*LIVRO DOCE DE PIMENTA
Grijalva Maracajá
Henriques
Relendo o livro, na véspera do Natal
de 2012, do DR. Mozart, o qual me fora ofertado pelo primo (por adoção), o
renomado também médico Napoleão Tavares Neves, de Barbalha-CE, nos Cariris
Novos, no dia 6/11/1995, encontrei essa perola abaixo transcrita. (Outrossim,
como não achei nada que proibisse sua divulgação ai vai). Diversas vezes ouvi ser
recitada pelo cunhado Teodomiro Sampaio Neves de Jardim – Ceará, quando sua
verve ataca e nos delicia a noite toda com seus causos engraçados, imitando
tanto a voz como a fisionomia do envolvido.
TILDINHA**
Zuza
Ferreira, de 50 anos de idade, vivia há dois anos, no cabaré do Zé Alves, em
Crato, com a Tildinha, uma loura e bonita mulher dos seus trinta anos de idade.
Certa
noite, ao chegar no salão do prostíbulo, surpreendeu a querida amante sentada e
abraçada com um viajante de drogas, ao lado de outras com os seus respectivos “companheiros”,
em torno de uma grande mesa, onde se entregavam à mais desenfreada libação.
Zuza,
sob forte impacto, retirou-se possesso! No dia seguinte trouxe este soneto em
que ridicularizava a sua amante.
TILDINHA – RELES PROSTITUTA.
Tu nasceste, mulher, para ser puta.
Mas, puta da ralé, não é assim?!
Velha e não vês que já estás no
fim...
Por que não deixas essa insana luta?
Essa carcaça flácida e corrupta,
Embuçada de lama e de carmim,
Bem demonstra que és a prostituta
Que o lupanar expulsa por ser ruim.
Vou te dar um conselho, não te
ofendas:
- Nessa idade em que muitas fazem
rendas,
E o mundo as despreza, não as quer,
Não maldigas a sorte que te guia,
Que não sirvas p’ra Filha de Maria,
Procura engomar p’ra outra mulher!
Um
amigo do poeta vem de Crato, no dia seguinte, a Juazeiro, conta-lhe o fato e
lhe mostra o soneto do Zuza, dizendo: Mozart, tive pena da Tildinha,
ridicularizada pelas companheiras, chorava inconsolável.
Penalizado,
o poeta escreveu o soneto abaixo, entregou ao amigo e disse-lhe: - Leve para
Tildinha:
RESPOSTA AO ZUZA:
Disseste que eu nasci
para ser puta!
Desdenhaste da minha
pouca sorte!
Pois, Zuza, serei puta
até a morte
Mas um macho qual tu
não me desfruta.
É que entre as pernas, Deus deu-me
esta gruta,
Ou fenda, ou racha, ou lasca, ou
talho, ou corte,
Para um tipo viril, esbelto e forte
Que preze esta mulher que achas
corrupta.
Quero ser puta,
meretriz, fubana!
E hei de levar o meu
destino cru
Vendendo a minha pobre
carne humana.
Menos a um macho escroto como tu!
Fresco, impotente, sem tesão, sacana,
Que vive dando a todo mundo o cu!
Zuza
ao tomara conhecimento desse soneto, revoltado com a Tildinha, que distribuiu
várias cópias às suas companheiras, tentou agredi-la à peixeira, sendo
defendida por vários indivíduos que se encontravam no cabaré.
A
história ainda continuou, com troca de vários bilhetes, desaforados quando os dois
poetas se encontraram nos bares da vida.
*Do
livro Doce de pimenta – Mozart Cardoso de Alencar 2ª. Edição – Brasília – DF
1994 – p81/92.
**Transcrito
ipsis litteris.
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