domingo, 25 de setembro de 2016

POLITICAGEM ONTEM E HOJE

QUALQUER SEMELHANÇA É MERA COINCIDÊNCIA

Leiam este pedaço de diálogo do conto do meu pai e vejam se alguma coisa mudou na nossa politica.

PARAÍBA NOSSA TERRA NOSSA GENTE


João Henriques da Silva
 (In Memoriam – 20/09/1901 - 16/04/2003)
Escrito em 1986

... - Ah! Meu amigo, amizades sem eleitor é prato vazio para políticos. Não importa a qualidade da comida ou de onde ela sai. O que vale é a quantidade na hora do pega pra capar. O sujeito tem é que se eleger e para ele todo voto cheira bem. Olha aí o Serapião. Foi o mais votado do estado e apesar do que se sabe já se fala nele para futuro governador. E não te espantes que isto aconteça. O negocio é estar de cima seja com quem for e o estado que se amole. Ora, estais brincando com a turma. Dentro do mesmo partido e ninguém respeita voto dos outros. É como um bando enorme de urubus na carniça de um papa-capim.
                O boboca do Adelino ficou de tanga na última campanha para eleger um “grande amigo” e agora anda por aí tomando benção as ticacas. Parecia até que era quem iria se eleger. Festa, comícios, compra de votos, viagens, mentiras e promessas. Tudo improvisado em cima da hora. Não tinha base eleitoral. Gastou o que tinha e lascou-se. O homem não se elegeu e ainda se justificava.
- Pesava que o Adelino tivesse prestígio e o cara de pau, enganou-me. Devo-lhe a decepção que sofri. É pouco que tenha se esboroado economicamente. Não se faz isso com um candidato a deputado. Falta de respeito e consideração. Se não tinha votos deveria ter ficado onde estava.
- O Adelino teria o filho nomeado fiscal de rendas e a filha professora estadual, com boa remuneração e agora nem mel, nem cabaça.
Já o Buriango, um cabra de peia, cabo eleitoral espertalhão só por que conta com algumas dúzias de votos e acompanha o governo, foi nomeado, efetivo, fiscal da prefeitura. Sujeito de má fama, um velhaco, mas o importante é o eleitor. Infelizmente vive-se num mundo deformado em que o caráter das pessoas é coisa secundária. Sente-se necessidade, Dr. Januário, de gente de bem que faça alguma coisa para mudar a sola dos sapatos dessa cambada. E para chegar até lá tem que ser à base do voto. Criar bases na confiança do povo.
Depois de eleito, moralizar a administração, trazer benefícios honestos. Incentivar os empreendimentos úteis, acabar com a miséria. A pobreza é uma porta escancarada para a subordinação. Um par de “apragatas”, um vestido de chita, ou uma camisa de pano ordinário é quanto está valendo um voto. Uma lástima. A fome acaba com a vergonha das pessoas. Justifica-se. Descaramento é de quem compra para ludibriar o povo. E são tantos os descarados, os cínicos, que só se usando erva de rato e chicote.
- Entendo onde pretende chegar. Reagir contra a falta de vergonha. Concordo em gênero e número. Enrijecer a espinha, esclarecer o povo, fazê-lo independente e atirar os espertalhões que exploram, na esterqueira das pocilgas. Não morro de amores pela política, mas não há dúvidas de que é necessário conter essa onda de irresponsabilidade.
Nunca deixou de haver sujeira política, no entanto, o monturo já esta fedendo demais. Explora a pobreza e a miséria como se estivessem minerando ouro. Combate-se o banditismo armado, mas não se combate essa caterva de vagabundos que se cevam com os dinheiros públicos escanchados nas costas magras do povo.
Existem, sem dúvida, exceções. Homens de bem que se envergonham de pisar nos mesmos batentes por onde passam os depósitos de lixo humano.
- Há! Meu amigo, e pensam que o povo não os conhece. Vão e vem, com a cara mais lisa deste mundo, com um cinismo estarrecedor, batem nas mesmas portas, cantam as maiores mentiras, fazem maiores promessas e terminam se reelegendo, ano após ano, à falta de policiamento ostensivo. Será que há crime pior do que iludir a boa fé do povo e manter-se no erário público para cevar-se com o dinheiro que os honestos pagam até pela farinha que comem e o leite que alimenta os filhos?
- Parece-me que há gente de mais para legislar e, inclusive, toupeiras analfabetas que só se sabe que têm boca pelo mau hálito ou as burradas que dizem.
Bastariam, ao meu entender, três de cada Estado, escolhidos por sua sabedoria e honestidade. As câmaras deixariam de ser essa coisa heterogênea onde, enquanto alguns defendem o povo e engrandecem o País, muitos rincham, batem ou roncam, com se ali fosse uma cocheira, um canil ou uma hospedaria de vadios. Para que diabo, meu Deus, quer a Nação, esse bando de inúteis e marginais da política, vivendo à tripa forra e zombando do povo, como uns privilegiados. Será que os poderes públicos não enxergam esse absurdo!
- Ora, meu doutor, esses resíduos orgânicos são o adubo da roça dessa gente. E quanto mais fermentados e mais podres, maior o efeito em sua seara política. Não produz espigas nem grão, mas rendem votos com que se ajudam mutuamente e se sustentam em cima do trabalho e à boca dos cofres da Nação. Podem faltar escolas, merenda escolar, algodão e gaze nos hospitais, dinheiro para alentar a produção agrícola que lhes enche as tripas, contanto que se encastelem no poder e possam viver bebendo a melhor água, comendo o melhor pão e gozando todas as regalias. O povo é - como diziam Jararaca e ratinho – um Alagoano e um Paraibano – o povo é uma porção de ninguém. Pode a fome roer-lhes as vísceras e a seca trincalhes os ossos, isto é coisa natural e a culpa é das secas que Deus manda para castigar os que trabalham e cevam os espertalhões. Quem não pode viver, morre, já dizia um desses políticos de Pernambuco.

Tem que prevalecer é a lei do mais forte, do mais esperto e mais manhoso. Estão aí os nossos sertões abandonados, vivendo de esmolas nas épocas das grandes crises. E dessas esmolas que nos manda, grande parte vai parar nas mãos dos espertalhões, na gaveta dos barracões a troco de produtos, residuais das colheitas, alimentos tão sórdidos que o difícil é saber onde podem ser encontrados. Mas ninguém viu ninguém vê. Muitas vezes a intenção do Governo é legitima e oportuna, em forma de socorro, mas à beira das estradas estão os salteadores de dentuça de fora já antegozando a fartura dos lucros em cima da miséria do povo faminto, destroçado pela seca. É um desaforo que se deixe na impunidade esses exploradores dos infortunados e da própria ação governamental. E ai do empregado que denuncie o descalabro. No mínimo será afastado para não se meter a besta...

terça-feira, 20 de setembro de 2016

ANIVERSÁRIO DE MEU PAI

Vinte de setembro. Relembrando esta data, me lembrei de Raimundo Correia, quando bateu a saudade:
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... Mais outra... Enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bandos e em revoada...

Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.

Cento e quinze anos faz hoje que nasceu meu pai – João Henriques da Silva.  Parece que estou vendo como se meu lar fosse um pombal e minha família em revoada partindo para outros sítios sem querer voltar, como os sonhos.

Partiu primeiro minha irmã Níobe, se avexou, não sei por que tanta pressa, ainda tinha tanto que fazer.
Depois lá se foi o Robério. Eita danado! Os cabras, seus leitores ficaram virado na peste. Reclamando das suas crônicas inteligentes.
 Aí quase beirando os cento e dois anos, partiu o Dr. João. Acho que realmente havia cumprido sua missão, já era tempo mesmo, já não aguentava ser mandado por ninguém.
De saudade; pouco tempo depois voou minha mãe, quase setenta e cinco anos de casada, e, como os pombos, não podiam jamais se separar, pois são monógamos, lá se foi ela atrás dele.
Não demorou muito, corre o Parsival a procurá-los, achando que os traria de volta. Também; não podia ir mais a rua trocar seus relógios. Desistiu!
Pela escala de idade, vivo dizendo que quem vai agora é minha irmã Ceres, mas se dana logo e diz que não pode, pois tem que ainda regurgitar para seus filhotes, - cada um mais velho do que ela.
 Isis a mais nova, fim de rama, não posso prever, apenas seguimos a ideia de que primeiro parte os mais velhos, então vamos deixar que o tempo se arrume com ela.
Aí fico eu, morrendo de inveja deles juntos lá em cima, e de saudade também, doido pra da um voo solo, e com medo de deixar meu poleiro sem ter cumprido minhas obrigações. 
Ah! Se a gente pudesse dominar o destino e previr o futuro! Mas seria bom? Como a gente iria enfrentar as presepadas do passado que deixamos de acertar contas? Era bom se Jesus tivesse resolvido deixar Lázaro vir contar pra gente. Nos dias de hoje era até fácil, danava um e-mail pro céu e rapidinho vinha à resposta, em forma de boleto, com todos os dados pra gente pagar, nalgum banco aqui da terra, ou nas prisões do dia a dia neste mundo de meu Deus.

Campina Grande, 20 de setembro de 2016
Grijalva Maracajá Henriques



domingo, 14 de agosto de 2016

DIA DOS PAIS

Todos os que fomos acalentados pelo amor paterno, com certeza, recordamos nosso velho com saudade. Particularmente, quando nós mesmos nos tornamos pais, as lembranças acodem aos atropelos.
Na acústica da alma, ainda ouvimos os passos firmes nas noites de trovoadas, a conferir em sua ronda, janelas, trancas, cortinas, o sono da criançada.
Se fecharmos os olhos, podemos sentir o deslizar da sua mão levemente pelo nosso rosto e o puxar cuidadoso do cobertor.
Vemos sua silhueta se perdendo na penumbra e ouvimos o último abrir e fechar da geladeira.
Recordamos da criança que fomos e que ficava à espera da sua volta do trabalho. Aqueles que tivemos pais cujo trabalho exigia muitos dias fora do lar, podemos sentir outra vez o coração aos atropelos, lembrando o som do carro dele, chegando, na madrugada.
Será que lembrou de trazer um presente? Será que a sua barba está por fazer e vai espetar o nosso rosto?
Recordamos o passeio dos fins de semana, do presente de aniversário, da ceia de Natal. Até das broncas após as nossas malandragens.
Igualmente lembramos dos carinhos à chegada de nosso boletim, a alegria após passar de ano. A comemoração em família pelas nossas vitórias: fundamental, ensino médio, vestibular, faculdade.
E quando chegamos à adolescência? Quantos cuidados! Quem são os seus companheiros? Com quem você vai sair? Aonde vai?
Não fume. Não beba. Não exceda a velocidade. Respeite os sinais de trânsito.
É hora de chegar? Não falei para chegar antes da meia-noite?
Filho, respeite os mais velhos. Faça um carinho nos seus avós. Quando, afinal, vai se decidir a trabalhar?
Garoto, vou lhe cortar a mesada.
Olhando as rugas estampadas no rosto de nosso pai, somos tomados de carinho e nos curvamos diante dele. Quantos anos vividos no calor do lar paterno. Quantas lições!
Lições que hoje repassamos para os nossos próprios filhos e, sem nos darmos conta, vamos repetindo os mesmos gestos dele. Daquele que há sessenta, setenta anos renasceu e um dia se tornou nosso pai.
Olhamos nossos filhos e, lembrando de como a generosidade de nosso pai, os seus cuidados nos fizeram bem ao caráter, nos esmeramos no atendimento aos nossos próprios rebentos.
Por tudo isso, outra vez, é que a nossa gratidão cresce no peito e explode em uma grande manifestação de afeto. E, como se nosso pai fosse uma criança pequena, abraçamos o velho e o embalamos em nossos braços, com a mesma canção de ninar que um dia ele embalou a nossa infância.


Autor: Momento Espírita

segunda-feira, 18 de julho de 2016

TURQUIA







PARTURIENT MONTES, NASCETUR MUS!

 Certo dia, uma Montanha começou a dar urros e inchar, dizendo que iria parir. O povo ficou cheio de temor, receoso de que algum monstro nascesse e viesse a destruir o mundo. Chegada à época do parto, estando todos reunidos em torno e em suspense, a Montanha pariu um Rato, transformando em riso o que antes era medo.
Hoje assistimos mais uma vez uma falsa montanha parir. Desta vez lá na Turquia. Só que invés de rato, pariu um DITADOR sanguinário, posto por inocentes eleitores, que acreditaram que a Esquerda Marxista/Comunista, pode dar a luz a uma Democracia!
G. Maracajá Henriques

O parto da montanha.

