com vocês? Falem com
franqueza!
-
Não, pai. Tentaram, convidando a gente para sair à noite, mas não aceitamos e
nunca aceitaríamos.
-
E contaram a tua mãe?
-
Não, não falamos nada.
Dona
Mariquinha teve medo de que elas afirmassem que sim, como de fato havia
acontecido. E, intimamente Dona Mariquinha, achava que não seria nada de mais.
Os costumes da cidade não eram os mesmos lá dos matos. O marido não se
civilizava. Continuava o mesmo brocoió de sempre. Se não lhe faltasse coragem,
dizia-lhe aquilo bem na cara. Era um grosso e difícil de tirar-lhe a casca.
Matuto era mesmo uma peste. Pois não era. Não dava uma folga às meninas.
Daquele jeito iriam morrer encruadas, sem conhecer as coisas boas da vida. Um
marido burro era mesmo uma lástima. Para que diabo queria as duas meninas. Era
melhor manda-las logo para um convento, para mofarem e criar teia de aranha.
-
Tudo pronto. Vamos embora.
Dona
Mariquinha saiu engolindo em seco. Era melhor ter um colapso e cair ali mesmo
de canelas esticadas.
Mas
enquanto isto, ia caminhando como quem ia pisando em brasas. Teria que
convencer as meninas a voltar para a cidade, viver como desejava.
Entrou
em casa, deu um muxoxo, deu umas duas pesadas nas paredes, cuspiu no chão como
nojo, engoliu em seco. Nem
quis tomar banho para não tirar o cheiro da cidade. Estava mesmo danada. Abriu
a porta da cozinha, bateu-a com força com vontade de abri-la em bandas.
-
O que é isto aí?
-
Foi mãe abrindo a porta...
-
Olha Mariquinha, não quero mais ouvir porta bater. E não te aviso mais.
-
Bateu por acaso...
-
Nem por acaso. Segura a mão. E tira da cabeça a lembrança da cidade. Lá só irás
a passeio ou nas quatro festas do ano. A menos que faças o que prometestes. No
entanto, será definitivo. Sou um matuto, mas nem sou idiota e nem tenho duas
palavras. E há uma coisa mais do que certo. Não levarás as meninas, mesmo
porque elas não têm o teu pensamento de goiaba bichada.
-
Não me ofendas. Não sou goiaba bichada.
-
Perdão, Mariquinha, disse com um arzinho rizonho.
-
Também não me ridicularize matutão que nem sabe morar na cidade.
-
Cidade é para quem pode, e não necessita empregar as filhinhas moças num frege
daquele. Não te proíbo de ires para onde quiserdes.
-
Estás me expulsando de casa?
-
Eu longe disso. Sozinha pode ir para onde quiseres. Minhas filhas ficarão
comigo é lógico.
-
Nada de lógico. As bichinhas não se divertem aqui nesse cafundó de Judas. É só
trabalhar, trabalhar...
-
É isto que está certo e não se desbandeirarem, como desejas, nas unhas dos
cafajestes. E sabes de uma coisa, vamos mudar de conversa.
-Queres
até me proibir de falar.
-
Ainda não, mas seria o certo, com quem tem pouco juízo.
-
Sou doida então?
-
Quase e depois de velhota!
-
Como é? Velhota é a tua avó, pé rapado, roceiro, pai da ignorância.
-
Cala esse covo, curica, brucuta, caninana, antes que eu perca as estribeiras...
-
Quer dizer que estás me ameaçando.
-
Quase. Querias viver à custa da virgindade de tuas filhas, isto sim. Mas
cheguei a tempo. Nem deves mais dizer que são tuas filhas.
-
Podem não ser tuas.
-
Como é?
-
Digo, para criá-las. Bem sabes que sempre fui uma mulher honesta. Foi só
maneira de dizer.
-
Bem, terminou o falatório.
-
Fiques se quiseres e dentro do meu regime e não procures desviar as meninas.
Mariquinha
calou-se e enfurnou-se. As meninas foram vê-la.
