segunda-feira, 19 de agosto de 2013


DIA DO HISTORIADOR

19 de agosto de 2013



           Valeu à pena passar quase quatro anos fazendo minha graduação em História e, pertinho de dois para concluir minha especialização em História do Brasil e da Paraíba. Comecei ainda sex (sagenário) e terminei desse jeito, como na foto do dia dos pais agora em 2013, passando dos setenta. Mas, foi um aprendizado danado de bom. Voltei a ser jovem – sentado com uma turma bem nova que me ensinou a também ser jovem -. Participar de discussões, tanto da Antiguidade como temas Atualíssimos. Ser autor, aluno e professor durante minha peregrinação nas salas de aula, arengar com os professores maravilhosos; quando não queria aceitar “mudanças novas” e agora depois de tudo que aprendi com eles; abraçá-los juntamente com meus caros colegas pelo dia consagrado ao HISTORIADOR.
            Não vou me meter a formular frases sobre o que é história, porque não sou besta. Segue abaixo uma torrente de pensamentos sobre o assunto para vocês lerem e curtirem.
            Tenho dito!
*Grijalva Maracajá Henriques

           
            “Que é a história senão uma fábula em que todos concordam?” (Napoleão Bonaparte)
            “Quando falamos de história, temos o costume de nos refugiar no passado. É nele que se pensa encontrar o seu começo e o seu fim. Na realidade, é o inverso: a história começa hoje e continua amanhã.” (D. N. Marinotis)
            “O que é a história? É o trabalhar para elucidar progressivamente o mistério da morte e vencê-la um dia.” (Boris Leonidovich Pasternak)
             “Na história universal existem eventos misteriosos, mas não insensatos.” (Vladimir Soloviev)
             “Eu prefiro viver dois dias na terra do que mil anos na história.” (Moliere)
            “Escrever a história é um modo de nos livrarmos do passado.” (Johan Wolfgang Von Goethe)
             “A única história que vale alguma coisa é a história que fazemos hoje.” (Henry Ford)
             “A história julga só os resultados e não os propósitos.” (Gregório Marañón)
            “A história é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos tempos antigos.” (Cícero)
            “A função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer.” (Peter Burke)
            “Os homens fazem a sua própria história, mas não o fazem como querem... A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”. (Karl Marx)
            "Quando se tem demasiada curiosidade acerca das coisas que se faziam nos séculos passados, fica-se quase sempre na grande ignorância das que têm lugar no presente.” (René Descartes)
            "O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido”. (Aristóteles)
            "A história é émula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro. (Miguel Cervantes)
            “O historiador, que é o juiz do mundo, tem por primeira obrigação perder o respeito”. (Jules Michelet)
            “O historiador é o profeta que olha para trás”. (Heinrich Heine)
            “Historiador - é um profeta voltado de costas”. (Friedrich Schlegel)
            “O primeiro dever do historiador é não trair a verdade, não calar a verdade, não ser suspeito de parcialidades ou rancores”. (Marcus Cícero)
            “Para mim, o romancista é o historiador do presente, enquanto o historiador é o romancista do passado”. (Georges Duhamel)

            “A história é, antes de tudo, um divertimento: o historiador sempre escreveu por prazer e para dar prazer aos outros. Mas também é verdade que a história sempre desempenhou uma função ideológica, que foi variando ao longo dos tempos”. (Georges Duby)

sábado, 17 de agosto de 2013

HISTÓRIA DO BRASIL

CABO DE SÃO ROQUE


Grijalva Maracajá Henriques*

                Hoje faz 512 anos da chegada da segunda esquadra portuguesa às novas terras, chamada até então de Terra de Vera Cruz, trazia André Gonçalves, Américo Vespúcio, e comandada por Gaspar Lemos; saindo do Tejo no mês de maio de 1501; avista o cabo a que se deu o nome de São Roque, e começa daí em diante, para o sul a exploração da costa brasileira. 
                Aproveitando a data comemorativa do início da exploração das terras brasileiras, ou terras de Pindorama, pelos navegantes portugueses, incluo nesta pequena lembrança o primeiro item de um trabalho que estamos realizando sobre a violência em solo tupiniquim. Coincidentemente esta ocorrência se deu exatamente nesta data.