Fábula de Esopo.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

ADOÇÃO



UM OLHAR ESPÍRITA SOBRE A ADOÇÃO


Estou escrevendo este artigo na data em que se celebra o Dia da Adoção. Para nos fundamentarmos para a reflexão sobre o assunto, recordemos o início do diálogo entre Jesus e Nicodemos, registrado no capítulo 3, versículos de 1 a 17, do evangelho de João.
Narra o evangelista que havia um fariseu chamado Nicodemos (nome que significa: homem do povo), que era uma autoridade entre os judeus e que foi ter com Jesus certa noite, quando afirmou: “Mestre, sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode realizar os sinais miraculosos que estás fazendo se Deus não estiver com ele”, e antes que fizesse qualquer pergunta Jesus lhe disse: “Em verdade vos digo que ninguém poderá ver o Reino dos Céus se não nascer de novo”.
Nicodemos estranha aquela informação e, porque tinha compreendido que o mestre lhe falara de voltar à carne, questiona: “Como alguém velho como eu poderia entrar de novo no ventre de sua mãe?”.
O Messias então lhe responde: “O que nasce da carne é carne, o que nasce do espírito é espírito”. E continuam o diálogo...
Hoje é celebrado o Dia da Adoção. Mostrando perfeita sintonia com esse ensinamento do Mestre, os Espíritos superiores responsáveis pela codificação do Espiritismo afirmam a Allan Kardec que não é o Espírito que dá a vida ao corpo físico, mas que apenas o anima, o habita. Quem dá a vida ao corpo é o “fluido vital”.
Assim que um novo corpo é concebido, à medida que suas células vão se multiplicando, essa nova vida vai absorvendo das Energias Cósmicas uma energia específica que manterá a vida desse organismo que se forma, dando, com isso, a condição de um Espírito vir nele habitar, ligação essa, entre espírito e corpo, que já se inicia desde o momento da concepção, conforme nos ensinam os Espíritos superiores. Daí porque o espírita ser completamente contra o aborto.
Da mesma forma, não é porque o Espírito se retira que o corpo morre. Ao contrário, é porque o corpo morre que o Espírito tem de deixá-lo. Confirmando com clareza as palavras de Jesus de que o que é carne é carne, o que é espírito é espírito.
Segundo os Espíritos superiores, o Espírito é criação divina e se dá em outro lugar e não no instante da criação do corpo. O casal que se une apenas gera o organismo físico que servirá ao Espírito que nele vier habitar.
Segundo ainda os orientadores da codificação, quem designa qual Espírito virá habitar o corpo que se forma são entidades espirituais sábias, que trabalham junto aos orbes habitados, colaborando com a obra divina, através de leis específicas. Assim, o Espírito que virá viver na Terra junto a uma família normalmente é alguém que já tem laços anteriores com a mesma, laços esses que podem ser de simpatia ou mesmo de animosidade, vindo com a tarefa da reconciliação. Dizem ainda os benfeitores que é possível que o Espírito que reencarna possa não ter ligações anteriores, mas que venha por necessidades particulares, de maneira que esse primeiro encontro possa ser útil a ambos. Pode ser um Espírito que venha com uma tarefa da qual tenha que desincumbir-se na região onde vive a família que o acolherá.
Voltando ao tema Adoção, a conclusão que podemos tirar com tranquilidade e convicção é de que, independente de qual seja o ventre por onde deva vir a criança, o Espírito que ali reencarna deverá juntar-se à nova família que a adotará, ambos atraídos por leis divinas que tudo provê.
Então, quando estivermos sendo intuídos a adotar uma ou mais crianças, lembremos sempre: O que é carne é carne, o que é espírito é espírito

 José Antônio V. de Paula


http://www.forumespirita.net/fe/accao-do-dia/um-olhar-espirita-sobre-a-adocao/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+forumespirita+%28Forum+Espirita+email+news+100+topicos%29#.V3bY6dIrK71

segunda-feira, 6 de junho de 2016

MACHADO D E ASSIS

CEF tirou do ar propaganda com Machado de Assis branco, conforme defendi aqui. Fez bem. Mas chama o escritor de “afro-brasileiro”. Está errado! Então ele também era “euro-brasileiro”…

Por: Reinaldo Azevedo  22/09/2011 às 16:55

Escrevi aqui um longo texto no dia 14 sobre uma propaganda da Caixa Econômica Federal que apresentava um Machado de Assis mais branco do que as asas de um cisne. O título do artigo é este: Considerações sobre o racismo e Machado de Assis. Ou:  O racismo de contestação ainda não suporta preto bem-sucedido. Observava então, entre outras coisas, que não acreditava haver racistas na CEF, mas que a propaganda era, evidentemente, imprópria. Machado era mestiço, não branco. Defendi que a propaganda fosse suspensa porque veiculava uma inverdade. E estranhei o silêncio da Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial). Pois bem, o banco anunciou ontem que a propaganda não vai mais ao ar. O presidente da instituição, Jorge Hereda, emitiu uma nota (íntegra no pé do post).
É… Eu sei que muita gente acha a vida chata numa democracia, especialmente as pessoas que exercem cargos públicos. Sempre há alguém reclamando, torrando a paciência, dizendo que as coisas não são exatamente como se anunciam… E ter de agüentar a imprensa, então? Um porre! Há quem ache que a China descobriu o bom caminho. Por lá não tem esse negócio de divergência de idéias. O argumento vencedor é a bala na nuca… Sigamos.
A CEF agiu certo ao suspender a propaganda. Eu mesmo defendi que o fizesse. A razão é simples: Machado não era branco. Ponto! Afirmei que a propaganda, querendo ou não, concorria para a invisibilidade dos negros e mestiços. A Seppir também emitiu uma nota a respeito. O curioso é que o tenha feito só no dia 19 — o meu post é do dia 14…
Leiam a nota da CEF. Volto em seguida.
“A Caixa Econômica Federal informa que suspendeu a veiculação de sua última peça publicitária, a qual teve como personagem o escritor Machado de Assis. O banco pede desculpas a toda a população e, em especial, aos movimentos ligados às causas raciais, por não ter caracterizado o escritor, que era afro-brasileiro, com a sua origem racial.
A CAIXA reafirma que, nos seus 150 anos de existência, sempre buscou retratar, em suas peças publicitárias, toda a diversidade racial que caracteriza o nosso país. Esta política pode ser reconhecida em muitas das ações de comunicação, algumas realizadas em parceria e com o apoio dos movimentos sociais e da Secretaria de Política e Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) do Governo Federal.
A CAIXA nasceu com a missão de ser o banco de todos, e jamais fez distinção entre pobres, ricos, brancos, negros, índios, homens, mulheres, jovens, idosos ou qualquer outra diferença social ou racial
Jorge Hereda
Presidente da Caixa Econômica Federal”
Voltei
Pois é… Como a democracia é chata mesmo, critiquei a propaganda e agora faço reparos à nota de Hereda. A CEF não tem de veicular um filme publicitário em que aparece um Machado branco —  porque ele não era branco — nem tem de se desculpar recorrendo à linguagem militante. Essa história de “afro-brasileiro” é discriminação às avessas. Que a turma ligada a uma causa de fundo ideológico adote o vocabulário, vá lá. Um banco público tem de ficar fora disso. Machado era um mestiço brasileiro, a exemplo de mais de 40% da população hoje em dia. E mestiços são tão “afro-brasileiros” como “euro-brasileiros”. Ou eu perdi alguma coisa? O pai do escritor era descendente de negros e brancos; a mãe era açoriana, e a “origem racial” de nosso maior escritor era uma só:  a “raça humana”.
O Brasil tem hoje algo em torno de 6% de negros, pouco mais de 44% de mestiços e pouco menos de 50% de brancos. A militância junta os dois primeiros grupos e afirma que o Brasil é um país com maioria negra. Como é que mestiço se torna “negro”? Dizem os militantes que é sua condição social que determina a classificação — condição essa que seria condicionada pelo preconceito por causa da cor da pele. É a sociologia do chute e do achismo. Ora, se esse critério fosse bom, então a propaganda da CEF estaria certa. Afinal, no que dizia respeito às condições sociais e ao prestígio de que gozava já em seu tempo, Machado pertencia à elite brasileira, composta, na sua maioria, de brancos — embora a maioria dos brancos também fosse pobre no fim do século 19… Fosse assim, a CEF não teria o que corrigir, certo? Afinal, segundo esse critério vesgo, o escritor seria, de fato, branco!
Eu pedi, como deixei claro naquele dia, que a propaganda fosse tirada do ar porque veiculava uma informação errada, que contribuía para omitir, inclusive, um dado positivo de nossa formação: uma sociedade profundamente marcada pela escravidão rendeu-se ao talento de um escritor mestiço. Existe mais preconceito de classe no Brasil do que preconceito de cor ou de origem — constatação que os racialistas detestam, sei disso.

