sábado, 31 de outubro de 2015

DE ENGRAXATE A GENERAL





DE ENGRAXATE A GENERAL – A VITÓRIA DO MÉRITO!

Abandonado pelo pai, juntamente com mais seis irmãos, e criado somente pela mãe, o jovem Expedito Alves de Lima foi obrigado a trabalhar desde muito cedo para prover o seu sustento e da família. Com apenas 10 anos, foi admitido como engraxate no Centro Social do Regimento Santos Dumont, nas instalações do 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista.
Em 1966, o humilde paraibano, morando no Rio de Janeiro, teve a oportunidade de conviver com as atividades militares e receber orientação, apoio e acompanhamento nos estudos por parte de Oficiais e Sargentos do Regimento. Durante parte do dia estudava e em outra trabalhava no quartel.
Orientado por muitos integrantes da OM fez prova para ingressar na Carreira das Armas e teve sua dedicação e perseverança premiadas com sua aprovação no concurso da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) para o ano de 1972.
O jovem engraxate trilhou uma carreira militar brilhante e coroada de êxitos, que chegou ao ápice em Março de 2010 com sua promoção a oficial general, o mais alto círculo de oficiais das Forças Armadas.
O General Expedito é um belo exemplo de que “NO EXÉRCITO TODOS SÃO BRASILEIROS. NÃO HÁ ÍNDIO, PRETO, BRANCO, POBRE OU RICO; HÁ, SIM, O QUE NASCEU NA TERRA SANTA CHAMADA BRASIL”, exemplo de quem venceu pela competência e tipificação da VITÓRIA DO MÉRITO.
Ler mais: http://www.eb.mil.br/web/midia-impressa/abril#
Peter Costa
Suboficial RM1

Vice-Presidente da Associação Nacional dos Militares do Brasil - ANMB

terça-feira, 27 de outubro de 2015

O AMIGO RAFAEL

O AMIGO RAFAEL

Negros da Elite Imperial Brasileira

O Imperador Dom Pedro II sempre abominou a escravidão, não possuía escravos e sim empregados assalariados, e desde a declaração de sua maioridade, quando herdou quarenta escravos, libertou todos. Os mesmos passos sempre foram seguidos por suas filhas e aqueles que desejavam a admiração do Imperador.
Um dos maiores amigos do Imperador, desde sua infância foi um ex-escravo chamado Rafael, nascido em 1791 em Porto Alegre, e que durante a Campanha da Cisplatina admirou Dom Pedro I. Desde o nascimento do então Príncipe Imperial do Brasil, Rafael foi apontado como criado de Dom Pedro II, encantando a Imperatriz Leopoldina com sua dedicação.
Com a partida de seu pai e de sua madrasta, a Imperatriz Dona Amélia, o “órfão da Nação” foi criado com muita rigidez por seus tutores, e, solitário, tinha somente a suas irmãs e ao criado Rafael para proporcionar momentos de liberdade e descontração, ou de alento nas situações difíceis.
Rafael assumiu todas as funções com relação ao jovem Imperador, dando lhe afeto, carregando-o nos ombros e lhe dando refúgio no seu quarto quando não queria estudar. Assim como dormindo próximo a ele quando se assustava nas noites, contando-lhe histórias de ninar ou para sua diversão, arrumando-lhe a roupa e dando banhos.Com o passar dos anos o Imperador-Menino ensinou seu protetor Rafael a ler e a escrever.
O Primeiro Criado Particular do Imperador se manteve por mais de trinta anos ao lado de Dom Pedro II em suas funções, acompanhando-o em todas as suas viagens, e como amigo até o fim de sua vida.
Já muito velho, Rafael, com noventa e oito anos, faleceu em 16 de Novembro de 1889, abalado ao tomar conhecimento da prisão do Imperador Dom Pedro II no Paço Imperial e a Proclamação da República. De acordo com Múcio Teixeira, autor de uma versão romanceada de sua vida, intitulada “O Negro da Quinta Imperial”, suas últimas palavras foram:
“Que a Maldição de Deus caia sobre a cabeça dos algozes do meu Senhor!”

Pró Monarquia

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

POLICARPO QUARESMA



                               POLICARPO QUARESMA

O Triste Fim de Policarpo Quaresma é publicado no Jornal do Comércio no dia 19 de outubro de 1911 dá-se o início da publicação, em folhetim, da obra O Triste Fim de Policarpo Quaresma.

A obra mais famosa de Lima Barreto condensa em si muitas das características que consagraram seu autor como o melhor de seu tempo (Reprodução/Internet)
Triste Fim de Policarpo Quaresma surgiu como um romance de folhetim em edições semanais, no dia 19 de outubro de 1911, no Jornal do Comércio. Anos depois, foi publicado em um livro. Seu autor, Lima Barreto, era um mulato com ideias socialistas e um estilo de escrever inovador, cuja linguagem simples e direta podia ser compreendida pelo leitor popular.
A obra mais famosa de Lima Barreto condensa em si muitas das características que consagraram seu autor como o melhor de seu tempo. Ela focaliza fatos históricos e políticos ocorridos durante a fase de instalação da República, mais precisamente no governo de Floriano Peixoto (1891 – 1894). Seus ataques derramam-se para todos os lados significativos da sociedade que contempla, a Primeira República.
O meio intelectual da época, que ainda vivia sob forte influência romântica e parnasiana, reagiu chamando o escritor de semianalfabeto, condenando-o à marginalidade e ao ostracismo. Lima Barreto sofreu muito por criticar os poderosos de seu tempo, e suas desilusões não foram poucas. O escritor esteve internado em sanatório, tornou-se alcoólatra e morreu com apenas 41 anos, em estado de completo abandono e de miséria.

Biografia de Lima Barreto:

Lima Barreto (1881-1922) foi escritor e jornalista brasileiro. Filho de pais pobres e mestiços sofreu esse preconceito em toda sua vida. Logo cedo ficou órfão de mãe. Estudou no Colégio Pedro II e ingressou na Escola Politécnica, no curso de Engenharia. Seu pai enlouquece e é internado, obrigando Lima Barreto a abandonar o curso de Engenharia. Para sustentar a família, empregou-se na Secretaria de Guerra e ao mesmo tempo, escrevia para vários jornais do Rio de Janeiro. Ao produzir uma literatura inteiramente desvinculada dos padrões e do gosto vigente, recebe severas críticas dos letrados tradicionais. Explora em suas obras, as injustiças sociais e as dificuldades das primeiras décadas da República. Com seu espírito inquieto e rebelde, Lima Barreto entrega-se ao álcool.
Afonso Henrique de Lima Barreto (1881-1922) nasceu no Rio de Janeiro no dia 13 de maio. Filho de Joaquim Henriques de Lima Barreto e Amália Augusta, ambos mestiços e pobres. Sofreu preconceito a vida toda. Seu pai era tipógrafo e sua mãe professora primária. Logo cedo ficou órfão de mãe.
Lima Barreto estudou no Liceu Popular Niteroiense e concluiu o curso secundário no Colégio Pedro II, local onde estudava a elite litrária da época. Sempre com a ajuda de seu padrinho, o Visconde de Ouro Preto, ingressou na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, onde iniciou o curso de Engenharia. Em 1904 foi obrigado a abandonar o curso, pois, seu pai havia enlouquecido e o sustento dos três irmão agora era responsabilidade dele.
Em 1904 consegue emprego de escrevente copista na Secretaria de Guerra, ao mesmo tempo que colabora com quase todos os jornais do Rio de Janeiro. Ainda estudante já colaborava para a Revista da Época e para a Quinzena Alegre. Em 1905 passa a escrever no Correio da Manhã, jornal de grande prestígio.
Em 1909 Lima Barreto publica o romance "Recordações do Escrivão Isaías Caminha". O texto acompanha a trajetória de um jovem mulato, que vindo do interior sofre sérios preconceitos raciais. Em 1915 escreve "Triste Fim de Policarpo Quaresma", e em 1919 escreve "Vida e Morte de M.J.Gonzaga de Sá". Esses três romances apresentam nítidos traços autobiográficos.
Com uma linguagem descuidada, suas obras são impregnadas da justa preocupação com os fatos históricos e com os costumes sociais. Lima Barreto torna-se uma espécie de cronista e um caricaturista se vingando da hostilidade dos escritores e do público burguês. Poucos aceitam aqueles contos e romances que revelavam a vida cotidiana das classes populares, sem qualquer idealização.
A obra prima de Lima Barreto, não perturbada pela caricatura, foi "Triste Fim de Policarpo Quaresma". Nela o autor conta o drama de um velho aposentado, O Policarpo, em sua luta pela salvação do Brasil.
Afonso Henriques Lima Barreto com seu espírito inquieto e rebelde, seu inconformismo com a mediocridade reinante, se entrega ao álcool. Suas constantes depressões o levam duas vezes para o hospital. Em 01 de novembro de 1922 morre de um ataque cardíaco.
Obras de Lima Barreto
Recordações do Escrivão Isaías Caminha, romance, 1909
Aventuras do Dr. Bogoloff, humor, 1912
Triste Fim de Policarpo Quaresma, romance, 1915
Numa e Ninfa, romance, 1915
Vida e Morte de M. J. Gonzaga e Sá, romance, 1919
Os Bruzundangas, sátira política e literária, 1923
Clara dos Anjos, romance, 1948
Coisas do Reino do Jambon, sátira política e literária, 1956
Feiras e Mafuás, crônica, 1956
Bagatelas, crônica, 1956
Marginália, crônica sobre folclore urbano, 1956
Vida Urbana, crônica sobre folclore urbano, 1956