001         1501 – 16 DE AGOSTO - MASSACRE NO CABO DE SÃO ROQUE
                A primeira notícia de violência em terras brasileiras ocorreu quando dois jovens marinheiros desembarcaram no Cabo de São Roque, na latitude de 5º3’41” - situado acima da praia de Muriú, em Maxaranguape a 51 km da cidade de natal. Este é o ponto da costa brasileira mais próxima da costa africana, com exceção das ilhas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas. - Vindo com Américo Vespúcio, André Gonçalves e comandada pelo capitão Gaspar Lemos em três naus, tendo partido  de Portugal em maio de 1501, para fazer o primeiro reconhecimento das terras que por Cabral - acidentalmente ou não, havia descoberta, ou ainda “achamento” – como afirma Francisco Adolfo¹ -. Foram vítimas de traição, barbaridade e antropofagia dos habitantes naturais, no mês de agosto de 1501²
                O historiador Rocha Pombo³ descreve o acontecimento da seguinte forma:
                “Em agosto tinham os expedicionários vista de terra a cerca de 4 ou 5 graus de latitude. Ali desembarcaram alguns,  e sentiram logo que os selvagens se mostravam desconfiados, conquanto muito curiosos. Assim que os estrangeiros se recolheram às naus, multidões de íncolas afluíram à praia, parecendo que desejavam comunicar-se. Dois homens de bordo obtiveram permissão, e afoitaram-se a ir à terra metendo-se entre aquela gente; e nunca mais foram vistos.
                Alguns dias depois mandou o capitão à terra um escaler com uns quantos homens, à busca de notícias daqueles aventureiros. Grande número de mulheres os receberam, ficando, porém, a certa distancia da praia, suspeitas, mas  dando mostras de quererem entrar em relações com os hóspedes.
                Um rapaz taludo e destemido não hesitou em ir para o meio delas. Maravilhadas o examinavam, quando de outeiro próximo vem, armada de clava, outra mulher, e de um golpe, à traição, prostrou morto o mancebo incauto.
                Enquanto as mulheres conduziam o cadáver para o bosque vizinho, uma porção de flechas se lançavam contra os do batel, ainda na praia.
                ... Ainda assim, não se sabe se aquele seria o primeiro encontro do bárbaro com o europeu...”
(os índios eram os Potiguares)
1 - Varnhagen, F.A. História Geral do Brasil V.I – p95. 4ª Ed. 1948 - São Paulo - Edições Melhoramentos
2 - Tanto Varnhagen como Osório Duque – Estrada; citam que foi avistada e desembarcados em terra só no dia 16 de agosto de 1501; apesar de muitos escritores darem como certo o dia 15 de agosto, não achei ainda fundamento histórico para tal data.
3 - Pombo, Antonio Francisco da Rocha – História do Brasil – p37 6ª Ed. 1952 - São Paulo - Edições Melhoramentos.

*Historiador e Pesquisador

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Desenhos em pedras nos EUA são os mais antigos da América
 do Norte.

                Petróglifos têm pelo menos 10,5 mil anos de idade, segundo estudo.
                Arte pré-histórica fica em rochas perto de onde já existiu um lago.
                A agência Associated Press divulgou nesta quarta-feira (14) imagens de desenhos em rochas encontrados em Nevada, nos Estados Unidos. Um estudo publicado no "Journal of Archaeological Science" conclui que se tratam dos petróglifos mais antigos conhecidos na América do Norte, com pelo menos 10,5 mil anos de idade. O local fica onde outrora já foi a margem de um lago, mas que agora está seco.


                ...E a gente pensando que as pedras do Ingá, aqui na Paraíba eram as mais famosas...                
               Veja as nossas e analise se pelo menos não são mais bonitas!

Grijalva Maracajá Henriques
Historiador e Pesquisador



Vejam as da America do Norte.



quarta-feira, 14 de agosto de 2013

SACI- PERERÊ – CAIPORA*









João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)