A CEF não precisa aderir à linguagem do racialismo para fazer justiça a Machado, aos mestiços e aos negros. Basta ser fiel à história.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

PEDRA ENCANTADA


- O autor tempos atrás -
14 de maio de 1838 – 14 de maio de 2016
178 anos da hecatombe da Pedra do Reino

Para relembrar a história da Pedra, nesta data, fui cutucar nos meus arquivos e encontrei minhas primeiras anotações sobre o caso.
Meu primeiro contato com a história da Pedra Bonita, Pedra do Reino ou Pedra Encantada, se deu com essa personagem há mais de trinta anos atrás. Tempo depois se tornou, minha dissertação (TCC) no curso de História na Universidade Estadual Vale do Acaraú e atualmente estou construindo, um texto literário, remontando a genealogia dos personagens, onde só se sabe que o Antonio Pedro era um mameluco vindo da Paraíba. O resto quem viver verá...

HISTÓRIA DE PEDRA BONITA
De tanto ouvir Tatiz (Beatriz Pereira Neves) tia de minha esposa, falar sobre a batalha da Pedra do Reino me deixava tão curioso que puxava conversa com ela insistentemente até me contar religiosamente como acontecera tudo.
Naquela época já na casa dos setenta anos ou mais. Hoje, com um século de experiência vivida, lúcida e bonita, apenas o que mudou na sua vida foi sua residência. Antes morava numa casa própria, com todo conforto, onde era dona da sua vontade. Hoje, aos cuidados de médicos, alugou um apartamento no hospital do seu sobrinho para ser mais bem assistida.
Nasceu no dia 17 de janeiro de 1910 na cidade de Jardim sul do Ceará, no sítio Belo-Horizonte (em casa construída por seu pai e que ainda continua em perfeito estado de conservação, onde hoje mora minha sogra com sua família); debaixo das asas protetoras da Chapada do Araripe, onde sempre corre forte e saudável refrigério, de inverno a verão e que sustenta vários engenhos de rapadura.
Diplomada pelo Colégio das Dorotéias em Fortaleza. Voltando a sua cidade natal, ensinou a centenas de alunos no Grupo Escolar de Jardim, até à sua aposentadoria.
Toda vez que eu ia a passeio a Jardim, tinha por obrigação de visitá-la, para vê-la e para ouvi-la contar histórias verídicas da sua família: Os Pereiras: Onde tinha de Barão a Cangaceiro (Barão do Pajeú e os lendários Sinhô Pereira e Luis Padre) tinha quase tudo escrito em agendas e cadernos, mas nunca precisava deles para narrar essas histórias, sabia tudo de cor, é uma autêntica historiadora.
Um dia ela me mostrou numa agenda o que havia escrito sobre a Pedra do Reino; a qual xeroquei e transcrevo agora ipsis litteris:
Nota – Desencarnou em 2012.

Beatriz Pereira Neves
(Manuel Pereira era irmão do meu avô materno Joaquim)

