Proclamação
da República do Brasil
Localização Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
Data 15 de novembro de 1889 (124 anos)
Resultado Extinção do Império do
Brasil, banimento da família imperial brasileira e dos principais políticos
favoráveis à monarquia constitucional parlamentarista e criação do Governo
Provisório republicano.
Marechal Manuel Deodoro da Fonseca
A Proclamação da
República Brasileira foi um levante político-militar ocorrido em 15 de novembro
de 1889 que instaurou a forma republicana federativa presidencialista de
governo no Brasil, derrubando a monarquia constitucional parlamentarista do
Império do Brasil e, por conseguinte, pondo fim à soberania do imperador dom
Pedro II. Foi, então, proclamada a República do Brasil.
A proclamação
ocorreu na Praça da Aclamação (atual Praça da República), na cidade do Rio de
Janeiro, então capital do Império do Brasil, quando um grupo de militares do
exército brasileiro, liderados pelo marechal Manuel Deodoro da Fonseca,
destituiu o imperador e assumiu o poder no país.
Foi instituído,
naquele mesmo dia 15, um governo provisório republicano. Fazia parte, desse
governo, organizado na noite de 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da
Fonseca como presidente da república e chefe do Governo Provisório; o marechal
Floriano Peixoto como vice-presidente; como ministros, Benjamin Constant
Botelho de Magalhães, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, Campos Sales, Aristides
Lobo, Demétrio Ribeiro e o almirante Eduardo Wandenkolk, todos membros
regulares da maçonaria brasileira.
Situação
política do Brasil em 1889
O governo imperial, através do 37º e
último gabinete ministerial, empossado em 7 de junho de 1889, sob o comando do
presidente do Conselho de Ministros do Império, Afonso Celso de Assis
Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, do Partido Liberal, percebendo a difícil
situação política em que se encontrava, apresentou, em uma última e desesperada
tentativa de salvar o império, à Câmara-Geral, câmara dos deputados, um
programa de reformas políticas do qual constavam, entre outras, as medidas
seguintes: maior autonomia administrativa para as províncias, liberdade de
voto, liberdade de ensino, redução das prerrogativas do Conselho de Estado e
mandatos não vitalícios para o Senado Federal. As propostas do Visconde de Ouro
Preto visavam a preservar o regime monárquico no país, mas foram vetadas pela
maioria dos deputados de tendência conservadora que controlava a Câmara Geral.
No dia 15 de novembro de 1889, a república era proclamada.
Perda
de Prestígio da Monarquia Brasileira
Muitos foram os
fatores que levaram o Império a perder o apoio de suas bases econômicas,
militares e sociais. Da parte dos grupos conservadores pelos sérios atritos com
a Igreja Católica (na "Questão Religiosa"); pela perda do apoio
político dos grandes fazendeiros em virtude da abolição da escravatura,
ocorrida em 1888, sem a indenização dos proprietários de escravos.
Da parte dos
grupos progressistas, havia a crítica que a monarquia mantivera, até muito
tarde, a escravidão no país. Os progressistas criticavam, também, a ausência de
iniciativas com vistas ao desenvolvimento do país fosse econômico, político ou
social, a manutenção de um regime político de castas e o voto censitário, isto
é, com base na renda anual das pessoas, a ausência de um sistema de ensino
universal, os altos índices de analfabetismo e de miséria e o afastamento
político do Brasil em relação a todos demais países do continente, que eram
republicanos.
Assim, ao mesmo
tempo em que a legitimidade imperial decaía, a proposta republicana - percebida
como significando o progresso social - ganhava espaço. Entretanto, é importante
notar que a legitimidade do Imperador era distinta da do regime imperial:
Enquanto, por um lado, a população, de modo geral, respeitava e gostava de dom
Pedro II, por outro lado, tinha cada vez em menor conta o próprio império.
