ADELINA*
João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)
Ninguém sabia quem era Adelina,
menina de rosto moreno, trazendo nos olhos uma tristeza de por de sol. Numa
tarde de despedida.
Antes não era assim, porque Adelina
não era só. Possuía uma mãe que lhe dava carinho, carinho de pobre que era
maior do que afagos de ricos. Mas a mamãe de Adelina deixou-a sozinha, muito
antes de tempo. Deus a levou, talvez esquecendo de que tinha ela aquela filha
tão pequena ainda, desconhecendo os revezos da vida, a indiferença do mundo.
A casa onde ficara era ainda mais pobre do
que a sua.
- Vai, Adelina, vai pedir alguma
coisa, vê se te empregas que não tenho nada para de dar.
E Adelina, sai diariamente, de porta
em porta, assustada, com uma baciazinha na mão para recolher o que por ventura
lhe dessem. Um pouco de farinha aqui, um pedaço de pão ali, uma fruta, uns
níqueis que ela ia juntando. Onze anos apenas, miudinha de corpo, metida num
vestidinho de pano barato e com os pezinhos descalços.
A mesma coisa todos os dias. Tinha
acanhamento de pedir emprego, medo que lhe negassem. Voltava á casa com o que
lhe davam. A lembrança da mãe não lhe saia da memória. Não esquecia da hora que
levaram e não trouxeram de volta.
-Vai, Adelina, da um jeito. Arranja
alguma coisa. Pede café, pede açúcar, um pedacinho de carne para desenfastiar,
Adelina. Ah! Meu Deus olha pra gente, da um jeito. O engomado, o crochê que
fazia não dava pra nada. Quando eu era sozinha, passava de qualquer forma.
Tenho tanta pena dessa coitadinha... Ficou só nesse mundo atribulado, onde a
vida é pior, que a morte. Pedir esmola! Santo Deus, não há tristeza maior. – Da
uma esmolinha pelo amor de Deus – Dou esmola à menina não, para não viciar. Na
certa é a mãe ou o pai que manda e ficam em casa na vagabundagem, explorando a
criança.
Nesse dia Adelina saiu como que vai
arrastada pelo destino cruel. Contava os passos. Já estava magrinha e dava pena
ver aqueles olhinhos esverdeados olhando as pessoas, olhando as ruas, olhando
pro céu com vontade de gritar pela mãe. – ou de casa, - dizia com a voz sumida.
- O que tu queres menina?
- Uma coisinha para comer. Em casa
não tem nada.
- Porque tua mãe não te emprega. Já
tens idade para trabalhar.
- Ninguém me dá emprego, dona.
- Queres morar comigo. Sou a
professora e vivo sozinha. Bem que me podias fazer companhia, desde que sejas
boazinha. Vai pedir a teu pai ou a tua mãe.
- Não conheci papai, e mamãe está no
céu. Moro com uma velhinha mais pobre que eu. Peço esmola pra ela e pra mim.
Tem dia que agente não come. Só faz beliscar.
- Queres ficar?
- Fico sim senhora. É tão bom pra
mim. Mas a Dindinha não vai ter quem peça para ela. Tenho tanta pena dela.
- Vamos até lá. Mas entra aqui.
Come logo alguma coisa. Leva comida pra Dindinha. Ela também não vai mais
passar fome.
Adelina começou a chorar.
- Chora não. Aqui não vai te faltar
nada. Vamos.
Adelina andava calada, respondendo
apenas o que lhe perguntava a professora.
- É ali!
- Ali onde, menina?
- Aquela casinha velha.
- Como se chama a Dindinha.
- Dona Amélia. Dindinha mesmo.
Dindinha era uma velhinha baixinha,
de corpo franzino, limpinha e simpática. O que chamava à atenção era ser tão
magrinha como uma folha seca.
- Bom dia, Dona Amélia. Vim aqui para
conhecê-la.
Adelina entregou-lhe o pacote de
comida. – Pode comer Dindinha. Eu já comi. A professora me deu comida tão boa.
- É. Coma Dona Amélia. Depois a
gente conversa.
E Dona Celeste – a professora – ficou
observando as coisas do casebre. Tudo muito pobre, mas tudo arrumadinho.
- Pronto. Estou às ordens da senhora.