http://www.e-biografias.net/lima_barreto/









segunda-feira, 21 de setembro de 2015

PLATÃO E A PEDAGOGIA


PEDAGOGIA
Platão
O filósofo grego previu um sistema de ensino que mobilizava toda a sociedade para formar sábios e encontrar a virtude
01/07/2011 15:32
Texto Márcio Ferrari Nova-Escola
Foto: Há mais de 2 mil anos, Platão já defendia instrução igual para meninos e meninas
Há mais de 2 mil anos, Platão já defendia instrução igual para meninos e meninas
Frases de Platão:
"A educação deve propiciar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza que podem ter"
"Ao longo dos anos, os antigos encontraram uma boa receita para a educação: ginástica para o corpo e música para a alma"
Platão nasceu por volta de 427 a.C. em uma família aristocrática de Atenas. Quando tinha cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, por quem tinha grande admiração. Como a maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na política. Contudo, a oligarquia e a democracia lhe desagradaram. Com a condenação de Sócrates à morte, Platão decidiu se afastar de Atenas e saiu em viagem pelo mundo. Numa de suas últimas paradas, esteve na Sicília, onde fez amizade com Dion, cunhado do rei de Siracusa, Dionísio I. De volta a Atenas, com cerca de 40 anos, Platão fundou a Academia, um instituto de educação e pesquisa filosófica e científica que rapidamente ganhou prestígio. Três décadas depois, ele foi convidado por Dion a viajar a Siracusa para educar seu sobrinho Dionísio II, que se tornara imperador. A missão foi frustrada por intrigas políticas que terminaram num golpe dado por Dion. Platão morreu por volta de 347 a.C. Já era um homem admirado em toda Atenas.
Na história das idéias, Platão foi o primeiro pedagogo, não só por ter concebido um sistema educacional para o seu tempo, mas, principalmente, por tê-lo integrado a uma dimensão ética e política. O objetivo final da educação, para o filósofo, era a formação do homem moral, vivendo em um Estado justo.
Platão foi o segundo da tríade dos grandes filósofos clássicos, sucedendo Sócrates (469-399 a.C.) e precedendo Aristóteles (384-322 a.C.), seu discípulo. Como Sócrates, Platão rejeitava a educação que se praticava na Grécia em sua época e que estava a cargo dos sofistas, incumbidos de transmitir conhecimentos técnicos - sobretudo a oratória - aos jovens da elite, para torná-los aptos a ocupar as funções públicas. "Os sofistas afirmavam que podiam defender igualmente teses contrárias, dependendo dos interesses em jogo", diz Sérgio Augusto Sardi, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. "Platão, ao contrário, pensava em termos de uma busca continuada da virtude, da justiça e da verdade."
Para Platão, "toda virtude é conhecimento". Ao homem virtuoso, segundo ele, é dado conhecer o bem e o belo. A busca da virtude deve prosseguir pela vida inteira - portanto, a educação não pode se restringir aos anos de juventude. Educar é tão importante para uma ordem política baseada na justiça - como Platão preconizava - que deveria ser tarefa de toda a sociedade.
O ideal da escola pública
Baseado na idéia de que os cidadãos que têm o espírito cultivado fortalecem o Estado e que os melhores entre eles serão os governantes, o filósofo defendia que toda educação era de responsabilidade estatal - um princípio que só se difundiria no Ocidente muitos séculos depois. Igualmente avançada, quase visionária, era a defesa da mesma instrução para meninos e meninas e do acesso universal ao ensino.
Contudo, Platão era um opositor da democracia - há estudiosos que o consideram um dos primeiros idealizadores do totalitarismo. O filósofo via no sistema democrático que vigorava na Atenas de seu tempo uma estrutura que concedia poder a pessoas despreparadas para governar. Quando Sócrates, que considerava "o mais sábio e o mais justo dos homens", foi condenado à morte sob acusação de corromper a juventude, Platão convenceu-se, de uma vez por todas, de que a democracia precisava ser substituída.
Para ele, o poder deveria ser exercido por uma espécie de aristocracia, mas não constituída pelos mais ricos ou por uma nobreza hereditária. Os governantes tinham de ser definidos pela sabedoria. Os reis deveriam ser filósofos e vice-versa. "Como pode uma sociedade ser salva, ou ser forte, se não tiver à frente seus homens mais sábios?", escreveu Platão.
Estudo permanente
A educação, segundo a concepção platônica, visava a testar as aptidões dos alunos para que apenas os mais inclinados ao conhecimento recebessem a formação completa para ser governantes. Essa era a finalidade do sistema educacional planejado pelo filósofo, que pregava a renúncia do indivíduo em favor da comunidade. O processo deveria ser longo, porque Platão acreditava que o talento e o gênio só se revelam aos poucos.
A formação dos cidadãos começaria antes mesmo do nascimento, pelo planejamento eugênico da procriação. As crianças deveriam ser tiradas dos pais e enviadas para o campo, uma vez que Platão considerava corruptora a influência dos mais velhos. Até os 10 anos, a educação seria predominantemente física e constituída de brincadeiras e esporte. A idéia era criar uma reserva de saúde para toda a vida. Em seguida, começaria a etapa da educação musical (abrangendo música e poesia), para se aprender harmonia e ritmo, saberes que criariam uma propensão à justiça, e para dar forma sincopada e atrativa a conteúdos de Matemática, História e Ciência. Depois dos 16 anos, à música se somariam os exercícios físicos, com o objetivo de equilibrar força muscular e aprimoramento do espírito.
Aos 20 anos, os jovens seriam submetidos a um teste para saber que carreira deveriam abraçar. Os aprovados receberiam, então, mais dez anos de instrução e treinamento para o corpo, a mente e o caráter. No teste que se seguiria, os reprovados se encaminhariam para a carreira militar e os aprovados para a filosofia - neste caso, os objetivos dos estudos seriam pensar com clareza e governar com sabedoria. Aos 35 anos, terminaria a preparação dos reis-filósofos. Mas ainda estavam previstos mais 15 de vida em sociedade, testando os conhecimentos entre os homens comuns e trabalhando para se sustentar. Somente os que fossem bem-sucedidos se tornariam governantes ou "guardiães do Estado".
O aprendizado como reminiscência
Platão defendia a idéia de que a alma precede o corpo e que, antes de encarnar, tem acesso ao conhecimento. Dessa forma, todo aprendizado não passaria de um esforço de reminiscência - um dos princípios centrais do pensamento do filósofo. Com base nessa teoria, que não encontra eco na ciência contemporânea, Platão defendia uma idéia que, paradoxalmente, sustenta grande parte da pedagogia atual: não é possível ou desejável transmitir conhecimentos aos alunos, mas, antes, levá-los a procurar respostas, eles mesmos, a suas inquietações. Por isso, o filósofo rejeitava métodos de ensino autoritários. Ele acreditava que se deveria deixar os estudantes, sobretudo as crianças, à vontade para que pudessem se desenvolver livremente. Nesse ponto, a pedagogia de Platão se aproxima de sua filosofia, em que a busca da verdade é mais importante do que dogmas incontestáveis. O processo dialético platônico - pelo qual, ao longo do debate de idéias, depuram-se o pensamento e os dilemas morais - também se relaciona com a procura de respostas durante o aprendizado. "Platão é do mais alto interesse para todos que compreendem a educação como uma exigência de que cada um, professor ou aluno, pense sobre o próprio pensar", diz o professor Sardi.
Para pensar
Platão acreditava que, por meio do conhecimento, seria possível controlar os instintos, a ganância e a violência. O acesso aos valores da civilização, portanto, funcionaria como antídoto para todo o mal cometido pelos seres humanos contra seus semelhantes. Hoje poucos concordam com isso; a causa principal foram as atrocidades cometidas pelos regimes totalitários do século 20, que prosperaram até em países cultos e desenvolvidos, como a Alemanha. Por outro lado, não há educação consistente sem valores éticos. Você já refletiu sobre essas questões? Até que ponto considera a educação um instrumento para a formação de homens sábios e virtuosos?


domingo, 20 de setembro de 2015

CENTO E CATORZE ANOS...