Nesse sentido, era voz corrente, na época, que não haveria um terceiro reinado,
ou seja, a monarquia não continuaria a existir após o falecimento de dom Pedro
II, seja devido à falta de legitimidade do próprio regime monárquico, seja
devido ao repúdio público ao príncipe consorte, marido da princesa Isabel, o
francês Conde D'Eu. O conde tinha fama de arrogante, não ouvia bem, falava com
sotaque francês e, além de tudo, era dono de cortiços no Rio, pelos quais
cobrava aluguéis exorbitantes de gente pobre. Temia-se que, quando Isabel
subisse ao trono, ele viesse a ser o governante de fato do Brasil.
Embora a frase de
Aristides Lobo (jornalista e líder republicano paulista, depois feito ministro
do governo provisório), "O povo assistiu bestializado" à proclamação
da república, tenha entrado para a história, pesquisas históricas, mais recentes,
têm dado outra versão à aceitação da república entre o povo brasileiro. É o
caso da tese defendida por Maria Tereza Chaves de Mello (A República
Consentida, Editora da FGV, EDUR, 2007), que indica que a república, antes e
depois da proclamação, era vista popularmente como um regime político que
traria o desenvolvimento, em sentido amplo, para o país.
Antecedentes da Proclamação da
República
A partir da
década de 1870, como consequência da Guerra do Paraguai (também chamada de
Guerra da Tríplice Aliança) (1864-1870), foi tomando corpo a ideia de alguns
setores da elite de alterar o regime político vigente. Fatores que
influenciaram esse movimento:
O imperador dom Pedro II não tinha filhos,
apenas filhas. O trono seria ocupado, após a sua morte, por sua filha mais
velha, a princesa Isabel, casada com um francês, Gastão de Orléans, Conde d'Eu,
o que gerava o receio em parte da população de que o país fosse governado por
um estrangeiro.
O fato de os negros terem ajudado o exército na Guerra do Paraguai e,
quando retornaram ao país, permaneceram como escravos, ou seja, não ganharam a
alforria de seus donos.
Crise
econômica
A crise econômica agravou-se em função
das elevadas despesas financeiras geradas pela Guerra da Tríplice Aliança,
cobertas por capitais externos. Os empréstimos brasileiros elevaram-se de 3 000
000 de libras esterlinas em 1871 para quase 20 000 000 em 1889, o que causou
uma inflação da ordem de 1,75 por cento ao ano. [carece de fontes].
Abolicionismo
no Brasil
A questão abolicionista impunha-se
desde a abolição do tráfico negreiro em 1850, encontrando viva resistência
entre as elites agrárias tradicionais do país. Diante das medidas adotadas pelo
Império para a gradual extinção do regime escravista, devido a repercussão da
experiência mal sucedida nos Estados Unidos de libertação geral dos escravos
ter levado aquele país à guerra civil, essas elites reivindicavam do Estado
indenizações proporcionais ao preço total que haviam pago pelos escravos a serem
libertados por lei. Estas indenizações seriam pagas com empréstimo externo.
Com a decretação
da Lei Áurea (1888), e ao deixar de indenizar esses grandes proprietários
rurais, o império perdeu o seu último pilar de sustentação. Chamados de
"republicanos de última hora" ou Republicanos do 13 de Maio, os
ex-proprietários de escravos aderiram à causa republicana, não por causa de um
sentimento, mas como uma "vingança" contra a monarquia.
Na visão dos
progressistas, o Império do Brasil mostrou-se bastante lento na solução da
chamada "Questão Servil", o que, sem dúvida, minou sua legitimidade
ao longo dos anos. Mesmo a adesão dos ex-proprietários de escravos, que não
foram indenizados, à causa republicana, evidencia o quanto o regime imperial
estava atrelado à escravatura.
Assim, logo após
a princesa Isabel assinar a Lei Áurea, João Maurício Wanderley, Barão de
Cotegipe, o único senador do império que votou contra o projeto de abolição da
escravatura, profetizou:
A senhora acabou de redimir uma raça e
perder um trono!
