PEDRA DO REINO
Grijalva Maracajá
Henriques**
TEMPOS MORTOS
Reportagem do passado
Tragédia na Pedra do Reino
Maio de 1838
Pedras.
Silenciosas testemunhas, da extravagante força da fé de um povo, isolado,
pobre, faminto, - d’água, comida e esperança, - recorreram ao imaginário para
aliviar as frustrações que a realidade lhes impôs. Influenciados por idéias antigas de um esquisito
filho de índia e um aventureiro; que usou da fé religiosa, associado a uma
fracassada vontade de ser um paladino para praticar, através da lenda
sebastianista, verdadeira loucura, até então nunca vista, e criar seu próprio
reino do centro do Sertão Nordestino. As torres para ele eram catedrais, faróis
que iriam iluminar seu pretenso reino, e que ao mesmo tempo desencantar o reino
perdido de D. Sebastião, para quando este surgisse magnanimamente desencantado,
pelo menos, o elevasse como uns dos seus príncipes guerreiros.
No dia 14 de maio de 1838, faz
exatamente 175 anos, que teve início à matança discriminada de crianças,
adultos e até cachorros para acalmar a consciência esquizofrênica de um
mameluco, e seus parentes, como uma espécie de “epidemia vesânica de caráter
religioso” ou “loucura transmitida às multidões” que os acompanhavam, como
dizia Nina Rodrigues, “uma loucura epidêmica.”
Fôra mais ou menos assim que
tomei conhecimento pela primeira vez, através de uma tia de minha esposa:
Beatriz Pereira Neves, historiadora moradora de Jardim – Ceará, filha de uma
das testemunhas que assistiu a chegada do vaqueiro-fugitivo, na fazenda de seu
tio o Major Manuel Pereira da Silva, que com seus irmãos e amigos colocaram fim
naquela absurda matança ocorrido entres os dias 14 a 18 de maio de 1838.
Como estudante no curso de
Licenciatura em História, logo me apaixonei pelo tema. Fiz entrevista com a
dona Tatiz, (gravada em fita cassete) conversei bastante com o ilustre
Médico/Historiador Napoleão Tavares Neves de Barbalha - Ceará, também da
família Pereira, que gentilmente enviou todo material pertinente a genealogia
dos Pereiras e principalmente dos fatos da Pedra Bonita.
Tomei coragem e nos desviamos do
roteiro inicial que íamos e nos aventuramos por estradas carroçáveis entre São
José de Belmonte e o reino encantado para redescobrir as curiosas pedras.
Realmente são encantadoras (também acho que tem alguém encantado por lá...)
passei uma manhã tirando fotos e pisando de leve para não abafar e talvez ouvir
sons que não fossem das folhas dos catolezeiros: como choro de criança, latidos
agoniados de cães, gritos de “Viva El Rei”, berreiros de homens e mulheres
sendo trucidados, pelos Ferreiras, primos e irmãos do primeiro “rei” da Serra
Formosa.
Resolvi então pesquisar mais
profundamente as causas que levou a tanta violência o sebastianismo no
Nordeste. Achei várias interpretações sociais, políticas, culturais e outras
mais. No entanto, findei optando por um caminho que me conduziu ao meu Artigo Científico no curso de
Especialização em História do Brasil e da Paraíba, no momento oportuno
apresentarei e postarei neste mesmo blog.
*Nas fotos aparecem o autor, sua esposa e filha.
**O autor é historiador e pesquisar.
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