NENA*
João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)
Nena,
menina do interior, foi internada num colégio de freiras da capital. Menina já
cheirando a moça, levava saudades da família e uma saudade doida do Atílio, seu
bem querer desde a escola primária. Percebia que era um amor impossível pela
desigualdade social, mas Atílio estava dentro do seu coração como o pólen
dentro da flor que ainda não desabrochara.
Atílio,
filho de empregada doméstica cuja origem ninguém conhecia, também morria de
amores pelos olhos verdes de Nena. Não tinha a menor dúvida de que a família de
Nena se escandalizaria se um dia viesse, a saber, do relacionamento dos dois.
Guardava segredo de seus sentimentos e não pensava em desistir. Reconhecia que
só haveria uma solução; que era tornar-se gente de bem, o que dependeria mais
de si próprio do que de circunstancias imprevistas. Entrar para o Ginásio.
Tocar pé no caminho. Estudar com afinco, isolar-se dos companheiros; a mãe não
podia comprar-lhe os livros exigidos os quais Atílio tomava emprestados,
comprava o que podia, fazia apontamentos nas aulas e por fim, a mãe teve que
valer-se da patroa, pedindo-lhe adiantamentos e livros usados para que o filho
pudesse acompanhar as matérias do Ginásio. Atílio percebia que era sacrifício
de mais e tinha que descobrir alguma forma de ganhar qualquer coisa que o
ajudasse a vencer a tarefa. Falou com o professor com quem tinha mais
aproximação, contou-lhe o seu drama. Precisava estudar e não possuía meios.
Queria um trabalho qualquer que facilitasse pelo menos o material didático.
Livros, papel, tinta, lápis, que a mãe não lhe podia dar.
-
Irei te ajudar. Fornecerei os livros e cadernos, contanto que sejas sem um bom
aluno, como tem sido.
-
Juro que farei o máximo para corresponder à generosidade do senhor. Nem mereço
tanto. Mas um dia espero poder lhe ser útil.
Atílio
não era nenhum gênio, mas o seu esforço tornava-o um aluno de boa categoria.
Humilde e disciplinado, sem ambição, chegava ao fim de cada jornada com
aprovações acima da média. Estava para terminar o Ginásio e teria que
prosseguir só Deus saberia como.
Durante
o ano não recebia cartas de Nena. A censura do Colégio e o receio de tornar
conhecida o seu afeto por Atílio deixava-a ansiosa que viesse às férias para
revê-lo e reafirmar que não o esquecia. Em cartas para uma ex-colega e amiga,
perguntava por Atílio e mandava-lhe lembranças. Ele retribuía pela mesma via. A
distância aguçava-lhe o bem que lhe devotava. Mas, diante à aproximação do
curso preparatório para ingressar na faculdade, sentia-se quase perdido. Como
ir viver na capital, sem dinheiro, sem emprego, só e só com a boa vontade.
Falava com a mãe a respeito e pedia-lhe conselhos. E doía-lhe ver como o mundo
era desigual e injusto. O filho do comerciante mais rico da cidade abandonara
os estudos quando poderia freqüentar escola onde pretendesse. A vida fácil, o
futuro assegurado pela fortuna do pai, deixava-o a vontade para viver como
entendesse, embora desgostando os pais.
Desculpava-se
dizendo que não tinha gosto pelos estudos, não conseguia aprender, apesar do
esforço que fazia.
Ele,
que precisava formar-se em medicina, realizar os seus sonhos, via-se sem a
menor condição. Teria que ficar parado no meio do caminho e perder o que mais
ambicionava na vida: Nena!
Teria
facilidade de ingressar no Seminário, através das Vocações Sacerdotais, mas
isso não resolveria o seu sonho de jovem pobre e desamparado.
-
Ou mãe, o que é que a gente vai fazer. Estou desesperado. A cada dia que se
passa, maior é minha desilusão. Até parece que seria melhor que o mundo se
acabasse, a vida parasse, morresse minha ambição de ser gente.
-
Paciência, Atílio. Não te aflija tanto, Deus há de nos dar uma solução. Aliás,
tenho pensado só em ti e já me veio uma idéia.
-
O que, mãe? Diz qual é. Coração de mãe sempre descobre as coisas.
-
Iremos viver na capital. Conseguir um trabalho lá e se for possível um emprego
para ganhares qualquer coisa.
-
Mas como a gente chegaria até lá.
-
Deus dará o jeito. Pede-se a quem tem. O patrão, a patroa, aos que têm para
dar. Contarei a tua história, o teu desejo de continuar os estudos. Não é
possível que não nos atendam. Saíras para um lado e eu para o outro. E
deveremos cuidar disto logo.
-Mas,
mãe, ter que pedir esmola?