VELHOS BRINQUEDOS*

João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)

Há, na certa, gente que depois de crescida, gosta de fantasiar sua vida de menino. Ou por outra, começa a mentir, aparentando que teve uma infância dourada, repleta de brinquedos e diversões as mais variadas. Outras contam dissabores e uma vida lastimável de menino pobre. Saíram do nada e se fez gente a custa dos próprios esforços. Comigo e meus irmãos não se deu nada disso.
Tivemos uma infância comum, sem luxos, nem riquezas, mas também sem miséria. Sempre tivemos o essencial: casa, comida, roupas e o campo para nossas brincadeiras. Ninguém teve bicicleta, nem pistolas de plásticos ou automáticas ou outras espécies de brinquedos que saíram das fabricas. Minhas irmãs, essas tinham bonecas, geralmente de louça que eram um mimo e de plástico também. Mas não eram muitas.
Em compensação não faltavam outras diversões que não trocaríamos por nada neste mundo e que a meninada das cidades não possuía e invejavam. Caçar ninhos de passarinhos, armar arapucas e esparrelas para apanhar concriz, galos de campina e sabiás; montar a cavalo e em bezerros, andar trepado nas árvores, tomar banho nos açudes e lagoas, apanhar cumatí, murta, umbu e brincar de fazendeiro. Com vacas e bezerros de osso, inclusive vaqueiros. Era uma coisa rústica, mas gostosa. Sempre se ambiciona aquilo que não se tem. E as brincadeiras de esconde-esconde, de apostar careira, armar fojo para pegar preás, tantas coisas que ainda hoje nos deixa saudades.
Só o que nos contrariava era deixar tudo isso para ir à escola. As brincadeiras tinham mais força e a gente mesmo as inventava. Não nos faltava companheiros. As meninas de tia Aninha, de Manuel Gonçalves, de Robertinho, os negros de Nicolau, os Patrícios e muitos outros. Uma figura inesquecível era o Antônio de seu Pedro Vital, compridão, tolo e molenga. Nos dias de sábado e domingo quando o meu pai ia à feira ou a missa, a turma juntava-se para trancar os bezerros no curral, laçar, montar e cair. Era coisa para valer. Meu pai amansava carneiros para a gente montar. Chegou até a mandar fazer uma selinha de carneiro. Era uma delícia, e os meninos da rua davam uma perua ao diabo para uma semana na Arara¹ ou no Algodão. Sebastião e Egídio Lima tinham esses privilégios. O Egídio era moleirão, mas adorava. Lá em casa todos trabalhavam, fosse no que fosse. Não tinha essa história de viver penteando macaco. Na roça, em casa, levando recado. As coisas às vezes eram duras, mas meu pai e minha mãe sabiam muito bem o que estavam fazendo.
O Joaquim, o mais velho era meio escorão e cedo, inventou de negociar na cidade. E foi. Era um armazém de cereais e legumes que não durou muito. Passou para outro tipo de comércio. Positivamente naquela fase, não gostava de roça. Era metido a homem. Embirrento. Foi toda a vida assim.
Heleno queria ser o mais inteligente e mais sabido. E eu acho que era mesmo. De minha parte, sempre fui um boboca, mas arengueiro a toda prova.
Queria fazer pouco de mim e lá iam as brigas. Mas era tudo como fogo de palha. Passava logo.
- Vai João para ali, vai João pra acolá - e o besta ia.
Matias e José formavam uma canga. Fazia suas artimanhas às ocultas. Chegavam até a arrombar o açude velho e meu pai nunca soube... Das mulheres, as brigonas e valentes eram, Ana e Olivia. As outras, Mãezinha, Maria, Helena, Izabel e Rosa, eram nossa tabua de salvação. Olivia e Ana, também boas amigas, geniosas e de mãos pesadas... Tinha-se de pisar macio.
Tivemos todos uma infância agradável. Trabalhava-se e ninguém se maldizia. As festas, passava-se na cidade todos de roupa e sapatos novos. As mulheres tinham que ter um vestido diferente para cada noite de novenário. Fora da escola e da preguiça nada mais me afligia.
Os outros, bem se notava, eram mais dedicados. O Heleno não era também muito afeiçoado a estudos. Gaseava quando podia e me agradava àquela solidariedade. José e Matias abandonaram cedo os estudos. Inventaram que não tinham boas cabeças para os estudos. Quem complicou a minha vida foi o Seminário. Quando o larguei, meu pai disse que eu não queria estudar. Cai na besteira de afirmar que queria, só não no seminário. E tive que sustentar a palavra. Terminei um estudioso, com pouca memória e inteligência comum. A moral de meu pai levou-me a formatura agronômica. Afinal, até agora não me arrependi. Creio que não paguei o quanto os meus pais e meus manos fizeram por mim. Quem sabe se o esforço foi pouco...
A vida na roça é saudável e divertida. Dispensa artifícios e coisas fabricadas a troco do metal sonante. Os fabricantes não pensam em distrair ninguém. A propaganda falsa interessa só para impingir os seus artifícios. Dia da criança, dias das mães, dos pais, dias de todo o mundo, é puro comércio, legítima exploração comercial. Uma vergonha nacional. Isso faz lembrar o escritor Ariano Suassuna, que criava uma seriema no quintal e não possuía televisor.
Um vendedor que o advertiu da falta de um televisor para distrair os filhos, que deveriam ter inveja dos filhos do vizinho. Ele replicou:
- É. Venha cá. Os outros têm televisões, mas não tem uma seriema como esta no quintal!
No campo há de tudo que é bom e divertido. Riachos correndo, lagoas cheias, açudes sangrando, pássaros, campos floridos, abelhas zumbindo, pássaros nos ninhos, milho verde, pitomba, ubaia, murta, goiaba, cavalos para montar, leite puro no curral, oxigênio para encher os pulmões e sem as poeiras da civilização. Se não fora o sacrifício da danada da escola, a felicidade da infância teria sido completa. É certo que depois, usufruem-se as vantagens de ter frequentado à escola, embora arrastado como bode para dentro d’água.
Minha ojeriza pela escola era tal que pedia a Deus que matasse todos os professores de uma porretada só. Enquanto existissem não haveria paz no reino das crianças...
E quantas vezes engoli as consequências de um primário chamuscado. Havia tanta distração no campo, que odiava à escola e dos professores que comiam à custa do sacrifício dos meninos que os pais empurravam para a escola, a fim de não criá-los burros.
Uma velha brincadeira era a gangorra ou o João-Galamarte². Balançar no sobe e desse ou rodar até cair tonto. As grandes fogueiras do São João e do mês das flores de maio, faziam parte de nossa vidoca de menino da roça. As bacias com água para ver o rosto e saber quem alcançaria o outro são João, os copos com água com clara de ovo para saber quem casa ou não. Se formasse uma capelinha era casamento certo. Tinha cabra nervoso que não via o rosto e saia com a certeza de não ver a outra festa.
Era motivo de vaias e galhofas. E não ficava nisso. Enfiar faca nas bananeiras para no dia seguinte tirá-la com as iniciais do nome do noivo ou noiva. Tudo isso era uma poesia encantadora.
Quem viveu na roça não conheceu os encantos da vida nas fazendas. Nas cidades tudo é artificial, irreal, sofisticado.
Em 10/04/85