Questão
religiosa
Desde o período colonial, a Igreja
Católica, enquanto instituição encontrava-se submetida ao estado. Isso se
manteve após a independência e significava, entre outras coisas, que nenhuma
ordem do papa poderia vigorar no Brasil sem que fosse previamente aprovada pelo
imperador (Beneplácito Régio). Ocorre que, em 1872, Vital Maria Gonçalves de
Oliveira e Antônio de Macedo Costa, bispos de Olinda e Belém do Pará
respectivamente, resolveram seguir, por conta própria, as ordens do Papa Pio
IX, que excluíam, da igreja, os maçons. Como membros de alta influência no
Brasil monárquico eram maçons (alguns livros também citam o próprio dom Pedro
II como maçom), a bula não foi ratificada.
Os bispos se
recusaram a obedecer ao imperador, sendo presos. Em 1875, graças à intervenção
do maçom Duque de Caxias, os bispos receberam o perdão imperial e foram
colocados em liberdade. Contudo, no episódio, a imagem do império desgastou-se
junto à Igreja Católica. E este foi um fator agravante na crise da monarquia,
pois o apoio da Igreja Católica à monarquia sempre foi essencial à subsistência
da mesma.
Questão militar
Os militares do
Exército Brasileiro estavam descontentes com a proibição, imposta pela
monarquia, pela qual os seus oficiais não podiam manifestar-se na imprensa sem
uma prévia autorização do Ministro da Guerra. Os militares não possuíam uma
autonomia de tomada de decisão sobre a defesa do território, estando sujeitos
às ordens do imperador e do Gabinete de Ministros, formado por civis, que se
sobrepunham às ordens dos generais. Assim, no império, a maioria dos ministros
da guerra eram civis.
Além disso,
frequentemente os militares do Exército Brasileiro sentiam-se desprestigiados e
desrespeitados. Por um lado, os dirigentes do império eram civis, cuja seleção
era extremamente elitista e cuja formação era bacharelesca, mas que resultava
em postos altamente remunerados e valorizados; por outro lado, os militares
tinham uma seleção mais democrática e uma formação mais técnica, mas que não
resultavam nem em valorização profissional nem em reconhecimento político,
social ou econômico. As promoções na carreira militar eram difíceis de serem
obtidas e eram baseadas em critérios personalistas em vez de promoções por
mérito e antiguidade.
A Guerra do
Paraguai, além de difundir os ideais republicanos, evidenciou aos militares
essa desvalorização da carreira profissional, que se manteve e mesmo
acentuou-se após o fim da guerra. O resultado foi a percepção, da parte dos
militares, de que se sacrificavam por um regime que pouco os consideravam e que
dava maior atenção à Marinha do Brasil.
Atuação
dos republicanos e dos positivistas
Durante a Guerra
do Paraguai, o contato dos militares brasileiros com a realidade dos seus
vizinhos sul-americanos levou-os a refletir sobre a relação existente entre
regimes políticos e problemas sociais. A partir disso, começou a
desenvolver-se, tanto entre os militares de carreira quanto entre os civis
convocados para lutar no conflito, um interesse maior pelo ideal republicano e
pelo desenvolvimento econômico e social brasileiro.
Dessa forma, não
foi casual que a propaganda republicana tenha tido, por marco inicial, a
publicação do manifesto Republicano em 1870 (ano em que terminou a Guerra do
Paraguai), seguido pela Convenção de Itu em 1873 e pelo surgimento dos clubes
republicanos, que se multiplicaram, a partir de então, pelos principais centros
no país.
Além disso,
vários grupos foram fortemente influenciados pela maçonaria (Deodoro da Fonseca
era maçom, assim como todo seu ministério) e pelo positivismo de Auguste Comte,
especialmente, após 1881, quando surgiu a igreja Positivista do Brasil. Seus
diretores, Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes, iniciaram uma forte
campanha abolicionista e republicana.
A propaganda
republicana era realizada pelos que, depois, foram chamados de
"republicanos históricos" (em oposição àqueles que se tornaram
republicanos apenas após o 15 de novembro, chamados de "republicanos de 16
de novembro").
