quarta-feira, 24 de setembro de 2025

 

POESIAS ESCONDIDAS

 

As pérolas das poesias, muitas vezes estão onde a gente nunca espera. Num verso de um violeiro, na conversa de um matuto, num papo de um bêbado, na filosofia de um preso, na cadência de um samba, na briga de arranca saia, na entoada de um vaqueiro, no canto solitário de um jangadeiro, no gorjeio de um sabiá laranjeira, na metodologia de um matemático, num grito de um baleeiro no meio da feira pedindo para passar, quando a lua pede licença ao sol para se mostrar, no murmúrio das ondas cheias de planctos, no bacurau a baca da noite anunciando a escuridão, as faíscas de “estrelas” percorrendo os vastos céus, o cego pedindo licença numa briga, no silencio da natureza as plantas se confundido, as abelhas desenhando sonoramente seus caminhos de ida e volta, as borboletas nas suas formas de danças descrevendo a espetacular  transformação da vida, os doidos entre doidos sussurrando suas verdades, a ameba dizendo ao mar sou o primeiro, o machado feroz batendo constantemente para dizer que sou mais forte, no coice da mula preta rimando sua raiva, na estrada enganadora, nos desvios e nos atalhos traiçoeiros, no copo recebendo o gargarejar da bebida, na descarrega do banheiro, no vómito de um bêbado, na queda de um velho, no relinchar de um cavalo, na queda de um muro, na enchente de um rio, na queda de uma cachoeira, num deslizar de uma pedra, numa picada de uma cobra, na queda de um raio, numa batida de caminhão, no tropicão de um moleque, na carreira de um cavalo doido, num trem desgovernado,  numa lamparina sem gás, numa panela fervente, numa barriga com fome,  numa briga de foice, num algodão doce fiado,  num  balanço quebrado, numa botija esquecida, num paralelepípedo quadrado, num arco íris sem cor, num vento sem volta, numa mentira safada, cabra de peia ordinário, sertão sem fim à vontade, buraco com terra dentro, maré seca no mangue, transição dos planetas, maribondo  assanhado, caixa d’água vazando, zoada do pica-pau, coelho fazendo  amor, piolho coçando muito, um adeus desesperado, saudade que nunca volta, desgraça pouca é lucro, mentira nunca se esconde, papagaio fala a verdade, o papa reza missa, a rezadeira lhe benze, o trem corre nos trilhos, os rios despejas nos mares, o fogo solta faísca, o mundo dar muitas voltas, a casa amarela foi herança, chuva com sol casa raposa com rouxinol, água na pedra não fura, quem balança não cai, tijolo de cemitério, caminho que não acaba mais, todo pobre é enxerido, quem casa não casa mais; Tudo isso espremendo sai verso, mas queria saber dos versos escondidos nas músicas dos esquecidos cancioneiros, boêmios, amantes da noite, poetas arrependidos, perdidos nos amores, e por ai vai.

 No meu pouco sofrimento da vida, classifiquei várias poesias escondidas em músicas de autores às vezes desprezados, mas que foram eternizadas.

 

Chão de estrelas

Minha vida era um palco iluminado

Eu vivia vestido de dourado

Palhaço das perdidas ilusões

Cheio dos guizos falsos da alegria

Andei cantando a minha fantasia

Entre as palmas febris dos corações

 

Meu barracão no morro do Salgueiro

Tinha o cantar alegre de um viveiro

Foste a sonoridade que acabou

E hoje, quando do Sol, a claridade

Forra o meu barracão, sinto saudade

Da mulher pomba-rola que voou

 

Nossas roupas comuns dependuradas

Na corda, qual bandeiras agitadas

Pareciam um estranho festival

Festa dos nossos trapos coloridos

A mostrar que nos morros mal vestidos

É sempre feriado nacional

 

A porta do barraco era sem trinco

Mas a Lua, furando o nosso zinco

Salpicava de estrelas nosso chão

Tu pisavas nos astros, distraída

Sem saber que a ventura desta vida

É a cabrocha, o luar e o violão.