Nota do digitador:
¹ Fazenda Arara fica no Município de Esperança Paraíba, onde meu pai nasceu e se criou.
² Galamarte
Brinquedo que estava presente em quase todas as regiões do estado e muito lembrado com uma boa dose de nostalgia por todos aqueles que com ele brincaram. O galamarte, ou galamacho (Tibau do Sul), ou ainda, João Galamarte (Florânia), consistia numa tora de pau, com mais ou menos três metros de extensão, e com um furo no meio, justamente no seu centro de gravidade. Próximo às suas extremidades enfiava-se um pedaço de pau, que era o torno, uma espécie de suporte para as crianças se segurarem. Fazia-se uma base para recebê-lo, fincando-se no chão um pau bem resistente, geralmente pau-d’arco ou jucá, com a ponta afiada para encaixar no buraco feito na tora de pau. Essa base servia de eixo para a tora girar em círculo ou em movimento de cima para baixo, como uma gangorra.
A madeira para confecção do galamarte variava de região para região, e de acordo com a matéria-prima disponibilizada pela natureza: na região Oeste do estado, usava-se o tronco da carnaúba; na região do Seridó, a madeira utilizada era o pinhão; e, no litoral, era o galamache, árvore típica da mata atlântica. Cavalcante (2007) ressalta que o furo, para receber o eixo, era feito com ferro quente, para não haver risco de rachar.
A brincadeira consistia em girar o galamarte com duas crianças sentadas nas suas extremidades. O equilíbrio do peso, segundo Figueiredo (1966), se dava pela aproximação ou distanciamento das crianças dos extremos das hastes móveis.
Medeiros de Barros (2006), que teve sua infância em Tibau do Sul, nos fala que a brincadeira se “tornava boa”, porque ficava uma criança no meio, empurrando o galamarte, e, quando pegava velocidade, o desafio era tentar sair, sem que o pau nela batesse. Isso se tornava difícil, porque, à medida que a criança girava, ficava tonta, dificultando sua saída, já que tinha que correr em velocidade para escapar da tora. Às vezes a solução era deitar no chão para escapar, ou então, subir na tora, e ficar girando junto com as outras duas crianças. Em Florânia, o desafio era ver quem aguentava mais tempo girando. Girava-se o galamarte até uma das crianças cair tonta ou desistir do desafio. Acontecia, às vezes, de uma ou outra criança enjoar e vomitar. Assim Figueredo (1966) se refere ao galamarte:
[...] As crianças do sexo masculino brincam montadas, enquanto as meninas antigamente sentavam-se, à maneira inglesa de cavalgar. Agora, com o uso de calças masculinas entre mocinhas, todos montam-se no Galamarte, sem distinção de sexo. O brinquedo pode provocar sérios acidentes. Quando a criançada lhe dá movimento rápido demais, fora do comum, constitui verdadeiro perigo.
Usava-se carvão e sebo para diminuir o atrito da junção entre o eixo e a tora rodante, o que provocava um barulho muito parecido com os de um carro de boi. Cavalcante (2007) descreve o processo de preparação do carvão com o sebo:
[...] o melhor sebo é o de carneiro. Aí, nós pilava o carvão bem picadinho, pega o sebo e estendia [..] misturava bem misturadinho, o sebo com o carvão [...], quando acabava tacava dentro do buraco do galamarte. Aí vinha para a ponta do pião, colocava um bolão na ponta, dentro do galamarte colocava outro bolão, aí sentava em cima.
Esse rangido era muito peculiar, tanto que todas as pessoas que brincaram, fazem referência ao barulho provocado pelo Galamarte. Diziam que o “galamarte cantava”. Cavalcante (2007) lembra que na Cidade em que viveu, o rangido do galamarte era denunciador de que as crianças estavam brincando. O barulho era tão forte, que o galamarte era construído distante das casas e, mesmo assim, toda a vizinhança ouvia o barulho. Ele morava a uma distância considerável do local onde brincava com seus amigos, mas, ainda assim, o barulho do objeto lhe denunciava ao seu pai, que não queria que ele brincasse no galamarte, pois achava perigoso.
Melo, M. (1953, 104) descreve o galamarte:
Entre as brincadeiras dos meninos, há uma igualmente curiosa e interessante. É a do João-Galamarte (23). Pegava-se uma banda ou lasca de carnaúba, plainava-se por dentro, tiravam-se os nós que havia por fora, e no centro abria-se buraco a formão e a fogo. Feito isto, enfincava-se um pau preparado no chão: estava pronto o Galamarte. Os meninos montavam nas duas extremidades e começavam a rodar. Para que o Galamarte cantasse, usava-se sebo, carvão e gás.
Ainda sobre a brincadeira, havia um versinho que dizia:
João Galamarte
De pau e colher
Que vendeu a mulher


Por um dedo de mel

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A VITORIA PIRO DA MENTIRA

A VITÓRIA PIRO DA MENTIRA.


A mentira que mais foi repetida durante a campanha eleitoral do ano passado, até a exaustão tal qual um mantra, assegurava que todos os políticos são iguais. E nesse mantra o que mais impressionava era a origem dos vocalistas: a esquerda brasileira.
Por mais estranha que seja tal ocorrência, a esquerda afirmando que os seus quadros eram iguais aos quadros dos demais partidos, se tornou a estratégia desesperadora de defesa do partido governista frente às descobertas de que os seus "heróicos" tesoureiros não só levantavam recursos para as campanhas eleitorais na forma legal, mas de todas as formas. E, muitas vezes, os recursos financeiros, embora registrados conforme a lei eleitoral, em verdade tinham origens ilícitas.
E mais ainda, os tesoureiros e os beneficiados diretos não só utilizavam esses recursos nos gastos de campanha, mas se apropriavam de uma parte bem mais significativa para os seus tesouros pessoais.
Em suma, tudo que se afirmavam anteriormente sobre os políticos tidos como da direita, valia para os que mais se exaltaram em denunciá-los. Sendo que defendendo, hipocritamente, que assim o fizeram para o bem do trabalhador brasileiro.
Apesar de tudo, havia uma razão, assim a propaganda eleitoral dizia, para votar nos políticos do partido no poder: eles eram iguais aos demais, mas eram de esquerda.
Eram os espertalhões da esquerda que venceram os espertalhões da direita, em uma metáfora de que o podre continuava como sempre foi, mas alguns pobres agora eram mais ricos do que os antigos ricos.
Nestes novos ricos estava a resposta que os pobres poderiam continuar dando aos antigos ricos: a grande vitória dos podres de espírito. Não confundir com o conceito evangélico de pobres em espírito.
Neste quadro de tamanha perplexidade, a propaganda agressiva e sanguinária da esquerda pela quarta vez venceu as eleições presidenciais no País. Mas, o pior ainda estava por vim.
A presidente reeleita não sabia para que mesmo foi a escolhida. Mentiu tanto sobre os outros que terminou por optar em executar o que ela afirmava ser o "programa de governo" dos seus adversários. Simplesmente porque não possuía nenhum programa de governo e sabia que manter a política do seu governo anterior era inviável.
Mas, na campanha, quando cobrada pela ausência de um programa de governo, ela afirmava que não era necessário porque o seu futuro governo seria igual ao em exercício. Por isso mesmo era que os trabalhadores deveriam votar nela. Os demais candidatos oponentes iriam, proclamava a propaganda política do partido no poder, retirar as conquistas da classe trabalhadora que, hoje, ela pretende fazer. Na vã ilusão de que, pagando qualquer preço, continuará ocupando o cargo de Presidente, mesmo sem nenhum efetivo poder.
Enquanto tudo isso se passa, o seu partido pretende, sem sair do lugar, voltar a se apresentar como o Partido da Oposição, libertador das práticas originárias da corrupção. Práticas que este mesmo partido elevou a categoria de meio de libertação dos trabalhadores.
Um verdadeiro enredo de terror promovido pela Vitória Piro da Mentira que colocou o corpo político do partido no poder na temperatura que o conduz à morte.


Hiran de Melo

domingo, 30 de agosto de 2015

DIVALDO PEREIRA FRANCO





"Momento Difícil"

Artigo de Divaldo Franco publicado no jornal A tarde de 27 de agosto de 2015.