-
Não será esmola, mais uma ajuda para uma finalidade justa. Os padres não pedem
para as Vocações Sacerdotais e para tanta coisa mais que nem se sabe pra que é.
Não será, portanto nada demais pedir para que continue no estudo e venhas a ser
um médico pra curar o povo. Muito mais útil não acha?
-
É verdade, mãe, mas se vai comparar um médico com um padre que não faz
geralmente outra coisa senão rezar e prometer o céu e ameaçar com o inferno
coisas que nem se sabe se existem. Aliás, eles sabem muito bem que não. Mas vá
lá que continuem enganando os bestas que lhe soltam dinheiro.
-
Também não é necessário falares assim Atílio. Deixa que eles armem suas
arapucas e vivam de tripa forra.
-
Mas mãe não irá pedir ao seu vigário não, ou vai?
-
Vou, o padre de nossa paróquia até parece um bom homem.
-
Sabe, eu vou à casa do senhor Pedro Santino, ele é rico e dá muita coisa à
Igreja.
-
É melhor não ires. Ele já teve um grande desgosto com o filho que não quis
estudar. Talvez seja um revoltado com estudos.
-
Não tem nada, a gente tenta, não custa.
Dona
Lina foi à casa do padre Josias. Contou-lhe a história comovente do filho. A
continuação de seus estudos seria a salvação dos dois. Qualquer coisa que desse
seria uma fortuna.
-
Ora, filha, sou um padre que quase não tem onde cair vivo, pois morto se cai em
qualquer parte. Já ando pedindo e ajudando as Vocações. Se ao menos o seu
Atílio fosse para o Seminário, ainda poderia se dar um jeitinho em qualquer
coisa, mas fora disso é impossível. E por que não mudam de idéia. Estuda
medicina quem pode. Quem não pode, procura um trabalho para continuar vivendo.
Não é só gente formada que vive. Um emprego de balcão, na Prefeitura, na roça.
Dona
Lina saiu desapontada. E se todos dissessem a mesma coisa. Mas pensou no filho,
reagiu e se foi de porta em porta.
-
Um empreginho serve. Iremos para a capital e lá conseguirei trabalho. Não
incomodarei mais. E assim ia juntando o que lhe davam. Pois não era! Já
contribuíram para a Igreja e para as Vocações Sacerdotais. Não era nada de mais
ajudar um rapazinho pobre que queria estudar e ser gente.
Atílio
botou-se para casa do senhor Pedro Santino, receoso pelo que a mãe lhe
advertira. Explicou-se humildemente. A mãe não tinha meios para mudar-se para a
capital onde batalharia pelos seus estudos. Ele próprio tentaria arrumar um
emprego, fosse qual fosse e que lhe desse ao menos o suficiente para a compra
de livros. Tomaria livros emprestados dos colegas, contanto que chegasse onde
tanto desejava.
-
Olhe Atílio, Atílio mesmo, não é?
-
Sim senhor.
-
Pois olha, vou te ajudar, Tenho um único filho homem que me deu o desgosto e a
minha mulher, de abandonar, sem motivo, os estudos; foi o maior golpe que
sofremos. Não lhe faltava nada. Livros, boa pensão, dinheiro e boas roupas.
Tudo inútil e inútil continua sendo. É bem certo o ditado que - Deus só dá cambito
a quem não tem toucinho. Tenho mais do que precisamos. Custearemos tua viagem,
pagaremos as matrículas, forneceremos os livros e todo o material escolar até
que te formes. Mas há duas condições das quais não abriremos mão.
Atílio
ficou preocupado.
-
A primeira é que deixaremos de ti ajudar se perderes um ano para vadiagem ou
negligencia. A segunda é que nos chamarás para tua formatura. Está certo?
-
E o senhor acha que mereço tanto? Além disso, talvez não seja quem o senhor
pensa. Sou apenas um estudante médio. É verdade que nunca tive uma reprovação.
No entanto, a universidade é bem diferente. Exige muito mais. O que posso
garantir é que não perderei aulas, farei um esforço supremo. O senhor não sabe
o que é uma pessoa pobre como eu, sonhando com um bom futuro. O senhor me de
licença que irei chamar mamãe aqui. Quero que ela ouça tanta graça alcançada e
possa confirmar o que digo. Além disso, ela foi à casa do padre Josias e quem
sabe, talvez ele esteja também decidido a custear meus estudos ou uma parte.
-
Pode ser, sim, mas não abro mão de minha decisão. Serás tu que irás compensar o
desgosto que tivemos com o nosso filho. Falarei com o padre Josias e ele abrirá
a mão. Ampararão outro e outro. Tu e tua mãe tereis uma pensão. Não queremos
que lhes falte boa alimentação e uma casinha para morar. Aliás, irei te levar à
capital. Vai, vai chamar tua mãe. Quero falar-lhe.
