sábado, 2 de janeiro de 2016

BOI VELHO



BOI VELHO

João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)


            A fazenda Boi Velho abrangia uma área que se distendia para além da crista da serra das barrigudas. Toda essa enorme extensão de terras pouco cultivadas pertencia a uma única família, a família Torres, que nem sequer avaliava o que possuía. A casa grande da fazenda, de quatro águas como se dizia naqueles tempos; localizava-se no meio das caatingas donde se avistava o lombo da serra azulada no horizonte. Cheia de portas e janelas, com um mirante ao lado, dava-lhe certa imponência e de lá se divisava a distância a torre da igreja do povoado Salgado. Na várzea do Icó onde as elevações das margens se avizinhavam, lá estava o açude, onde águas represadas pareciam um grande lago espelhado no meio das caatingas. Ali bebiam os gados e faziam-se as pescarias temporárias ou quando se desejava fritar alguns piaus ou curimatãs. Pouco se cuidava de agricultura propriamente do fazendeiro. As lavras ou roças pertenciam aos moradores distribuídos pela propriedade e, muitos deles encarregados da defesa da casa e do patrimônio. O coronel Torres, sempre acompanhado, percorria constantemente os vastos campos,               montado num de seus possantes e treinados cavalos de sela. Já sabia onde pastavam os gados nas diversas fases do ano. Durante o período chuvoso, a gadaria detinha-se nas pastagens dos tabuleiros e durante o período seco espalhava-se pelas serras ou pelas quebradas da serra das Barrigudas. Dificilmente uma seca impunha a queima de “espinhos” para refrigerar os rebanhos.
 A fazenda Boi Velho criara fama na região. Não se entrava ali sem conhecimento do proprietário, para qualquer diligência, mesmo a policia. Aliás, em qualquer circunstância o coronel Torres ditava as regras do jogo. Ele mesmo mandava ou não a pessoa infratora se entregar.
            Bastaria ser avisado. Havia respeito e homens de bem.
            O casal Torres e seus três filhos constituíam um exemplo de família. Todos os filhos estudaram em Cajazeiras, a terra do padre Rolim. Ali só se discutia em termos de família, sem amargor e sem egoísmo. Antonio Torres, o do meio, rapagão rígido e alegre, tinha uma boa pontinha de orgulho de ser Torres. Não pelos haveres da família, mas pela consideração que mereciam.
 Em Boi Velho não se praticava arbitrariedade e se amparava os injustiçados. O coronel Torres sabia distinguir coragem de valentia. Arruaceiro e ladrão não botavam os pés ou esquentavam o assento nos seus domínios. Também não tolerava amancebado, nem se bulia impunemente com a filha de ninguém.
– Quer mulher, que se case!
 Era o lema. E ninguém se atrevia a desobedecer.
Com duas filhas moças dentro de casa, dona Angélica vivia preocupada. Moça era para se casar e no meio daqueles tabuleiros e pés de serra sertanejos tudo lhe parecia difícil. Uma visita ou outra de tempos em tempos não ofereciam oportunidades ao surgimento de afeições que pudessem conduzir a um noivado. E mais ainda, dada à condição social da família, muitos rapazes não procuravam se aproximar. E seria, talvez, entre esses moços simples, onde estariam os melhores partidos para suas filhas.
Dona Angélica desejava mudar-se para uma boa cidade, com o pensamento voltado unicamente para suas filhas moças. Gostava da vida tranqüila da fazenda, mas não lhe parecia justo manter as meninas, como ela chamava, naquele internato da roça. Falou com o Sr. Torres que não concordou com a idéia. Iria sim fazer passeios mais demorado, assistir festas, dar às filhas as oportunidades que foram sugeridas. Não seria fácil, a ele, adaptar-se ao ambiente das cidades, fazer novo relacionamento; em fim mudar completamente seus hábitos tradicionais de homem do campo. O seu meio era aquele, com os seus compadres, suas comadres, seus vaqueiros, o açude, as pescarias, os gados, as casas e as famílias dos moradores. Até mesmo a passarada que habitava o velho pomar de mangueiras, cajueiros, goiabeiras e coqueiros. Iria lhe fazer imensa falta. São pequenas coisas que se grudam ao coração das pessoas e não podem se despregar sem uma mutilação sentimental. Reconhecia que as filhas exigiam um ambiente social bem diferente. Mas sentia-se sem condição de acompanha-las na mudança.
Instalaria casa na cidade próxima, isto sim, e lá habitariam mulher e filhas, se assim o desejassem. E a iniciativa vingou. Ele mesmo passaria na cidade, apenas os dias de finais de semana. Depois, quem sabe, poderia até acomodar-se.
- Toma conta de tuas filhas.
O coronel Torres mudou-se em definitivo para a cidade. Não perdia missa.