            Quando a gente é pequeno, facilmente se impressiona com as coisas. Mesmo vivendo na roça, misturado com a natureza, montando em cavalo, montando cabras, andando pela noite, sempre aparece alguma coisa para assustá-lo.
            Com Adriano era o bicho Caipora, um molequinho franzino, de perninhas secas, cabelos bem fininhos e sempre com um cachimbinho de barro, pitando. Não andava pelas matas e sim, somente pelos campos e pelos matos encarrascados, matos baixos e ralos.
            Para Adriano o bichinho estava em toda parte e vez por outra ouvia o seu assovio fino e comprido. Era sinal de que andava por perto e o acompanhando. Poderia aparecer de um instante para outro. O Caipora era ligeiro e corria como ninguém. Não fazia tropel e tinha o dom de ocultar-se por traz de qualquer garrancho.   Adriano tinha uma vontade doida de vê-lo. Vê-lo de longe, de onde ele não pudesse pegá-lo. Mas era engraçado. Nunca se ouviu falar que o Caipora fizesse mal a ninguém. Sua distração era fumar seu cachimbinho. E como vivia sozinho, gostava de estar perto de meninos, com vontade de brincar com eles. Tanto assim que não chegava perto de gente grande. Ficava por todo tempo, escondidinho olhando a meninada brincar, doidinho para juntar-se a eles. Mas ninguém o chamava.
            Adriano perguntou certa vez a mestre Pedro donde o Caipora tirava fumo para fumar E o que é que ele comia.
            - Ora, Caipora é um bichinho muito esperto. Apanha folhas de fumo na roça, bota para secar e guarda. Quando não tem mais, fuma folhas de alecrim, de jurema, qualquer folha cheirosa. Anda sempre com um tiçãozinho de fogo que nunca se apaga. Come quase nada. Mel de jati e frutinhas; a de que mais ele gosta é cumati.
            - E onde o coitadinho dorme, hem mestre Pedro?
            - Sobe nas árvores, escolhe um galho bem alto, cruza as perninhas e pega no sono. Só acorda quando o sol sai. Aí se esconde numa moita e dorme de novo. Gosta de andar à tardinha e no começo da noite.
            - Bem que eu queria ver um. Mas só ouço os assovios.
            - Pois é. Quando o Caipora assobia é chamando a gente. Mas vocês correm com medo e o bichinho acompanha até perto de casa. Fica invisível quando quer. Bebe água nos tanques e nas folhas dos matos. Só bebe água bem limpinha. Já vi muitos Caiporas. É uma carinha engraçada e divertida. Só vive rindo quando vê gente. Adora meninos. Mas os meninos não querem saber do Caipora. E é aí que ele fica triste.
            Certo dia, encontrei o Caipora comendo cumati. Ele nem me viu. Ficava só piscando os olhinhos miúdos. Não tinha pressa. Apanha de um por um, mastigava bem, engolia e dava uma risadinha gostosa. É um safadinho. Só apanha as frutas bem madurinhas e doces; tirou umas baforadas e deitou-se sob um pé de cumati. Colocou o cachimbinho de lado e adormeceu. Fiquei muito tempo olhando pra ele. Parece que estava sonhando com coisas engraçadas. Fazia um arzinho de riso, mesmo dormindo.
            - E quando chove, onde ele fica pra não se molhar?
            - Ah! Ele gosta da chuva. Pelas noites de chuva Caipora tem a sua casinha escondida, cobertinha de capim. E uma caminha de varas com um colchãozinho de capim e folhas secas. O Caipora cobre-se nas noites chuvosas ou de frio, com um lençolzinho que ele mesmo tece com tirinhas de bananeira. Cobre-se e só deixa a carinha de fora.
            - Dizem que o saci só tem uma perna. É assim mesmo?
            - Que nada. Isso é conversa de gente besta. O Caipora tem duas perninhas e os pezinhos de menino. É um caboclinho de boa altura bem feitinho de corpo. Uma graça.
Quando quiser ver o Caipora é só me chamar. A gente sai à tardinha lá pelos carrascos e é só escutar o assovio.
            Tem uma coisa. Se tiver medo ele não aparece. Fica invisível. Não gosta de quem não gosta dele. Mas olha, a gente nunca sabe bem onde ele está assoviando. É misterioso.
            Era uma noite chuvosa, fria e úmida. Saci-Pererê foi para sua casinha, deitou-se, cobriu-se com seu lençolzinho de fibras de bananeiras, bem encolhidinho e depois de muita imaginação, adormeceu e sonhou. O sonho mais lindo de toda a sua vida de menino. Saci não envelhece. É sempre o mesmo caboclinho, pitando em seu cachimbinho de barro.
            Nunca mais haveria de esquecer aquele sonho delicioso.
            - Mas o que foi que Saci sonhou?
            - Sonhou com o que ele mais desejava.
            Na encruzilhada do caminho, estava um grupo de meninos brincando. Havia uma alegria encantadora.
            Saci assoviou.
            - Meninada! – Saci- Vamos chamá-lo?
            E um deles assoviou fininho.
            Ele assoviou mais perto e foi se chegando.
            Entrou na brincadeira e a meninada ria a valer da carinha e do cachimbinho de Saci-Pererê, com aqueles olhinhos redondinhos e vivos.
            Brincavam de guerra, de corrida, de se esconder. Havia sido o dia mais alegre de sua vida.
            Mas o caboclinho Pererê acordou e viu que tudo tinha sido apenas um sonho. E então, chorou, chorou, como um menino perdido. E daí por diante, Saci ia todos os dias bem escondidinho assistir as brincadeiras da meninada.
            Quando se cansou de vê-los brincando, fazia a sua brincadeira. Dava um assovio bem fino e bem forte, mesmo em cima deles. E ria o mais não poder rir com a carreira desabalada. E era assim que ele também se distraia.
            - E em casa diziam – Caipora assoviou bem em cima da gente. Quase nos pega!
            - Que nada seus bobos. Quem assovia é um pássaro. Nem se assustem.  O caipora não anda pelo dia. Somente à tardinha e à boca da noite, Depois vai dormir.
            - Bem que a gente estava sentindo cheiro de fumaça de fumo. Era ele que estava bem juntinho.
            É só impressão e medo seus tolos.
            Passaram-se alguns dias sem irem brincar na encruzilhada. Saci ia esperá-los todos os dias, até que voltaram.
            Saci então não assoviou mais. Gostava de ficar olhando. Não iria mais assustá-los. Mas, certo dia veio um gaiato fazer medo à meninada. E ficou escondido. Quando a garotada estava na maior das alegrias, o garoto soltou-lhe um assovio bem em cima. A carreira foi de perder as calças.
            - O Caipora ficou danado. E procurou vingar-se. Foi de mansinho deu o seu mais fino e forte assovio bem no ouvido do sujeito. A carreira foi maior do que a dos meninos. Mas Caipora correu atrás dele, num pega a qui pega ali, assoviando forte nas costas do medroso. Foi deixá-lo no terreiro da casa. E nunca mais o gaiato foi fazer medo a ninguém. Também não contou da carreira que havia dado.
            A meninada mudou o lugar das brincadeiras. E todas às vezes o caboclinho Caipira ia assistir, contente, suas brincadeiras. Esquecia-se até de fumar no seu cachimbinho de barro, nas horas de tão gostosa distração.
            Saci – Pererê – O Caipora dos carrascais da Arara, pertinho de Areal**, ainda hoje anda por lá fumando em seu cachimbinho e mortinho de saudade dos meninos de seu tempo que envelheceram e nem sabem mais brincar.

