"A Vida é o Dia de Hoje!!!"
"A vida
é o dia de hoje,
A vida é ai
que mal soa,
A vida é
sombra que foge,
A vida é
nuvem que voa;
A vida é
sonho tão leve
Que se
desfaz como a neve
E como o
fumo se esvai:
A vida dura
um momento,
Mais leve
que o pensamento,
A vida
leva-a o vento,
A vida é
folha que cai!
A vida é
flor na corrente,
A vida é
sopro suave,
A vida é
estrela cadente,
Voa mais
leve que a ave:
Nuvem que o
vento nos ares,
Onda que o
vento nos mares,
Uma após
outra lançou,
A vida -
pena caída
Da asa da
ave ferida
De vale em
vale impelida
A vida o
vento levou!"
(João de
Deus)
João de Deus de Nogueira Ramos
Poeta
e pedagogo português natural de São Bartolomeu de Messines. Estudou Direito em
Coimbra, concluindo a sua formação em 1859. Enveredou, depois, por uma carreira
jornalística, tendo sido diretor de O Bejense (1862-1864) e colaborador em
diversos jornais regionais. Passou por algumas dificuldades financeiras, que o
levaram a escrever por encomenda, até que, em 1869, foi eleito deputado e
passou a residir em Lisboa.
Muito
popular entre os seus contemporâneos, distinguiu-se pelas suas qualidades
humanas e pela sua capacidade de improvisação poética, por vezes acompanhando à
viola variações do cancioneiro popular, sobretudo poemas de sabor popular e
sátiras, que os seus amigos se encarregavam de escrever e compilar. Em 1869,
foi editada a sua primeira coletânea, Flores do Campo. Deve-se a Teófilo Braga
a edição, com o título de Campo de Flores, de uma compilação dos seus textos
líricos, satíricos e epigramáticos (1893) e dos textos em prosa (Prosas, 1898).
Entretanto,
em 1876, João de Deus envolveu-se nas campanhas de alfabetização, escrevendo a
Cartilha Maternal, um novo método de ensino da leitura, que o distinguiu como
pedagogo.
Na literatura da sua época, ocupou
uma posição singular e destacada. Surgido nos finais do ultrarromantismo, aproximou-se
da tradição folclórica de forma mais conseguida que qualquer outro escritor
romântico português. A sua poesia distinguiu-se, sobretudo, pela grande riqueza
musical e rítmica. Foi, ainda, autor de fábulas. Pouco antes da sua morte, foi
alvo de uma grande homenagem nacional.
Para além das obras
mencionadas, deixou um Dicionário Prosódico de Portugal e Brasil (1870), e as
obras poéticas Ramo de Flores (1869), Folhas Soltas (1876), e Despedidas de
Verão (1880).
Nenhum comentário:
Postar um comentário