O mundo está em crise, e o Brasil estertora, conforme o noticiário de todo instante. Sucedem-se os escândalos, e as surpresas com as pessoas envolvidas produzem um duplo efeito: desencanto em confiar em indivíduos de aparente apresentação digna, inimputável, mantenedores, no entanto, de conduta vulgar e criminosa, assim como a perda da esperança em dias melhores ante a cultura da desonestidade que campeia à solta. A questão, no entanto, é mais ampla porque se apresenta com caráter internacional. O ser humano parece ter perdido o rumo ético, entregando-se aos excessos de toda ordem, revivendo preconceitos bárbaros que se repetem causando lástima e compaixão.
Haja vista o que o Estado Islâmico está realizando em uma cidade do Iraque onde se encontram cristãos. Além de destruir todos os monumentos que honram o passado e são patrimônio da humanidade, estão degolando selvagemente os adeptos do Cristo, em espetáculo de hediondez, repetindo com mais crueldade as perseguições promovidas pelo Império Romano durante os três primeiros séculos do nosso calendário.
Os crimes crescem assustadoramente, e os cidadãos nos encontramos amedrontados, receando as ruas e também a intimidade dos lares, onde os bandidos se adentram e cometem arbitrariedades. Como mecanismo de fuga, os brasileiros sorrimos dos comportamentos anedóticos de autoridades que deveriam zelar pelo idioma pátrio, sem aventureirismos ridículos, através dos veículos da comunicação virtual. Não serão resolvidos os dramas existenciais com a zombaria, as reclamações, os doestos. Tornam-se indispensáveis comportamentos corretos, conscientização de possibilidades de ação através das leis que vigem no país.
Se cada cidadão e cidadã brasileiros cumprirem com o seu dever, poderemos restabelecer a ordem e voltar a confiar no futuro. Jesus estabeleceu uma ética desafiadora que serve de bastão psicológico de segurança: “Não fazer a outrem o que não gostaria que outrem lhe fizesse.”
Divaldo Franco escreve quinta-feira, quinzenalmente.
#‎ArtigoDivaldoFranco


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

DIA DO SOLDADO

DIA DO SOLDADO
Herculano Filho 25/08/2015  (Sócio da ASMRAFFAA – BRASILIA)
Para: Grijalva Maracajá

Para reflexão:

Nós, do Exército Brasileiro!

Fomos nós, do Exército Brasileiro, que lutamos nos Guararapes contra o invasor holandês, justificados e motivados pelo sentimento de pátria que o amálgama de raças e o amor à terra fazia surgir.

Fomos nós que asseguramos a Independência, que lutamos na Cisplatina e que defendemos a honra, os interesses, a soberania e o patrimônio da Pátria nas guerras e conflitos internos que abalaram, ameaçaram e fixaram nossas fronteiras e asseguraram a unidade nacional.

Fomos nós que, aliados a antigos adversários, fizemos malograr as intenções expansionistas de Solano Lopes.

Somos nós, do Exército Brasileiro, que temos na consciência o peso da participação na derrubada do Império e que conhecemos a responsabilidade que nos cabe na instauração desta República que, até os dias de hoje, envergonha a história política do Brasil.

Fomos nós que lutamos em Canudos, no Contestado e na 1ª Grande Guerra Mundial. Fomos nós que, ao morrermos movidos pelos ideais "tenentistas", escrevemos a epopeia dos "18 do Forte"

Fomos nós, do Exército Brasileiro, que ajudamos a colocar Getúlio no poder e não o impedimos de implantar o Estado Novo.

Somos os mesmos que, em 35, sofremos na carne a traição e a agressão assassina de comunistas fardados, falsos camaradas, idiotizados pelo internacionalismo vermelho.

Fomos nós que lutamos na Itália e que trouxemos de lá lauréis de bravura e de abnegação que refletem nosso exacerbado amor à  liberdade e à justiça.

Somos os mesmos, os do Exército Brasileiro, que, em MARÇO DE 1964, assumimos a liderança do clamor popular que repudiava a ameaça comunista que, mais uma vez, nos rondava às escâncaras e à sorrelfa, pregando mentiras e preparando o golpe de morte aos valores pelos quais sangráramos em guerras e revoluções.

Fomos nós, do Exército Brasileiro, que lutamos nas matas do Araguaia contra uma guerrilha de lunáticos, preparados por fanáticos da utopia comunista e liderados por falsos profetas que pregavam o ódio e exploravam desigualdades e injustiças que nunca pretenderam ou seriam capazes de corrigir.

Somos os mesmos que,  atônitos, vimos surgir nos grandes centros a ação deletéria, covarde e assassina de terroristas treinados longe da Pátria que, misturados às próprias vítimas, as usavam como escudo e camuflagem. Aprendemos, não sem perdas e sem o sacrifício de pessoas inocentes, a conhecê-los,  a combatê-los e a vencê-los!

Fomos nós que, com o espírito aberto e pacificador de Caxias, assistimos ao retorno dos banidos, dos fugitivos da justiça e dos exilados e que, inocentemente, alimentamos a crença de que, anistiados, voltavam ao convívio e ao aconchego da Pátria para ajudar na construção do Brasil livre, desenvolvido e democrático que o desejo da maioria impunha construir.

Fomos nós, do Exército Brasileiro, que, como Soldados da Paz, arriscamos nossas vidas na África, no Timor Leste e na Bósnia. Fomos nós que, ao levarmos a paz e a solidariedade ao sofrido povo do Haiti, morremos com ele, soterrados no cumprimento do dever.

Fomos nós, do Exército Brasileiro, que conduzimos e executamos as operações que resultaram na retomada de áreas ocupadas por facínoras e traficantes nos complexos de favelas do Rio de Janeiro, devolvendo e assegurando àquelas comunidades os direitos de cidadãos que a covardia, a omissão, os interesses e a conivência de políticos, governantes e até de policiais lhes haviam tirado.

Este rápido, superficial e incompleto passeio pela história de nossos feitos, faz ver que nós, do Exército Brasileiro, desde Guararapes até a "Maré", carregamos e continuaremos a carregar a herança desses fatos e responsabilidades que não pertencem ao passado ou aos que lá estiveram naqueles momentos, mas a nós todos, soldados de ontem, de hoje e do amanhã, porque é herança de honra, de glória e de responsabilidade!

O que está feito não pode ser mudado e pertence a todos nós.  Não há como apagar a história nem há como fugir à responsabilidade sem deixarmos de ser nós mesmos. Não há ordem ou desconforto, de quem quer que seja, que nos possa fazer esquecer ou ser menos  responsáveis ou orgulhosos dos feitos e fatos que compõem a nossa história, sob pena de termos que abdicar do orgulho de sermos nós, os do Exército Brasileiro!


Gen Bda Paulo Chagas

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

DIA DO MAÇOM














PARABÉNS A TODOS OS MEUS PODEROSOS IRMÃO DE TODO O MUNDO, VAMOS A LUTA PARA NÃO DEIXAR A DEMOCRACIA CAIR NAS MÃOS DOS MAUS

terça-feira, 28 de julho de 2015

IV CAVALGADA LAGOA SECA





LAGOA SECA/PB PROMOVE A IV CAVALGADA DOS AGRICULTORES


O município de Lagoa Seca promoverá neste próximo dia 2 de Agosto, a IV Cavalgada dos Agricultores. O município é destaque no setor agropecuário do Estado e no Nordeste e o evento tem fortalecido essa realidade na região.
O evento tem como objetivo principal homenagear o agricultor, cujo dia é comemorado no dia 28 deste mês de Julho.
A organização é da Associação de Desenvolvimento Econômico, Social e Comunitário da Chã do Marinho (ADESCCM), Associações da Cana e Associação da Vagem Pai Domingos do Município de Lagoa Seca, que com esforços aliados com outros parceiros e patrocinadores prometem fazer uma produção ainda maior do que as edições anteriores.
Em breve divulgaremos mais informações, a exemplo do local de saída e de chegada, as atrações e o aparato de segurança. Siga a Fan Page Oficial da Cavalgada dos Agricultores e fique por dentro das novidades.
https://m.facebook.com/cavalgadadosagricultores

Mais informação ligue: (83) 9 9999-8206

ALUNO NOVO OU NOVO ALUNO?








