quinta-feira, 1 de agosto de 2013

RIACHO DO SAL*
João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)

A cidadezinha de Riacho do Sal não crescia. Recantada lá nos confins do Sertão, parecia dormir como um justo. Mas não começara assim. Teve um início promissor.
Caras novas surgiam de um dia para outro e a atração eram as baixadas férteis que produziam com chuvas escassas. Na verdade a origem do seu nome não provinha de terras ou águas salgadas e sim de um simples acidente narrados pelos antepassados, quando era apenas uma fazenda. Num período de enchentes, um tropeiro que conduzia cargas de sal e se aventura a transpor o riacho, perdera quase todo o sal que transportava.
Nada mais do que isso. As grandes safras de algodão mocó, feijão e milho despertaram atenção. Riacho do Sal era uma terra de uma família só. Com o tempo foi se desagregando por divisões de heranças. Começou daí a penetração de estranhos, e começo também de discórdias. Em decorrência disso a cidadezinha parou e empobreceu. A própria agricultura decaia. Com o desaparecimento do chefe da família que estimulava o trabalho e negociava a produção, desorganizou o sistema produtivo e comercial. Riacho do Sal fracionava-se cada vez mais. Desvalorizavam-se as terras já improdutivas e reinava o desanimo. Não aparecia um descendente do coronel Romão que desse novo encadeamento às atividades. O seu filho mais moço, olhava aquela debandada como se olhasse para uma ruína. Mas não tinha voz para ser ouvida, acatada. Conservava, no entanto, integral, a parte que lhe coubera e se não explorava convenientemente é porque lhe faltavam os meios adequados. Em todo caso ia ampliando de ano para ano as suas lavras de algodão e cuidava ciosamente das oito vaquinhas que lhe vieram por herança. Fazia uma economia quase excessiva para aumentar o rebanho e as roças de algodão mocó. Como era menor e inexperiente, ficara com a parte menos produtiva.
No que era seu, entretanto ninguém influía ou dava palpite. Espera que os anos se passem e chegasse à idade de melhor gerir o seu limitado patrimônio e, talvez, restaurar o passado reino da família, do abandono em que se encontrava. Sabia que não seria tão fácil, mas valeria à pena tentar. E, gradativamente planejava o que deveria fazer e como dar início à recuperação. O problema era mais a valorização do próprio homem, o seu impulso empreendedor. Analisava um e outro de seus parentes que se haviam deixado vencer por desleixo ou comodismo. E a melhor saída seria, em primeiro plano, levantar sua condição financeira para servir de exemplo. E assim, procurava multiplicar seu pequeno rebanho e desdobrar suas atividades produtivas no setor agrícola. Gerar ciúmes e um pouco mesmo de ambição. Chocava o indiferentismo daquela gente empobrecida e caindo cada vez mais economicamente.
No entanto, a terra estava ali, a mesma terra do tempo de seu pai. Faltava coragem, decisão, movimento. Um rebentão de seca reduzia os rebanhos da região. O gado desvalorizado à falta de recursos forrageiros estava com seus preços aviltados. A safra de algodão mocó reduzira-se, mas os preços ganharam altura. Depois da colheita, esses campos seriam um refrigério para a manutenção do gado.
E o que para muitos era uma aventura, para o Andrezinho seria sua oportunidade de crescimento. Não tinha a menor dúvida de que teria de enfrentar tremenda luta, mas iria correr o risco.
Lançou mão de suas economias, rapou o fundo do baú, comprando gado barato.
Madrugava e anoitecia no trato do rebanho. Ramos, xiquexique, macambira, facheiro, mandacaru, qualquer coisa que bicho comesse era utilizado. Vendera o algodão na condição de receber de volta o caroço. Seria o soro fisiológico para sustentar o gado. E essa sua atitude despertava a atenção dos vencidos.
- O Andrezinho, coitado, vai perder até o jeito de andar. Tudo quanto economizou nesses anos todos vai de rio abaixo. E dizer que para isto só faltou comer as correias das alpercatas.
- Mas o rapazinho é teimoso. Em quanto os outros vendem para não perder ele compra para perder tudo. E mais ainda, não toma conselho. É cabeça dura como rocha. Faz pena, mas o bicho é mesmo teimoso.