- Olha estás muito misseiro. Não eras assim de certo tempo para cá. Será que está acontecendo alguma coisa. Abre teus olhos. Se te pego bicho, arranco-te o fígado e dou aos gatos.
- Vou por pura fé, Angélica.
- Em todo caso vou te prestar mais atenção. Há muita mulherzinha saçaricada por aí. E está historia de te mudares para cá pode ter água no bico.
- Em minha idade, Angélica?
- Para safadeza não há idade. E há tanto velhote enxerido. E logo tu, criado e mantido com leite puro e carne de sol sertaneja. Além disto, tenho notado que me andas de bigode bem aparadinho, cabelos bem penteado, gravata nova e vistosa. Vou findar amassando tuas roupas e escondendo as loções e brilhantinas.
- Que bobagem, Angélica. São exigências, da sociedade. Como queres que eu ande?
- Com vergonha nessa cara de pilantra.
- Está certo. Entra pro quarto.
- Há esta hora?
- Toda hora é hora para rezar...
            A cidadezinha teve assunto por vários dias. A família Torres mudara-se para a cidade. Comprara a casa grande de Seu Abílio, a mais importante moradia do lugar. Espaçosa, alta, cercada de varandas e um quintal que parecia um sítio.
            - É isto mesmo, cheio das granas, faz o que quer. Seu Abílio está de bolso apipado. Velho de sorte. Iria morrer dentro daquele convento e sem dinheiro para o enterro. Cada um tem o seu dia.
            A mansão, toda pintada de róseo, por fora, tomara logo outro aspecto. Tinha-se a impressão de que estava novinha em folha. A rapaziada agitou-se, não com a renovação, mas com as duas moças que frequentemente desfilava pelas varandas ou ficavam nas cadeiras de balanço das alpendradas, como dois frutos que deveriam ser colhidas antes da maturação. Não eram modelos de beleza, mas tinha o todo agradável, uma simpatia dessas simpatias de sertanejas sorridentes e atrativas. Ademais, cheiravam a moças ricas. Como eram de esperar não faltaram visitas e mais visitas. Com pouco tempo estava formado o novo ambiente social para uma desforra de tantos anos de recolhimento na roça.
            Não tardaram as serestas, fossem ou não noites de luar, à exceção dos dias em que o coronel Torres estava em casa.
Lia e Lina estava de espírito renovado.
            Pensavam no dia do aniversário das duas, gêmeas que eram. Se na fazenda a comemoração era singela, com alguns doces e abraços, ali na cidade sonhavam com uma festividade bem diferente, inclusive com muitos convidados e uma dança de pegar o sol com a mão. Quanto do restante, já se sabia o que desejavam. Mas, nada iria acontecer se o papai não consentisse o que seria pouco provável. No sábado, dia de feira, Torres deveria chegar. Quem, no entanto teria coragem para tocar no assunto. Apenas dona Angélica poderia sugerir-lhe, sem, todavia, falar em nome dos filhos e como se elas ignorassem o que pretendia fazer.
- Torres, deve está lembrado que as meninas aniversariam no próximo dia 18 de março. Até hoje não festejamos o seu aniversário como elas merecem. Sabes também que aqui na cidade têm os olhos em cima da família Torres. E se chegarem, a saber, que deixamos de festejar o aniversário das duas, iria com certeza nos censurar. Elas ficariam muito felizes se lhes prestássemos essa homenagem.
- Concordo contigo, Angélica, mas conheço pouca gente daqui e temo desagradar alguns que, por acaso, não sejam convidados. Até mesmo pessoas de destaque social.
- Por isto não. Eu me encarregaria dos convites. Já tenho algumas amigas entre casadas e moças, o que facilitará os convites. É necessário também que te tornes mais popular. Uma festa simples, mas, que agrade a todos. Naturalmente as despesas com jantar, e bebidas e arranjos não serão desprezíveis, no entanto, também não serão exageradas. Faremos o máximo de economias. O bolo de aniversário sabe bem que eu e as meninas o faremos. Igualmente bolinhos, pastéis e impadas.
Posso comunicar às meninas?
- Pensa bem. Vão ter muito trabalho e eu não tenho jeito para essas coisas. Além disto, não podemos decepcionar os convidados.
- Há mais um detalhe. Aqui no interior uma festa de aniversario sem baile, não se coaduna com os hábitos do povo.
- Isto vai complicar as coisas. E, além disso, as meninas creio, nem sabem dançar. Seria um fiasco. Igualmente, julgas conveniente encher a casa de rapazes? Quero ver nossas filhas agarrar com qualquer um!...
- Qual é a moça que não sabe dançar, Torres. Já nascem sabendo. Poderão também treinar uma com as outras, semanas antes. Moças deste sertão dançam mais do que carrapeta... E quanto a rapazes, só convidaremos gente limpa, de boa família.