OLHA EU AÍ DE NOVO. MAIS UM DESAFIO. DESTA VEZ CURSANDO LETRAS NA UFPB (EAD).

quinta-feira, 23 de julho de 2015

GORGOLINO

GORGOLINO*
João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)


            Num casebre de taipa, à margem do Riacho da Cachoeirinha, nasceu Gorgolino numa sexta-feira de agosto, dia treze. E lhe deu tanto azar, que lhe botaram logo um nome estrambótico, saído da cabeça do pai que adorava coisas esquisitas. Ainda mais, nascera de sete meses, raquítico, a cabeça grande e chata, as pernas finas e tortas e olhos miúdos como olho de cafife, donde veio depois o apelido: Gorgolino Cafife. Cresceu desmantelado. Tinha, entretanto a seu favor, uma inteligência viva e uma memória admirável. Quem não o conhecia na intimidade, não dava nada por Gorgolino Cafife. Os pais pediram a Deus que não nascesse outro igual e a mãe se queixava de que o Gorgolino era assim por que havia sido gerado numa cama de varas, amarrada com embira de caroá e forrada com colchão de capim amargoso em estopa de sacos velhos de fardos de carne de Ceará. O pai, entretanto, discordava. Deveria ter sido mau jeito e afobação da mulher.
            - Se foi assim, a culpa foi tua, Cagaíto.
            - Minha, não, Torfina. A pressa era tua, o chamego era teu. E agora o que se vai fazer com o cotado assim tão desengonçado!
            - Cria-lo para ver em que dá.
            - Que bicho, Cagaíto. Ainda ficas com tuas brincadeiras.
            - Brincadeira, uma ova. E a culpa é mesmo tua. Foi defeito da forma. Não há peça que saia perfeita numa forma aleijada. E o coitadinho que sofra as conseqüências. Eu bem que desconfiava daquela tua barriga cheia de altos e baixos, diferente das outras mulheres buchudas.
            - Toma vergonha nessa cara e vamos cuidar direitinho do Gorgolino. Nascer feio não é pecado não.
            Gorgolino cresceu um pouco. Tinha que ser mesmo baixote e fraquinho de corpo. Mas era ágil como um gato do mato. Punham-lhe apelidos que ele levava na gozação e por isto não pegavam. No entanto tinha uma habilidade danada de apelidar os outros e o apelido ficava como uma cola que não desgruda. Tinham medo dele por isso e mais ainda pela galhofa que fazia com a cara mais cínica deste mundo. Ganhou fama na escola, graça à sua memória fantástica. Era como um gravador novinho em folha. O que ouvia ou lia, ficava para sempre na memória. Além disso, imitava a fala de qualquer um e por isto sempre ajudava os colegas nas perguntas que a professora fazia. Bastava perceber que o menino titubeava na resposta. Mas a professora admirava-se que alunos burros estavam se sobressaindo de um momento para outro e chegava a elogiá-los. E ficava convencida que seus métodos de ensino eram os melhores deste mundo.
            Gorgolino crescia na estima dos colegas, mas tinha receio de que a professora viesse a perceber a tramoia. E de fato, com algum tempo aconteceu o inesperado. O Sabino, vaidoso e safado procurava um meio de complicar Gorgolino que sempre estava à sua frente em conhecimento. Menino filho de gente rica e prestigiada, não se conformava em não ser o primeiro da escola. Sabia que Gorgolino ajudava os colegas e certo dia gritou de lá:
– Quem respondeu foi Gorgolino professora!
            - Não acredito, conheço a voz de todos e não era do Gorgolino.
            - Imitação, dona Chiquinha. Vem fazendo isto há muito tempo, enganando a senhora.
            Gorgolino ficou calado enquanto a classe se levantava em protesto.
            A professora pediu calma – esta bem, turma. Sei que Gorgolino seria incapaz disso, no entanto se o fizesse seria apenas para brincadeira e camaradagem. Sentem-se, sentem-se.
            E foi, então, que o Gorgolino abriu o bico.
            - Fiz para ajudar o colega, professora.
            - Mas a fala era a do Trigueiro!
            - Era senhora. E repetiu a voz do Trigueiro, fielmente.
            A professora riu e perguntou se ele era também capaz de imitá-la.
            - Sou, mas respeito à senhora.
Mas no dia seguinte, antes que a professora chegasse; Gorgolino imitando sua voz dava uma aula de coisas meio licenciosas, enfim, pornográficas. E a professora entrou de surpresa quando Gorgolino explicava a barulheira dos gatos no telhado, o namoro mais escandaloso deste mundo. E imitava os miados até o momento em que os dois gatos se chocavam e começavam a gemer no auge da safadeza. A escola havia virado um saco de gatos. E Gorgolino perguntava à turma:
- E vocês sabem por que os gatos gostam de namorar no telhado?
            - Não, não, não.
            - Ora, também vocês não sabem de nada, vou reprovar todo mundo. Procure aprender as coisas seus beócios.
            A professora, oculta, esperava ansiosa a explicação. O Gorgolino não tinha cura. Também feio como era, tinha que compensar de alguma forma aquele desmantelo físico.
            - Pois bem, rapaziada. É só por que gato na tem cama. E no telhado ninguém vai interrompê-los.
            - E por que fazem aquele arauzé dos diabos?
            - É por que gato não é igual à gente que faz tudo escondido, calado, com medo. Gato faz questão de fazer zoeira para saberem que está na melhor e deixar os outros enciumados.
             A professora entrou na classe e ainda apanhou Gorgolino no seu lugar.
            - Que estava fazendo aí, Gorgolino.
            - Dando aula de catecismo, ajudando à senhora. A turma é de uma ignorância de fazer pena. Mas hoje ficaram sabendo de um bocado de coisa.
            - E se eu te disser que ouvi tua aula.
            - Viu! Gostou? Ainda bem.
            Quando terminou a aula, a professora chamou Gorgolino à parte.
            - Espertinho, não é? Onde aprendesse tanta coisa, Gorgolino.
            - Á toa. Ninguém me ensinou. A gente vai crescendo, vai vendo, vai guardando na memória.
            - Mas não fiques metendo essas coisas na cabeça dos meninos.
            - E vai morrer tudo burro, sem saber o que se passa no mundo dos bichos.
            - E sabes muitas histórias de bichos?
            - Um bocado, mas...
            - Mas o quê? Depois quero que vá me contando.
            - Mas tem umas de arrepiar.
            - Arrepiar o que, Gorgolino.
            - Muita coisa... Em todo caso à senhora é que é a professora e sabe o que esta pedindo...
            E Gorgolino fez um dos seus caricaturistas. A professora achou graça e o mandou sair.
            Gorgolino saiu pensando. Será nota dez todos os dias. Peguei o fraco da dona e agora é só tocar os pauzinhos.
            - Gorgolino, para que foi que a professora te chamou?
            - Para corrigir minha aula de religião. Achou que eu estava ainda muito atrasado. E passou-me um pito. A mulherzinha é mais violenta do que eu pensava.
            Gorgolino completou o primário e a feiura não impediu que fosse o primeiro da turma. Ficou então, sem saber o que fizesse. Meios para estudar fora nem pensava nisso. A saída seria mesmo arranjar um trabalho numa casa comercial ou onde fosse. Já estava taludão, um rapazinho e não queria viver só a expensas dos pais. Estava nesse dilema, quando a professora o chamou para ajudá-lo no ensino. Ganharia alguma coisa e ela ficaria aliviada de tanto esforço. Gorgolino aceitou e passou a ser professor. Pediu livros emprestados à professora e não perdia tempo.
            Gorgolino lia, lia e ia guardando o que lhe cabia na memória. A professora aumentou as matrículas e por fim abriu uma escola particular que entregou a Gorgolino. Mas o jovem não se conformava em deter-se somente em ensinar. Aquela cabeçorra era um mundo de imaginação e criatividade. Começou a rabiscar seus primeiros escritos.
            Levou-os ao jornal – “A Lamparina”, e lá saiu seu nome subscritando historinhas engraçadas; que serviam de admiração. – “O Gorgolino é jornalista” – comentavam. E foi entrando num mundo diferente. Mas até aí Gorgolino criava nome, mas não entrava dinheiro. Em todo caso continuava a escrever coisas e a guardá-las. Ia treinando. Veio-lhe então uma ideia. Ir ao jornal semanário – “O Facão” e pedir um lugar que lhe rendesse qualquer coisa. Conseguiu trabalhar de revisor e com direito a publicar seus escritos.
Bicho esperto; resolveu fazer pequenos comentários focalizando o que se fazia de bom na cidade, citando nomes. Aqui e ali escrevia algumas críticas sobre erros e descasos cometidos, sem cometer injustiças. Ao mesmo tempo rebatia críticas e fofocas à administração e aos homens de bem. De um lado, agradava, de outro assustava. Era bom que gostassem dele e ao mesmo tempo o respeitassem. Não tocava, entretanto, na vida privada de ninguém. Só uma coisa Gorgolino não perdoava. Era comunista. Corja de ambiciosos e vagabundos sem patriotismo. Uma canalha que não deseja bem a ninguém e só pensa em se locupletar com as coisas alheia. Iludir o povo besta, para depois escravizá-lo. Mentirosos e safados.
            Dentre os livros que a professora lhe emprestava, caiu-lhe nas mãos - ”Discursos Para Todas As Ocasiões” – Gorgolino ficou empolgado. Decorara vários sobre aniversários, casamentos, enterros e festa de batizado. Foi aí que descobrira o seu fraco e ao mesmo tempo o seu forte.
            Falar em público; achava que era a coisa mais bela da vida. Só não gostava das pregações do padre Januário, que ameaçava com o purgatório e o inferno e só terminava falando em caridade e pedindo dinheiro. Era sermão comercial. Gorgolino estava doido para estrear. Foi quando chegou o aniversário de dona Chiquinha, sua professora. Teria que fazer-lhe uma saudação. Mas não seria o discurso do livro. Imaginou elogios, criou frases bonitas, andou pelo dicionário a verificar os verdadeiros sentidos das palavras e armou-se para o ato festivo. Iria ver quem era Gorgolino. E no momento exato, depois das falas do Promotor e do Prefeito, Gorgolino assustou a todo mundo, pedindo a palavra. Muita gente esfriou. Que Gorgolino escrevesse suas historinhas e seus comentários, nada mais. Falar de improviso e logo depois do promotor era uma temeridade.
            E Gorgolino, sem titubear, numa linguagem simples, adequada e colorida, foi o mais aplaudido. Não sabiam e não podia entender como podia sair daquela feiura humana, tanta coisa bonita. Foi uma consagração. Dentro daquela cabeça meio disforme, corria uma fonte de cristal.
            Os políticos ficaram logo de olho nele. As campanhas políticas se aproximavam. Gorgolino recebeu convites dos dois partidos para se filiar e colaborar na campanha.
            - Não, não era possível. Não lhe convinha desagradar alguém. Pobre como era e além de tudo professor, precisava da amizade de todos. Além de tudo o que precisava era ganhar mais para dar maior conforto à família e ninguém havia se lembrado disso para lhe oferecer um trabalho melhor remunerado. Também não possuía vocação política. Era apenas um eleitor que não votaria no chefe político, e sim no melhor candidato.
            - É verdade, chefe, nunca alguém se lembrou do Gorgolino. Imagine se, por acaso, aderir aos nossos adversários. O bicho fala para emocionar. E é capaz de conduzir o povo. E sua feiura chama atenção e ajuda. Talvez dinheiro dê um jeito...
            - Então me faça uma sondagem. Quem sabe mesmo. Pode até quebrar-lhe a resistência. Dinheiro é como água, amolece tudo.
            Gorgolino foi procurado em casa, após o jantar. Nesses momentos as pessoas estão mais tranquilas e mais razoáveis.