As ideias de
muitos dos republicanos eram veiculadas pelo periódico A República. Segundo
alguns pesquisadores, os republicanos dividiam-se em duas correntes principais:
Os
evolucionistas, que admitiam que a proclamação da república era inevitável, não
justificando uma luta armada;
Os revolucionistas, que defendiam a possibilidade de pegar em armas para
conquistá-la, com mobilização popular e com reformas sociais e econômicas.
Embora houvesse
diferenças entre cada um desses grupos no tocante às estratégias políticas para
a implementação da república e também quanto ao conteúdo substantivo do regime
a instituir, a ideia geral, comum aos dois grupos, era a de que a república
deveria ser um regime progressista, contraposto à exausta monarquia. Dessa
forma, a proposta do novo regime revestia-se de um caráter social
revolucionário e não apenas do de uma mera troca dos governantes.
Golpe militar de 15 de novembro de 1889 e a proclamação da
República
No Rio de
Janeiro, os republicanos insistiram que o Marechal Deodoro da Fonseca, um
monarquista, chefiasse o movimento revolucionário que substituiria a monarquia
pela república.
Depois de muita
insistência dos revolucionários, Deodoro da Fonseca concordou em liderar o
movimento militar.
Segundo relatos
históricos, em 15 de novembro de 1889, comandando algumas centenas de soldados
que se movimentavam pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro, o marechal Deodoro,
assim como boa parte dos militares, pretendia apenas derrubar o então Chefe do
Gabinete Imperial (equivalente a primeiro-ministro), o Visconde de Ouro Preto.
"Os principais culpados de tudo isso [a proclamação da República] são o
conde D'Eu e o Visconde de Ouro Preto: o último por perseguir o Exército e o
primeiro por consentir nessa perseguição", diria mais tarde Deodoro.
O golpe militar,
que estava previsto para 20 de novembro de 1889, teve de ser antecipado. No dia
14, os conspiradores divulgaram o boato de que o governo havia mandado prender
Benjamin Constant Botelho de Magalhães e Deodoro da Fonseca. Posteriormente
confirmou-se que era mesmo boato. Assim, os revolucionários anteciparam o golpe
de estado, e, na madrugada do dia 15 de novembro, Deodoro dispôs-se a liderar o
movimento de tropas do exército que colocou um fim no regime monárquico no
Brasil.
Os conspiradores
dirigiram-se à residência do marechal Deodoro, que estava doente, com dispneia,
e acabam por convencê-lo a liderar o movimento. Aparentemente decisivo para
Deodoro foi saber que, a partir de 20 de novembro, o novo Presidente do
Conselho de Ministros do Império seria Silveira Martins, um velho rival.
Deodoro e Silveira Martins eram inimigos desde o tempo em que o marechal
servira no Rio Grande do Sul, quando ambos disputaram as atenções da baronesa
do Triunfo, viúva muito bonita e elegante, que, segundo os relatos da época,
preferira Silveira Martins. Desde então, Silveira Martins não perdia
oportunidade para provocar Deodoro da tribuna do Senado, insinuando que
malversava fundos e até contestando sua eficácia enquanto militar.
Além disso, o
major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro dissera a Deodoro que uma suposta
ordem de prisão contra ele havia sido expedida, argumento que convenceu
finalmente o velho marechal a proclamar a República no dia 16 e a exilar a
Família Imperial já à noite, de modo a evitar uma eventual comoção popular.
Convencido de que
seria preso pelo governo imperial, Deodoro saiu de sua residência ao amanhecer
do dia 15 de Novembro, atravessou o Campo de Santana e, do outro lado do
parque, conclamou os soldados do batalhão ali aquartelado, onde hoje se
localiza o Palácio Duque de Caxias, a se rebelarem contra o governo. Oferecem
um cavalo ao marechal, que nele montou, e, segundo testemunhos, tirou o chapéu
e proclamou "Viva a República!". Depois apeou, atravessou novamente o
parque e voltou para a sua residência. A manifestação prosseguiu com um desfile
de tropas pela Rua Direita, atual rua 1º de Março, até o Paço Imperial.