Esta menina não tem ninguém. Quando Deus levou a mãe dela, eu fiz a caridade de
trazê-la pra minha casinha. Mas também não tenho nada. Só, muita pobreza, meus
parentes sumiram. Não se lembraram mais de mim. Até mesmo os dois filhos. Fui
mãe só pra criá-los. Estão lá pra banda do sul.
- Olhe Dindinha. Vou lhe propor uma
coisa. Vão as duas morar comigo. Estou sozinha. Cuidam da casa e fazem
companhia. Assim poderei dedicar-me mais a escola. Tenho muitos alunos.
No dia seguinte, já moravam as três.
Dindinha era uma mestra no arranjo da casa. Já havia possuído casa arrumada.
Depois da morte do marido, foi caindo na pobreza até chegar à penúria.
- Já fui gente, Dona Celeste. Já fui
gente. Meus filhos esqueceram-me. Nem sabem se estou viva ou não. Ingratos. Mas
Deus os proteja. São coisas da vida, deste mundo velho sujo. Felizmente ainda
existem pessoas como a Senhora, que se compadece da pobreza. Pensava tanto em Adelina. No começo da
vida e tão sofrida e tão humilhada. Agora Deus pode até me levar. Ela está
amparada, que tranqüilidade, meu Deus. Nunca fiz mal a ninguém e tenho sido tão
castigada. Chego a não entender a justiça divina. Em todo caso, minhas orações
salvaram-me e a esta menina. Ah! Dona Celeste, como sou tão feliz. Espero não
lhe dar preocupações.
Adelina
possuía agora, duas mães. Para uma e para outra era o mesmo sorriso, a mesma
alegria, a mesma intimidade respeitosa. Dona Celeste não vivia propriamente do
ensino. Era a escola, um entretenimento, uma forma de ser útil. Possuía bens de
herança que lhe davam completa tranqüilidade. Adelina passou a freqüentar a
escola, a viver igualmente ás outras crianças. Não era das mais inteligentes,
mas certamente ninguém a excedia na dedicação e no comportamento. Havia,
entretanto, um outro aspecto em que nenhuma a superava. Na voz. Em todos os
ensaios de canto, Adelina destacava-se. Voz limpa e melodiosa. Era um dom
natural, da qual ela, em sua humildade, não se envaidecia. Nem ao menos chegava
a perceber ainda que pudesse ter qualquer influência em sua vida. Dona Celeste,
no entanto, prestava bem atenção.
Maio, o mês das flores, estava chegando e
como acontecia todo o ano, algumas alunas eram escolhidas e treinadas para
cantar no coro da igreja. Adelina foi uma delas. E logo no primeiro dia das
festas da igreja, ouviu-se a voz da menina, atraindo atenção de todos. – Quem
seria. Filha de quem. E muito de propósito, a professora havia ensaiado com ela
um canto a uma só voz. Foi, então, a revelação definitivamente de Adelina.
- É a menina da professora, gente.
Que voz maravilhosa! E como é tudo tão natural. Canta sem esforço como os
pássaros do campo.
Durante o canto, ninguém parecia respirar. O
padre Azevedo nem sabia mais o que estava rezando. Como podia ter tanta
harmonia, tanta suavidade. O hino, que Adelina cantava sozinha, tomara outra
dimensão. Todos os santos do céu deveriam estar parados, a ouvi-la.
Terminadas as rezas daquela noite,
todos queriam ver de perto e falar com Adelina. Ela nem sabia, nem entendia o porquê
daquele alvoroço todo. Não havia feito nada de mais. Simplesmente havia cantado
o que a professora lhe ensinara.
- Onde a Senhora, professora,
arranjou esta menina? De onde veio ela? Quem é a mãe dela?
A partir daí, Adelina passou a ser
requisitada, para cantar nas festas particulares. – Adelina vai cantar no
aniversario de fulano. A casa se enchia. A mesma coisa nas festas cívicas, em
qualquer diversão que houvesse. E o nome e a vocação Adelina foram se
espalhando. O bispo fez visita pastoral em Quixabeira. Ouviu Adelina
cantar, ficou maravilhado. Convidou a professora a levá-la a capital. Queria
que ela cantasse no dia da primeira comunhão dos meninos. Era uma festa muito
concorrida e alegre. Queria fazer uma surpresa. Mandaria a letra dos hinos e
dos cantos para o treinamento de Adelina. E tudo aconteceu.