Enxugando
os olhos com um lencinho pobre, Atílio saiu como se caminhasse pisando em
pedras preciosas.
-
Sei que a senhora foi à casa do padre Josias pedir ajuda para a educação de seu
filho, o Atílio. Pois bem, faça-me o favor de ir até lá, devolver-lhe tudo
quanto prometeu. Da senhora e de seu filho, de agora por diante cuidaremos eu e
minha mulher.
-
Mas o senhor não deve fazer tanto assim. Não merecemos. Nós só temos a vida e
nada a lhe oferecer, a não ser nosso trabalho e gratidão. Bastaria um auxilio
para chegarmos à capital, vivemos enquanto arranjarei trabalho. Já estamos
habituados à pobreza. Muitas vezes meu filho ia à escola com uma xícara de café
e uma bolacha. Está habituado a esse regime. Já pedi a Deus que não me leve
antes de vê-lo formado. E agora o que o senhor quer tirar do seu para educar
meu filho que nem seque conhecia. É demais o que quer fazer por nós.
-
Darei a ele o que meu filho não quis. Só isto. E não imagina como nos
sentiremos felizes.
-
Vá, vá logo à casa do padre.
-
Não é preciso, não senhor. O que ele me deu foram conselhos.
–
Estuda quem pode. Quem não pode procura trabalho mesmo que seja na roça.
Poderia fazer qualquer coisa se ao menos o Atílio fosse para o Seminário,
através das Vocações Sacerdotais. Era um padre pobre que mal podia com ele.
Agradeci e saí.
-
Foi melhor assim. E vamos preparar o Atílio para a viagem. A senhora também.
Tem que acompanha-lo, pois não aceitaremos desculpas de que não estudou, não
foi aprovado, por este ou aquele motivo.
Um
ano depois, os dois tiveram que vir passar as férias em Santa Amélia e com boa
aprovação e em casa do protetor Pedro Santino e a esposa fazia questão de dar
ao Atílio que lhes parecia necessário a um estudante em férias. Dona Lina,
cuidava da casa, da cozinha à sala de visitas. Estava habituada a servir e
reconhecia que mesmo assim não pagaria nunca o amparo que estavam dando a ela e
ao filho. E foi neste período que surgiu o problema. Adonias, filho do casal
não se conformava em ver tanto aparato com o Atílio, enquanto as coisas para
ele eram regradas.
-
Agora só se vê aqui em casa esse mocinho. Procuram adivinhar os seus
pensamentos e tome roupa nova, sapatos novos, dinheiro e até um relógio. Para o
filho, tudo é difícil. Não tenho, não posso.
-
Mas Adonias, o que é que está te faltando.
- Nada, mas, não é tão fácil. Sempre há uma
desculpa. Depois, mais tarde, vou falar com teu pai.
-
Olha Adonias, não se está dando nada de mais ao Atílio. O que ele tem, estás
tendo há muito tempo. Deves compreender que teu pai se mata no trabalho para
educar a família. As meninas brevemente estarão formadas. Destes um desgosto
enorme ao teu pai. Único filho homem largou os estudos sem uma explicação. Por
isto adotamos o Atílio, para ter um filho adotivo, médico. Além disso, é um ato
de nobreza, amparar um menino pobre e estudioso.
-
Ele, esse Atílio tão mimado, deveria estar era na fazenda ou na casa comercial,
dando duro lá e não nos bancos da faculdade como um príncipe. Vai ver em que
vai dar esse amolegado todo. Deixa que ele se forme e vão ver o que fará. Gente
sem formação, passar de um momento para outro a acadêmico e depois a doutor,
findará dando um pontapé nos traseiros de quem o quis fazer de gente. E este
não vai falhar. E é até bom para aprenderem a separar o joio do trigo.
Dona
Aline falou ao marido da revolta do filho. Estavam criando cobra para ser
mordidos.
-
Deixa mulher, deixa. Mas não abras a mão. Ele precisa sentir que há diferença
entre quem se esforça e quem não quer nada. Está certo que não estudasse. Não
tinha gosto nem inclinação. Justificava-se. Mas não querer botar um prego numa
barra de sabão, esta não. Não querer ajudar na fazenda, não põe os pés na loja
e somente na vadiagem. Além disso, está se tornando rebelde, desaforado. Não
creio que uma pessoa não tenha vocação para alguma coisa. Pois sim, não quer
sela, vai para a cangalha. Um dia descobrirá a carreira. Já anda enciumado do
Atílio, pelo que se vê. Poderia estar no lugar dele, embora isto não viesse
impedir que contribuíssemos para a educação do Atílio. Esperemos pela a ação do
tempo. Espero que tome alguma iniciativa, antes que seja tarde demais e eu
tenha que tomar medidas que não desejo. Tudo tem um limite e a paciência também
se esgota.