-
A senhora está errada e dizendo o que não devia dizer. Papai está certo e
estamos ao seu lado. Olhe se ele não chega à gente teria se perdido. Sabe como
é. A coisa vai aos poucos. Uma conversinha, uma intimidade, um presentezinho,
uma tapinha, um beliscão e quando menos se espera a coisa acontece o gato pega!
E depois é pior do que dente cariado ninguém tapa mais. Aqui na roça, não. Tem
menos cabra sem vergonha. E a gente trabalha no que é nosso e não falta comida
em casa e nem roupa no baú. É outra vida. Quando se quer vai-se à cidade.
Mas não tem luz, não tem água encanada,
meninas. Não tem gente para conversar. E é mato, mato e bicho.
-
É, mas em compensação, na cidade não tem o luar daqui, o céu tão estrelado, os
passarinhos cantando, o terreiro cheio de galinhas, o leite no curral, e o
milho verde na roça à hora que se quer.
-
Sim, acrescentou a outra. E os cajueiros, as pitombeiras, as ubaias, os cocos
catolé, as murtas e as jabuticabas.
-
Sim, essa história também de gente pra conversar, aqui não falta. A gente mesmo
conversa e tem os vizinhos e as visitas. Já na rua tem muito é fofoqueira e
cabra pelintra e nojento. Cachaceiro e ladrão. E o que é que a senhora lucra lá
na rua. Viu lá algum passarinho verde, mãe. Baixe esse fogo, vá criar suas
galinhas, seus perus e guinés. Fazer seus queijinhos de coalho e a manteiga de
garrafa como fazia. Isto sim. E fiquemos certa, nós duas estaremos com papai.
Se fosse pela senhora, naquele emprego miserável, terminaríamos na rua e
mataríamos papai de desgosto. O que foi que lhe virou a cabeça. O que está lhe
faltando, diga. Se papai fosse uma pessoa violenta já a coisa estaria mudada.
-
É, tudo contra Mariquinha. Sou mesmo uma mulher infeliz. Ninguém me obedece,
ninguém me escuta, cada um que ter razão. Mariquinha não vale mais nada.
-
Não é assim. Respeitamos a senhora como uma mãe, e, papai tem sido muito
paciente com as suas doidices.
-
Sou doida, então? Acham que sou?
-
Ser doido é uma coisa e fazer bobagem e doidice é outra. A senhora tem sua irmã
na rua e porque não vai passar lá algum tempo. Matar esse desejo, essa gana
pela cidade. Vá. Fala-se com papai e ele vai consentir.
-
É mesmo? Ótima idéia!
E
a coisa deu certo. Mariquinha meteu-se dentro da casa da irmã que a recebeu sob
certa reserva e desconfiança. Havia de descobrir a causa. Marelita era
diferente. Tinha vontade de morar na roça. O marido lutava como um bicho para
manter a família e não viver sacrificado.
-
Tem uma coisa, Mariquinha. Aqui todos trabalham. Não penses que vais ficar
pelas portas conversando fiado, não. Catarino não é o boboca do teu marido que
deixa fazer o que queres, olha aí à filharada que ele tem para vestir e comer.
Vais tomar conta de alguma coisa. Arrumação da casa e lavagem da roupa. Eu
cuidarei da cozinha e do resto.
-
Ah! Essa não. Queres me matar, é. Fazer de empregada?
-
Matar coisa nenhuma. Catarino sempre anda dizendo: quem come do meu pirão,
prova do meu cinturão. Abre teus olhos. Não te queres ver parada e odeia mulher
pelas janelas e pelas calçadas. E ele não é o Amaro, não. É um ótimo marido e
um ótimo pai, mas tudo dentro de sua linha.
E
lá se foi primeira semana, a segunda, a terceira. Mariquinha não queria dar o
braço a torcer facilmente. Terminou um mês no rojão de dona Marilita. E a
meninada exigindo roupa lavada e engomada. – Mamãe sozinha dava conta de tudo.