- Mas tem muito cabritinho enxerido.
- Ora, se alguém faltar com decoro, convida-se para sair ou chama-se atenção.
- Eu mesmo não vou fiscalizar nada.
- Também não irá precisar. Ficarás para lá tomando tuas cervejas com teus amigos. Mas tem uma coisa, não vai te enxerir para o lado das mulheres.
- eu, com esta cara. Achas?
- Sei lá. Há muita dona que não escolhe cara, e, sente orgulhosa em flertar com o dono da festa, fazer certas intimidades com o coronel Torres, o maior fazendeiro da terra. Vê bem.
- Não deverias ter me chamado atenção para essas coisas. Não se catuca o cão com vara curta...
            - Pois sim. Não te metas...
- Vai depender das circunstâncias...
- Bem, vocês que se encarreguem de tudo tivestes uma ótima idéia. Mas abres os olhos de Lia e Lina. Que não se soltem, senão acabarei com a alegria...
- Deixa as meninas para lá. Elas têm muito juízo e sabem bem o que fazem.
- Meçam bem a coisa para não faltar nada. Toma a chave das gavetas. Mas não me arrebentem.
- Que nada. Tudo será especificamente calculado.
E, afinal, chegou o 18 de março. Não faltou quem viesse ajudar nos preparativos. Senhoras, moças e alguns rapazes.
Mesas trazidas pelos convidados encheram a sala e as varandas. Seria uma coisa jamais vista na cidade.
O coronel Torres entrou em casa e admirou o arranjo – Mulherzinha danada prometeu e fez melhor do que esperava. Deveriam ter esvaziado as gavetas. Disfarçadamente foi revista-las. Parecia até que não havia bulido no dinheiro. – Mulher faz milagre. Tomou logo uma cerveja, acendeu um cigarro e pôs-se a observar o movimento, o entra e sai das pessoas, que colaboravam. E considerou que o lugar de se viver era mesmo na cidade. Lá no mato ninguém se animava a tanto. Servia só para juntar dinheiro, dormir cedo e ouvir a passarada cantar. Já estava mesmo no tempo de mudar de vida.
E, no mesmo momento, tomara a decisão de mudar-se também. Fazenda uma vez ou outra. O filho que tomasse conta com os vaqueiros e moradores, já estava ficando velho e precisava descansar e mais conforto. O filho bem que poderia se casar e ficar por lá até se enjoar também.
À tardinha a casa começou a se encher inclusive de gente pobre que tinha lá atrás numa palhoça. Dona Angélica não se esquecera de ninguém. Uma varanda, a de frente, destinada aos homens mais respeitáveis. As duas outras para as mulheres e a mocidade. Velho lá para um canto, comendo, bebendo e batendo papo. Contando casos, vantagens e anedotas ou mesmo mentindo. Tudo dava no mesmo, contanto que deixasse em liberdade o restante. Um grupo de mocinhas da terra servia atenciosamente. Meninas escolhidas, de boa aparência e desembaraçadas. Somente isto já era um atrativo. E delas se aproveitam os respeitáveis chefes de família no terraço da frente. E o mais curioso é que elas gostavam de ser admiradas. Palmadinhas, ligeiros beliscões, batidas de joelho nas pernas. Pena era que as patroas tão confiantes não vissem...
Depois de apagadas as velinhas, sopradas pelas duas ao mesmo tempo, o sanfoneiro derreteu a concertina e os pares encheram o salão. Lia e Lina foram as primeiras a dançarem sozinhas. Uma valsa bem ensaiada. Na verdade já estavam com dois namorados. Até os “respeitáveis” foram presenciar o inicio do baile.
- Bem que dizia Angélica. Moça já nasce sabendo dançar. Que diabo estava eu fazendo nos matos tanto tempo. Matando minha mulher e minhas filhas de solidão!
Quando as duas pararam, beijou a ambas e desejou-lhe felicidades. Mas foi se sentar preocupados e quem seria os dois que dançaram com as filhas. Se não foi coisa já planejada, estava visto que era começo de namoro. Aliás, muito parecidos, os dois. Caras de irmãos. Coisa preparada pela Angélica e as meninas, com certeza. A festa quase amanhece o dia. Ninguém desejava deixar um ambiente tão agradável, tão convidativo.
A festa deixou marcas na cidade e no povo. Sem luxo, mas, completa.
O velho Torres queria fazer perguntas, mas não encontrava jeito. Não era habituado a dar confiança com perguntas que consideravam infantis ou de alcoviteiro. Não fazia perguntas, mas ficava se mordendo de curiosidade. Ficara lá para um recato com os amigos e não prestara atenção no volteado da juventude e das mulheres que atiçavam namoros. As filhas eram duas inocentes. Criadas na roça e em internato de freiras, coitadas, não possuíam experiência da vida social. Andava de orelha e nariz no ar para ver se pescava conversações e comentários da festa. Observava que a mulher e as duas teciam as coisas quase em silêncio, o que o intrigava. Estava como se tivesse ido a Roma e não tivesse visto o Papa. E chegou a um ponto que não se conteve. À hora do almoço, abriu a conversa. – Então, gostaram da festa.