-
Deixa que eu fale com ele, procuro convencê-lo do erro em que está mergulhando.
Com brandura, quem sabe, despertará e tomará novos caminhos.
E
mais tarde.
-
Vem cá Adonias. Preciso muito falar contigo. Somente nos dois. Não é nada de
sigiloso, mas prefiro que ninguém nos assista. Olha filho, não é mais nenhuma
criança e até agora permaneces sem destino. Será que não acompanhas a luta do
teu pai para conservar o nosso patrimônio e multiplicar nossos haveres. Creio
que não estás esperando que ele ou eu desapareça para viver de uma herança que
não tem uma gota do teu suor e poderá evaporar-se rápida em tuas mãos
inexperientes. Considera que mais vale um pai pobre vivo do que um pai rico
morto. Dinheiro tem asas ligeiras e não voa para voltar. Não queres
estudar. Talvez por falta de vocação. E
se não for, o que poderás me dizer. Uma vida como esta que estás levando é
perigosa demais, é assim como barquinho de papel flutuando num mar imenso, e
sem leme. Não chega a porto nenhum. Por que não voltas a estudar ou não passas
a ajudar teu pai. É disto que ele me fala todos os dias. Mira-te no Atílio que
ele está educando só e só por querer fazer a felicidade de alguém, uma vez que
só deseja fazer o bem. Quem não se destina a alguma coisa, como está sendo teu
caso, o que pode esperar do futuro? Pensa bem e depois fales comigo.
-
Não, mãe, pode ser neste instante. Por que o pai adotou esse tal de Atílio, que
ele nem conhecia e lhe dá mais do que a mim?
-
Estás sendo injusto. O que foi, por acaso, o que já te faltou. E por que reparar
no que teu pai faz para educar um moço pobre e estudioso que, inclusive, é uma
excelente criatura. O que está te custando, por ventura. A ti, daria muito
mais, como sempre deu. No entanto, uma coisa é certa, não te assustes. Se não mudas,
eu e ele teremos de tomar medidas drásticas a teu respeito. Não podemos mais admitir
que continues na ociosidade, enquanto os dias nos parecem curtos para tantos
afazeres. Será que não entendes isto. É ele um homem bom e justo, mas já esta
se impacientando. Tuas irmãs só nos proporcionam satisfação e, agora, o Atílio,
moço estudioso e educado. Não, não
baixes a cabeça, Adonias, levanta-a e olha para frente e para cima.
-
Atílio, sempre Atílio!...
-
Ainda será o nosso médico, verás o que é força de vontade que poderia sonhar
com tudo, menos em estar no terceiro ano de medicina, de tão pobre que é.
-
Médico da família. Isto nunca! Prepare minhas malas, mãe. Amanhã mesmo quero
voltar aos estudos. Vou cursar medicina. Fale com papai. Veja se ele concorda e
se pode me pagar também professores particular. Quero tirar todo o atraso. Fui
errado até hoje. Na pior das hipóteses, irei tomar conta da fazenda. Há uma
coisa ainda. Estou crivado de dívidas com coisas inúteis e não queria sair sem
saudá-las. Não tenho coragem de falar com papai. Cheguei ao extremo. E o pior é
que dívidas são sujas. Jogo e mulheres. Ele não vai aceitar. Proponha uma saída.
Ele retirara dez por cento da mesada que me der.
-
E qual é a garantia que me nos oferece de realmente vais estudar. Não queremos
ter outras decepções.
-
Somente minha palavra, caso perca um ano, nunca mais voltarei. E a mesada
apenas enquanto não conseguir um trabalho honesto. Esqueçam o Adonias que fui,
e da qual tanto me envergonho. Há mais de dois meses que a consciência me dói,
sem encontrar uma saída. Não suporto mais cobranças e até ameaças. Estou como
quem se despencou dento de uma poça e não pode sair e nem tem por quem gritar.
E o pior desta situação infame é não ter como fazer cofiarem em mim. Pensei em
várias soluções extremas. Fugir para sempre e até me apagar como uma lamparina
sem uma gota de azeite. Um drama. E o pior é o que me passam na cara. – Não te
envergonhas. Filho de um homem tão trabalhador e honesto e não passa de um
pulha. Preferimos perder tudo a dar desgosto a teu pai. Vai trabalhar
vagabundo. Bem que dizem que toda família tem um Temoteo... Já poderias ser um
doutor de vergonha, um homem de bem e não passa de um desavergonhado. Tenho
sofrido o diabo.
-
E por que não me falastes antes?