Chegou a tia e tudo anda atrasado. Mãe bote a tia para trabalhar, mãe. É só
comendo e loando.
-
Olha Marilita, acho que vou a casa. Já faz um mês que não vejo a família.
-
Nada disso. Vais ficar mais uns tempos me ajudando. Podemos trocar os serviços.
Passarás para a cozinha. Mas, uma coisa te digo. Catarino não tolera comida mal
guisada. E ele, quando se altera, é madeira de dar em doido.
-
Não, Marilita. Tenho que ir a casa. Estou morta de saudades. Vou e volto logo.
Não confias em mim?
-
Confio, mas terás que falar com Catarino.
-
Não. É desaforo. Não sou empregada dele nem tua.
-
Não te metas nessa. Se ele te pega, cose-te as orelhas.
E
quando Catarino chegou para o almoço, Marilita contou. Catarino foi direto à
dona Mariquinha.
-
Muito bem. Quer ir embora, não é. Faz muito bem. E vou lhe adiantar umas
verdades. Vá para casa tomar conta de sua família, acabe com essa vagabundagem
de querer morar na cidade. Crie juízo. E não me faça desconfiar de outras
coisas, se não vou contar Tim-Tim por Tim-Tim ao Amaro. Se você fosse minha
mulher já teria lhe amaciado. Olhe aqui como se vive tranqüilo. Eu, Marilita e
a turma. Não se discute não se briga e todos trabalham ou estudam com boa
vontade. Apague o fogo, mulher velha, mãe de duas moças e mulher de um santo
como é o Amaro. Aliás, eu soube que queria botar suas duas meninas a perder. Será
que isso é verdade. Ah! Se eu tivesse me casado contigo. Foi tua sorte. Já
havia de arrancado a moela. Toma o exemplo de tua irmã. Isto é que uma dona de
casa e uma mãe de família. Que diabo quer fazer aqui na rua, matutona. E pede a
Deus que Amaro e tuas filhas ainda te queiram. Se fosse eu não queira te ver nem
a careta. Andas atrás de que? Fala. Vamos te levar de volta. Voltarás quando
quiseres.
Mariquinha
entrou em casa com cara de mau recado. Entrou, falou com o marido e as filhas,
desconfiada. Depois do almoço a irmã despediu-se. Mariquinha foi ao terreiro da
casinha, chamou as galinhas, deu-lhe mais um pouco de milho que as galinhas nem
quiseram. Fez carinhos no papagaio. Chamou o cachorrinho, alisou-lhe a cabeça.
Contornou a casa. Os pés de bugaris estavam verdes e florados. O galo cantou e
o canarinho amarelo estalava na biqueira da casa. Mariquinha chorou escondida. Não
queira que vissem aquela dor do seu arrependimento. A vida da cidade não era
como ela pensava. Luz, água, casa, passeios, tudo custava dinheiro e a cidade
só produzia dívidas. E nem sonhava que fosse preciso trabalhar tanto. Teve pena
da irmã, com toda aquela luta desesperada para sobreviver. E lembrou-se do que
a irmã lhe dissera: Catarino daria tudo para ter a vida do Amaro. Uma
fazendinha, as roças de milho e feijão, a despensa cheia, um gadinho no campo.
Galinhas e ovos para comer e vender.
Tomou
conta da casa com disposição. Ia até a roça ajudar na colheita. O marido, seu
Amaro, tinha sempre um agrado na mesa. Uma farofinha de ovos, umas espigas de
milho assado, uma fruta qualquer, coisa fora do normal. Mariquinha não deixava
nada por fazer. E fazia com uma tranqüilidade e um bom gosto admirável.
-
Mamãe, vamos à missa do domingo. Faz tempo que a gente não vai rezar.
-
Vão vocês com seu pai. Não posso deixar a casa sozinha; abandonada. Aquilo lá
já me enjoou.
-
Mas mãe, vamos rezar, ouvir a missa e o sermão do padre Bento.
-
Não e não. Se o reverendo quiser que eu ouça missa e sermão que venha fazê-los
aqui.