Questão de Pedra Bonita – hoje Pedra do Reino
Este histórico é resultado de uma pesquisa em livro de Gustavo Barroso, Dr. Antonio Áttico de Souza Leite, Pe. Correia de Albuquerque, do vaqueiro de Manoel Pereira* (José Gomes) testemunha ocular e de minha mãe, filha de um dos combatentes.
Desde 1819 era pregado nos sertões, em versos ou falsas histórias a ressurreição de D. Sebastião, rei de Portugal, desaparecido na batalha de Alcácer Quibir. #
Perto de Vila Bela, hoje Serra Talhada e, distante mais ou menos 14 léguas da fazenda Carnaúba de Joaquim Pereira (meu avô materno) existem um cenário adequado à tragédia que se ia desenrolar.
Ali naquele sertão de solo áspero encontram-se duas torres de pedra, uma com 150 palmos ou 30 metros de altura e outra com 148 palmos ou 29 metros. Uma delas é coberta de mica brilhante, recebeu o nome de Pedra Bonita. Entre as duas, há um corredor arejado e claro. Ao pé de uma delas, larga área formada por 3 grandes lajes que se apóiam nas duas torres. Depois um amontoado de rochas com um terraço em cima. Do outro lado uma laje baixa lembrando um altar, e pouco adiante uma vasta caverna com a capacidade para 200 pessoas e em derredor muitos catolezeiros, que ao sopro do vento produzem sons que parecem verdadeiros gemidos.
No começo do ano de 1836 apareceu nesta região um caboclo chamado João Antonio dos Santos, que diziam ter vindo do Catolé do Rocha, Paraíba, o qual mostrava aos habitantes ignorantes daquelas brenhas umas pedrinhas bancas e brilhosas; dizendo serem brilhantes de uma mina oculta que descobrira. Lia também trechos em versos de um velho folheto sebastianista no qual se contava que D. Sebastião desapareceu na batalha Alcácer Quibir ressuscitaria quando se lavasse com sangue humano aquelas pedras erguidas no campo, e “quando João se casasse com Maria”, aquele reino desencantaria. Logo João Antonio casou-se com uma jovem chamada Maria, e começou a receber a maior sagacidade, dos moradores da redondeza, gado, dinheiro, etc., dizendo que seriam devolvidos em dobro, por El Rei D. Sebastião.
Seduzidos pelas promessas da mina de diamante, afluía gente de toda aquela redondeza para o local misterioso. A pedra chata começou a servir de altar. O terraço passou a ser a tribuna de onde o sagaz João Antonio pregava para o povo pulando que nem um cabrito. A caverna grande se chamava casa santa e era abrigo dos fanáticos. A pequena, o santuário. Seu próprio pai Gonçalo José dos Santos, seu irmão Pedro Antonio e seus tios e parentes Carlos Vieira e irmãos, José Maria Juca e João Filé, seus cunhados João Ferreira, acreditaram piamente e espalhava o novo credo, o mais que podia; assim foi atraindo gente de Piancó, dos Inhamúns, do Cariri, do Riacho do Navio, das duas margens do São Francisco, etc. As pessoas mais esclarecidas, alarmadas com as teorias empregadas em tais reuniões, reclamaram a presença do velho missionário Francisco José Correia de Albuquerque, pedindo nova missão. Este veio instalou-se na fazenda Cachoeira, perto da Pedra Bonita, e mandou chamar João Antonio dos Santos à sua presença, o qual depois de ouvir o padre, confessou publicamente os embustes de que lançara. Não lhe entregou as pedrinhas brilhosas, e prometeu ir embora, o que o fez, seguindo para o Rio do Peixe, daí para os Inhamúns, sendo preso anos mais tarde no interior de Minas Gerais.
Na sua ausência o seu cunhado João Ferreira, assumiu o seu lugar proclamando-se rei do reino encantado e João Antonio, embusteiro nato, de longe instruía. João Ferreira usava na cabeça uma coroa de cipó de japecanga e falava ao povo do terraço da pedra, cantando e pulando como um possesso do demônio. Em seguida levava-os para a Casa Santa onde bebiam o vinho encantado, uma composição de jurema e manacá com que se embriagam até cair.
Ali Frei Simão, que na era outro senão seu primo Manoel Vieira, que se fez de frade, fazia casamento e em seguida entregava a noiva ao Frei para ser dispensada, dispensa esta, que consistia em passar à noiva a 1ª. Noite com o Rei, que no dia seguinte a entregava ao marido, já dispensada. Terminada a bebedeira os fanáticos fumavam cachimbos para verem as riquezas, segundo dizia José Gomes, testemunha ocular, que contava também, que todos os dias seu Tio José Joaquim em companhia de outros, saia e quando voltavam por caminhos furtados traziam homens, mulheres e cães que encontravam; como sucedeu com ele.
Sempre que o rei João Ferreira pregava, dizia que seu cunhado, o rei João Antonio, estava reunindo gente no cariri, de onde, voltaria brevemente para ajudá-lo na restauração do reino e que aquele reino era encantado e só desencantaria quando as pedras e os campos vizinhos fossem banhados com o sangue de inocentes, jovens, velhos e irracionais. Isto era necessário não só para apressar a vinda de D. Sebastião, trazendo as riquezas, como também, para que as criaturas ali imoladas ressuscitassem com todas as vantagens: brancas, ricas, poderosas, moças e imortais. Os cães se levantariam como valentes dragões para devorarem aqueles que não acreditassem.      Então começou a matança que durou 3 dias: 214,15 e 16 de maio de 1838. Na manhã do dia 17 o rei João Ferreira foi destronado, porque Pedro Antonio, irmão de João Antonio, o fundador deste embuste, tremendo, subiu ao terraço da pedra e disse ter sonhado com D. Sebastião, dizendo que faltava somente a presença dele, que era o verdadeiro rei, para o reino desencantar. João Ferreira ao ouvir isto, tremia que nem vara verde e os fanáticos gritavam pedindo sua morte. Os irmãos Vieira agarraram-no e mataram-no, quebrando-lhe a cabeça e extraindo as entranhas. Seu cadáver foi atado a duas árvores fortes por causa dos berros, roncarias e dos sinistros movimentos que ele depois de morto executava com a boca, com o ventre e com os braços. Era de fato um possesso do demônio.
Então Pedro Antonio tomou a coroa e ficou sendo D. Pedro I. A estas alturas já se encontravam em derredor da pedra os cadáveres de 14 cães, 30 crianças que as mães colocavam seus corpos na pedra para serem degolados, na ânsia de vê-los ressuscitados ricos, poderosos e imortais. A idade deles ia de 10 a 8 anos. Havia também os cadáveres de 11 mulheres, estando duas com filhinhos no ventre; 12 homens que morreram de espontânea vontade, e o do rei João Ferreira atado as duas árvore.
No dia da matança fugiu dois meninos apavorados, que foram contar ao fazendeiro de Poços, Manoel Ledo, o que estava ocorrendo na Pedra Bonita. Neste mesmo dia 14 de maio, fugiu também amedrontado José Gomes, (o vaqueiro de Manoel Ferreira de Serra Talhada), que se achava sumido há vários dias e presumiam que ele estivesse lá, o que realmente aconteceu. No campo, o vaqueiro encontrou Alexandre Pereira, irmão do seu patrão (Manoel Pereira) e atemorizado que vinha gritou: não me mate seu Alexandre. Este respondeu: tu és besta, negro, que mal te posso fazer? Monta aqui na garupa do meu cavalo. O vaqueiro obedeceu e cravou-lhe um punhal nas costas.
Manoel Pereira que já era sabedor do que estava se passando na Pedra Bonita, dos roubos de gado etc. e com a morte do irmão (dia 14 de maio) no dia 18 de maio de 1838 reuniu seus oito irmãos: Antonio, Cipriano, Francisco, João, Joaquim, (meu avô materno) Sebastião, Simplício, Vitorino e alguns acostados e marcharam sem detença para Pedra Bonita. Não tiveram sorte, porque lá não havia ninguém. Os fanáticos não suportando a fedentina dos cadáveres em putrefação, haviam se retirado para uns umbuzeiros um pouco distante. Dirigiram-se para lá e deram com o rei Pedro Antonio com uma coroa de cipó de japecanga à cabeça, nu da cintura para cima, comandando grande número de homens, mulheres e meninos armados de facão e cacetes.
Os fanáticos investiram como verdadeiras feras contra aquele punhado de homens, aos gritos de: viva El Rei D. Sebastião. Travou-se luta tremenda entre o diminuto grupo de Manoel Pereira e o aluvião de endemoniados, dos quais 16 foram mortos, inclusive o próprio rei. Manoel pereira perdeu mais um irmão, Vitorino, que era coxo de uma perna e 4 acostados e houve muitos feridos da parte dos fanáticos. Os sebastianistas recuaram, mas esbarraram com a força do capitão Simplício Pereira (que não foi no grupo dos irmãos, mas pela Serra Vermelha) e chegava em marcha forçada, os atacavam pela retaguarda e deu-se a derrota completa e a maioria rendeu-se, dizendo que se entregavam a Manoel Pereira. Simplício ao saber da morte do irmão Vitorino, dos 4 acostados, além da morte de Alexandre, que o trouxera até ali, indignado, quis linchar todos os prisioneiros, mas Manoel Pereira, apesar da morte dos dois irmãos, não consentiu que tocasse num fio de cabelo dos vencidos e os entregou à justiça. Simplício ficou indignado com a atitude do irmão, mas obedeceu.
Manoel Pereira mandou chamar o Pe. Correia Albuquerque, que veio e mandou abrir grande cova, nela sepultado todas as carcaças e ossadas, diante das duas colunas de pedra e colocou sobre a sepultura grande cruz de madeira tosca.
O satânico João Antonio dos Santos criador desta idéia demoníaca que anos antes se retirara da Pedra Bonita, conforme prometera ao Pe. Correia, mas que de longe instruía os fanáticos, logo que soube do acontecimento de Pedra Bonita, levantou acampamento e mandou um recado a Manoel Pereira, dizendo que vinha voltando para a Pedra do Reino e desta vez era pra valer. Então Simplício Pereira nomeou dos homens da sua confiança, oficial de justiça, (Isidório e outro) e mandou-os ao encontro de João Antonio. Este estava num samba quando chegaram os dois cabras, prenderam-no, algemaram–no e vinham trazendo de volta, mas como a viagem era longa e fatigante, um dos homens adoeceu de maleita, com febre alta, o outro camarada, com medo de adoecer também, pois já começava a sentir ameaça da doença e temendo que o preso usasse de algum sortilégio e os matasse, combinou com o amigo e resolveram matá-lo, o que fizeram no lugar denominado, Lagoa Encantada, 3 léguas antes da Vila de xique-xique e trouxeram as duas orelhas e alguns documentos, a fim de provarem que o haviam matado.
Assim terminou o drama satânico da Pedra Bonita, hoje Pedra do Reino.