-
Perdi a coragem. Como iriam me dá crédito. Desorientado, acovardado e
humilhado, como já falei, tinha vergonha de revelar minha verdadeira situação.
Não merecia nada.
-
E por que não fostes trabalhar com teu pai?
-
Não sei. Andava perdido, com medo de tudo. Mas já havia pensado nisto. Mas a
senhora não sabe o que é um viciado, sem força de vontade. No entanto, tudo
isto chegou ao fim neste momento. Não serei mais motivo pra desgosto. E estou
enxergando que era tão fácil uma reabilitação. Dependia somente de querer e de
mim próprio. E foi esse tal de Atílio que me pôs no lugar onde deveria estar.
Ele poderia ter sido ou ser um marginal, pobre, desprotegido de certamente até
muitas vezes faminto, nunca se entregou. Pelo contrário saiu a pedir
honestamente, para estudar pensando na felicidade da mãe.
E
eu, com tudo na mão, debandei-me. E não culpo ninguém. Seria injusto. E
confesso. Cheguei ao ponto de desiludir-me de pai, desiludir-me de mãe, que
cheios de dinheiros não me ajudavam a gozar a vida como bem entendesse. Já
pensou. Enquanto isso abria as duas mãos para um molecote que tinha a pretensões
de ser médico. Agora é que estou percebendo o meu erro. Perdi o meu crédito,
perdi a moral, não tenho mais ambiente e o senhor Atílio, um pelado, sabia se
dominar e iria se formar, inclusive para ser médico da família. Como é que pude
ser tão teimoso, tão fraco, tão indeciso e tão injusto. Quanto desgosto dei a
papai, a senhora, as minhas irmãs. E dei desgostos porque quis. Fui um
irresponsável. Mais só até hoje.
Adonias
foi à escola e com todas as suas contas pagas. Era mais um crédito de confiança
que o pai lhe dava e seria o último.
Atílio,
formado, dedicou-se a clinica geral. No interior, com pouquíssimos médicos, teria
que ser assim. Sua dedicação ao casal que completara os seus estudos, era igual
ao que dava a sua mãe. Honesto e estudioso, com uma boa dose de sorte, dentro
de pouco tempo estava com uma clientela que lhe dava mais do que esperava.
Morando com sua santa mamãe na mesma casa do consultório, dava-lhe carinho e coisas
até que ela reclamava o desperdício. E não era para fazer mais nada, além da
direção da casa. Não deveria por as mãos em qualquer trabalho pesado ou
fatigante.
–
Agora é comigo, mamãe. Vá descansar e viver tranqüila. Alguma coisa mais
forçada só se for para ajudar em casa de nossos protetores. Aí, então, não
teremos medidas. Por mais que nossa vida se alongue, o tempo será curto para
corresponder sua generosidade. Seria eu, hoje, um empregadinho de prefeitura ou
de balcão, se não houvéssemos sido amparados.
-
Tudo isto, Atílio, porque sempre fostes um menino bom, estudioso e ótimo filho.
Fiz por ti, tudo quanto pude. E é bem certo aquele ditado. Quando Deus tarda já
vem a caminho. Mas vem quando a pessoa merece. Era o teu caso. E espero que
sejas sempre assim.
O
tempo foi indo sem olhar para traz, como é costume. Não se incomoda com quem
vai ou com quem fica. Nós é que nos preocupamos com ele, contando horas e
minutos. Adonias contava até os segundos para se formar. Estava no último ano
de medicina e queria entrar em casa com o seu diploma sem uma reprovação.
Somente assim poderia compensar os desgostos que dera a família, e pensava
sempre como se podia ser ruim, quando era muito mais fácil ser bom. E o que
mais lhe doía não era os seus erros passados, mas, naquela última fase
atormentado, o sentir-se desamparado e com medo. Entrar em casa como uma pessoa
estranha e indesejável. Mesmo quando ninguém o recriminava, era mortal o
silêncio dos pais e das irmãs. Considerava-se só em sua própria casa, junto à
sua própria família. Não por culpa deles, mas exclusivamente por culpa sua.
Chegara a ter ódio de Atílio que o pai educava, gastando o que poderia lhe dar
a mais para suas extravagâncias.
A
irmã mais nova havia lhe comunicado que iria ser recebido com festividades.
Adonias recusou. Não merecia. Queria, era que com sua chegada se prestasse uma
homenagem ao Dr.Atílio. Este sim merecia. Não era nenhuma gloria estudar com
tanto dinheiro, sem lhe faltar o que desejasse. Além disso, não havia por
bastante tempo, sido em bom filho. Arrependera-se, mas fora uma espécie de
ovelha negra da família. Não queria outra coisa se não uma vida nova, em paz
com a família e com sua consciência.
Dr.
