sábado, 28 de fevereiro de 2015

CACO BARCELLOS



Sr. Caco Barcellos

Talvez não devesse na minha condição de profissional qualificada, lhe tratar com tanta deferência, mesmo estando consciente da sua total falta de respeito com todos os policiais militares brasileiros e falta de isenção naquilo que se propõe a fazer...
Fico me perguntando até onde essas emissoras desqualificadas que dispõe de força com a mídia vão montar tribunais empíricos, elaborando julgamentos injustos, tendenciosos e condenando gratuitamente , sem conhecimento algum, profissionais que na minha parca visão, assumem o importante papel de heróis sem justa causa!!!
Agora entendo sua predileção pelo papel das "vítimas da polícia", pois tive acesso a sua obra ABUSADO, que gira em torno do mundo maravilhoso do crime que fatalmente lhe encantou...
Senhor repórter, na falta do que fazer e divulgar , suas ações só conseguem atingir homens e mulheres de vergonha e coragem que escolheram "ser polícia" até para defender pessoas da sua estirpe!!!
A busca desesperada por audiência está lhe levando a insanidade total, melhor não se acostumar...nossos resultados certamente são bem maiores e seus equipamentos ínfimos claramente não tem condições de captar!!
Só espero que não precise da polícia que mata....seria vergonhoso da sua parte, ter que recorrer aos super heróis dos quadrinhos e da sua televisão.....ledo engano, são empíricos,infantis e ilusórios!!!
Pertencemos ao quadro de efetivo de uma força maravilhosa de enfrentamento social...polícia militar, exigimos respeito!!!
Por fim , da nossa maneira, solicitamos que nos faça uma grande gentileza...ao se reportar a nossa SAGRADA INSTITUIÇÃO lave sua boca com bastante sabão e um bom desinfetante, talvez assim se permita apenas elogios...isso é o que merecemos por ter nas nossas mentes, no nosso sangue, na nossa vida incutido que...NASCEMOS PARA SER POLÍCIA ...
O senhor certamente NUNCA SERÁ !!!
Força e Honra!"

