quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O CRIME DO FRADE


OS TEMPOS MORTOS
Grijalva Maracajá Henriques*
Reportagem do passado
  O Crime do frade
Bica dos Milagres
SÉCULO XIX
1801
31 de Julho
Capital da Paraíba


            “Neste dia a população da Capital é alarmada pela notícia de um grande crime, commettido na madrugada deste mesmo dia.
            Em toda a cidade fallava-se e commentava- se, que na Bica dos Milagres, no sítio dos frades de S. Francisco, estava um cadáver de mulher entre as unhas de gato, arbusto ali muito abundante, farejado pelos urubus.
            Sabedora a policia, immediatamente foi ao dito lugar e effectivamente encontrou o cadáver, abrindo logo a devassa respectiva.
            Procedido o corpo de delicto evidenciou-se um crime e pelo reconhecimento, soube-se que a mulher chamava-se Thereza; tratou então a policia de descobrir o autor ou auctores de semelhante attentado.
            Corria na cidade que a dita mulher vivia em companhia de Fr. José Lopes, do Convento de S. Francisco, que como quase todos os frades de seu tempo, era corructo e atrevido.
            Neste ínterim, vai uma denuncia da existência de uma filha desta mulher que assistira o crime e estava em casa perto do Convento.
            O Juiz manda buscar a creança, enterroga-a, e pela sua confissão, apura-se o seguinte:
            Fr. José Lopes vivia effectivamente com a parda que já tinha tido esta filha de outro homem.
Um dia            , ou porque soubesse ou visse qualquer cousa, o frade enciumado até o extremo, resolveu acabar a vida de Thereza.
            Convidou-a para banhar-se na Bica acima citada e esta attendendo ao convite, la se fora com a sua filhinha Anna, de três para quatro annos, a meia noute, satisfazer o desejo do frade.
            Ali já se achava o preto escravo do convento, Francisco e um índio da Bahia da Traição, chamado José Ignacio.
O crime foi commettido em um momento, e é de tal barbaridade que faz arrepiar as carnes: introduziram na cavidade intra pubiana da mulher, um pão que a traspassou.
A creança atirada também viva nas unhas de gato, poude escapar e por este facto ficou conhecida por Anninha Rebollo.
O frade foi condemnado a prisão perpetua no Convento da Bahia onde acabou os seus dias, tendo igual sorte os seus comparsas nas cadeias desta Capital.

Encontrei sobre o facto os seguintes documentos:
Carta do Commissario Provincial dos Franciscanos, sobre a prisão de Fr. José Lopes. Convento de S. Antonio do Recife 30 de setembro de 1801. Fr. Luiz de Santo Antonio.
Carta do Provincial dos franciscanos em resposta a remessa que se lhe fez do Pe. Fr. José Lopes. Convento de S. Francisco da Cidade da Bahia aos 8 de março de 1802. Fr. Francisco de S. Rita.”
Copiado ipsis litteris.
            Esta história citada por Irineu Ferreira Pinto era relatada pela filha de Tereza, Aninha Rebolo até sua morte aos  quase noventa anos de vida.
            Essa velha fonte ainda existe, porém está encoberta no muro de uma residência à Rua Augusto Simões nº 59, antigo Beco dos Milagres.
Este foi um dos primeiros mananciais público (que se tem notícia) que serviu à população da Capital. A fonte era situada no sítio do Padre João Vaz Salem, primeiro vigário da freguesia de Nossa Senhora das Neves, onde fica hoje o Mosteiro de São Bento, fora doada aos mesmos no dia 19 de setembro de 1599. Posteriormente construíram um chafariz no Governo do presidente Frederico Carneiro da Cunha. Em 1848  foi construída uma fachada. Esta fonte era também conhecida como “Bica dos Milagres”. Possuía duas torneiras de bronze ladeadas por colunas de pedra.
Na antiga lápide ainda se lia a data de sua última restauração que datava de 1849.


Bibliografia:
Datas e Notas para a História da Parahyba por Irineu Ferreira Pinto, volume I – Imprensa Official – Parahyba do Norte 1908. P.219/221.
Sites:
[http://paraibanos.com/joaopessoa]
 http://www.cagepa.pb.gov.br/portal/?page_id=54

*O autor é historiador e pesquisador.

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