Notas sobre o croqui.

1)                25 crianças imoladas de 1 a 8 anos
2)                12 homens
3)                11 mulheres
4)                14 cães
5)                Grupo de fanáticos mortos no combate
6)                Tribuna de pedra onde o rei pregava
7)                Caverna ou casa santa
8)                Cruz de madeira tosca
9)                Catolezeiros
10)            Imbuzeiros, local do combate.
11)            Rampa da matança
12)            Cadáver do rei João Ferreira atado a duas árvores
13)            Duas torres de pedra





quinta-feira, 28 de abril de 2016

O GRANDE DESGOVERNO NO BRASIL VARONIL

O GRANDE DESGOVERNO NO BRASIL VARONIL

Grijalva maracajá Henriques

Abril, 28 de 2016




Aristófanes, meu velho Aristófanes. Parece que você viaja no tempo. Lendo, hoje, “A Paz” que você escreveu há 421 anos antes de Nosso Senhor Jesus Cristo, me confunde. Não sei se hoje foi ontem ou se você escreveu para hoje este peça sobre Trigeu. Que desejava subir aos céus num escaravelho para falar com o deus Hermes para acabar com a bagunça que estava acontecendo na velha Grécia.
Fico pensando, se fosse nos dias de hoje e desse na veneta de Lula tentar fazer o mesmo, para socorrer o governo de Dilma, (parecido com o fim do mundo que Trigeu pensava que estava prestes a acontecer) como Lula faria? Com toda classe que Helias? Subindo num carro azul de glória; como Trigeu, no escaravelho? Acho que não pelo jeitão dele, fedendo a bolor de cachaça?
Vejam que coincidência. Augusto dos Anjos escreveu em resposta a outro imbecil pelas tolices que vinha fazendo. Leiam e compare se não se parecem. Mas, caso tentasse fazê-lo – na sua insana tolice de ser rei – subiria montado num grande Rola-Bosta!
Bilhete Postal

Ilustre professor de Carta Aberta: - Almejo
Que uma alimentação a fiambre e a vinho e a queijo
Lhe fortaleça o corpo e assim lhe fortaleça
As mãos, os pés, a perna et coetera e a cabeça.
Continue a comer como um monstro no almoço
Inche como um balão, cresça como um colosso
E vá crescendo, vá crescendo e vá crescendo,
E fique do tamanho extraordinário e horrendo
Do célebre Titão e do Hércules lendário;
O seu ventre se torne um ventre extraordinário,
Cheio do cheiro ruim de fétidos resíduos,
As barrigas então de cinqüenta indivíduos
Não poderão caber na sua ampla barriga;
Não mais lhe pesará a desgraça inimiga,
O seu nome também não será mais Antonio.
Todos hão de chamá-lo o colosso, o demônio,
A maravilha das brilhantes maravilhas.
As hienas carniçais, as leoas e as novilhas,
Diante do seu vigor recuarão, e diante
Do estribado metal de sua voz atroante
Decerto correrão mansas e espavoridas.
Se as minhas orações forem, pois, atendidas,
O senhor há de ser o Teseu do universo.
Seja um gigante, pois; não faça porém, verso
de qualidade alguma e nem também me faça
Artigos tresandando a bolor e a cachaça,
Ricos de incorreções e de erros de gramática,
Tenha vergonha, esconda essa tendência asnática,
Que somente possui o seu cérebro obtuso -
Esconda-a, e nunca mais se exponha a fazer uso
Da pena, e nunca mais desenterre alfarrábios.
Os tolos, em geral, são tidos como sábios,
Que sabem calar-se e reprimir-se sabem,
O senhor é papalvo e os papalvos não cabem
No centro literário e no centro político.
Respeite-me, portanto!
O Poeta Raquítico.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