Os revoltosos
ocuparam o quartel-general do Rio de Janeiro e depois o Ministério da Guerra.
Depuseram o Gabinete ministerial e prenderam seu presidente, Afonso Celso de
Assis Figueiredo, Visconde de Ouro Preto.
No Paço Imperial,
o presidente do gabinete (primeiro-ministro), Visconde de Ouro Preto, havia
tentando resistir pedindo ao comandante do destacamento local e responsável
pela segurança do Paço Imperial, general Floriano Peixoto, que enfrentasse os
amotinados, explicando ao general Floriano Peixoto que havia, no local, tropas
legalistas em número suficiente para derrotar os revoltosos. O Visconde de Ouro
Preto lembrou a Floriano Peixoto que este havia enfrentado tropas bem mais
numerosas na Guerra do Paraguai. Porém, o general Floriano Peixoto recusou-se a
obedecer às ordens dadas pelo Visconde de Ouro Preto e assim justificou sua
insubordinação, respondendo ao Visconde de Ouro Preto:
Sim,
mas lá (no Paraguai) tínhamos em frente inimigos e aqui somos todos
brasileiros!
Em seguida,
aderindo ao movimento republicano, Floriano Peixoto deu voz de prisão ao chefe
de governo Visconde de Ouro Preto.
O único ferido no
episódio da proclamação da república foi o Barão de Ladário, que resistiu à
ordem de prisão dada pelos amotinados e levou um tiro. Consta que Deodoro não
dirigiu crítica ao Imperador dom Pedro II e que vacilava em suas palavras.
Relatos dizem que foi uma estratégia para evitar um derramamento de sangue.
Sabia-se que Deodoro da Fonseca estava com o tenente-coronel Benjamin Constant
ao seu lado e que havia alguns líderes republicanos civis naquele momento.
Na tarde do mesmo
dia 15 de novembro, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi solenemente
proclamada à República.
À noite, na
Câmara Municipal do Município Neutro, o Rio de Janeiro, José do Patrocínio
redigiu a proclamação oficial da República dos Estados Unidos do Brasil,
aprovada sem votação. O texto foi para as gráficas de jornais que apoiavam a
causa, e, só no dia seguinte, 16 de novembro, foi anunciado ao povo a mudança
do regime político do Brasil.
Dom Pedro II, que
estava em Petrópolis, retornou ao Rio de Janeiro. Pensando que o objetivo dos
revolucionários era apenas substituir o Gabinete de Ouro Preto, o Imperador D.
Pedro II tentou ainda organizar outro gabinete ministerial, sob a presidência
do conselheiro José Antônio Saraiva. O imperador, em Petrópolis, foi informado
e decidiu descer para a Corte. Ao saber do golpe de estado, o Imperador
reconheceu a queda do Gabinete de Ouro Preto e procurou anunciar um novo nome
para substituir o Visconde de Ouro Preto. No entanto, como nada fora dito sobre
República até então, os republicanos mais exaltados espalharam o boato de que o
Imperador escolhera Gaspar Silveira Martins, inimigo político de Deodoro da
Fonseca desde os tempos do Rio Grande do Sul, para ser o novo chefe de governo.
Deodoro da Fonseca então convenceu-se a aderir à causa republicana. O Imperador
foi informado disso e, desiludido, decidiu não oferecer resistência.
No dia seguinte,
o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro entregou a dom Pedro II uma
comunicação, cientificando-o da proclamação da república e ordenando sua
partida para a Europa, a fim de evitar conturbações políticas. A família
imperial brasileira exilou-se na Europa, só lhes sendo permitida a sua volta ao
Brasil na década de 1920.
Diferentes
visões sobre a proclamação da república
É possível considerar a legitimidade
ou não da república no Brasil por diferentes ângulos.
