O
MEU PALHAÇO
Meu coração é um mísero acrobata,
Um
palhaço sarcástico de arena:
Gargalha
sempre, de feição serena,
Contrafazendo
a mágoa que o maltrata.
Enquanto
em riso a multidão desata,
Às
piruetas desse clown em cena,
Ninguém
descobre, na aparência amena,
A
tragédia recôndita que o mata.
Mas
eu me vingo desse pouco siso,
Ao
paradoxo do meu próprio riso;
Porque
a tragédia deste riso insano,
Que
me remorde e que ninguém ausculta,
É
irmão gémeo da tragédia oculta
Que
existe em todo coração humano.
Silvino Olavo Martins da Costa (Esperança,
27 de julho de 1897 - Campina Grande, 26 de outubro de 1969) foi um advogado,
jornalista e poeta paraibano.
Nasceu na fazenda Lagoa do Açude, então
pertencente ao município de Campina Grande, filho do comerciante Coronel Manoel
Joaquim Cândido e de Josefa Martins Costa. Seu pai era proprietário de terras e
agricultor, vivendo da criação de gado e da plantação de algodão e cereais. Em
1915, o Coronel Cândido se transfere para a vila de Esperança, na época pertencente
ao município de Alagoa Nova. Ainda adolescente, Silvino foge da casa dos pais e
ruma para a capital Paraíba, sendo acolhido por uma tia. Decidindo
estabelecer-se na cidade, consegue matricular-se no Colégio Marista Pio X, onde
concluiu o secundário em 1920.
Ainda em 1920, muda-se para o Rio de
Janeiro para cursar direito, diplomando-se em 1924. Retorna à Paraíba no ano
seguinte, desempenhando um papel de destaque na campanha pela emancipação
política de sua terra natal, Esperança. Em maio de 1925, por ocasião da
inauguração do sistema de luz elétrica naquele município, Silvino profere, na
presença do presidente de estado João Suassuna, o discurso Esperança - Lírio
Verde da Borborema, publicado posteriormente. Em dezembro daquele ano a
campanha obteve sucesso com a publicação da lei nº 624 criando o município de
Esperança.
No final de 1925, já instalado na capital
Paraíba, é chamado para chefiar a redação do periódico O Jornal. Esse posto na
imprensa lhe permite conhecer alguns dos principais literatos da época, como
Órris Soares, Eudes Barros, Severino Alves Ayres e Peryllo Doliveira. Nesse
período, Silvino Olavo torna-se um respeitado funcionário público e homem de
letras, colaborando com publicações como o jornal A União e a revista Era Nova.
Foi uma das figuras mais destacadas do meio literário paraibano em sua época, participando
ativamente do que foi chamado "Grupo dos Novos", que promovia
tertúlias das quais participavam escritores como Peryllo Doliveira, Eudes
Barros e Américo Falcão.
Destacando-se também na vida política,
chegou a ser Oficial de Gabinete do presidente estadual João Pessoa,
engajando-se em 1930 na campanha da Aliança Liberal na qual seu chefe era
vice-presidente da chapa de Getúlio Vargas. Devido a seu destaque na produção
literária, Silvino Olavo foi um dos que recepcionou o escritor Mário de Andrade
em janeiro de 1929, junto a José Américo de Almeida e Ademar Vidal.
Nesse período começou a apresentar os
primeiros sinais de esquizofrenia. Com o assassinato de João Pessoa e a
subsequente Revolução de 1930, seu quadro apresenta uma piora e ele é internado
na Colônia Juliano Moreira, em João Pessoa. Lá ficou, em completo ostracismo,
até ser resgatado em 1952 por seu cunhado Valdemar Cavalcanti.
Passou seus últimos anos sob os cuidados
do cunhado, com a saúde mental fortemente abalada. Morreu em 26 de outubro de
1969, vítima de complicações renais, no Hospital João Ribeiro na cidade de
Campina Grande.
A obra de Silvino Olavo é considerada um
dos principais exemplos da influência da escola simbolista na Paraíba, sem, no
entanto, segui-la de forma doutrinária. Para o crítico João Lelis, Silvino
promove uma transição entre o simbolismo e formas mais livres, considerando-o
um pioneiro do modernismo no estado. Assim também o caracteriza Gemy Cândido,
que o considera dotado de uma "estranha capacidade de assimilar o
moderno". Essa preocupação do equilíbrio entre o tradicional e o moderno
já pode ser identificada, por exemplo, em seu poema Idealismo vão, que faz
parte de Cisnes, seu primeiro volume de poesias publicado no Rio de Janeiro em
1924:
Embora os problemas de saúde mental tenham
interrompido suas publicações, a obra de Silvino continuou exercendo influência
inclusive para novas gerações de escritores. A coletânea de poesias que lançou
a chamada Geração 59 foi originalmente dedicada "a dois grandes poetas,
Augusto dos Anjos e Silvino Olavo".
Cisnes,
1924. Poesia
Estética
do Direito, 1924. Ensaio
Esperança
- Lírio Verde da Borborema, 1925. Discurso
Cordialidade,
estudo literário, 1ª série, 1927. Ensaio
Sombra
Iluminada, 1927. Poesia
Bibliografia
ANDRADE,
Mário de. O turista aprendiz. São Paulo: Duas Cidades, 1983.
BATISTA,
Simone Vieira. A trajetória intelectual de Silvino Olavo: uma análise
histórica, cultural e educacional. 2011. Dissertação (Mestrado em Educação) -
Centro de Educação, Universidade Federal da Paraíba.
BRITO,
Vanildo Ribeiro de (org.). Geração 59. João Pessoa: Edições Linha D'Água, 2009.
CÂNDIDO,
Gemy. História crítica da literatura paraibana. João Pessoa: Secretaria da
Educação e Cultura, 1983.
DEUS,
João de. A vida dramática de Silvino Olavo. João Pessoa: Unigraf, 1990.
DOLIVEIRA,
Peryllo. Obra poética. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura, 1983.
LELIS,
João. Maiores e menores. João Pessoa: Editora Teone, 1953.
OLAVO,
Silvino. Cisnes - Sombra Iluminada. João Pessoa: Secretaria da Educação e
Cultura do Estado, 1985.
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