Atílio, sim, que até o dia de entrar para a universidade, estudara sem livros,
sem café, muitas vezes e apenas com uma comidinha escassa e barata, sem um
tostão no bolso. Isto sim era merecimento. Mas ele, um doutor à custa de muitos
desgostos iniciais, com a bolsa recheada e sem a preocupação constante da
família, com receio de que voltasse ao que havia sido! O que lhe cumpria era
prestar uma homenagem aos pais quando dispusesse de meios adquiridos com sua
medicina e com o seu próprio suor. E sua recepção foi feita justamente como ele
desejava. E ele próprio fez a saudação ao Dr. Atílio e a sua milagrosa mamãe.
Àquela que passava duras privações para comprar, um livro, um caderno, pagara a
escola. Estudar como ele, sem pensar noutra coisa além do estudo, havia sido um
passeio sobre as asas douradas das aves do paraíso. Atílio, sim, merecia ser
homenageado, pela sua abnegação e pelos sacrifícios que vivera. E ao seu
exemplo devia sua recuperação, o abandono dos caminhos cruzados para ser o
filho com que os seus pais sonhavam.
Adonias
abriu consultório dentro de sua especialidade, pediatria. Atílio mandava ao seu
consultório todas as crianças que apareciam em seu consultório. E Adonias
sentiu ainda mais a grandeza de espírito de Atílio, criatura sem ambição e
dedicado a seus pais como ele não havia sido. E como era diferente o
comportamento das pessoas. Por mais que se esforçasse não conseguia ver as
pessoas igualmente ao seu colega.
Talvez
fosse azar seu. Teria que prestar atenção à conduta de Atílio para descobrir-lhe
o segredo daquela sua cordialidade. Pois era. Atílio era permanentemente uma
pessoa querida e atraente. E então por que ele também não poderia ser assim. E,
terminou notando que não era nada demais. Apenas sua simplicidade, a brandura
em se comunicar com alguém, o desprendimento, em fim, uma boa educação. Usava
sempre as palavras, por favor, e não se lamentava de algo que lhe acontecesse,
como se tudo fosse absolutamente natural. Ele, não, era um tanto arrogante, imperioso,
achava que todo mundo lhe devia obediência e homenagens. Era de seu feitio, mas
percebia que estava inteiramente errado. Não era digno de coisa nenhuma. Por outro
lado, Atílio mantinha-se sempre de fisionomia alegre, enquanto que ele conservava-se
fechado e quando ria parecia riso forçado e um favor que fazia a alguém. Em muitas
ocasiões até parecia que estava com raiva! E passara a perceber que o pai, a
mãe, as irmãs eram do mesmo feitio de Atílio. E então, porque saia tão vaidoso,
tão merecido e tão besta. Convencera-se, pois, que para viver bem e estimado,
teria que mudar radicalmente, o que afinal de contas pouco custaria. Era só convencer-se
que não era melhor, nem mais inteligente e necessário que os outros. Ora favas,
como poderia ter sido tão idiota até então. Havia de tirar o rei da barriga e
convencer-se que, inclusive, ninguém precisa dele. Poderia até sumir, ou morrer
que não faria falta nem aos gatos. Talvez até tivesse quem desse graças a Deus,
pois não passava de um arrogante, antipático. E na verdade tudo isto
prejudicava até sua profissão de médico. E baixou a crista quando reconhecera
que ninguém lhe dava a menor importância e que até as mulheres, apesar de filho
de papai rico, não se agradavam dele. Via-o, como se fosse apenas uma “coisa”.
-
Já alertastes Pedro, como o Adonias está mudado. Falando manso, rizinho, mais
comunicativo.
-
Já, mas poderia ser uma fase passageira. No entanto, pelo que se vê, deixou à
caturrice, o orgulho, aquela besteira de querer mandar e desmandar. E sabes o
que foi? O exemplo de Atílio, querido por todos e sem achar que faz as coisas,
por favor. Já reparastes mulher, na clientela dos dois. Um consultório cheio, o
outro, apesar de entender bem de sua especialidade, pouco procurado. Se
continuar mudado, verás que a diferença entre os dois irá diminuindo. Um médico
de cara seca não cura ninguém. Oitenta por cento das curas provem da confiança
que se tem no médico. Cura até com água do pote. Basta entrar no consultório ou
o médico bater à porta já o paciente sente-se muito melhorado. Por isto o
Atílio não chega para o recado. E o menino vai ficar rico logo e sem fazer
cobranças exageradas. Quando a pessoa não pode pagar é mesmo que já estar pago,
mas leva-lhe em casa um presentinho qualquer, que, afinal ele recusa, mas
deixam à força. Num desses dias uma cliente levou-lhe até um gatinho mourisco e
outra uma rolinha fogo-pagou.
-
O Senhor não quer, mas a gente deixa para dona Lina.