Do ponto de vista
do Código Criminal do Império do Brasil, sancionado em 16 de dezembro de 1830,
o crime cometido pelos republicanos foi:
"Artigo 87:
Tentar diretamente, e por fatos, destronizar o imperador; privá-lo em todo, ou
em parte da sua autoridade constitucional; ou alterar a ordem legítima da
sucessão. Penas de prisão com trabalho por cinco a quinze anos. Se o crime se
consumar: Penas de prisão perpétua com trabalho no grau máximo; prisão com
trabalho por vinte anos no médio; e por dez anos no mínimo."
O Visconde de
Ouro Preto, deposto em 15 de novembro, entendia que a proclamação da república
fora um erro e que o Segundo Reinado tinha sido bom, e, assim se expressou em
seu livro "Advento da Ditadura Militar no Brasil":
O Império não foi a ruína. Foi a
conservação e o progresso. Durante meio século, manteve íntegro, tranquilo e
unido território colossal. O império converteu um país atrasado e pouco
populoso em grande e forte nacionalidade, primeira potência sul-americana,
considerada e respeitada em todo o mundo civilizado. Aos esforços do Império,
principalmente, devem três povos vizinhos deveram o desaparecimento do
despotismo mais cruel e aviltante. O Império aboliu de fato a pena de morte,
extinguiu a escravidão, deu ao Brasil glórias imorredouras, paz interna, ordem,
segurança e, mas que tudo, liberdade individual como não houve jamais em país
algum. Quais as faltas ou crimes de dom Pedro II, que em quase cinquenta anos
de reinado nunca perseguiu ninguém, nunca se lembrou de uma ingratidão, nunca
vingou uma injúria, pronto sempre a perdoar, esquecer e beneficiar? Quais os
erros praticados que o tornou merecedor da deposição e exílio quando, velho e
enfermo, mais devia contar com o respeito e a veneração de seus concidadãos? A
república brasileira, como foi proclamada, é uma obra de iniquidade. A
república se levantou sobre os broquéis da soldadesca amotinada, vem de uma
origem criminosa, realizou-se por meio de um atentado sem precedentes na
história e terá uma existência efêmera!
O movimento de 15
de novembro de 1889 não foi o primeiro a buscar a república, embora tenha sido
o único efetivamente bem-sucedido, e, segundo algumas versões, teria contado
com apoio tanto das elites nacionais e regionais quanto da população de um modo
geral:
Em 1788-1789, a Inconfidência Mineira e
Tiradentes não buscavam apenas a independência, mas também, a proclamação de
uma república na Capitania das Minas Gerais, seguida de uma série de reformas
políticas, econômicas e sociais; Em 1824, diversos estados do Nordeste criaram
um movimento independentista, dentre elas a Confederação do Equador, igualmente
republicana; Em 1839, na esteira da Revolução Farroupilha, proclamaram-se a
República Rio-grandense e a República Juliana, respectivamente no Rio Grande do
Sul e em Santa Catarina.
Embora se
argumente que não houve participação popular no movimento que terminou com o
regime monárquico e implantou a república, o fato é que também não houve
manifestações populares de apoio à monarquia, ao imperador ou de repúdio ao
novo regime.
Alguns pesquisadores
argumentam que, caso a monarquia fosse popular, haveria movimentos contrários à
república em seguida, além da Guerra de Canudos. Entretanto, segundo outros pesquisadores
o que teria ocorrido foi uma crescente conscientização a respeito do novo
regime e sua aprovação pelos mais diferentes setores da sociedade brasileira.
Versão oposta é dada pela pesquisadora, Maria de Lourdes Mônaco Janoti, no
livro Os Subversivos da República, no qual relata o medo que tiveram os
republicanos, nas primeiras décadas da república, em relação a uma possível
restauração da monarquia no Brasil. Maria Janoti mostra também, em seu livro, a
repressão forte, por parte dos republicanos, a toda tentativa de se organizar
grupos políticos monárquicos naquela época.