Andrezinho empregou em gado magro, o que possuía. Havia de enfrentar a seca até que São Pedro mandasse chuva. Teve o cuidado e a sabedoria de só comprar gado novo. De olho pregado no céu e os pés firmes no chão, ia ganhando tempo. E dezembro botou a cara de fora. Era o mês das primeiras trovoadas, a fase mais perigosa pra gado magro. Prevenia-se com mais um pouco de caroço de algodão, comprando fiado. Pagaria com juros durante a safra. E até o final da primeira quinzena, o céu não dizia nada, não dava sinal de inverno. Torcia a orelha, mas não se dava por vencido.
A luta continuava cada vez mais séria. Chuva de dezembro tarda mais não falta. Não perdia a esperança. Noite de vinte e quatro de dezembro. Extenuado adormecera; depois de planejar os afazeres do dia seguinte.
- Estão se lembrando do que dizia. O Andrezinho está liquidado. Nem as chuvas chegam e nem tem mais nada para alimentar o gado de suas loucuras e ambições. Está no mato sem cachorro.
Onze e meia da noite o trovão reboou pelas quebradas da Serra da Onça, do lado do nascente. Andrezinho pulou da cama como se estivesse azougado. Abriu a janela do oitão e via o relâmpago iluminar o lombo da serra. Teve alegria e medo, ao mesmo tempo. Gado magro não aguenta chuva pesada. Mas seja o que Deus quiser. Era apelar para a sorte. E o aguaceiro estalava no telhado da casa e as goteiras xiringavam água. Mais de uma hora de chuva. Bastaria para brotar a rama e nascer a babugem. Pela madrugada já estava no campo pisando no chão molhado e sentindo o cheiro agreste da chuva. O gado enxugava o pelo. O Riacho do Sal botava água, o açudeco estava sangrando. As plantas bebiam água para a brotação e as sementes se preparavam para a eclosão. Agora era agüentar quinze dias para o gado começar a puxar a rama. Estava tudo salvo. Dali para frente era esperar mais chuva e distribuir caroço de algodão ao gado. Quem não morrera até ali, e, não havia morrido nada. Pouco faltava para esquecer a penúria causada pela seca.
- Está aí. O Andrezinho tem boa cabeça. Menino danado. Zombou de todos e do tempo, com gado a preço de bolacha quebrada e está com os cercados lotados de gado.
- Aventura e doidice. Coisa de quem não pensa ou não conhece o Sertão. Poderia ter se arrasado de uma vez. Teve foi sorte. Mas nem todo dia é dia de santo. Quando menos esperar, com outra aventura dessas ficará de esmola.
- Fia-te nessa. O bicho tem o quengo do pai, que não tinha medo de nada e por isso mesmo deixou uma fortuna que vocês desperdiçaram, por desmantelo e preguiça. O Andrezinho vai é tomar conta disso tudo. Esperem.
Outras chuvas vieram. A pastagem subiu. O gado pegou carne. O curral se enchia à tardinha. Gado de Andrezinho tinha que ser visto todos os dias. Mas havia uma coisa que intrigava os parentes. Andrezinho não falava, não comentava nada. Não se vangloriava.
- O cabritinho é orgulhoso. Não da bola para ninguém. É mesmo metido a besta. O pai não era tanto assim.
Andrezinho falava e conversava sobre outras coisas, nunca, entretanto de seus negócios e quando alguém lhe fazia alguma pergunta, respondia com evasivas.
Enquanto isto o gado crescia e engordava no pasto. A lavoura de algodão estrondava na terra molhada e fértil. Estava indo para onde queria chegar. Um curral novo, de pau-a-pique, de aroeira, baraúna e angico, dava mais imponência à fazenda.
- O bichote fez curral novo. E bem feito. É enxerido mesmo. E está reformando a casa. Não se sabe de onde está tirando tanto dinheiro. Vai findar vendendo tudo para gastar com aquelas vaidades bestas.
Durante três anos, vendera o que lhe convinha para saldar pequenas dívidas e realizar o que pretendia. Precisava fazer as bases. O essencial. Taperas e ruínas não conferiam crédito e nem prestígios a ninguém. Não se fala mais em outra coisa em Riacho do Sal. Era só Andrezinho pra qui, Andrezinho pra li.