Tenente Coronel - Conceição Antero

Polícia Militar de Pernambuco

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

70 ANOS DE MONTE CASTELO


SETENTA ANOS DA BATALHA DE MONTE CASTELO PELA FEB

A Batalha de Monte Castelo (ou Monte Castello) foi travada ao final da Segunda Guerra Mundial, entre as tropas aliadas e as forças do Exército Alemão, que tentavam conter o seu avanço no Norte da Itália. Esta batalha marcou a presença da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no conflito. A batalha arrastou-se por três meses, de 24 de novembro de 1944 a 21 de fevereiro de 1945, durante os quais se efetuaram seis ataques, com grande número de baixas brasileiras devido a vários fatores. Quatro dos ataques não tiveram êxito, por falhas de estratégia.
Monte situado a 61,3 km a sudoeste de Bolonha (monumento ai Caduti Brasiliani), via Località Abetaia (SP623), próximo a Abetaia. Coordenadas 44.221799°N 10.954227°E, a 977 m de altitude, nos Apeninos setentrionais, entre as regiões Toscana e Emília-Romanha. A batalha de Monte Castello está inserida na 2ª fase da Operação de Rompimento da Linha Gótica (no setor de responsabilidade do IV Corpo do V exército americano), na Campanha da Itália.
Em novembro de 1944 a 1ª DIE, após cumprir as missões a ela delegadas na frente de batalha no vale do rio Serchio (aonde vinha combatendo há cerca de dois meses), foi enviada para a frente do rio Reno, na base dos Apeninos setentrionais, na divisa central das regiões Toscana e Emília-Romanha. Neste ponto da Linha Gótica, num perímetro que tinha um raio aproximado de 20 quilômetros, cobrindo uma área que tinha à frente montanhas sob controle dos alemães, o general Mascarenhas de Moraes montou seu quartel-general avançado, na localidade de Porretta Terme.
As posições de artilharia alemãs eram consideradas privilegiadas, submetendo os aliados à uma vigilância constante, dificultando qualquer avanço em direção à Bolonha e ao Vale do Pó. Estimativas davam conta que o inverno seria rigoroso, complicando a situação que no outono, já havia se degenerado devido às chuvas que transformaram as estradas já esburacadas pelos bombardeiros aliados, em lamaçais.
O general Mark Clark, comandante das Forças Aliadas na Itália, pretendia liberar com o IV Corpo de exército (do qual a divisão brasileira fazia parte), o caminho do 8º Exército Britânico rumo à Bolonha, antes que as primeiras nevascas começassem a cair. Entretanto, o complexo de defesas formado pelos alemães em torno de Monte Castello, (Lizzano in) Belvedere, Monte Della Toraccia, Castelnuovo (di Vergato), Torre di Nerone e Castel D'Aiano, se mostrou extremamente resistente.
 A frente italiana estava sob a responsabilidade do Grupo de Exércitos C, sob o comando do general Oberst Heinrich von Vietinghoff. A ele estavam subordinados três exércitos alemães: 10º, 14º e "Exército da Ligúria", este último defendendo a fronteira com a França. O 14º era composto pelo 14º Corpo Panzer e pelo 51º Corpo de Montanha. Dentro do 51º Corpo estava a 232ª DI Alemã, sob o comando do tenente-general Eccard Freiherr von Gablenz, um veterano de Stalingrado.
A 232ª foi ativada a 22 de junho de 1944, sendo formada por uma mescla de recém recrutados e veteranos da frente russa. Era composta por três regimentos de infantaria (1043º, 1044º e 1045º), cada um com apenas dois batalhões, mais um batalhão de fuzileiros (batalhão de reconhecimento) e um regimento de artilharia com 4 grupos, além de unidades menores. Esta formação totalizava cerca de 9.000 homens. A idade da tropa variava entre 17 e 40 anos e os soldados mais jovens e aptos foram concentrados no batalhão de fuzileiros. Durante o final de 1944, esta unidade foi reforçada com elementos do 4º Batalhão de Montanha (Mittenwald), além de membros das 1ª Divisão SS e 1ª Divisão de Paráquedistas.
Campanha da FEB
Como se constatou posteriormente, uma DI (divisão de infantaria) era tropa insuficiente para uma missão daquela magnitude naquelas condições e terreno. No entanto, como o comando aliado na Itália carecia de tropas e mantinha o objetivo de atingir Bolonha antes do Natal, assim foi determinado. Em 24 de novembro, o Esquadrão de Reconhecimento e o 3º Batalhão do 6º Regimento de Infantaria da 1ª DIE juntaram-se à Força-Tarefa 45 dos Estados Unidos para a primeira investida ao monte Castello.
 No segundo dia de ataques tudo indicava que a operação seria exitosa: soldados americanos chegaram até a alcançar o cume do monte Castello, depois de conquistarem o vizinho Monte Belvedere. Entretanto, em uma contra-ofensiva poderosa, os homens da 232ª DI germânica, responsável pela defesa dos montes Castello e Della Torracia, recuperaram as posições perdidas, obrigando os soldados brasileiros e americanos a abandonar as posições já conquistadas - com exceção do monte Belvedere.
Em 29 de novembro, planejou-se o 2º ataque ao monte. Nesta contra-ofensiva a formação de ataque seria quase em sua totalidade obra da 1ª DIE - com três batalhões - contando apenas com o suporte de três pelotões de tanques americanos. Todavia, um fato imprevisto ocorrido na véspera da investida comprometeria os planos: na noite do dia 28, os alemães haviam efetuado em contra-ataque contra o monte Belvedere, tomando a posição dos americanos e deixando descoberto o flanco esquerdo do aliados.
Inicialmente a DIE pensou em adiar o ataque, porém as tropas já haviam ocupado suas posições e deste modo a estratégia foi mantida. Às 7 horas uma nova tentativa foi efetuada.
As condições do tempo mostravam-se extremamente severas: chuva e céu encoberto impediam o apoio da força aérea e a lama praticamente inviabilizava a participação de tanques. O grupamento do general Zenóbio da Costa no início conseguiu um bom avanço, mas o contra-ataque alemão foi violento. Os soldados alemães dos 1.043º, 1.044º e 1.045º regimentos de infantaria barraram os avanços dos soldados. No fim da tarde, os dois batalhões brasileiros voltaram à estaca zero.
Em 5 de dezembro, o general Mascarenhas recebe uma ordem do 4º Corpo de que "caberia à DIE capturar e manter o cume do Monte Della Torracia - Monte Belvedere." Ou seja, depois de duas tentativas frustradas, Monte Castello ainda era o objetivo principal da próxima ofensiva brasileira, a qual havia sido adiada por uma semana.
Mas em 12 de dezembro de 1944, a operação foi efetivada, data que seria lembrada pela FEB como uma das mais violentas enfrentadas pela tropas brasileiras no teatro de operações na Itália. Com as mesmas condições meteorológicas da investida anterior, o 2º e o 3º batalhões do 1º Regimento de Infantaria fizeram, inicialmente, milagres. Houve inicialmente algumas posições conquistadas, mas o pesado fogo da artilharia alemã fazia suas baixas. Mais uma vez a tentativa de conquista se mostrou infrutífera e, o pior, causando 150 baixas, sendo que 20 soldados brasileiros haviam sido mortos.
A lição serviu para reforçar a convicção de Mascarenhas de que o monte Castello só seria tomado dos alemães se toda a divisão fosse empregada no ataque - e não apenas alguns batalhões, como vinha ordenando o 5º Exército. Somente em 19 de fevereiro de 1945, após a melhora do inverno o comando do 5º Exército determinou o início de uma nova ofensiva para a conquista do monte. Tal ofensiva denominada de Operação Encore utilizaria as tropas da 10ª Divisão de Montanha americana e da 1ª DIE.
Desta vez a tática utilizada, seria a mesma idealizada por Mascarenhas de Moraes em 19 de novembro, utilizando duas divisões. Assim, em 20 de fevereiro, as tropas da Força Expedicionária Brasileira apresentaram-se em posição de combate, com seus três regimentos prontos para partir rumo ao monte Castello. À esquerda do grupamento brasileiro, o avanço seria iniciado em 18 de fevereiro pela 10ª Divisão de Montanha dos Estados Unidos, tropa de elite, que tinha como responsabilidade tomar o monte Belvedere e garantir, dessa forma, a proteção do flanco mais vulnerável do setor. A resistência alemã se fez mais uma vez presente, e a 10ª Divisão de Montanha americana não tinha assegurado suas posições, assim o ataque brasileiro ao Castello se fazia imprescindível. Tal ataque começou ao amanhecer do dia 21 de fevereiro, com o Batalhão Uzeda seguindo pela direita, o Batalhão Franklin na direção frontal ao monte, e o Batalhão Sizeno Sarmento aguardando nas posições privilegiadas que alcançara durante a noite, o momento de juntar-se aos outros dois batalhões. Conforme descrito no plano Encore, os brasileiros deveriam chegar ao topo do monte Castello no máximo ao entardecer, após a tomada do Monte Della Torracia ser executada pela 10ª Divisão de Montanha, de tal modo o comando do IV Corpo estava certo de que o Castello não seria tomado antes do Della Torracia. Entretanto, às 17h30, quando os primeiros soldados do Batalhão Franklin do 1º Regimento conquistaram o cume do monte Castello, os americanos ainda não haviam vencido a resistência alemã, só o fazendo noite adentro, quando com a ajuda de alguns elementos brasileiros que já haviam completado sua missão. Grande parte do sucesso da ofensiva foi creditada à Artilharia Divisionária, comandada pelo general Cordeiro de Farias, que entre 16h e 17h do dia 22, efetuou um fogo de barragem perfeito contra o cume do monte Castello, permitindo a movimentação das tropas brasileiras.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Monte_Castello