Adelina, bonita de rosto e de corpo
só por isso já era uma atração. A organizadora da festa recebera ordem do
Senhor Bispo de incluir o nome de Adelina e queria destaque.
- Mas, Senhor Bispo. Temos
excelentes cantoras em nosso coro. Essa matutinha ira estragar tudo.
- Não. Ela não ira estragar coisa
nenhuma. E deverá cantar só. E pelo menos três vezes, foi uma promessa que fiz.
Embora, tenha uma vozinha fraca, pouco harmoniosa, não há de ser nada. Promessa
é promessa.
- O que foi meu Deus, que deu na
cabeça desse Bispo. Deve ser a idade. Por que não muda essa promessa. Mas quer
assim, a igreja é dele e agora é ter paciência. Vamos treinar o nosso coro,
irmãos. O que acontecer de fiasco, não fomos nós. Foi o Bispo. Olhe, ouviram
bem. Cantar sozinha e pelo menos três vezes. É promessa de Bispo. A professora
Dona Celeste sabe o que ela deve cantar.
- Agora sim. E mais esta. Uma
professorinha do interior. Dá até para desconfiar. Não é sem muita razão que
anda por aí murmurando coisas sobre nosso amado Bispo. Viram vocês, os jeitões
da professora? Deve haver qualquer coisa mesmo. Não se pode mais confiar em
ninguém.
Começaram as festividades e os rituais da
primeira comunhão. Cantou o coro da capital, ensaiado a propósito. Logo em
seguida cantaria Adelina. No momento em que o Bispo começava a dar a comunhão,
Adelina começou a cantar. Sua voz melodiosa, clara, espiritualizada foi
alteando. Pararam todos os movimentos. Um silêncio jamais observado numa igreja
católica paralisou até a respiração. A beleza da voz de Adelina comoveu os
irmãos. Apagou o coro do colégio.
- Esse Bispo não é qualidade de
gente. Prega-nos uma peça dessas.
- É, e você fazendo mal juízo de
nosso Santo Bispo. Olha aí. Agora tem que confessar esse pecado.
- Quem, eu? Estás muito enganada.
Confessar coisa nenhuma. É o que dizem por aí e quem tem pecado é ele, o
sabidão...
Riram as duas.
- É talvez tenha razão. Aquilo não parece
mesmo flor que besouro cheire... Viste os oião dele pro lado da professora...
Adelina ficou na memória de cada um.
Até as crianças da primeira comunhão ficaram enlevados com o canto de Adelina.
Olhavam para ela como se estivesse vendo um dos anjinhos do céu.
As irmãs do colégio ofereceram a
professora ensino gratuito para Adelina. Queria ter com elas, aquela menina
prodigiosa, aquele encanto de voz.
- Depois. Irmãs. Quando Adelina
terminar os seus estudos primários. Lá em minha terra, também a querem, também
adoram a sua belíssima voz. Era uma menina esquecida e abandonada. Pedia para
comer com a velhinha que acolhera depois de haver perdido os carinhos de sua
mamãe. Ela é agora a filha da professora Celeste. Não desejo, por hora,
separar-me dela. Ela e a velhinha que a recebera, são as minhas companheiras.
Espero que no futuro esteja aqui completando os seus estudos. E, depois, eu
também gosto de ouvi-la cantar, de ensinar-lhe hinos e canções.
- Em todo caso, convém perguntar se ela quer
vir agora.
E a resposta foi negativa. - Não, não, não.
Somente quando minha madrinha Celeste mandar. E retornaram as duas com a
alegria do êxito. Adelina trazia no olhar, não mais aquela tristeza do abandono
em que vivia, mas a alegria de ser gente como as outras mocinhas, sua
felicidade era maior do que todas. Quem sempre foi feliz, não sente bem a felicidade.
Ela não, tinha vivido de um mundo de tristezas, onde a desdita proíbe o
sorriso. E a sua maior alegria era ter um lar, uma protetora e fazer com o seu
canto, a alegria dos outros...