- Pois é. Uma vergonha para vocês, - dizia o padre Moisés. - Um menino levanta-se dessa forma e vocês no despenhadeiro, como se não tivessem braços, nem pernas e muito menos a cabeça. É certo o ditado que Deus só dá toucinho a quem não tem cambito. Para que querem tantas terras férteis, aqueles varzeados onde antes geravam tanta fartura. Todos de braços cruzados como uns paralíticos. Um descalabro, uma vergonha para os descendeste do coronel Romão. Andrezinho foi o único que tomou o caminho do pai. E vai muito longe. Irá dominar em Riacho do Sal queria ou não. Nosso Senhor ajuda e ama quem trabalha honestamente.
- Há de se ver, padre Moisés. O certo é que não iremos aceitar direção daquele fedelho.
- É o que veremos se não se cuidarem.
Um ano depois desse diálogo de advertência, Andrezinho adquiriu por compra uma das primeiras partes da herança de um dos irmãos, que estava em situação insustentável e decidia-se mudar-se da região. Antes, porém, não lhe faltaram os conselhos e o estímulo de Andrezinho. Não deveria vender e sim cuidar em produzir. Poderia ajudá-lo. O mundo já fora poderia trazer-lhe amargas surpresas.
- Bem, se não compra, venderei a outro.
- Se é assim, está aí o dinheiro, mas que não vá arrepender-se.
E nessa marcha foi adquirindo outras áreas. Não queria que aquelas terras caíssem em mãos de estranhos. Era uma recordação de seus pais, que deveriam estar assistindo amargurados a debandada dos parentes. Não se entendia aquela inércia, como as pessoas se deixavam vencer daquela forma, acomodando-se cada vez mais ao não ter nada e a caminhar para a miséria. Mas precisavam uma lição mais dura, talvez. Enquanto tivessem tostão da venda das terras, resistiriam.
E Andrezinho não esmorecia. As roças de algodão no regime de meação ampliavam-se, na mão de estranhos e alguns parentes, mas distante. Os parentes próximos sentiam-se ofendidos com a prosperidade de Andrezinho, que consideravam até uma espécie de desaforo. Como era que aquele ponta de rama tinha tanta sorte. Era verdade. Uns nasciam sem sorte, outros, a danada vivia empurrando a porta. Mais gado, mais algodão, mais terras, mais dinheiro e mais coragem. O bichote era mesmo enxerido. As várzeas de Riacho do Sal e os campos estavam quase todos em suas mãos. Andrezinho fazia seus planos de recuperação de sua gente.
Passaria a dar duro com eles. Havia de trazê-los de volta, fosse como fosse. Irmãos, tios, primo. E começou a batalha. Foi procurá-los um a um. Fazia pena ver a pobreza em terras dos outros.
- Vamos, vamos embora. Quero todos novamente reunidos. Levantaremos Riacho do Sal, e a família. E não vim para voltar sozinho. As casas de vocês estão lá e bem zeladas. Esperam por vocês. Não pensem que vão criar os filhos assim. Nem quero ouvir desculpas, entendem?
E foi levando de volta até o último.
- Estão aí às terras, as casas, e fornecerei dinheiro para o trabalho. Mas não será de graça. Pagar-me-ão os juros, apenas. Leite para casa é só pegar no curral. Temos alimentos para todos e se faltar vai-se lá fora. Todos, no entanto, vão trabalhar como no tempo de papai e mamãe. Acabou-se o comodismo e a preguiça.
E chegava a determinar as áreas a serem plantadas e cuidadas. Fiscalizava um por um. Quando lucrassem teriam que comprar um garrote ou mais cabras. O Sertão sem gados deixa de ser Sertão. E sertanejo que não tem um bichinho para criar desanima. Tinham que seguir sua orientação. E Riacho do Sal ia voltando ao seu ritmo de atividades. Uns já desejavam readquirir suas terras.
- Nada disso. É cedo. Não está faltando terra para trabalhar e nem campos para o criatório. É preciso acabar com essa mania de terra, terra, terra. E tenho um outro plano. Quando estiverem equilibrados economicamente, direi o que deve ser feito. Então verão que tenho razão. Vão comprando mais gado e aumentando as roças de algodão, sem esquecerem as lavouras de subsistência. A primeira coisa é encher as despensas.