*O conto faz parte do livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.

**Nota:
Grijalva Maracajá Henriques – Historiador e Pesquisador.

            A fazenda Arara que meu pai se refere, fica no Município de Esperança – PB, próxima da cidade de Areal. Antigamente, também morei lá, por uns meses. Fazenda próspera, tinha sido do meu avô. Plantava-se fumo, feijão, mandioca, batatinha, erva–doce; criava-se de tudo: bois, vacas para leite, carneiros, galinhas, guinés e o diabo a quatro.
            Todos os meus parentes viveram e sobreviveram, estudaram, criaram suas famílias no trabalho honesto daquelas terras brancas. Hoje quem passa por lá – fui, várias vezes – assisti - com um aperto no coração – um abandono terrível, não existe um pé, pelo menos de “gogóia”, ou um pinto que tenha escapado dos gaviões.
            O último proprietário, - “dizem” que devia muito Imposto de terras, quando partiu para o outro lado, o governo tomou dos herdeiros e as entregou aos Sem-Terra da região. Que saudades... Dos homens trabalhadores de antigamente!

           




segunda-feira, 12 de agosto de 2013


Médico venezuelano conta o que viu da atuação de médicos cubanos






Publicado em 30 de junho de 2013 às 8:05 hs.

            Muito importante a leitura desta entrevista com o vice-presidente da Confederación Médica Latinoamericana y del Caribe (Confemel) e presidente da Federación Médica Venezolana (FMV), Douglas León Natera.
            Ele conta ao Globo o que viu da atuação de médicos cubanos na Venezuela e Bolívia, os erros grotescos cometidos pelos supostos profissionais e o retrocesso ocorrido nesses países.
            - É absurda decisão do governo brasileiro de importar médicos, - diz dirigente da Confemel
            Em entrevista ao GLOBO, o vice-presidente da Confederación Médica Latinoamericana y del Caribe (Confemel) e presidente da Federación Médica Venezolana (FMV), Douglas León Natera, considerou absurda a decisão do governo brasileiro de trazer médicos estrangeiros ao Brasil. Em visita a São Paulo, para participar de palestras e eventos, ele lembrou que, na Venezuela e na Bolívia, médicos cubanos cometeram uma série de erros clínicos e, segundo ele, provaram que não têm conhecimento nem experiência para atuarem no ramo da medicina. Ele cobrou do governo brasileiro que obrigue os estrangeiros a revalidarem o diploma e informou que, em outubro, pretende apresentar um relatório sobre os erros cometidos por cubanos à Associação Médica Mundial.
            - GLOBO Como o senhor avaliou a decisão do governo brasileiro de trazer médicos estrangeiros ao país?
            - DOUGLAS NATERA É uma decisão absurda a pretensão do governo brasileiro de importar médicos estrangeiros, já que se formam todos os anos, no Brasil, em torno de 16 mil médicos. Se o governo federal necessita de 6 mil novos médicos para atuarem em zonas mais carentes do país, ele deve oferecer esses cargos às universidades federais, que podem preencher essas vagas por meio de concursos. Então, não há necessidade de importar médicos. O Brasil não merece o que fizeram em Venezuela e em Bolívia.
            - Como foi a experiência de médicos estrangeiros nesses dois países?
            - Na Venezuela, o ex-presidente Hugo Chávez trouxe em torno de 30 mil cubanos para o país, que diziam que eram médicos. Pelo que observamos, no entanto, eles não eram médicos, não tinham experiência nem conhecimento para atuarem como médicos. Nas pastas que trouxeram de Cuba, eles carregavam apenas cartas dos governos de Cuba e da Venezuela e um papel sem valor de título universitário. Eles começaram a chegar à Venezuela em 1999, após um acordo feito pela ex-esposa de Hugo Chávez Maria Isabel Rodríguez com o Ministério da Saúde de Cuba.
            - Por que os médicos cubanos, como o senhor disse, não estão preparados para atuarem na área?