Dias depois chegavam os jornais da
capital. Traziam os nomes de Adelina e da professora e suas fotografias. E lá
estava em letras graúdas – “O Rouxinol do Sertão”. O governador oferecia uma
bolsa de estudos a Adelina. Desejava que ela se aperfeiçoasse em canto. Uma voz daquela
não poderia ficar apenas no Sertão. O Brasil todo teria de ouvi-la. A
professora voltou á capital, para falar com o governador, não queria separar-se
de Adelina.
- Ora, isto não será mais problema.
Faço, a sua transferência para cá. Não quero que a menina volte a sentir-se só.
Poderá ter influência nos seus pendores artísticos.
Dois meses depois já estavam na
capital. Saíram elogios ao governador.
Adelina tornou-se o ídolo da
cidade. Estava nos festivais maravilhando a assistência o que mais tornava
encantadora era a sua modéstia e sua simplicidade. Sua voz era tão natural
quanto ela própria. Os sons saiam de sua garganta como se ela nenhum esforço
fizesse. Não exigia nada, mas lhe pagavam muito bem. O rostinho bonito era
outra atração. Não lhe faltavam admiradores a quem ela cativava com um sorriso
encantador. E um dia Adelina andava pensativa, olhando distante, como se
estivesse vendo miragens. Dona Celeste, meio preocupada, chamou-a.
- Conta-me o que há contigo,
Adelina. Estais hoje mudada. Conheço-te muito bem e não me pareces à mesma.
- Nada, Madrinha, nada não!
- Vai, confessa o que acontece. Não
deve me ocultar os teus pensamentos ou as suas emoções.
- É que já estou uma moça e alguém
olha pra mim como se nunca houvesse me visto.
- É natural, Adelina. Todos te admiram.
- Mas não é isso Madrinha. É que eu
fico preza a um olhar desses. Parece uma atração. Uma coisa aqui dentro como se
alguém estivesse me chamando.
- Toma cuidado. Isso é amor que
está acordando dentro de ti. Mas não te deixes levar pelas primeiras
impressões.
- É uma pessoa importante, de
família rica. Agrônomo.
- Há! Já estou adivinhando. Deve
ser o Dr. Amarante, fazendeiro.
- Esse mesmo. Tem procurado falar
comigo, mas tenho me esquivado. Não o conheço bem. Sou uma moça humilde e não
sei as intenções dele. Precisava falar com a senhora e tinha acanhamento.
- Pois é. É um ótimo moço. Em todo
caso é necessário saber se ele quer se casar ou somente se divertir. Conversa
com o doutor. Não que fiques como eu, solteirona, sozinha, e cheia de
arrependimentos. Tinha medo do casamento. Deixei de ser feliz como tantas e
tantas de minhas amigas e companheiras que hoje tem o seu lar, filhos adoráveis
e um companheiro de todas as horas.
- Ora, Madrinha, ainda é cedo.
Depende da Senhora querer, decidir-se. Só me casaria depois da senhora. Foi
quem me abrigou e fez de mim gente. Deus me livre de deixá-la só.
- Não, Adelina seria então duas
arrependidas, mais tarde.
Dr. Amarante resolveu-se, procurar
Adelina em casa da professora. A voz de Adelina, sua aparência agradável viviam
em sua imaginação. Sabia que para se ter uma voz tão macia e tão doce,
necessitaria muita sensibilidade. Dona Celeste recebeu-o com as devidas
reservas. Adelina não sabia como ficar. A presença do Dr. Amarante deixou-a
confusa. A madrinha que resolvesse!
- Sim, Dona Celeste. Não tenho
provas de que Adelina goste de mim. Entretanto venho arriscar-me a uma
desilusão ou a encontrar o caminho de minha felicidade. Amo Adelina sem ela
saber. Não tive oportunidade de lhe falar, de expressar os meus sentimentos.
Portanto, sairei daqui, alegre ou triste. Todos me conhecem. Os meus costumes,
minha conduta, minha situação, na sociedade e na vida.
- Adelina... Quero apresentar-te o
Dr. Amarante formado em
agronomia. De família conceituada e um moço de respeito.
Deseja falar contigo. Use de tua franqueza, sem trair os teus sentimentos.
Conversem os dois. Vou preparar o cafezinho habitual para o visitante.
