Centenário do lançamento do livro EU do poeta paraibano Augusto dos
Anjos
Lia e relia, suas poesias,
- quando tinha meus quinze anos – sem entender quase nada. Porém, continuei
lendo porque aquilo me enfeitiçara de tal maneira que parecia que ele falava de
mim, acho que também de muita gente. Foi passando o tempo e hoje de posse da 29ª.
Edição – Comemorativa do Cinquentenário do seu Aparecimento 21 de junho de 1912
– 1962, - já perto das vascas do meu destino final – continuo perambulando
entre suas páginas, perdido e amedrontado, sem saber “Se sou uma sombras, ou se
venho de outras eras, ou do cosmopolitismo das moneras ou se procedo da
escuridão do cósmico segredo”.
Aí achei nestes versos,
abaixo, talvez, ter encontrado respostas para minhas dúvidas.
Minhas homenagens!
Grijalva Maracajá Henriques
06/06/2012
maracajag@hotmail.com
UM MORTO ILUSTRE
DESCREVE O PRÓPRIO ENTERRO
Noite
de 17 de junho de 1945. Chico Xavier, a serviço da repartição da qual é
empregado, achava-se na cidade de Leopoldina, em Minas Gerais, numa exposição
agropecuária.
Findo o labor do dia, foi visitar o
“Centro Espírita Amor ao Próximo”, daquela cidade.
Como se sabe, naquela cidade
mineira, desencarnou o Poeta Augusto dos Anjos, cujos despojos, até hoje, ainda
lá se encontram.
Alguém, na reunião, que se compunha
de mais de cem pessoas, Comentou:
— Ora essa! Se os espíritos se
comunicam conosco, seria interessante que o Augusto dos Anjos nos viesse
contar, em versos, como foi o seu enterro.
E o Poeta veio mesmo.
Em concentração junto à mesa que
dirigia os trabalhos da noite, Chico psicografou a interessante Mensagem que
transcrevemos:
RECORDAÇÕES EM LEOPOLDINA
A
sombra amiga destes montes calmos,
Meu
pobre coração de anacoreta,
Amortalhado
em fina roupa preta
Desceu
à escuridão dos sete palmos.
Viera
o fim dos sonhos intranquilos
entre
grandes e estranhos pesadelos,
Satisfazendo
aos trágicos apelos
Da
guerra inexorável dos bacilos.
A
morte terminara o horrendo cerco,
Sufocando
as moléculas madrastas...
Eram
milhões de células nefastas,
Voltando
à paz do túmulo de esterco.
Indiferente
aos últimos perigos,
Meu
corpo recebeu o último beijo
E
comecei o lúgubre cortejo,
Sustentado
nos braços dos amigos.
Em
triste solilóquio no trajeto,
Espantado,
fitando as mãos de cera,
Rememorava
o tempo que perdera,
Desde
as primárias convulsões do feto.
Por
que morrer amando e haver descrido
Do
Eterno Sol, do qual vivera em fuga?
Como
é sombrio o pranto que se enxuga
Pelo
infinito horror de haver nascido!...
Depois,
vi-me no campo onde a dor medra,
Ao
contacto do chão frio e profundo,
Chegara
para mim o fim do mundo,
Entre
as cruzes e os dísticos de pedra.
Terrível
comoção pintou-me a cara,
Na
escabrosa cidade dos pés juntos,
Tornara-se
defunta, entre os defuntos,
Toda
a ciência de que me orgulhara.
Trêmulo
e só, no leito subterrâneo,
Sentia,
frente à lógica dos fatos,
O
pavor dos morcegos e dos ratos,
Dominar
os abismos de meu crânio.
Meus
ideais mais puros, meus lamentos,
E
a minha vocação para a desgraça
Reduziam-se
à mísera carcaça
Para
o açougue dos vermes famulentos.
Em
seguida o abandono, enfim, do plasma,
Os
micróbios gritando independência...
E
tomei nova forma de existência
Sob
a fisiologia do fantasma.
Fugindo
então ao gelo, à sombra e à ruína
Do
caos sinistro em que vivi submerso
Revelou-se-me
a glória do universo,
Santificado
pela Luz Divina.
Oh!
Que ninguém perturbe os meus destroços,
Nem
arranque meu corpo à última furna,
É
Leopoldina, a generosa urna,
Que,
acolhedora, me resguarda os ossos.
Beije
minhalma, alegre, o pó da rua
Deste
painel bucólico e risonho,
Onde
aprendi, no derradeiro sonho,
Que
o mistério da vida continua...
Bendita
seja a Terra, augusta e forte,
Onde,
através das vascas da agonia,
Encontrei
a mim mesmo, em novo dia,
Pelas
revelações de luz da morte.
AUGUSTO DOS ANJOS
O
experimentador, que duvidava da comunicação dos Espíritos, ao escutar a
Mensagem, franziu a testa e, com toda a assembleia, ficou meditando...
Livro: Lindos Casos de Chico Xavier
Ramiro Gama
Francisco
Rebouças
Adorei.
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