            - A razão porque digo que eles não são médicos é que temos informações que esses cubanos cometeram erros clínicos em países da América do Sul. Na Venezuela, por exemplo, um jovem de 18 anos apresentou febre alta de 41º graus e não havia forma de reduzir a sua temperatura. A mãe do paciente disse ao médico que ele era alérgico a Dipirona, mas ele respondeu que cuidaria disso depois, que o importante naquele momento era reduzir a febre. O suposto médico injetou a Dipirona no paciente. Em cinco ou dez minutos, ele estava morto e ninguém nunca mais soube desse médico. Um outro caso, ocorrido em Bolívia, foi de um paciente, de 36 anos, que caiu de uma árvore e sofreu um traumatismo lombar. No hospital, disseram que ele deveria passar por uma operação, porque havia um sangramento renal. O cubano extraiu um dos rins do paciente, o que era equivocado. Os médicos depois fizeram um interrogatório a esse cubano e viram que ele não entendia nada da anatomia dos rins.
            - Mas no Brasil, uma das condições impostas pelo governo federal é de que os médicos estrangeiros não poderão fazer cirurgias, mas atuarão apenas na atenção básica da saúde.
            - Essa é a mesma teoria que aplicaram na Venezuela, que esse médicos atuariam na parte de prevenção e promoção da saúde. Os médicos cubanos fizeram fama de terem avançado, sobretudo, na área preventiva. Eu não sei como eles justificam, então, o fato de terem sido diagnosticados mais de 44 mil casos de dengue por ano, do ano de 2000 a 2012. Este ano, por exemplo, os casos de malária se duplicaram e houve o retorno, nos últimos anos, de casos de tuberculose. Essa teoria, que estão usando no Brasil, usaram também em Venezuela e as pessoas mais pobres acreditaram.
            - O governo de Cuba alega que esse médicos possuem formação universitária.
            - Eu não duvido da formação universitária dos médicos que estão nas universidades, mas os médicos que foram a Venezuela e Bolívia não têm essa formação e não comprovaram que são médicos. Eu digo, portanto, que são cubanos, mas não médicos.
            - O senhor é, então, favorável à revalidação do diploma a estrangeiros no Brasil?
            - Para trabalhar nos nossos países, é necessário cumprir regras previstas na lei. Para trabalhar em Venezuela, é necessário ter um título de uma universidade venezuelana ou, para um estrangeiro, um título revalidado. No Brasil, é a mesma regra. Sem a revalidação, exerce-se a medicina ilegalmente. Na Venezuela, nenhum dos cubanos fez a revalidação do diploma médico. Por isso que dizemos que os que estão em Venezuela exerceram ilegalmente a medicina, assim como os que estão em Cuba. É indispensável que se revalide o título para saber quem está entrando no Brasil.
            - A CONFEMEL comunicou os erros médicos cometidos por cubanos aos governos da Venezuela e da Bolívia? E para a Organização Mundial de Saúde (OMS)?
            - Nós estamos há mais de dez anos analisando esses casos. Nós solicitamos uma audiência com o governo da Venezuela, bem como enviamos avisos ao governo da Bolívia, mas não houve resposta até agora. Eles preferem o silêncio administrativo para não entrar em uma polêmica e terem que justificar o que não tem justificativa. Em outubro, vamos fazer uma apresentação desses casos e entregar um relatório para a Associação Médica Mundial (AMM)
            - O jornal espanhol El País noticiou em 2010 casos de médicos cubanos que fugiram de países da América do Sul com receio de voltar a Cuba. Esses episódios ainda ocorrem?
            - Há informações de que cubanos saíram da América do Sul e foram para a Flórida, Miami (USA). Eles atuavam como ajudantes de médicos e não especificaram se saíram da Venezuela ou da Bolívia. Segundo informações, cerca de 5 mil cubanos foram para Miami.
            - Se esses médicos não são qualificados para atuarem profissionalmente, como o senhor afirmou, por que governos da América do Sul os importam?
            - Porque esses governos não se importam com a saúde do povo para quem governam. O que concluo é que esses governos sentem um profundo desprezo pelos mais necessitados e o que os interessa são apenas os seus interesses.


domingo, 11 de agosto de 2013



ANIVERSÁRIO DE NASCIMENTO DE ANTONIO GONÇALVES DIAS
10 DE AGOSTO DE 1823 – 3 DE NOVEMBRO DE 1864

Grijalva Maracajá Henriques

            190 anos do nascimento do poeta autor da Canção do Exílio e I – Juca Pirama. Os dois mais conhecidos trabalhos do grande brasileiro, quase esquecido. Minhas homenagens; colando uma pequena biografia e o seu tesouro mais notável:


Canção do Exílio


Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam.
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.

 Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite—
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem que ainda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá.

         Poeta brasileiro nascido no sítio Boa Vista, perto de Caxias, MA, citado como o verdadeiro criador da literatura brasileira. Filho de um português e de uma mestiça teve bons preceptores e trabalhou na loja do pai antes de seguir para a Universidade de Coimbra, pela qual se graduou em direito (1844). Retornou ao Maranhão, mas dois anos após (1846) mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se tornou professor de latim e história do Brasil no Colégio Pedro II. Foi um dos fundadores da revista Guanabara e escreveu crônicas, críticas e folhetins literários para jornais como o Correio Mercantil e o Correio da Tarde. Nomeado oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros (1852), foi para a Europa (1854) para estudar métodos de instrução pública em diferentes países. De volta ao Brasil (1859), deu início a uma série de viagens pela Amazônia, como chefe da seção de etnografia da Comissão Científica de Exploração, explorando especialmente os rios Negro e Madeira, e regiões da Venezuela e do Peru. Voltou à Europa (1862) e quando estava em Coimbra, compôs um de seus poemas mais conhecidos, que tem a particularidade de não apresentar nenhum adjetivo nos 24 versos que o compõem, a Canção do exílio: "Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá"... Com uma obra repleta de brasilidade e com temas indianistas, mais e mais valorizada com o tempo, em seu modo de ver e defender a natureza, já embutia uma preciosa preocupação ecológica, consolidou o romantismo brasileiro e serviu de modelo para muitos dos poetas seguintes, de Junqueira Freire a Castro Alves. No bojo do que foi editado destacaram-se Primeiros cantos (1847), Leonor de Mendonça (1846), Segundos cantos (1848), as Sextilhas de frei Antão (1848), Boabdil (1850) e Últimos cantos (1850). A editora alemã Brockhaus lançou em Dresden (1857), três obras suas: Os Cantos, Os timbiras e seu Dicionário da língua tupi. Depois (1868-1869) publicou suas obras póstumas, em seis volumes, numa tradução de Schiller Die Braut von Messina. Com a saúde irremediavelmente abalada, embarcou de volta ao Brasil (1864) no porto francês do Havre, no navio Ville de Boulogne. Inditosamente o navio naufragou na costa maranhense, perto de Guimarães, e o grande poeta foi o único a morrer no naufrágio, em 3 de novembro daquele ano.




quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A MULATA SAÍRA*


João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)