- Olha Adelina. Vim aqui para ouvir
de pertinho a tua voz. Fazer amizade. Dizer o que sinto por ti. Ouve-me e
depois podes falar sem acanhamento. No que te vou dizer estará minha
felicidade, mas poderá não estar a tua. Comecei a te querer desde o dia em que
ti vi pela primeira vez. E não me saístes mais da memória e do coração. Minha
intenção não é namorar contigo, tomar o teu tempo, enganar-te. Quero
verdadeiramente é casar-me contigo. Não preciso saber de onde vieste e a tua
origem. Quero-te como és com essa simplicidade encantadora. Não me fales de tua
origem, peço-te. Sou independente, meus pais e manos não interferem em minha
vida, a não ser para ajudar-me a ser uma pessoa de bem. Basta que me digas,
hoje, amanha qualquer dia, se gostas também de mim e se casaras comigo.
- Também admiro o Senhor, desde que
notei a sua presença. Mas a minha condição social. Só possuo curso de canto e
ainda estudo. Não tenho nada para oferecer-lhe...
- E então. Tudo quanto quero é você,
somente você, minha queridinha.
- Sei que não o mereço. Seria um casamento
muito desigual. Para mim seria um grande premio, mas tenho receio de seu
arrependimento depois. A convivência às vezes traz grandes desilusões.
- Então, não acreditas em minha
sinceridade, nos meus propósitos? Responde-me. Posso considerar-me teu noivo? Será
minha noiva quando te decidires. Não gostaria de sair daqui pensativo e numa
terrível incerteza, mas deves mesmo pensar. Consulta a professora, tua
Madrinha. Poderá ser agora mesmo.
Dona Celeste ia chegando. Ofereceu
o café e bolinhos feitos por suas mãos.
- E então. O que tanto conversaram?
- É madrinha, Dr. Amarante quer
ficar logo noivo, para casar logo. Mas
tenho medo que ele não venha a arrepender-se depois...
- Dr. Amarante, Adelina, é um moço
responsável. Poderia casar-se com uma moça rica, á hora que entendesse. Somente
um amor verdadeiro poderia trazê-lo aqui á tua procura. Como vês, é uma escolha
desinteressada. Amor, puro amor. E depois se um dia se enfastiasse de ti, a tua
casa é esta mesma. Estou certa, porém, que não será uma aventura de tua parte.
Respondas como quiseres. De mim tens inteira aprovação. Sei que gostas da vida
que tens. Mas olha, não conheceu outra. Poucas meninas terão a tua sorte. Verás
que depois do noivado muita gente vai comentar e invejar. Dr. Amarante será
censurado pela legião de pretendentes que esperavam por um convite como este. É
o destino, minha, menina, o destino.
- Aceito. Mas as vantagens são
somente minhas. Dr. Amarante proibiu-me de dizer quem eu sou, donde saí. Era
isto que me deixara apreensiva. Agora, Dr. Amarante pode, se não está
arrependido, pode considerar-me sua noiva.
- Dr. Amarante beijou-a e a Dona
Celeste. Foi servido um cálice de vinho comemorativo.
- À noite quero levá-las á casa de
minha família. Lá não sabem que é minha noiva. Será uma grande surpresa. A
maior da minha vida.
Amarante avisou em casa. Estava noivo. Iria
saber quem era, quando, fizesse a apresentação. Pediu para convidar amigos. Fez
também seus convites, e á hora aprazada, com a casa cheia, entrou com as duas.
E qual das duas seria a professora ou a cantora Adelina? Veio a revelação –
Adelina. A família mostrou-se exultante – Era uma demonstração de
reconhecimento á modéstia e os propósitos do Dr. Amarante. Casamento de amor e
não de egoísmo.
Muitas moças ficaram desapontadas. Sonhavam
com um casamento com o agrônomo. Mesmo assim, mostraram alegrias. – Enfeitiçou-se
pela voz da menina. Exigiram que Adelina cantasse. Não tinha como fugir. Cantaram
repetidamente, as suas mais lindas canções. Desfez-se o desapontamento. Sim
ninguém poderia escapar ás atrações de uma voz daquela. Era um encantamento. A
festa de noivado entrou pela madrugada. E terminou com a canção – “Felicidade
para dois”.
*O conto faz
parte do livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.
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