Neste sentido, um
caso notável de resistência à república foi o do líder abolicionista José do
Patrocínio, que, entre a abolição da escravatura e a proclamação da república,
manteve-se fiel à monarquia, não por uma compreensão das necessidades sociais e
políticas do país, mas, romanticamente, apenas devido a uma dívida de gratidão
com a Princesa Isabel. Aliás, nesse período de aproximadamente dezoito meses,
José do Patrocínio constituiu a chamada "Guarda Negra", que eram
negros alforriados organizados para causar confusões e desordem em comícios
republicanos, além de espancar os participantes de tais comícios.
Em relação à
ausência de participação popular no movimento de 15 de novembro, um documento
que teve grande repercussão foi o artigo de Aristides Lobo, que fora testemunha
ocular da proclamação da República, no Diário Popular de São Paulo, em 18 de
novembro, no qual dizia:
Por ora, a cor do governo é puramente
militar e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só porque a colaboração do
elemento civil foi quase nula. O povo assistiu àquilo tudo bestializado,
atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram
seriamente estar vendo uma parada!
Na reunião na
casa de Deodoro, na noite de 15 de novembro de 1889, foi decidido que se faria
um referendo popular, para que o povo brasileiro aprovasse ou não, por meio do
voto, a república. Porém esse plebiscito só ocorreu 104 anos depois,
determinado pelo artigo segundo do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da Constituição de 1988.
Segundo
historiadores, a aristocracia cafeeira do oeste paulista e os militares foram
os principais articuladores da queda da monarquia, mas sem uma aliança formal.
Proclamação da
República e manutenção do Brasil como País Unido
Com a proclamação
da república, "segundo todas as probabilidades", acabaria também o
Brasil, pensava, no fim do século XIX, o escritor português Eça de Queirós.
"Daqui a pouco" - acrescentava, numa das suas cartas de Fradique
Mendes, publicadas depois de sua morte sob o título de "Cartas Inéditas de
Fradique Mendes", e transcritas por Gilberto Freyre em sua obra
"Ordem e Progresso":
O
que foi o Império estará fracionado em Repúblicas independentes de maior ou
menor importância. Impelem a esse resultado a divisão histórica das províncias,
as rivalidades que entre elas existem, a diversidade do clima, do caráter e dos
interesses, e a força das ambições locais. [...] Por outro lado, há absoluta
impossibilidade de que São Paulo, a Bahia, o Pará queiram ficar sob a autoridade
do general fulano ou do bacharel sicrano, presidente, com uma corte
presidencial no Rio de Janeiro [...] Os Deodoros da Fonseca vão-se reproduzir
por todas as províncias. [...] Cada Estado, abandonado a si desenvolverá uma
história própria, sob uma bandeira própria, segundo o seu clima, a
especialidade da sua zona agrícola, os seus interesses, os seus homens, a sua
educação e a sua imigração. Uns prosperarão, outros deperecerão. Haverá talvez
Chiles ricos e haverá certamente Nicaráguas grotescas. A América do Sul ficará
toda coberta com os cacos de um grande império.
O sociólogo
Gilberto Freyre entendeu que Eça de Queirós errou redondamente:
Profecia que de modo algum se
realizou. E não se realizou por lhe ter faltado quase de todo consistência
sociológica; ou ter se baseado apenas numa esteira parassociologia, quando
muito, política; e esta quase inteiramente lógica. Lógica e de gabinete: nem
sequer intuitiva no seu arrojo profético [...] O "coração íntimo" dos
brasileiros da época que se seguiu à proclamação da república, se examinado de
perto [...] haveria de mostrar-lhe que existia entre a gente do Brasil, do
Norte ao Sul do país, uma unidade nacional já tão forte, quanto às crenças, aos
costumes, aos sentimentos, aos jogos, aos brinquedos dessa mesma gente, quase
toda ela de formação patriarcal, católica e ibérica nas predominâncias dos seus
característicos, que não seria com a simples e superficial mudança de regime
político, que aquele conjunto de valores e de constantes de repente se
desmancharia!
Fontes: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Grijalva Maracajá Henriques - historiador e pesquisador
(15/11/2013)
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