OS DEFUNTOS FRESCOS
“Peixes e convidados
fedem em três dias.”
Benjamin Franklin
Waldo Luís
Viana*
Jango é defunto antigo; Celso Daniel, também.
A esquerda exumou o primeiro e quer esquecer o segundo. Dilma, em seu
incoercível caminho para a reeleição, tentou fazer barretada eleitoral com os
restos do primeiro. Deu tudo errado. Taticamente não fala no segundo porque
jamais agradaria à direita, em virtude de que o prefeito de Santo André foi
morto por motivo político. Ah, isso não foi provado! – exclamarão alguns; mas
também não há evidência de que Jango foi envenenado! – atacarão outros. Por que
tanta preocupação com um defunto e o desprezo comissivo por outro?
Enquanto
honras militares eram concedidas a alguém que fora varrido antanho por eles
mesmos, o presidente do STF preparava o maior golpe já perpetrado sobre a nuca
do PT. Preparou-se para, no dia da proclamação da República, resgatar o país do
gozo da impunidade. Cumprindo somente a lei, mandou para a cadeia a quadrilha
infame que perpetrou o crime do mensalão. Foram sete anos de espera, longos
estudos e perícias e julgamento de um semestre. Melhor que isso, só viajando a
Marte...
Pobre
PT, que com a sua política de “dois passinhos pra frente e um pra trás”,
comissões da verdade para os que lutaram bravamente pela implantação de uma
democracia comunista, defuntos esquecidos e outras trampolinagens culturais –
acabou colhido pela prisão emblemática dos mensaleiros.
Qual
será a resposta governamental a esse triste destino? O projeto de José Dirceu
de chegar à presidência foi destruído por Roberto Jefferson, personagem
esdrúxulo que, tendo pertencido à máfia, resolveu não cair sozinho e levou
consigo a cúpula de então do partido majoritário e demais membros da quadrilha.
Enfim, a piada de salão transformou em defuntos frescos os imortais da
corrupção que se consideravam imbatíveis. “Happy end”, afinal...
E
tais defuntos não receberam nem réquiem da presidenta. Ela foi instruída por
seus marqueteiros a não se envolver com o cemitério. Reis mortos, reis postos,
não é o que diz o ditado?
Já
estava muito ocupada com os restos de Jango, cujo odor só interessava à
esquerda. Aliás, a esquerda habitualmente escolhe a dedo quem deseja
ressuscitar. E que gosto, meu Deus! Nesse caso, o retrovisor valeria a pena,
mas como a história teimosamente olha para a frente, a presidenta não contava
com as iniciativas de outro poder da República. Pensava-o morto, mas ele também
reviveu. E como?
Esquerda
e direita vivem agora no país uma guerra de defuntos. Qual seria o mais notório? Quem despertará mais
interesse da patuléia, narcotizada como sempre por duplas caipiras e bailes
funk? Se 67% do povinho pascácio só tem o curso primário e não tem médicos nem
hospitais, como fazer a choldra chorar pelos defuntos frescos?
O
país submerge nas covas da corrupção e não sobra culpa pra ninguém, o que que
falta é cadeia. Segurança máxima para pretos, pobres e prostitutas, enquanto
políticos, fiscais, pegadores de propinas de empreiteiras, construtoras,
multinacionais e firmas sonegadoras de impostos encontram absolvição nos
tribunais, na medida em que o tempo passe, os alienados esqueçam e os recursos
abundem.
Os
três poderes republicanos são árvores velhas de corrupção e estão em agonia.
Diante deles, a população não chora nem leva velas. Continua amando o carnaval
e o futebol, a despeito dos black blocks, os baderneiros arrasa-quarteirões da
pós-modernidade.
Imagino
a raiva petista nos bastidores. O que fazer com o Joaquim que não bancou o pai
Tomás. Se acontecer de ele também virar defunto, a coisa ficará muito
evidente...
O
que fazer, então, PT? Afinal, os lorpas da classe C só se interessam por fogão,
geladeira e carro popular à prestação, pra ficar em engarrafamentos e estradas
esburacadas. Não irão se debruçar sobre defuntos nem chorar por anistiados
endinheirados.
Serão
necessárias novas estratégias. Naturalmente, nossos impostos pagarão os
cientistas políticos que irão auxiliar a presidenta a “pensar” em novas
manobras para a conquista do eleitorado. As últimas foram mesmo um desastre!
Pois
a imprensa só fala em mensalão e uma revista com taxímetro desviou-se dos fatos
atuais para comentar a ecologia. Afinal, isso seria mais importante para o
governo do que aludir aos novos defuntos frescos!
O
dia 15 de novembro de 2013 será lembrado pelos pósteros como uma data de
libertação nacional. No Brasil, a partir daí, canalha rico e poderoso poderá ir
pra cadeia e seus objetivos torpes descerão á cova juntamente com as suas
ambições.
E o
partido no governo não vai conseguir reverter o processo, tentando capitalizar
o feito, porque Joaquim Barbosa demonstrou ser independente, apesar de ser
chamado “negro traidor” pela ofendida
militância no poder.
Muito
cuidado, então, ao escolher a dedo os ministros do STF. De preferência que
sejam os de passado militante, embora se tornem vitalícios (e inamovíveis)
depois. E é aí que a porca torce o rabo, porque os ministros podem desobedecer
os heróis de plantão e deixar novos mortos pelo caminho...
Pobre
Brasil, cujos defuntos antigos não se revolvem nas covas. São os defuntos vivos
e frescos que sofrem dentro e agora fora do governo. E não há saída porque irão
feder do mesmo jeito...
*Waldo Luís Viana é
escritor, economista, poeta e, por enquanto, ainda vivo, bem vivo...
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