LEGIONÁRIOS

A VIDA DOS LEGIONÁRIOS ROMANOS

Durante os mais de vinte anos que durava seu serviço militar, os legionários viviam em áreas de fronteira, sujeitos a uma disciplina severa. Muito do aconteceu com estes combatentes no passado, faz parte da rotina de vários quartéis pelo mundo afora.
“Um homem que se alista no exército muda de vida completamente. Para de ser alguém que toma suas próprias decisões e embarca numa nova vida, deixando para trás a anterior”.
O grego Artemidoro de Daldis, também conhecido como Artemidoro de Éfeso, que viveu na segunda metade do século II D.C., explicou em seus escritos a mudança drástica da sua vida quando se tornou um legionário romano.
Naqueles tempos muitos queriam seguir por esse caminho, pois além da demanda por soldados ser intensa em meio a tantas guerras, a carreira oferecia muitos incentivos aos candidatos. Roma precisava a cada ano de 7.500 e 10.000 novos recrutas e a vida no exército garantia comida, abrigo e um salário que, se não fosse bem superior ao de um trabalhador livre, tinha a vantagem de ser corrigido.
Havia também atendimento de saúde, oportunidades de promoção interna, bem como certos privilégios ao lidar com processos judiciais.
Durante o serviço o combatente romano poderia aprender uma profissão, aprender a ler e escrever e receber uma melhor assistência médica do que a média dos outros romanos. Além disso, o graduado receberia uma quantia de dinheiro ou terras ao fim da carreira.
Naturalmente não faltavam exigências: o legionário devia obedecer às ordens sem contestação, onde suas faltas eram punidas com fortes castigos corporais e a pena de morte era aplicada sem grandes opções de defesa. Também eles não podiam se casar legalmente, embora na prática muitos soldados tivessem mulheres e filhos não reconhecidos oficialmente.
A vida no campo
Tal como hoje em qualquer exército, para um homem entrar numa Legião Romana (Romana Legio, em latim) tinha de cumprir uma série de requisitos verificados pelos oficiais de recrutamento. Como o serviço durava cerca de vinte e cinco anos, o candidato tinha de ser jovem, com não mais de vinte anos de idade. Era dada preferência aos homens do campo, porque eles viviam em condições duras e eram naturalmente preparados ​​para aguentar mais facilmente os rigores da vida militar.
A altura ideal de um recruta para infantaria, ou cavalaria, variou entre 1,72 e 1,77 metros de altura, embora não eram rejeitados aqueles mais baixos, mas tinham que ser fortemente constituídos. No final do Império a exigência de altura caiu para 1,65.
Uma certa simplicidade e ignorância também eram necessários a este militar, com vista as fileiras não terem homens que questionassem as ordens recebidas. Mas, para ocupar cargos administrativos, isso não excluía alguns recrutas que tivessem educação em letras e números.
Era muito valioso para as Legiões aqueles que trouxessem da vida civil uma profissão e habilidades úteis para a vida nos acampamentos, como ferreiros, carpinteiros e caçadores. Alguns fizeram uso de cartas de recomendação escritas por pessoas influentes, em que as suas competências foram exaltadas.
Após o recrutamento o legionário estava destinado a sua unidade, inicialmente em um pequeno quartel localizado nas brenhas do Império Romano, onde o novo militar viveria de uma forma totalmente diferente do ambiente civil.
Estes aquartelamentos tinham uma estrutura comum, embora cada um pudesse apresentar as suas próprias particularidades.
Normalmente sua forma era retangular e sua extensão cobria cerca de vinte ou vinte e cinco hectares. Havia duas ruas principais: a via principalis, que ficava no centro e nas laterais do campo; e a via praetoria, que era a entrada principal, que seguia até o coração do acampamento. No centro geralmente ficava a sede administrativa da unidade militar, o comando. No mesmo ponto poderia haver uma grande praça, um pórtico, ou um templo. Este último era o espaço mais prestigiado, onde altares, estátuas e bustos de imperadores ficavam expostos e mantidos, além dos padrões e a águia que representava a Legião.
Ao lado destas dependências normalmente ficava a residência do comandante, sempre de qualidade superior, onde este vivia com sua família e sua comitiva de escravos. Aos centuriões e legionários sobravam as dependências comuns e coletivas do quartel.
O hospital (do latim “hospes”, que significa hóspede, dando origem a “hospitalis” e a “hospitium”) era um edifício essencial.
Ali era comum a presença dos soldados atingidos por ferimentos de combate ou, mais comumente, por doenças e acidentes da dura rotina diária. O hospital costumava ter um pátio central, em torno do qual os alojamentos para os enfermos estavam prontos. Os militares eram assistidos por médicos militares com certo grau de profissionalismo. As descobertas de instrumentos médicos e informações de receitas criadas por médicos militares indicam uma maior qualidade de cuidados que os militares recebiam em relação a um civil que não tinham recursos para pagar um médico particular.
Muitos soldados viviam em longos barracões, onde era normal serem alojados cerca de cinquenta homens, que por sua vez eram subdivididos em grupos de dez. Cada um desses grupos, chamados Contubérnio, tinha duas pequenas salas, com cerca de cinco metros quadrados cada: uma para a guarda de bens pessoais e armas e outra que servia como dormitório.
Embora possa parecer um pequeno lugar para viver, era muitas vezes melhor do que as condições de habitação que viviam os civis romanos de baixa renda. Mas também na maioria das vezes os soldados estavam sempre em suas tarefas diárias fora do quartel.
O centurião tinha o seu alojamento em quartos mais espaçosos, em uma extremidade da unidade militar e sua missão era comandar. Muitos centuriões buscavam uma positiva convivência com seus homens nos quarteis, mas muitos agiam duramente e com muita brutalidade e arbitrariedade. Alguns centuriões utilizavam pedaços de madeira para punir adequadamente as faltas dos soldados, ou durante os treinamentos. O historiador Públio Cornélio Tácito, ou simplesmente Tácito, deixou escrito a história de um centurião chamado Lucílio, extremamente cruel com seus comandados. Este costumava quebrar fortes pedaços de pau nas costas dos subordinados como forma de disciplinar. Era tão cruel que foi morto em um motim.
Um suborno no momento certo poderia fornecer benefícios, como uma folga desejada, expandir uma já concedida, ou fazer com que o soldado recebesse tarefas mais confortáveis. Em uma carta de um soldado chamado Claudio Terenciano Mauro, atestava que no exército “nada era conseguido sem dinheiro”.
Tarefas e manobras
Ficaram cuidadosamente registradas para a posteridade as atividades diárias da Terceira Legião. Este grupo militar ficava baseado na região da Cirenaica, na costa oriental da moderna Líbia e as informações que chegaram até nossos dias consistia das atividades dos soldados durante os primeiros dez dias de um mês de outubro, no final do primeiro século D.C..