FEB COMEMORA EM BH 70 ANOS DE BATALHA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Inexperiência, frio, posicionamento desfavorável... Não bastassem os tradicionais desafios de uma guerra, os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) acumulavam uma série de adversidades no combate por Monte Castelo, na Itália. Mas não sucumbiram. Depois de exaustivo combate entre 24 de novembro e 21 de fevereiro, a maior parte deles no inverno europeu, as tropas brasileiras conseguiram derrubar os soldados dos exércitos nazi-fascistas de Itália e Alemanha, dando passo importante em pleno território inimigo. A tomada de Monte Castelo, considerada fundamental para o avanço dos Aliados rumo a Bolonha, completa hoje 70 anos. Uma cerimônia em Belo Horizonte vai homenagear os veteranos de guerra.
Na parte baixa do Monte Castelo, os soldados brasileiros tinham a missão de derrubar as tropas inimigas para permitir o avanço das forças aliadas. Mas a ofensiva tinha a complexa missão de dominar o adversário, que estava em posição bastante favorável. Tanto é assim que as primeiras tentativas de ataque fracassaram. Por três vezes, os brasileiros foram batidos por alemães. Assim, o objetivo de dominar a região antes do inverno não vingou.
Em um dos ataques, o então cabo João Batista Moreira acompanhava a infantaria, mas, num erro de comunicação, os disparos da artilharia, que vinham logo atrás, acertavam o soldados do mesmo exército. Ele então foi designado pelo comandante a avisar o problema aos soldados da artilharia. “Moreira, você vai morrer, mas vai salvar a companhia”, disse o comandante. Em velocidade, ele aproveitava os buracos no solo feitos pela bombas de 155 mm do exército alemão para esconder-se entre um avanço e outro. “Uma bomba não pode cair duas vezes no mesmo lugar”, diz ele hoje, aos 92 anos, com os resultados da bateria de exames necessários para visitar a Itália durante a comemoração de 70 anos do fim da guerra. Todo o esforço garantiu sobrevida aos militares da FEB. Apesar da valentia demonstrada em mais de uma ocasião, Moreira não pôde fazer muito ao ver de perto Frei Orlando ser morto com um tiro no peito depois de um disparo sem querer de um capitão brasileiro.
Beto Novaes/EM/D.A Press
A partir de dezembro, além dos exércitos inimigos, os brasileiros tiveram que enfrentar um outro oponente tão letal quanto o armamento italiano e alemão. Aos 93 anos, o tenente reformado Geraldo Campos Taitson recorda-se de temperaturas muito abaixo de zero. Os termômetros marcaram até 18 graus negativos. Para isso, os pracinhas adotavam estratégias para resistir ao frio. À época soldado, ele lembra-se de, nas proximidades do Monte Castelo, ter ocupado uma casa abandonada por italianos e arrancado todas as portas internas. Depois disso, eles atearam fogo para aquecer os soldados brasileiros. Mas, com o rigor militar, o capitão exigiu que os pracinhas ressarcissem a família proprietária do imóvel pela destruição das portas e demais avarias.
EXEMPLO Os pracinhas cavavam buracos no solo para formar os chamados fox holes (tocas de raposa). Lá se enterravam a meio corpo por horas. Sob o risco de ocorrência do “pé de trincheira” (congelamentos de dedos e pés), soldados brasileiros passaram a usar uma galocha com feno em vez do coturno para facilitar a circulação. Dado o sucesso da inovação brasileira, soldados norte-americanos adotaram o mesmo para evitar a perda de membros. “Acostumados a bater enxada no Ceará, o nosso soldado foi para um frio de menos 10 graus”, afirma o vice-presidente da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (Anvfeb), Marcos Moretzsohn Renault Coelho. Outro exemplo para os Aliados foi o fato de brasileiros negros e brancos sentarem lado a lado para almoçar e fazer qualquer tipo de atividade, diz Renault. Segundo ele, isso serviu de exemplo para a tropa americana.
Beto Novaes/EM/D.A Press
João Batista Moreira, então cabo, ajudou a salvar uma companhia
Em 21 de fevereiro, depois de mais de 10 horas de combate, os brasileiros conseguiram derrotar os adversários. Monte Castelo estava sob domínio das forças aliadas. “A tomada de Monte Castelo foi parte da ofensiva dos aliados para avançar sobre as posições alemãs na Itália, especificamente na região montanhosa dos Apeninos. A conquista brasileira deve ser vista em contexto mais amplo, já que a FEB era uma pequena unidade lutando ao lado de tropas aliadas muito mais numerosas”, afirma o professor do departamento de história da UFMG, Rodrigo Patto Sá Motta. E acrescenta: “Assim, a vitória brasileira — que foi alcançada após derrotas e mesmo o recuo de algumas tropas - contribuiu para um esforço mais amplo, que era o avanço conjunto das tropas aliadas naquele setor. Isso não significa reduzir a importância do feito, pois conquistar uma posição elevada defendida por tropas alemãs não era fácil”.
Em comemoração ao aniversário de 70 anos da tomada do Monte Castelo, veteranos da FEB se reúnem hoje na Avenida Francisco Sales, a partir de 10 horas. Durante o evento, que terá desfile de tropas militares e exibição de veículos de guerra, o prefeito Marcio Lacerda deve ser homenageado com uma medalha de honra. O museu da entidade estará aberto para visitação.
Rodrigo Patto Sá Motta, professor do departamento de história da UFMG

