quarta-feira, 6 de junho de 2012

CENTENÁRIO DO LIVRO EU DE AUGUSTO DOS ANJOS



Centenário do lançamento do livro EU do poeta paraibano Augusto dos Anjos

            Lia e relia, suas poesias, - quando tinha meus quinze anos – sem entender quase nada. Porém, continuei lendo porque aquilo me enfeitiçara de tal maneira que parecia que ele falava de mim, acho que também de muita gente. Foi passando o tempo e hoje de posse da 29ª. Edição – Comemorativa do Cinquentenário do seu Aparecimento 21 de junho de 1912 – 1962, - já perto das vascas do meu destino final – continuo perambulando entre suas páginas, perdido e amedrontado, sem saber “Se sou uma sombras, ou se venho de outras eras, ou do cosmopolitismo das moneras ou se procedo da escuridão do cósmico segredo”.
            Aí achei nestes versos, abaixo, talvez, ter encontrado respostas para minhas dúvidas.  
Minhas homenagens!
Grijalva Maracajá Henriques
06/06/2012
maracajag@hotmail.com


UM MORTO ILUSTRE DESCREVE O PRÓPRIO ENTERRO



Noite de 17 de junho de 1945. Chico Xavier, a serviço da repartição da qual é empregado, achava-se na cidade de Leopoldina, em Minas Gerais, numa exposição agropecuária.
            Findo o labor do dia, foi visitar o “Centro Espírita Amor ao Próximo”, daquela cidade.
            Como se sabe, naquela cidade mineira, desencarnou o Poeta Augusto dos Anjos, cujos despojos, até hoje, ainda lá se encontram.
            Alguém, na reunião, que se compunha de mais de cem pessoas, Comentou:
            — Ora essa! Se os espíritos se comunicam conosco, seria interessante que o Augusto dos Anjos nos viesse contar, em versos, como foi o seu enterro.
            E o Poeta veio mesmo.
            Em concentração junto à mesa que dirigia os trabalhos da noite, Chico psicografou a interessante Mensagem que transcrevemos:

RECORDAÇÕES EM LEOPOLDINA

A sombra amiga destes montes calmos,
Meu pobre coração de anacoreta,
Amortalhado em fina roupa preta
Desceu à escuridão dos sete palmos.


Viera o fim dos sonhos intranquilos
entre grandes e estranhos pesadelos,
Satisfazendo aos trágicos apelos
Da guerra inexorável dos bacilos.

A morte terminara o horrendo cerco,
Sufocando as moléculas madrastas...
Eram milhões de células nefastas,
Voltando à paz do túmulo de esterco.

Indiferente aos últimos perigos,
Meu corpo recebeu o último beijo
E comecei o lúgubre cortejo,
Sustentado nos braços dos amigos.

Em triste solilóquio no trajeto,
Espantado, fitando as mãos de cera,
Rememorava o tempo que perdera,
Desde as primárias convulsões do feto.

Por que morrer amando e haver descrido
Do Eterno Sol, do qual vivera em fuga?
Como é sombrio o pranto que se enxuga
Pelo infinito horror de haver nascido!...

Depois, vi-me no campo onde a dor medra,
Ao contacto do chão frio e profundo,
Chegara para mim o fim do mundo,
Entre as cruzes e os dísticos de pedra.

Terrível comoção pintou-me a cara,
Na escabrosa cidade dos pés juntos,
Tornara-se defunta, entre os defuntos,
Toda a ciência de que me orgulhara.

Trêmulo e só, no leito subterrâneo,
Sentia, frente à lógica dos fatos,
O pavor dos morcegos e dos ratos,
Dominar os abismos de meu crânio.

Meus ideais mais puros, meus lamentos,
E a minha vocação para a desgraça
Reduziam-se à mísera carcaça
Para o açougue dos vermes famulentos.

Em seguida o abandono, enfim, do plasma,
Os micróbios gritando independência...
E tomei nova forma de existência
Sob a fisiologia do fantasma.

Fugindo então ao gelo, à sombra e à ruína
Do caos sinistro em que vivi submerso
Revelou-se-me a glória do universo,
Santificado pela Luz Divina.

Oh! Que ninguém perturbe os meus destroços,
Nem arranque meu corpo à última furna,
É Leopoldina, a generosa urna,
Que, acolhedora, me resguarda os ossos.

Beije minhalma, alegre, o pó da rua
Deste painel bucólico e risonho,
Onde aprendi, no derradeiro sonho,
Que o mistério da vida continua...

Bendita seja a Terra, augusta e forte,
Onde, através das vascas da agonia,
Encontrei a mim mesmo, em novo dia,
Pelas revelações de luz da morte.

AUGUSTO DOS ANJOS

O experimentador, que duvidava da comunicação dos Espíritos, ao escutar a Mensagem, franziu a testa e, com toda a assembleia, ficou meditando...

Livro: Lindos Casos de Chico Xavier
Ramiro Gama

Francisco Rebouças
Postado por O Espiritista às 05:46 http://img1.blogblog.com/img/icon18_email.gif 













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