            - Olha Gorgolino, a vida está dura e difícil. O chefe está disposto a te ajudar. Mereces um padrão de vida melhor. És um moço inteligente e capaz. No entanto, sem o vil metal, não há inteligência que o substitua. Pensa calmamente e dá uma boa esperança, se não quiseres fazer logo um acerto.
            - Muito bem. Receberei algum dinheiro durante a campanha e depois o saldo será menos alunos no meu ganha pão e um bocado de inimigos para caírem em cima de mim, como um bando de carcarás. Será isto que me irá sobrar. Além de outras rebordosas que posam vir. Dou o meu voto. É o que posso fazer. Obrigado pela boa intenção         
            - Deu em nada patrão. O Gorgolino é muito esperto. Tem receio das conseqüências, posteriormente.
            - Não será pela colaboração daquele macaco, que iremos perder a eleição.
            Gorgolino não era nem besta para se meter com a oposição, sem uma situação definitivamente segura. O prefeito foi visitá-lo. Fez uma proposta idêntica, também recusada. Daria o seu voto.
            - E se lhe arranjar um emprego na Prefeitura ou no Estado?
            - Só se for a caráter de efetividade. Preciso ter casa e comida asseguradas. Coisas passageiras podem desarticular ainda mais minha vida.
            - Então, tem minha palavra e pode prepara-se para a campanha que está à porta. Ganharemos folgadamente a eleição e seu lugar estará nas mãos.
            - E se perder, como ficará. Promessa não enche saco vazio. Primeiro o emprego. Em seguida a campanha.
            - Será que não confias na palavra do Prefeito.
             Confio sim, mas quem é pobre como eu, não tem como esperar. Acontece um imprevisto e Gorgolino não terá para quem apelar. Com o prestígio que o senhor tem tudo será fácil. Vamos aguardar. Não posso me arriscar. O Deodato ainda hoje está aí sem o emprego prometido e atolado até as orelhas. Além disso, ridicularizado pela oposição. Ninguém lhe da nada, além de novas e fugidias promessas.
            - Mas isto foi um caso isolado.
            - E eu posso ser o segundo...
            Os cargos da Prefeitura não valiam uma titica era lógico que o Gorgolino não iria aceitar. Teria que tentar junto aos secretários de Estado ou o Governador.
            E a solução sugerida pelo Governador foi criar um novo cartório na cidade e nomear Gorgolino. Mas isto dependeria da política. Em todo caso faria uma tentativa. O cartório, entretanto não saiu. Poderia ser nomeado agente fiscal. Mas o homenzinho só aceita efetivo. Roda pra lá, roda pra cá, e a nomeação não apareceu. Gorgolino tinha toda razão. A coisa era sempre a mesma. Sempre a mesma enrolada política.
            Amarrou-se na escola e no jornalzinho. Não deixava, todavia, de fazer seus comentários sobre a vida da cidade. Elogiava o que estava certo e criticava, sem ofensas, o que estava errado. Sugeria o que lhe parecia indispensável fazer em favor da comunidade. Nada de bajulação nem cortejamento.
            A oposição vitoriou. E, inesperadamente, Gorgolino foi convidado para secretário da prefeitura. Mas deu-se ao luxo de não aceitar. Daria qualquer colaboração ao seu alcance, mas sem filiação política. Não havia porque se incompatibilizar com a outra ala.
            O Gorgolino é teimoso e intransigente. Precisavam de seu trabalho na Prefeitura. Nada havia de política, nisso. Era a pessoa ideal para a secretaria. Além de honesto, sabia ler, escrever e fazer discursos quando necessário. Coronel Sabino, chefe político da oposição foi falar com o vigário numa tentativa de convencer Gorgolino, já conhecido como o professor Gorgolino.
            - Vem cá meu rapaz, quero falar-te com toda isenção de ânimo. Por que não aceitas a secretaria da Prefeitura. Não quer com isto te envolver em política. Querem é utilizar tua capacidade e teus conhecimentos. E mesmo que não fosse como queres, melhorar teu padrão de vida se não aceitas cargos de um lado nem de outro. É necessário que colabores com as administrações. Conheces os problemas do município, como se deduz pelos teus escritos. Dessa tua participação poderão resultar duas coisas. Melhorar teu padrão de vida e uma preparação para assumirdes a Prefeitura no próximo período. Conquistarás a simpatia do povo e a admiração dos políticos. Daí à prefeitura é um salto, apenas. Sabes que o prefeito – o Malaquias - é pouco letrado e sem um secretário como tu, ficará extremamente embaraçado. Além disso, elegeu-se sem tua participação na campanha. Não vai, portanto, querer te envolver. Acaba com essa timidez e esses preconceitos. Não levam a nada. Tua origem modesta não será um empecilho. Pelo contrário, é motivo de admiração por parte de todos. Vai aceitar ou vás nos decepcionar com essa tua caturrice?
            - Vou aceitar. Afinal, o senhor me esclareceu e me convenceu.
            - Muito bem, meu rapaz. Pega na perna da onça e segura. Já falei com tua família e ela aprova totalmente. Os teus amigos também.
            - Mas e essa gente do governo não irá cair em cima de mim, me perseguir?
            - Perseguir como e em que. Tens uma vida limpa, sem implicações. Irá é precisar de teu prestigio dentro da prefeitura. Pois não é. És amigo de todos e um amigo, onde estiver, é coisa valiosa.
            Na semana seguinte, Gorgolino assumiu a secretaria geral da Prefeitura. Os comentários saíram:
– Com o Gorgolino, aquele bestalhão de prefeito vai findar fazendo uma boa administração. O menino é bom em tudo, até na feiura. Aliás, a feiura lhe é um dom. Chama atenção e por isto todos o conhecem. Toda vez que tiver de falar em nome do prefeito para gente de fora, servirá de admiração. É um atrativo, por causa do contraste. Feiura, inteligência e preparo. Irão ver, não custa que o convidem para coisa melhor na administração do Estado. O bicho é bom de verdade. E, afinal, é um filho de nossa terra, pobre, simplório, modesto e devemos ajudá-lo também e prestigia-lo. Se houvesse feito isto antes estaria ao nosso lado. Mas o deixamos aí esquecido, por causa dessa nossa infame mentalidade política. Gente que não tem votos, não valia nada!...
            - Vamos cuidar cedo e apresenta-lo candidato a prefeito ou a deputado na próxima renovação. Da-se um golpe.
            - Isto se o coronel Sabino não andar em nossa frente... Aquilo é macaco velho.
            - Mas também quem era que havia de pensar que aquele cafuçu desajeitado fosse dar para alguma coisa. E agora está aí, secretário da Prefeitura, montado em nossas costas. E ainda mais escrevendo para jornal, arriscado a meter o pau na administração passada.
            - E se fizer, vai ter muita sujeira a denunciar.
            - Esta aí, aposto como não fará isto. É um moço, direito, sem certos preconceitos. Vai lá apenas para servir a sua terra e a comunidade.
            - Então vai demorar pouco, com essa cambada suja da oposição.
            - É melhor não se falar de sujeira. Que mais do que fez o nosso partido na administração. Aqui para nós somente, mais uma lata de lixo e por isto mesmo lá se foi à prefeitura. E verás que irão primar para não perderem mais o poder.
            E foi mesmo. A primeira coisa foi varrer o lixo das ruas e tapar a buraqueira. Inesperadamente foi feito um aumento aos servidores municipais, sem elevação dos proventos do prefeito que, aliás, doou os seus vencimentos ao abrigo dos velhinhos.
            - Outra sujeira. É só para fazer demagogia. Vai tirar muito mais dos cofres da Prefeitura. Era bom que se pudessem ver as folhas de pagamento e os recibos de compras e prestação de serviços.
            - Não creio, coronel. O prefeito sempre foi um homem honesto e bem intencionado, apesar de ser nosso opositor.
            - E por que não te mudas logo para o partido deles, se são essas jóias que dizes.
            - Jóias ou não, vamos aguardar. De mim, estou bem onde estou e bem sabe que nunca usufrui benefícios diretos nem indiretos da Prefeitura. Mesmo porque deles não necessitei. A rua onde moro não tem calçamento e vai ver que são capazes de pavimentá-la. Não te admires.
            - Ah! Se fizerem será de propósito para enganarem os trouxas. Gastaram dinheiro nas eleições e vai buscá-lo com um rodo. Esse negócio de obras para aqui e para ali, é para justificar os furtos. Sempre foi assim.
            - Foi, mas pode deixar de ser. Sabem que estamos de olho neles.
            - Bobagem, meu compadre. Tem certeza que não abriremos o bico. Devemos é pedir às onze mil virgens, que não revolvam o monturo da administração do nosso tempo. Francamente, ando de nariz no ar com receio de mau cheiro da lixeira que o teu dileto amigo acumulou em sua administração.
            - E por culpa tua. Alias fostes muito beneficiados. A rua de tua casa, bem pavimentada, estrada para tua fazenda, parentela empregada e o desvio dos lanches das escolas para tua criação de porcos. Imagina se tudo isto vem a furo. Será mesma coisa que espremer um tumor maligno. O prefeito que se foi; não tinha um pau para dar num gato. Hoje, fazenda, gados. Nem tem escrúpulos de tanta baboseira. E repara uma coisa. O atual prefeito não demitiu nem os teus parentes nem os dele. Do jeito que a coisa anda, vamos ficar sozinhos e adeus votos. Não elegeremos nem um vereador.
            - Já de disse que tudo isto é pura demagogia de politiqueiro sem vergonha.
            - Olha, estão falando que o prefeito vai publicar um boletim mensal. Isto me parece um tanto perigoso.
            - O medo que faz é o Gorgolino. O bicho é inteligente e preparado. Além disso, é metido a gaiato. Ridiculariza um com a maior facilidade, sem ofensa propriamente.
            - A boa política é calar o bico e quando possível demonstrar boa vontade com a nova administração. Esse tal de boletim mensal cuidará somente das realizações. Não se deve acordar quem está dormindo, nem cutucar o cão com vara curta.
            O boletim saiu e não fez qualquer referencia ao passado. Foi um consolo. O tempo passou como se tivesse asas ligeiras. Fim de governo e a ala governamental manifestou, por antecipação, o desejo de fazer o Gorgolino seu candidato. E alias não falava outra coisa. A oposição oficializou a candidatura de Gorgolino. Seria candidato sem opositores. Os governistas tinham de apoiá-lo, mesmo porque seria inútil apresentar outro.
            Eleito, Gorgolino assumia a Prefeitura com a presença dos dois partidos, coisa inédita em Casa Velha. Tomou conta da cidade e governou sem interferência dos políticos, agremiando uma maioria que liquidou os dois existentes, cujas sobras reuniam apenas, alguns reacionários, casco de burro. No período seguinte, elegeu os dois ex-chefes políticos, um para a Prefeitura outro para a Câmara Estadual. E os dois juntos, criaram um cartório para Gorgolino, o seu sonho, isso é um lugar efetivo, estável e rendoso.
             Ausentou-se da política em definitivo, casou-se, o que a todos parecia quase impossível. Almina apaixonara-se pelos versos que Gorgolino publicava e mais ainda pela sua feiura. E tornava-se certo o ditado: quem ama o feio, bonito lhe parece.
            Almina já andava lá pelos seus trinta e era uma moça vistosa e bem educada. Enamorara-se pela inteligência e desambição de Gorgolino. Aqueles versos publicados semanalmente eram como se fosse o seu missal. Esperava-os com ansiedade e sua paixão chegou ao auge quando leu as seguintes quadras:

