TIRADENTES
Aniversário de morte
222 anos
21 de abril de 1792/2014
PARTE II
O MARTÍRIO DE TIRADENTES: UMA FARSA CRIADA POR
LÍDERES DA INCONFIDÊNCIA MINEIRA
Autor: Guilhobel Aurélio Camargo
Ele estava muito
bem vivo, um ano depois, em Paris. O feriado de 21 de abril é fruto de uma
história fabricada que criou Tiradentes como bode expiatório, que levaria a
culpa pelo movimento da Inconfidência Mineira. Quem morreu no lugar dele foi um
ladrão chamado Isidro Gouveia.
A mentira que
criou o feriado de 21 de abril é: Tiradentes foi sentenciado à morte e foi
enforcado no dia 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, no local chamado Campo
da Lampadosa, que hoje é conhecido como a Praça Tiradentes. Com a Proclamação
da República, precisava ser criada uma nova identidade nacional. Pensou-se em
eternizar Marechal Deodoro, mas o escolhido foi Tiradentes. Ele era de Minas
Gerais, estado que tinha na época a maior força republicana e era um polo
comercial muito forte. Jogaram ao povo uma imagem de Tiradentes parecida com a
de Cristo e era o que bastava: um “Cristo da Multidão”. Transformaram-no em
herói nacional cuja figura e história “construída” agradava tanto à elite
quanto ao povo.
Foi morar com seu
padrinho, Sebastião Ferreira Dantas, um cirurgião que lhe deu ensinamentos de
Medicina e Odontologia. Ainda jovem, ficou conhecido pela habilidade com que
arrancava os dentes estragados das pessoas. Daí veio o apelido de Tira-Dentes.
Tiradentes foi iniciado na Maçonaria pelo poeta e juiz Cruz e Silva, amigo de
vários inconfidentes. Tiradentes teria salvado a vida de Cruz e Silva, não se
sabe em que circunstâncias.
Em todos os
movimentos libertários acontecidos no Brasil, durante os séculos XVIII e XIX,
era comum o "dedo da Maçonaria". E Tiradentes foi maçon, mas estava
longe de acompanhar os maçons envolvidos na Inconfidência, porque esses eram
cultos, e em sua grande parte, estudantes que haviam recentemente regressado
"formados” da cidade de Coimbra, em Portugal. Uma das evidências
documentais da participação da Maçonaria são as cartas de denúncia existentes
nos autos da Devassa, informando que maçons estavam envolvidos nos conluios.
Os maçons
brasileiros foram encorajados na tentativa de libertação, pela história dos
Estados Unidos da América, onde saíram vitoriosos - mesmo em luta desigual - os
maçons norte-americanos George Washington, Benjamin Franklin e Thomas
Jefferson. Também é possível comprovar a participação da Maçonaria na Inconfidência
Mineira, sob o pavilhão e o dístico maçônico do Libertas Quae Sera Tamen, que
adorna o triângulo perfeito, com este fragmento de Virgílio (Éclogas, I, 27).
Em 21 de abril de
1792, com ajuda de companheiros da Maçonaria, foi trocado por um ladrão, o
carpinteiro Isidro Gouveia. O ladrão havia sido condenado à morte em 1790 e
assumiu a identidade de Tiradentes, em troca de ajuda financeira à sua família,
oferecida a ele pela Maçonaria. Gouveia foi conduzido ao cadafalso e
testemunhas que presenciaram a sua morte se diziam surpresas porque ele
aparentava ter bem menos que seus 45 anos.
No livro, de
1811, de autoria de Hipólito da Costa ("Narrativa da Perseguição") é
documentada a diferença física de Tiradentes com o que foi executado em 21 de
abril de 1792. O escritor Martim Francisco Ribeiro de Andrada III escreveu no
livro "Contribuindo", de 1921: "Ninguém, por ocasião do
suplício, lhe viu o rosto, e até hoje se discute se ele era feio ou
bonito...".
O corpo do ladrão
Gouveia foi esquartejado e os pedaços espalhados pela estrada até Vila Rica
(MG), cidade onde o movimento se desenvolveu. A cabeça não foi encontrada, uma
vez que sumiram com ela para não ser descoberta a farsa. Os demais
inconfidentes foram condenados ao exílio ou absolvidos.
Há 41 anos (1969),
o historiador carioca Marcos Correa estava em Lisboa quando viu fotocópias de
uma lista de presença da galeria da Assembleia Nacional francesa de 1793.
Correa pesquisava sobre José Bonifácio de Andrada e Silva e acabou encontrando
a assinatura que era o objeto de suas pesquisas. Próximo à assinatura de José
Bonifácio, também aparecia a de um certo Antônio Xavier da Silva. Correa era
funcionário do Banco do Brasil, se formara em grafotécnica e, por um acaso do
destino, havia estudado muito a assinatura de Joaquim José da Silva Xavier, o
Tiradentes. Concluiu que as semelhanças eram impressionantes.
Tiradentes teria
embarcado incógnito, com a ajuda dos irmãos maçons, na nau Golfinho, em agosto
de 1792, com destino a Lisboa. Junto com Tiradentes seguiu sua namorada,
conhecida como Perpétua Mineira e os filhos do ladrão morto Isidro Gouveia. Em
uma carta que foi encontrada na Torre do Tombo, em Lisboa, existe a narração do
autor, desembargador Simão Sardinha, na qual diz ter-se encontrado, na Rua do
Ouro, em dezembro do ano de 1792, com alguém muito parecido com Tiradentes, a
quem conhecera no Brasil, e que ao reconhecê-lo saiu correndo. Há relatos que
14 anos depois, em 1806, Tiradentes teria voltado ao Brasil quando abriu uma
botica na casa da namorada Perpétua Mineira, na Rua dos Latoeiros (hoje
Gonçalves Dias) e que morreu em 1818.
Autor: Guilhobel Aurélio Camargo
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