O TESTE DA BONECA
BRANCA E DA BONECA PRETA
Nos anos 50, no contexto de uma América ainda
fortemente segregacionista, o psicólogo Kenneth Clark realizou uma experiência
com crianças negras destinadas a medir o impacto que o racismo tinha na
autoimagem delas.
Estas crianças tinham de escolher entre uma boneca
branca e uma boneca negra, em tudo semelhantes exceto na cor da pele.
Mais de 50 anos volvidos, será que Clark obteria
resultados muito diferentes?
Testes recentes revelam resultados deveras
preocupantes…
No vídeo que mostra a realização dos testes,
ouve-se uma voz a perguntar a uma menina negra com que boneca prefere brincar.
A menina pega na boneca branca.
A maioria das crianças negras que foram submetidas
a este teste escolhe sempre a boneca branca. E quando se pergunta às poucas que
escolheram a boneca negra qual é a boneca mais simpática, elas indicam sempre a
boneca branca.
O psicólogo pergunta-lhes, então, por que razão a
boneca branca é a mais simpática.
— Porque é branca — respondem.
Quando se pergunta a uma das crianças que escolheram
a boneca branca qual é a boneca que tem aspeto de ser mais malcomportada, a
criança pega na negra.
— Por que razão tem ela o aspeto de malcomportada?—
pergunta-lhe o psicólogo.
— Porque é negra — responde a criança.
— Porque achas que a outra é simpática? —
pergunta-lhe o psicólogo.
— Porque é branca — responde a criança.
— Podes mostrar-me qual delas se parece mais contigo?
— pede o psicólogo.
A criança empurra a boneca negra na direção dele.
O teste foi realizado com 21 crianças negras, 15
das quais preferiu a boneca branca.
Será que nos damos conta da influência que temos
sobre as crianças e a imagem que elas têm de si próprias?
A aprendizagem da tolerância e do amor começa desde
muito cedo. Contudo, embora nasçamos todos iguais, são as circunstâncias
envolventes que acabam por influenciar as personalidades, as crenças, os
valores e os comportamentos.
Ofereçamos às nossas crianças mais oportunidades de
sucesso na vida!
Mão branca, mão preta
Esta manhã veio mais um menino para a minha sala de
aula.
Tem a pele negra.
Chegou com a neve!
A neve é branca, e ele preto.
Ficou sentado ao meu lado e chama-se Mamadu.
Eu chamo-me Romeu.
Quis tocar na mão dele com a minha.
Olhou para mim com a brancura dos seus olhos e
sorriu.
E eu disse-lhe:
— Queres brincar?
Levantou-se e respondeu-me algo que não percebi.
Como era hora do recreio, fomos todos lá para fora.
Caminhámos na neve, e os nossos passos deixavam
marcas…
Que lindo!
Depois, Mamadu pôs uma mão na neve.
Voltou a deixar marcas, cinco dedos, mas não tinham
nada de negro.
A seguir, pus eu a minha mão na neve.
Ficou uma marca igual à dele. E rimo-nos tanto!
Assim, brincámos à vez…
Mão preta, mão branca, mão preta, mão branca…
Parecia uma estrada feita de dedadas, todas elas
iguais.
E eu disse:
— É o país das dedadas!
Mamadu desatou a rir.
Depois, o sol derreteu a neve e o nosso país desapareceu.
Certamente engolido pela erva do pátio!
Amanhã, brincaremos de novo, no recreio.
Agora tenho mais um amigo, Mamadu.
Amanhã, se voltar a nevar, brincaremos de novo à
mão branca, mão preta.
Será o planeta de dedadas, se os nossos colegas não
o calcarem.
Mão branca, mão preta.
Jacqueline Favreau
Main blanche main
noire
Paris, Éditions
L’Harmattan, 2002
(Tradução e adaptação)
Publicado em Cultura Por Vavá da Luz em 8 de junho de 2015
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