-
Está bem, está bem. A gente vai gostar muito.
Mas
onde andava Nena. Esperava que Atílio, a mesma criatura humilde, tomasse a
iniciativa de pedi-la.
No
entanto, Atílio, apesar de sua paixão, tinha receio de os pais de Nena ainda o
vissem como aquele menino pobre, de classe abaixo do merecimento da filha e que
estudara por caridade. O fato de estar diplomado e com sua clínica movimentada
não lhe apagaria a origem. Como iria permitir o casamento de Nena com o filho
de uma serviçal. É isso mesmo, seria e seria minha maior decepção se recebesse
uma recusa.
Ela
bem reconhecia o pai, homem que convivia exclusivamente com famílias selecionadas
e tradicionais da cidade.
-
Mas Atílio não podemos continuar assim, Já não sou uma criatura para viver
nesta espera indefinida. Morrendo de amores por ti. Até hoje mantemos em
segredo nossa amizade. Vamos, pois nos declarar e esperar a reação. Não quero
me prevalecer da maior idade e seria sumamente desagradável contrariar minha
família, tomando uma atitude inesperada. É necessário que nos vejam juntos, que
compreendam que somos dois namorados apaixonados, que meu pai saiba disso e me
peça explicações. Então saberei dá-las. Mas de antemão devo te dizer, minha
família não irá se opor. O que poderia desejar mais do que ver sua filha casada
contigo. E a ocasião mais própria será a festa de aniversário de minha amiga
Abigail. Ali dançarei apenas contigo, estarei ostensivamente sempre ao teu
lado. Certo dia ouvi sem querer, a conversa de papai e mamãe.
-
Não achas um tanto esquisito uma moça como é a Nena, não tem ainda um namorado,
não fala em se casar. Será que já passou por alguma grande desilusão?
-
Francamente, sou mulher e sempre me preocupei com isso. Todavia jamais lhe falei
a respeito. Mas também não dá sinal de interesse por alguém. Talvez seja
necessário sonda-la, lhe despertar atenção para o casamento, ideal de todas as moças.
Mas,
antes disso e depois da festa de aniversário, os comentários se atropelavam em
todas as rodas sociais.
-
A solteirona dos Santiagos esta procurando conquistar o Dr. Atílio. É uma
espertinha. Ela já está com vinte e três anos e ele não vai querer moça velha.
Espia só se vai querer.
-
Vai muito, com tantas meninas novinhas de olho nele, dando sopa.
-
Ora, Amélia, coco velho é que dar azeite. Vai nessa. Estão é de namoro serrado.
-
É, mas o seu Santiago vai consentir mesmo! Um filho de gentinha, do jeito que
aquilo é orgulhoso.
-
Mas é doutor.
-
Vai nesta conversa de doutor ele sempre diz que mulher se escolhe pela raça.
-
Isso foi no passado. Já deve estar mudado, vendo a filha marchando para o
barricão, o pavor de todas as moças.
-
Está ai Santiago, quando menos se esperava, a Nena descobriu carreira. Pelo que todos dizem está de namoro com o Dr.
Atílio, um ótimo partido para nossa Nena.
-
Achas, mulher! Um filho de gentinha.
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Foi. Hoje é gentão, formado, bom médico, excelente educação e a mãe, uma
perfeita senhora dona de casa. Pensa bem, para não desiludires a menina. Não
creio que aqui apareça um partido melhor. Estas tuas ojerizas contra gente
pobre, de raça inferior deve acabar. Há tanta gente importante que não vale uma
bolacha quebrada e com as quais convives. Uns canalhas. E deves ver que o Dr.
Atílio sempre foi um homem desde menino. Também nunca se ouviu falar mal da mãe
dele. Sacrificou-se até a última hora para educar o filho. Queres um exemplo
melhor de gente boa!
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Então deixo contigo. Mas, vem cá. Quem te disse que o doutorzinho quer mesmo se
casar com a Nena. Namorozinho de festa, passageiro, para passar o tempo.
Imagina se sonhas tanto e ele nem se dá por achado. Cabra que estudou na
capital talvez um manhoso, aproveitador. Não faça insinuações a tua filha. Deixa
que ela decida para não nos culpar mais tarde.
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Quando me casei contigo, a conversa era a mesma. O povo se espantava em saber
que a filhinha do doutor Juiz ia se casar com um rapazote sem diploma e diziam
que era só atração de teu dinheiro, isto é, de teu pai. E não vivemos até agora
tão bem.
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É mais deixa que ela escolha.
E
as duas, sozinhas, desconfiadas uma com a outra.
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Então, Nena, falam por aí que estás de namoro com o Dr. Atílio. É verdade,
menina?
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É, sim e queremos nos casar. No entanto, não sabemos como receberão a notícia.