-
Por mim, a rua, tirando a família de minha irmã, já podia ter se afundado. Que
diabo de cidade! Aquilo é um monturo. Tudo difícil, luta de cão. Deixe-me em paz. Levem o Amaro, que
vive aqui internado e só sai nos dias de feira.
-
Mãe não gostava tanto de cidade?
-
Não me atropelem. Adoro o cheiro do mato, os meus pés de bugaris, a sombra da
pitombeira. E vou lá deixar o coitado desse papagaio sem ter com quem
conversar.
-
Pai, vamos à missa amanhã?
-
Chama tua mãe.
.............................................................................................................................................
-
Não quer ver nem a cara do padre e nem da gente da cidade!
Seu
amaro por pirraça e para fazer raiva a mulher, concordou com as filhas, dizendo
que passaria dois dias por lá. Iria vender alguma coisa na feira do sábado e
ficaria para a missa no domingo.
Logo
cedo seu Amaro preparou o carro de boi, colocou em cima uns cabritos para
vender, dois sacos de farinha, três de milho, um bocado de queijo de coalho,
uma dúzia de capão gordos, que ia vender ao padre, doze dúzias de ovos de
capoeira e um monte de melancia. Bem arrumados, subiram no carro de boi e foram
em direção da rua, deixando a mulher, de boca aberta com tanta satisfação que
seu Amaro desta vez ia para a cidade.
As
meninas ficaram logo na casa da tia e o velho partiu com suas troçadas para a
feira que era instalada na frente da igreja, na rua principal.
À noite
para surpresa de todos; o padre Demerval, havia planejado uma quermesse para
angariar fundos para a limpeza da sua igreja. Resolveram então, todos,
participar da festinha de rua. Muitas moças e rapazes desfilando entre as
pequenas barracas e em torno do coreto da praça. Logo, Dora e Ceiça, andavam de
conversas com dois rapazes que já conhecia. Talvez, paqueras dos tempos antigos.
A coisa rolou até tarde da noite, e, no domingo, na missa, os dois casais
sentavam juntinhos, rezando e ouvindo o sermão sobre – Comportamento Antes do
Casamento – do padre Demerval. Pediram ao pai que só viajassem na segunda de
madrugada, pois não tinham se divertido tanto na vida. Estavam tão radiantes
que o velho consentiu. Via a felicidade estampada nas caras das duas.
Os três
chegaram cantando no terreiro da casa. Gritando que estavam com fome que
botasse o café na mesa que queriam voltar logo para a cidade.
Dona
Mariquinha ouvindo aquela latumia, botou a cabeça na janela e ficou sem saber
se estavam doidos ou tinham se embriagado na viagem.
Haviam combinado fazer uma boa brincadeira com
a teimosa, dizendo que iriam morara de vez na rua. Que já havia alugado casa,
pois a fazendinha estava próspera e as meninas estavam de namoro certo, arranjado
na noite da festa, coisa para casamento.
Perguntou
olhando para a cara assustada de dona mariquinha:
Como é?
Você é quem decide. Quer ir de vez?
.................................................................................................................................
Está
com vontade de se mudar para lá. Agora já pode. Tem boas safras e o gado está
aumentando o leite e queijo dá para a feira.
-
Certo. Mudem-se vocês e ele. O que foi que deu em Amaro. Não conte comigo. Era
só o que me faltava. Sair do meu sítio onde tenho tudo para me meter naquele
inferno.
-
Era só brincadeira, mãe.
-
Logo vi... Mas digam-me uma coisa. Aqueles cachorros não buliram com vocês. Não
me neguem.
-
Que nada, mãe.
-
Pois tenham cuidado. Essas coisas só depois de casadas e com gente que preste.
Gente assim como o Amaro.
As
duas meninas olharam-se e riram.
Dona
Mariquinha foi à sala e sorvia gostosamente o perfume dos bugaris.
Em 17.5.1985
*O conto faz parte do livro “Vidas
Nordestinas”, no prelo.
Faltou a folha nº. 20 no meio do conto
(tentei completar).
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