Apareceu com esse nome e com ele ficou; bonitona e atraente, nova e de corpo sadio, era um caso de policia, como se costuma dizer. Não tinha emprego, não procurava e nem queria. Vivia dela mesma, chupando dinheiro de quem se aproximava dela ou era atraído pelas suas artimanhas. Rua a cima, rua a baixo, sempre à procura de alguém. Um alguém que poderia ser o primeiro marido ou o primeiro homem que encontrasse. Não tinha reservas e pouco se dava que as mulheres se danassem com ela. Isso não a preocupava. Saíra tinha uma particularidade. Vestia-se decentemente como qualquer moça recatada. Procurava esconder os seus encantos para despertar a cobiça. Sabia que assim, todos ambicionavam saber como eram as suas pernas, os seios, a criatura, ela toda, afinal. E ai daquele que a visse sem um farrapo de roupa. Nunca mais a esqueceria e a desejava só para si. Mas o diabo é que Saíra não se fixava em ninguém. Não recebia gente de má aparência. Com ela teria que ser limpo, saudável. Detestava homem perfumado. De perfume bastava o que ela usava. Gostava de homem cheirando a homem. Ninguém se deitava com ela sem antes tomar um banho rigoroso. Detestava roupa cheirando a suor.
            - Não, querido, assim não dá. Sou uma mulata limpa e não quero pegar cheiro de ninguém. Quero, sim, que saiam daqui com o cheiro do meu corpo, cheiro de mulher asseada, que se trata.
Certo dia procurou-a um desses sujeitos que querem ser dono do mundo. Tomou um pinga e convidou-a.
- Olha, comigo não. Procura outra. Não agüento cheiro de suor e de cachaça. Sou mulher para gente limpa. 
            Comigo ninguém brinca, sinha quenga. Tentou tomá-la pelo braço arrastá-la.
            Saíra despregou-se.
- Não me toques mais. Sou mulher, mas não tenho medo de macho. Dá o fora.
- Estas brincando, bichota. Certamente não conhece o cabra Napoleão.
- Nem quero conhecer. Pode se danar.
            Fechou-se no quarto e ficou em silencio. Ouviu os passos do sujo saindo. Demorou um pouco e saiu. Parecia que a cidade a estava esperando. Não tinha o menor acanhamento em falar ou cumprimentar um marido acompanhado da mulher. - Elas que se cuidassem. - Havia de vencer na vida e não desviava caminho.
            Teria de juntar muito dinheiro, ter a sua casa, escolher mais ainda os seus namorados. Vestir-se à última moda, possuir jóias, ser uma mulher disputada.
            Em Ipuêiras formavam-se duas alas. Uma, das mulheres em pé de guerra contra Saíra. Outra a dos homens, em defesa própria. Deveria aparentar ser mais discretos para manter a harmonia no lar. Teriam de convencer as esposas que nada tinham de relacionamento com Saíra. Ela é que era uma extrovertida, uma doidinha com suas manias. Gostava de ostentar-se na sua mania de conquistar.
            - E porque ela não procura os rapazes e anda a farejar os casados. Tem-se que dar um jeito. E expulsa-la daqui, isto sim.
            Arquitetavam planos e mais planos, sem resultado. Saíra mostrava-se cada vez mais atrevida. Dava em cima de qualquer um calculadamente. Eram os casados que tinham dinheiro para gastar com ela e, além disso, para que mantivesse sigilo, dobravam as notas. A rapaziada era dinheirinho contado que não dava para sobrar.
            As casadas arquitetaram um novo plano; contratar uma velhota que vivia de esmolas para vigiá-los. Ficaria esmolando às proximidades da casa de Saíra. À noite prenderiam os maridos em casa e pelo dia estariam vigiados. Não revelariam nada antes de um mês. Assim pegariam um grande número.
            Perderam o tempo e o dinheiro. A turma já havia combinado que só entraria pela porta do quintal. E o resultado prático é que ninguém foi visto entrando.
            A esmoler perdeu o emprego.
            É, parece que estávamos mesmo enganadas, cometemos injustiça com os nossos fies maridos. Como vêem, as aparências enganam.
            Passava-se o tempo, com relativa despreocupação. Saíra já estava decidida a se ir. Andava de bolsa recheada de notas e não era mulher para viver num meio pequeno. Estava saturada dos mesmos caras, e enjoada daquela vida de caça níqueis. Preparou-se então para sair. Passou, entretanto, mais algumas semanas fazendo a última arrecadação. Elevou a tabela, contou lamúrias. O que recebia só dava mesmo para as despesas comuns. Não lhe sobrava nada. Estava sem roupas decentes, sem perfumes e alimentando-se mal. Fazia um apelo dramático a cada um.
- Vocês sabem. Para manter-me em boa forma e guardar o sigilo que me pedem, fico privada de muitas coisas. E depois, minhas amizades são limitadas. Ando somente com a turminha conhecida. Gente de fora e essa rapaziada que anda por ai não recebo. Seria uma desconsideração.
 Teve, assim, uma semana gorda. Faria uma surpresa. Relacionou o nome das esposas enganadas. Fez uma carta para as principais. Pagou uma moleca para entregar, no dia seguinte, quando já não estaria mais em Ipuêiras. O bilhete dizia: 
- Tomem conta de seus maridos, estou enjoada deles.

F I M

*Este conto faz parte do livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.




terça-feira, 6 de agosto de 2013


RASGA GALO*

João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)