Isto é um namoro do tempo da escola primária. Guardamos segredo até hoje. Mas
chegou a vez. Esperamos que nos aceitem. E há uma coisa, se não me casar com
ele, ficarei solteirona e sacrificada para o resto dos meus dias. Atílio tem
receio de que não o aceitem. Espera que se pronunciem.
-
Vou falar a sério com teu pai. E tentar desmanchar-lhe as rusgas. Sabe que ele
dá muita importância a essa velha história de raça.
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Ah! Se for só por isto, juro à senhora que a coisa vai mudar. Já estou passando
do tempo de casar. Depois dos trinta a gente começa a encruar e ninguém quer
mais. E já disse à senhora que esse bem querer vem dos tempos de menina.
No
dia seguinte já foi o pai que foi se ter com a Nena.
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Mas minha filha, como é que me guardas tamanho segredo desde o tempo da escola.
E o pior é que nunca percebemos. És muito espertinha não é?
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Nada de esperta. Respeitava os seus princípios e esperava. E foi bom assim.
Agora, parece-me que desapareceram as razões de manter sigilo. E queremos o seu
consentimento.
Santiago
olhou bem nos olhos de Nena para medir bem sua decisão.
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Olha, antes de te responder, responde-me com toda sinceridade.
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Não será que escolher o Dr. Atílio por alguma desilusão tua, como uma taboa de
salvação? Pensa bem!
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Que nada, Um espera pelo outro desde aqueles tempos. O senhor sabe o que é
devoção, pois bem, adoramos um ao outro.
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Mas, isto não será uma ilusão gerada na infância? Pelo que sei, nunca
procurastes um outro alguém. Enfiastes a idéia na cabecinha de menina e ela
ficou incrustada. Seria bom que conhecestes melhor a vida para não entrar em
desilusão.
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Olha pai, mesmo que não tivesse vindo do tempo de menina, teria nascido agora.
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Pois sim. Tem nossa aprovação. E desejo que sejas feliz.
Dentro
de pouco tempo o padre benzia as mãos dos dois e o resto...
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Está ai em que deu minha comadre. A veiota desencalhou...
-
Já te falei que caco velho é que dar azeite...
-
Mas às vezes, rancifica... Vamos pra à frente.
Não
há mais pressa. O noivado os aproximaria mais e não queria dispensar a melhor
fase do casamento. – O noivando – cheio das mais belas ilusões, de promessas e
sonhos. E reviveram todo o passado, a começar da escola primária. Quando se
iniciou o inocente bem querer dos dois. E nesse tempo a atração era
simplesmente os olhos e os sorrisos.
Durante
o noivado Atílio chamou atenção para dois aspectos do casamento: O primeiro
consistia em Nena não esquecer que ela iria ter uma sogra com quem iria
conviver e que embora fosse uma criatura dócil e extremamente boa, era quem lhe
dirigia a casa e não pretendia tirar-lhe de certa forma o comando. Se isto
acontecesse seria a mesma coisa que tirar do altar a Santa de sua devoção. E o
outro era problema de ciúme. Nena não deveria esquecer que ele mantinha duas
enfermeiras em seu consultório, moças de boa aparência e que muitas vezes
ficariam a sós no consultório e não poderia despensa-las. Deveria entender. Era
comum falar-se e consultar-se sobre certo relacionamento amoroso entre médico e
enfermeiras. Os maledicentes não respeitam honra de ninguém. No entanto,
poderia ficar certa de que havia total respeito em seu consultório. Suas
atendentes enfermeiras eram moças de boa aparência, alegres, comunicativas e
relativamente jovens. Sempre dão o que falar aos línguas de trapo.
-
Oh, quanto a isto não te preocupes. Conheço-te desde menino de escola e minha
formação não chegaria a tanto. Respeitarei integralmente as exigências de tua
profissão. E depois, Atílio, não creio que tenhas a coragem de me trair.
-
E se o diabo atentasse?
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Sabes de uma coisa, não acredito em diabo e se existir não tenta ninguém. Tem
sido até hoje o bode expiatório de tudo que não presta. O sujeito não presta, é
mesmo um safadório e inventa essa história de tentação. Convém lembrar-te
também que casamento é uma faca de dois gumes. Não suportaria que viesses a ter
ciúmes de mim. E quanto a tua mãe será também minha. E sei que irei também adora-la.
Nena casou-se depois
de oito meses de noivado.
Depois
de muitos anos de casados, ainda persistia o namoro do tempo de meninos. Só com
uma profunda diferença. O casal possuía três filhos, adoráveis. Não viveram
mais somente de olhares e sorrisos...
Em...
de fevereiro de 1986
Campina
Grande.
*O
conto pertence ao livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.
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