            Tens um sorriso de flor
            Tem tudo quanto desejo.
            Se tu me matas de amor,
            Vou te matar com um beijo.

            Estou morrendo de sede,
            Sede de afago e carinho
            Da-me no embalo da rede
            O que não tenho sozinho.

            Por que Deus me fez assim,
            Tu não sabes, mas eu sei,
            Vem para perto de mim
            E só então te direi.

            Mas ninguém vem, quando chamo,
            Quando chamo ninguém vem,
            Despreza-me quem eu amo,
            Só minha mãe me quer bem.

            Sou triste quando amanhece,
            Quando o mundo todo desperta,
            E mais triste quando anoitece
            Sem uma janela aberta.

            Sei que nasci sem sorte,
            Sem estrelas, sem luar,
            Mas não é possível que a morte
            Me leve sem me casar...

            Gorgolino, com o seu cartório e uma mulher que não se assustara com o seu físico desengonçado, Sentia-se como criado asas para voar. Nada mais lhe apetecia.
            Com o casamento alcançara o impossível, com o cartório à estabilidade econômica. Quiseram fazê-lo candidato a um lugar na Câmara dos Deputados e recusou. Ajudaria a eleger um amigo, isto sim. A política não o atraia. Sentia nojo dos aproveitadores da coisa pública.
            A mulher concordava com ele. E o pior era impunidade. Não adiantavam denúncias. Ficava tudo no mesmo, mesmo quando comprovados os alcances.
            Nasceu o primeiro filho. Felizmente não se parecia com o Gorgolino. Diziam até que não podia ser filho dele...

*O conto pertence ao livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.