            Um parente, pessoa afortunada, e já de cabelos grisalhos, sempre bem humorado e afiado na conversa, pegou uma mania, ou, digamos, uma preferência esquisita, o que quase sempre lhe custava mais caro. Galo era o seu prato predileto. Ninguém que passasse com um galo à sua frente. Gritava logo: - é para vender? E, então não tinha preço. Comprava desse no que desse. Mandava torrar uma banda e assar à outra e ficava impaciente até que o bicho fosse para a mesa. Os vendedores de aves já sabiam e passavam sempre pela sua porta oferecendo. Saltava em cima.
 – Passa o pau no bicho! Levanta a chama do fogão.
Às vezes o galo era velho de mais, como quase todos os galos que são descartados do terreiro, carne dura danada que levava tempo a cozinhar.
Quando demorava muito, reclamava da cozinheira ou mesmo da mulher – Que fogo frio é esse?
- É que o bicho é velho e duro.
- Põe cachaça ou folha de mamoeiro para amolecer. Vocês não aprendem nunca?
- Jota, ou Jota, deixa essa mania de comprar galo. Não há lenha nem gás que chegue. Parece ovo. Quanto mais cozinha mais duro fica. É um estrupício. E nem sei como diabo se pode gostar disso.
- Gosto não se discute. Vocês não têm paladar. Esses bichinhos novos não têm gosto de nada. Um galo velho tem sabor especial. Carne, gordura, tutano. Esse negócio de custar a cozinhar é secundário. Um pirão de galo é uma coisa apetitosa. Dá gosto comer.
De tanto correr, comprar e comer galo botaram-lhe o apelido jocoso de “Rasga Galo”. Pensam que ligava para isso. Achava era graça.
- Dizem por que não sabem o que é um galo bem temperado.
Mas certa feita os amigos quiseram pregar-lhe uma peça. Procuraram o galo mais velho da região.
A dona do bicho era dona Chiquinha. – Não, este galo não se vende. Vem do tempo de minha avó e era o melhor cantador das vizinhanças. Era desses que encostava o bico no chão. Canto dobrado.
- Mas dona Chiquinha, pagamos o que a senhora pedir. É para fazer um presente.
- Mesmo assim!
- Pois olhe. Pagamos o galo e damos um outro galo novo e bonito de presente.
Diante de insistência, dona Chiquinha cedeu o bicho, com pena. – Um galo cantador assim já desapareceu.
Afinal lá se foi o galo da dona Chiquinha.
Mandaram um sujeito passar à porta do Jota, apregoando galo. – Olha o galo. Grande e gordo!
Jota saiu às pressas e o vendedor já ia longe. Abriu a porta e gritou: - Galo!!! O moço voltou.
- Quando é o galo?
- Barato. É um bichão. Pegue no peso...
Jota suspendeu o bicho, levantou a asa, soprou as penas para ver a gordura e perguntou o preço.
O vendedor pediu uma exorbitância.
- Está doido, rapaz. Onde diabo já se viu um galo por esse preço?
- Não tem nada. Vou à frente. Já está quase encomendado. Lá adiante tem um freguês que é doido por galo. Paga o que se pede. É quase só chegar e entregar e meter o dinheiro no bolso. É o preço por quanto à dona mandou vender. Se não achasse, levasse de volta. É um galo de estimação. Tem carne como um peru. Criado com milho e sadio. Veja como tem a crista vermelha, bem corada. Se eu pudesse ficaria com ele para criar. Só o canto vale o dinheiro. É porque a velhinha está necessitada. Senão... Bem até logo. Depois não se vá se arrepender. O senhor nunca comeu um galo como este.
- Faça uma diferença.
- Não tem jeito, é ordem da dona.
- Nunca comi um galo tão caro na minha vida.
- Quem gosta do que é bom...
- Passa para cá, o bicho. Quando trouxer galo, pare por aqui.
- Sim senhor.
Jota entrou com o galo pegado pelas asas. Chamou a mulher, chamou a cozinheira.
Está ai um galo especial. Preparem a rigor.
A cozinheira examinou o bicho. – Este não cozinha com oito dias de fogo.
- Conversa. É um galo como os outros. Dá-lhe um porre de cachaça antes de matar. Amacia a carne...
O galo era tão duro que quase não morre. Carne arroxeada e fibrosa. Gordura só no couro amarelado. Foi ao fogo de lenha de aroeira e angico. Quanto mais levava fogo, mais endurecia e ficava nervento. Deu meio dia, uma hora da tarde e o garfo não furava.
- O bicho encruou. Está com o cão. Duas horas.
- Bota esse almoço, minha gente. Que galo difícil é este minha gente?
- Venha ver. Não há jeito. Experimente. Cru, cru. Coma outra coisa. Carne assada, ovos, que este galo não vai sair hoje.
- Quero é galo, galo, galo... Passa no moinho.
A empregada obedeceu.
- Dá não seu Jota. O moinho engasga. É uma bucha. Só botando para os gatos.
- Gato coisa nenhuma. Então, vou perder um galo desses. Nem se fale nisso. Aumenta o fogo.
Jota resolveu ir à carne de sol e ovos com uma farofinha de manteiga. - Vocês também não se lembraram de nada. Façam um pirão. Ou também o caldo não cozinhou? Tangam os miúdos. Moela, fígado. - Ao espetar, a moela saltou do prato. O pirão não tinha gosto de nada.
- Deixa no fogo, nem que queime toda a lenha do Cariri. Bota folha de mamão na panela, mas, esse galo não me escapa.
Com um dia e uma noite de fogo de aroeira e angico, o galo amanheceu mais brando. Tinha que ser. Não era possível. A moela não teve jeito. As obturações dos dentes caíram, mas o galo foi digerido lentamente. Mesmo assim Rasga Galo não perdeu o hábito nem o apetite.
- Olha o galo!

- Quanto é? Passa pra cá!