 

ROSA

Tu és divina e graciosa
Estátua majestosa
Do amor!
Por Deus esculturada
E formada com ardor

Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida
Pelo beija-flor

Se Deus
Me fora tão clemente
Aqui neste ambiente de luz
Formada numa tela
Deslumbrante e bela

Teu coração
Junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado
Sobre a rosa e a cruz
Do arfante peito teu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral
Oh! Alma perenal
Do meu primeiro amor
Sublime amor

Tu és de Deus
A soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração
Sepultas um amor

O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes
Cheios de sabor
Em vozes tão dolentes
Como um sonho em flor

És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim
Que tem de belo
Em todo resplendor
Da santa natureza

Perdão!
Se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh, flor!
Meu peito não resiste
Oh, meu Deus
O quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar
Em esperar
Em conduzir-te
Um dia ao pé do altar

Jurar aos pés do Onipotente
Em preces comoventes
De dor, e receber a unção
Da tua gratidão

Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te
Até meu padecer
De todo fenecer

 

A DEUSA DA MINHA RUA

a deusa da minha rua

Tem os olhos onde a Lua

Costuma se embriagar

Nos seus olhos, eu suponho

Que o Sol, num dourado sonho

Vai claridade buscar

 

Minha rua é sem graça

Mas quando por ela passa

Seu vulto que me seduz

A ruazinha modesta

É uma paisagem de festa

É uma cascata de luz

 

Na rua, uma poça d'água

Espelho da minha mágoa

Transporta o céu para o chão

Tal qual o chão da minha vida

A minh'alma comovida

O meu pobre coração

 

Espelhos da minha mágoa

Meus olhos são poças d'água

Sonhando com seu olhar

Ela é tão rica e eu tão pobre

Eu sou plebeu e ela é nobre

Não vale a pena sonhar

 

Espelhos da minha mágoa

Meus olhos são poças d'água

Sonhando com seu olhar

Ela é tão rica e eu tão pobre

Eu sou plebeu e ela é nobre

Não vale a pena sonhar

 

AO LUAR

Minha eterna e doce amada
A chamar-te me insinua
Nos acordes desta lira
Que de amor geme e suspira
Ante o albor níveo da lua
O rendado da neblina
Mais parece uma cortina
Numa festa de noivado

A lua é noiva bela
Recostada na janela,
Vê um palácio constelado
Que beleza nas estrelas
Ah! Se tu pudesses vê-las
Como estão no céu sorrindo
Espreitando com cautela
Pelas frestas da janela
Do quarto onde estas dormindo

Minh'alma dorme sonhando
Geme e chora te chamando
Pelo espaço como louca
Ah, se a aurora despontasse
Quem me dera que me encontrasse
A beijar a tua boca
Desperta, vem matar meu desejo
A minh'alma, vaga incerta
A procura do teu beijo
Dileta, tu formosa eu poeto
Quero para os tristes versos meus
As rimas dos beijos teus

A natureza te chama
O meu peito já reclama
A quentura dos teus seios
Os astros são já escassos
Vem, sufoca-me em teus braços
Antes que eu morra de anseios
As estrelas cintilantes
São lanternas dos amantes
Pelo espaço a flutuar

Como Deus é inspirado
Inventou para o pecado
Estas noites de luar
Desperta, vem matar o meu desejo
A minh'alma vaga incerta
A procura do teu beijo
Dileta, tu formosa eu poeto
Quero para os tristes versos meus
As rimas dos beijos teus.

BRIGAS

Veja só
Que tolice nós dois
Brigarmos tanto assim
Se depois
Vamos nós a sorrir
Trocar de bem no fim
Para que maltratarmos o amor
O amor não se maltrata não
Para que se essa gente o que quer
É ver nossa separação
Brigo eu
Você briga também
Por coisas tão banais
E o amor
Em momentos assim
Morre um pouquinho mais
E ao morrer então é que se vê
Que quem morreu fui eu e foi você
Pois sem amor
Estamos sós
Morremos nós

 OBS..

DANEM SÍ SEUS COMENTÁRIOS.

 

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