Tal como nos atuais quarteis pelo mundo afora, era dada muita importância aos turnos de guarda, aos componentes da vigilância do aquartelamento, da disposição dos homens na área, etc.
Havia legionários que eram responsáveis ​​pela manutenção dos calçados, armas, latrinas e banheiros. Outros realizavam escoltas de oficiais, em tarefas fora do acampamento, ou executando patrulhas nas estradas.
Além de tarefas individuais os soldados treinavam muito, tanto de maneira individual, ou em grupo. Realizavam pesadas marchas de desempenho e formação de grupos de ataque e defesa. Os vários exercícios e manobras eram realizados com tal rigor que no primeiro século D.C., o historiador judeu Flávio Josefo comentou admirado que os exercícios pouco diferissem da própria guerra, onde cada soldado se exercitava todos os dias, com a maior intensidade possível.
Comida, entretenimento e religião.
Legionários faziam duas refeições por dia: café da manhã (prandium) e jantar (jantar), o principal, no final do dia. A dieta básica de um legionário consistia basicamente de cereais (principalmente trigo), carne, verduras, legumes, lentilha e feijão. A caça e a pesca realizadas próximo aos acampamentos poderiam contribuir para uma melhor alimentação. Às vezes os soldados pediam nas cartas aos seus familiares que estes lhes enviassem comida extra. Os oficiais tinham uma maior variedade, qualidade e quantidade de alimentos. Para beber havia água, cerveja e vinho azedo. O fato de cozinhar e comer juntos proporcionava muita camaradagem entre os soldados romanos.
O legionário tinha várias opções para aproveitar seu tempo livre. Uma delas era os locais de banho, como as fontes, rios e lagos próximos aos acampamentos. Eram locais adequados não só para a higiene e descanso, mas também para a vida social e jogos de azar.
Eles poderiam ir para as comunidades que surgiam na sombra dos grandes aquartelamentos, que foram chamados canabae. Havia sempre os comerciantes ansiosos para aliviar os bolsos dos legionários, tabernas para beber, jogar e até os prostíbulos. Mas nestas comunidades também viviam as famílias dos legionários, embora pareça que estes também pudessem ter habitado dentro dos acampamentos.
Estes locais tornaram-se ao longo do tempo as vici (aldeias) e deram origem a cidades. Alguns acampamentos possuíam um anfiteatro, como em Caerleon (ao norte da cidade de Newport, Gales do Sul, Grã-Bretanha), em que, além de lutas de gladiadores, ou caçar animais selvagens, eram realizadas paradas militares e exibições de lutas pelos próprios legionários.
O exército romano não negligenciava a vida religiosa de seus soldados, o que servia como um aglutinador entre as pessoas de diversas origens e favorecia o equilíbrio pessoal. Cerimônias religiosas em honra dos deuses e divindades oficiais, como Júpiter, eram incentivadas. Os feriados religiosos eram também uma válvula de escape para a rotina diária e permitia alguma flexibilização dos costumes. Oficiais, ao lado dos simples soldados, podiam adorar os deuses em particular harmonia.
A fim de alcançar a adesão e lealdade dos legionários a Roma e ao imperador que estava no poder, eram comuns as festas pela ocasião do aniversário do imperador, ou a celebração da fundação de Roma.
Como um incentivo em sua vida militar o legionário romano tinha um salário regular, que sob o Imperador Augusto ascendeu a 225 pence por ano. Este montante que aumentou gradualmente à medida que o avanço do Império Romano foi acontecendo. Embora neste pagamento houvesse deduções ocasionadas pela alimentação, manutenção de equipamentos e outras despesas, aparentemente muitos soldados conseguiam economizar até vinte e cinco por cento do salário anual. Além disso, o aumento no efetivo do exército implicou em um aumento considerável no dinheiro circulante nos quartéis salário, fazendo com que um centurião pudesse ganhar mais com subornos pagos pelo maior número de soldados.
Como a renda adicional os legionários tinham ocasionalmente contribuições extraordinárias pagas pelos imperadores. Isso acontecia por vontade dos mandatários romanos, por vitórias, ou em ocasiões especiais. Nestas ocasiões as tropas foram pagas proporcionalmente, de acordo com a patente militar.
O prêmio de uma vida de serviço
Afora a morte, que não era algo nada excepcional naqueles tempos, existiam três maneiras do militar de deixar a sua Legião.
O primeiro era resultado de uma grave doença, ou lesão que deixava o combatente inútil para o exército. A chamada (missio causaria). Nesse caso, tal como hoje, o legionário era licenciado após um rigoroso exame de sua condição.
O segundo caso era por haver cometido atos criminosos que provocavam a sua dispensa desonrosa e desqualificação de qualquer serviço imperial. Conhecida como (missio ignominiosa).
Por fim havia os legionários, cerca de metade do efetivo, que conseguiram sobreviver aos vinte e cinco anos, ou mais, de serviço e eram licenciados com honra (missio honesto).
Uma vez licenciados estes homens tinham uma série de direitos e privilégios como cidadãos e veteranos.
Eles estavam isentos de muitos impostos e recebiam um tratamento preferencial em relação à justiça. Se quisessem eles também poderiam legalizar seu estado civil. Estes combatentes recebiam um documento escrito, que declarava a sua dispensa. Alguns destes militares se destacavam tanto que recebia um diploma de bronze, com o detalhamento do seu status legal como soldado veterano.
O licenciamento permitia aos legionários “voltarem para suas casas”. Mas muitos não voltavam para lugar algum, pois durante a sua vida aquilo que significava “casa” sempre foram seus quartéis.
Muitos receberam terras perto de seus acampamentos, ou na região onde eles tinham servido. As parcelas de terras reservadas para cada licenciado eram delimitadas por técnicos agrários, em um processo chamado centuriação. Isso era interessante, especialmente se eles tinham casado com mulheres das regiões dos aquartelamentos.
Aqueles que tinham sido centuriões poderiam desfrutar de uma boa posição na cidade onde eles decidiram fixar sua residência e até atingir os mais altos escalões do judiciário local. Outros investiam suas economias visando abrir um negócio; por exemplo, a venda de cerâmica, ou espadas.
Mas diferentemente dos centuriões, os legionários veteranos, mesmo com certos reconhecimentos por parte do Império, normalmente tinha uma vida muito dura no fim de sua existência. Na maioria dos casos muitos terminavam com o corpo mutilado pelas feridas, com saúde limitada, recebendo salários miseráveis ​​que recebiam em troca de uma vida de dedicação e lutas. Mas, por incrível que possa parecer, estes soldados viviam melhor do que muitos civis pobres do Império Romano.
29/03/2016 ROSTAND MEDEIROS           
Fonte – http://www.wikiwand.com/