segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

DOCE DE PIMENTA


*LIVRO DOCE DE PIMENTA

Grijalva Maracajá Henriques

Relendo o livro, na véspera do Natal de 2012, do DR. Mozart, o qual me fora ofertado pelo primo (por adoção), o renomado também médico Napoleão Tavares Neves, de Barbalha-CE, nos Cariris Novos, no dia 6/11/1995, encontrei essa perola abaixo transcrita. (Outrossim, como não achei nada que proibisse sua divulgação ai vai). Diversas vezes ouvi ser recitada pelo cunhado Teodomiro Sampaio Neves de Jardim – Ceará, quando sua verve ataca e nos delicia a noite toda com seus causos engraçados, imitando tanto a voz como a fisionomia do envolvido.

TILDINHA**

Zuza Ferreira, de 50 anos de idade, vivia há dois anos, no cabaré do Zé Alves, em Crato, com a Tildinha, uma loura e bonita mulher dos seus trinta anos de idade.
Certa noite, ao chegar no salão do prostíbulo, surpreendeu a querida amante sentada e abraçada com um viajante de drogas, ao lado de outras com os seus respectivos “companheiros”, em torno de uma grande mesa, onde se entregavam à mais desenfreada libação.
Zuza, sob forte impacto, retirou-se possesso! No dia seguinte trouxe este soneto em que ridicularizava a sua amante.




TILDINHA – RELES PROSTITUTA.


Tu nasceste, mulher, para ser puta.
Mas, puta da ralé, não é assim?!
Velha e não vês que já estás no fim...
Por que não deixas essa insana luta?

            Essa carcaça flácida e corrupta,
            Embuçada de lama e de carmim,
Bem demonstra que és a prostituta
Que o lupanar expulsa por ser ruim.

Vou te dar um conselho, não te ofendas:
- Nessa idade em que muitas fazem rendas,
E o mundo as despreza, não as quer,

                        Não maldigas a sorte que te guia,
Que não sirvas p’ra Filha de Maria,
Procura engomar p’ra outra mulher!


Um amigo do poeta vem de Crato, no dia seguinte, a Juazeiro, conta-lhe o fato e lhe mostra o soneto do Zuza, dizendo: Mozart, tive pena da Tildinha, ridicularizada pelas companheiras, chorava inconsolável.
Penalizado, o poeta escreveu o soneto abaixo, entregou ao amigo e disse-lhe: - Leve para Tildinha:

RESPOSTA AO ZUZA:

Disseste que eu nasci para ser puta!
Desdenhaste da minha pouca sorte!
Pois, Zuza, serei puta até a morte
Mas um macho qual tu não me desfruta.

É que entre as pernas, Deus deu-me esta gruta,
Ou fenda, ou racha, ou lasca, ou talho, ou corte,
Para um tipo viril, esbelto e forte
Que preze esta mulher que achas corrupta.


Quero ser puta, meretriz, fubana!
E hei de levar o meu destino cru
Vendendo a minha pobre carne humana.

Menos a um macho escroto como tu!
Fresco, impotente, sem tesão, sacana,
Que vive dando a todo mundo o cu!

Zuza ao tomara conhecimento desse soneto, revoltado com a Tildinha, que distribuiu várias cópias às suas companheiras, tentou agredi-la à peixeira, sendo defendida por vários indivíduos que se encontravam no cabaré.

A história ainda continuou, com troca de vários bilhetes, desaforados quando os dois poetas se encontraram nos bares da vida.
*Do livro Doce de pimenta – Mozart Cardoso de Alencar 2ª. Edição – Brasília – DF 1994 – p81/92.

**Transcrito ipsis litteris.




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