- Ora, Torres, foi excelente.
- Maravilhosa! Papai.
- Ainda bem que gostaram e devem ter se distraído bastante.
- Fizemos muitas amizades, conhecemos muitas moças, muito rapazes, muitas senhoras distintas.
- Ainda bem que se não foi em vão que fizemos à festa. Havia-se de comemorar o aniversário de vocês duas.
Também já era tempo, meninas. Na roça a gente nem se lembra dessas coisas. Trabalha-se, trabalha-se e dorme-se com uns anjinhos implumes. Vida saudável, mas sem esses atrativos. Afinal, o baile foi como desejavam?
- Bom até demais. Muita moça...
- E a rapaziada conduziu-se bem?
Ah! Muito respeito e muita alegria.
Para o Torres a coisa continuava indefinida. O coronel Torres era experiente e ficou à escuta. Na hora da missa observava as filhas e nem tinha tempo de prestar atenção ao ofício e ao sermão do vigário. E foi então que notou que dois rapazes estavam de olho nas meninas. Elas cochichavam e riam com os olhos. E depois da missa o coronel saudou-os. Que tal o sermão do padre. Não acharam a missa um tanto arrastada. Pareceu.
- Não, pai. Tudo tão curto.
- E sobre que falou o vigário, no sermão?
- Só me lembro do fim, quando falou sobre a caridade e pediu espórtulas para a igreja, como sempre faz.
- Mas, olhe, na igreja ninguém cochicha. É falta de respeito a Nosso Senhor. E como um assunto puxa outro, não se encontraram por acaso com pessoas que vieram à nossa festinha? O que dizem a respeito. É conveniente ouvir para evitar falha no futuro.
- Temos visto muitas e todas estão esperando por outro aniversário. Hoje na igreja vimos várias pessoas que sorriem para a gente num sinal de que gostaram.
- Quem aprecia mais, as moças ou os rapazes. Sei que minha turma adorou.
- Rapazes e moças. Quanto às senhoras mamãe é quem sabe...
O coronel Torres percebia que as meninas eram mais sagazes do que pensava. Deixava-o sempre no ar.
Foi à fazenda, como de costume, mas resolveu, de caso pensado, voltar no dia seguinte à noite. E foi aí que descobriu o segredo das meninas. Pegou-as com os namorados na maior efusão. E certificou-se então que a festa não fora em vão. O susto dos quatros deixou-os tontos.
O Torres, no entanto, desfez o vexame. Cumprimentou os moços com alegria, ofereceu-lhes a casa e entrou para comentar com dona Angélica.
- Parece que as meninas estão progredindo. Dava-me pena aquela vida de isolamento da fazenda. Afinal de contas as moças têm direito a uma convivência mais afetiva.
- Pelo que noto Torres, vai dar em casamento. As meninas não falam noutra coisa. Apenas tinham receio de tua reação.
- Ora mulher, moça que não se casa termina insuportável e frustrada. E os dois. Quem são?
- Ah! Gente das melhores famílias. Não são pessoas ricas, mas, excelentes rapazes.
- Elas não precisam de dinheiro, mulher, mas unicamente de bons maridos. Dinheiro dar conforto, mas não dá felicidade a ninguém. As vezes até atrapalha.
- Um é filho de fazendeiro e o outro de comerciante. Freqüentaram colégio, mas preferiram o campo e a loja. Dizem minhas amigas que não podia haver melhor escolha. São aqueles dois que dançaram a valsa com elas. E são muito religiosos.
- Vi-os na igreja e não tenho dúvidas disso. Apenas os santos de sua devoção não era Nossa Senhora da Conceição. Eram santas Lia e santa Lina. E olha os quatro nem sabem para onde foi missa e sermão. Essa história de namoro em casa de oração é um ato pecaminoso.
- E onde foi que nos conhecemos, hem Torres? Só faltava me agarrar na igreja. Pelo menos me engolia com os olhos e bulias comigo nos gestos. Nem sei como o padre não te expulsava da igreja. Lá a rapaziada e as moças vão mais para namoro mesmo. Essa história de terço e livro de reza nas mãos é somente aparência. E há por ventura, religião melhor do que um bom namoro. E se acabasse com namoro nas igrejas católicas, só iriam lá os velhos e isto mesmo nem todos. Um sorriso trocado na igreja é a mais milagrosa água-benta. Não sei por que, mas é assim mesmo. Bem sabes disto...

*O conto faz parte do livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.




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