E cinco anos depois, a família Torres estava recuperada e percebendo como fora que Andrezinho prosperava. Não era nada de sorte, apenas, era trabalho organizado, economia e tino. Todos esperavam a novidade que Andrezinho anunciara. O que diabo iria acontecer. E o dia chegou. Andrezinho reuniu a todos e fez a exposição:
- Bem vou vender a vocês as terras que lhes pertenciam, bem entendido, a parte que poderão utilizar. As sobras ficarão comigo. O pagamento ficará a critério de cada um. Pagarão como poder. Em dinheiro, em gado, em produtos agrícolas. As terras custarão apenas o preço xis por hectare. Quero cada um no que era seu. No preço das terras não entrarão as casas. Estas lhes dou de presente. Mas há uma condição. Não venderão mais e nem ficarão inativas. Terá que ser lavoura ou pastagens. Vamos fazer de Riacho do Sal um pouco mais do que havia sido nos tempos de papai e mamãe. Entenderam? Pois será assim. E vejam bem, ninguém irá desertar daqui. A família Torres não morará em terras alheias e muito menos viverá na penúria. Cada um pisará no que é seu. Dormirá tranqüilo com a família. Mas nada de vadiagem. Para descanso teremos os feriados e dias santos, isto mesmo, quando não se tiver alguma coisa urgente a fazer. E olhem, um ajudara ao outro nas aperturas de serviço ou em qualquer outra necessidade. Cada um irá contribuir de alguma forma para a construção de mais uma escola. A professora, se o prefeito ou o Estado não pagar, a pagarei eu. Vamos também cuidar e zelar as águas de beber. Água para o povo e para os bichos. Aguadas limpas para todos os viventes. E outra. Nas eleições todos unidos. Votar-se-á em quem trouxer mais benefícios para Riacho do Sal. Nada com esses aventureiros de porta de eleição.
Hão de nos respeitar. Riacho do Sal não tem estradas e somente caminhos abertos a casco de burro. Pretendo instalar um maquinismo de beneficiar algodão. Deixaremos de ser explorados. Esses políticos verão que somos também uma força independente. Força de muitas alavancas, empurrando numa só direção. Quem for podre que se quebre, ou leve a breca. Quem vai mandar aqui do caco de sal ao voto, será a família Torres. Que me dizem?
- Olha Andrezinho. No começo de tua disparada, tínhamos ciúme de ti e até pensamos que eras um aventureiro. Hoje, não. Toma conta da direção e conta com a gente.
E ninguém, fiques certo, irá mijar fora do caco. Nem atinamos, agora, Como tivemos tanta preguiça e nem como chegamos àquele ponto. É bem certo que à falta de um grito, perde-se uma boiada. Afinal de contas tivestes força e cabeça para juntar os pedaços da família extraviada.
- Sim, obrigado. Mas temos um problemazinho a resolver. Temos aqui em Riacho do Sal dois ou três elementos péssimos. Gente vinda de fora. Teremos que dar-lhes um jeito e se possível, sem violência. Vamos, a princípio, deixá-los completamente isolados e ninguém agüentará desaforo daqueles pestes. Mas vejam bem, onde estiver um Torres estarão todos. Vamos isolá-los. Ou se chegam a nós respeitosamente ou então, nas oportunidades, aplicaremos as leis do Sertão. Vamos tentar pacificamente. Se não der certo, todos sabem como se tira curva de pau torto. Quem não tiver seu “Papo Amarelo” em casa, vá buscar que empresto um e municiado. Organizaremos nossa própria defesa. Está certo?
- Tudo certo. Conta com a gente!
As famílias consideradas estranhas e de mau procedimento ficaram sem um bom dia ou uma boa noite, o mundo trancou-se para eles.
O melhor mesmo era vender as terras e a casinha de comércio e cair fora. Aquela família Torres não dormia na pontaria.
 Estavam todos de olho em cima deles como carcará ao redor de cabrito novo, para arrancar-lhe os olhos. A coisa havia mudado.
O melhor mesmo era seria caiar fora. E então, expuseram à venda os seus piquaios.
E os Torres reuniram-se.
