terça-feira, 20 de setembro de 2016

ANIVERSÁRIO DE MEU PAI

Vinte de setembro. Relembrando esta data, me lembrei de Raimundo Correia, quando bateu a saudade:
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... Mais outra... Enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bandos e em revoada...

Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.

Cento e quinze anos faz hoje que nasceu meu pai – João Henriques da Silva.  Parece que estou vendo como se meu lar fosse um pombal e minha família em revoada partindo para outros sítios sem querer voltar, como os sonhos.

Partiu primeiro minha irmã Níobe, se avexou, não sei por que tanta pressa, ainda tinha tanto que fazer.
Depois lá se foi o Robério. Eita danado! Os cabras, seus leitores ficaram virado na peste. Reclamando das suas crônicas inteligentes.
 Aí quase beirando os cento e dois anos, partiu o Dr. João. Acho que realmente havia cumprido sua missão, já era tempo mesmo, já não aguentava ser mandado por ninguém.
De saudade; pouco tempo depois voou minha mãe, quase setenta e cinco anos de casada, e, como os pombos, não podiam jamais se separar, pois são monógamos, lá se foi ela atrás dele.
Não demorou muito, corre o Parsival a procurá-los, achando que os traria de volta. Também; não podia ir mais a rua trocar seus relógios. Desistiu!
Pela escala de idade, vivo dizendo que quem vai agora é minha irmã Ceres, mas se dana logo e diz que não pode, pois tem que ainda regurgitar para seus filhotes, - cada um mais velho do que ela.
 Isis a mais nova, fim de rama, não posso prever, apenas seguimos a ideia de que primeiro parte os mais velhos, então vamos deixar que o tempo se arrume com ela.
Aí fico eu, morrendo de inveja deles juntos lá em cima, e de saudade também, doido pra da um voo solo, e com medo de deixar meu poleiro sem ter cumprido minhas obrigações. 
Ah! Se a gente pudesse dominar o destino e previr o futuro! Mas seria bom? Como a gente iria enfrentar as presepadas do passado que deixamos de acertar contas? Era bom se Jesus tivesse resolvido deixar Lázaro vir contar pra gente. Nos dias de hoje era até fácil, danava um e-mail pro céu e rapidinho vinha à resposta, em forma de boleto, com todos os dados pra gente pagar, nalgum banco aqui da terra, ou nas prisões do dia a dia neste mundo de meu Deus.

Campina Grande, 20 de setembro de 2016
Grijalva Maracajá Henriques



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