terça-feira, 5 de novembro de 2013

João de Deus



"A Vida é o Dia de Hoje!!!"

"A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa;

A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!

A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave:

Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos mares,
Uma após outra lançou,
A vida - pena caída
Da asa da ave ferida
De vale em vale impelida
A vida o vento levou!"

(João de Deus)




João de Deus de Nogueira Ramos
Poeta e pedagogo português natural de São Bartolomeu de Messines. Estudou Direito em Coimbra, concluindo a sua formação em 1859. Enveredou, depois, por uma carreira jornalística, tendo sido diretor de O Bejense (1862-1864) e colaborador em diversos jornais regionais. Passou por algumas dificuldades financeiras, que o levaram a escrever por encomenda, até que, em 1869, foi eleito deputado e passou a residir em Lisboa.
Muito popular entre os seus contemporâneos, distinguiu-se pelas suas qualidades humanas e pela sua capacidade de improvisação poética, por vezes acompanhando à viola variações do cancioneiro popular, sobretudo poemas de sabor popular e sátiras, que os seus amigos se encarregavam de escrever e compilar. Em 1869, foi editada a sua primeira coletânea, Flores do Campo. Deve-se a Teófilo Braga a edição, com o título de Campo de Flores, de uma compilação dos seus textos líricos, satíricos e epigramáticos (1893) e dos textos em prosa (Prosas, 1898).
Entretanto, em 1876, João de Deus envolveu-se nas campanhas de alfabetização, escrevendo a Cartilha Maternal, um novo método de ensino da leitura, que o distinguiu como pedagogo.
Na literatura da sua época, ocupou uma posição singular e destacada. Surgido nos finais do ultrarromantismo, aproximou-se da tradição folclórica de forma mais conseguida que qualquer outro escritor romântico português. A sua poesia distinguiu-se, sobretudo, pela grande riqueza musical e rítmica. Foi, ainda, autor de fábulas. Pouco antes da sua morte, foi alvo de uma grande homenagem nacional.
Para além das obras mencionadas, deixou um Dicionário Prosódico de Portugal e Brasil (1870), e as obras poéticas Ramo de Flores (1869), Folhas Soltas (1876), e Despedidas de Verão (1880).

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