- Vamos comprar tudo. Mas, cuidado nos cabras. Poderá ser uma armadilha. Vendem, pegam os cobres e aprontam uma.
- Vamos vigiá-los.
Mal sabiam que estavam era temerosos dos Torres.
Poderia muito bem, de uma noite para outra, amanhecer um de olho vidrado. E venderam tudo e desapareceram.
- Toma conta da bodega. Aumente-se o negócio. Comércio sempre foi boa coisa. O importante era ficarmos livres daquelas zebras. Cabras do oco do mundo, sem se saber a origem. Não se vai mais permitir a entrada de gente ruim ou suspeita. A vilazinha tem que crescer, mas com gente boa. Vamos construir casas para alugar. Servirão para atrair, novos moradores. Futuramente isto aqui há de ser uma cidade com Juiz e Delegado, posto médico e outras coisas que darão vida ao lugar. Mas tudo isto dependerá quase que exclusivamente de nós. Cada um terá que fazer sua parte. Este vale do Rio do Sal tem muita coisa e nos dar. Mas exigem de nós o trato de suas terras e isto, estou certo que o faremos. E ninguém espere que elas venham a produzir sozinhas. Seria demais.
Com menos de dez anos depois. Riacho do Sal já era Município e Andrezinho havia elegido o seu prefeito, pessoa de sua inteira confiança. Não desejava cargo público. Bastavam-lhe suas atividades empresariais. Também não gastaria dinheiro em politica. Isso era coisa para gente imbecil ou ladrão. Não poderia entender que um sujeito gaste rios de dinheiro para se eleger sem esperar vantagens ilícitas. Faltava ali cadeira para esses desclassificados.
Andrezinho estava com a sua economia consolidada. Seus lucros anuais propiciavam-lhe uma situação invejável. Os parentes iam seguindo a mesma trilha. Se não estavam ricos, estavam, entretanto, bem de vida, e Riacho do Sal crescia. Casaria nova e condição assistenciais razoáveis. Ia chegando aonde Andrezinho desejava.
E foi nessa fase que estourou a notícia surpreendente. Andrezinho ia se casar. Escolhera uma de suas primas, moça de dezoito anos e filha de seu tio menos afortunado. Era a Mércia que não o encantara apenas pela educação e beleza de formas, mas, sobretudo, pela maravilha de sua voz nas canções que gostava de entoar.
Até pouco antes, envolvido com os seus negócios nem se apercebera de que existiam mulheres bonitas e atraentes. Foi numa festinha de aniversário, quando Mércia fora convidada a cantar para enfeitar a festa. E não era para menos, diante de uma voz tão doce, tão suave tão cheia de harmonia. E se perguntou, onde diabo andava que não via essas coisas tão atraentes. E pediu a Mércia para cantar as canções que ela mais gostava e quando cuidou de si estava perdido nos sonhos mais belos de sua vida. E agora, se Mércia já tivesse seu namorada ou fosse noiva. Seria bem feito, para deixar de ser burro. Pois não era; como se podia viver esquecido das mulheres, sem perceber que eram elas as coisinhas mais belas e atraentes que Deus havia feito no seu atelier. Apresou-se em ir falar com Mércia, mas todo desajeitado, encabulado, como um passarinho que vai começar a cantar. No entanto, não poderia perder tempo. E foi abrupto.
- Mércia, queres te casar comigo?
E esperou a resposta como se estivesse em alto mar preste a morrer afogado. Mércia, atordoada ficou em silêncio. Só depois de uma eternidade abriu a boca corada e sorrira para falar.
Andrezinho engolia em seco, as suas dúvidas. E teve medo pela primeira vez.
- Bem Andrezinho, tenho um namorado, embora sem compromissos. Estou embaraçada e papai gosta muito dele, é um moço bom e parece que me tem amor.
- Diga logo quem é. Sou capaz de ir dar-lhe sumiço. E veja Mércia, quem pediu primeiro fui eu. Além disso, sou teu primo legítimo. Laços de família. Não me digas mais nada. Se me aceitas, canta aquela canção, aquela segunda que cantastes lá na festa de aniversário. Basta isto.
Mércia não tinha namorado nenhum. Era pura brincadeira. E soltou a canção mais bela de sua vida...


*O conto faz parte do livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.

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