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/02/21/interna_gerais,620184/batalha-na-memoria.shtml

AI VÃO MINHA HOMENAGEM AOS VERDADEIROS HEROES DO BRASIL, PEÇO DESCULPAS AO COMPANHEIROS DA ASMRAFFAA POR NÃO TER PODIDO IR AO QUARTEL DO 31BImzt RENDER AS JUSTAS HOMENAGENS. ESTOU OPERADO DO OLHO ESQUERDO (CATARATA)
ABRAÇOS
HENRIQUES




BOLSA FAMÍLIA


ADRIANA LINS, JUÍZA DE DIREITO DE CAJAZEIRAS, PARAÍBA.


Apenas a título de esclarecimento, aos que respeitam opiniões contrárias, e apenas a esses, é que escrevo agora.
Fui alvo de críticas e agressões acerca de minha opinião avessa ao Bolsa Família, programa criado pelo Governo Federal há 10 anos.
Grande parte optou por uma justificativa simplista: “é rica, juíza, elite, fala porque nunca passou necessidades, nunca passou fome…”.
Pronto, essa justificativa encerra a questão e resolve o problema. É uma idiota que nada sabe sobre a vida.
Apenas a título de informação saibam que não sou rica, nunca fui e nunca serei. Meu salário é bom, e com ele, se Deus quiser, nunca passarei fome nem necessidade, mas lutei por ele, e como lutei. Sofri, estudei, trabalhei e lutei, repita-se. Mas isso é uma outra história que em outro momento, se interessar a alguém, posso contar.
Contudo, existem outros motivos que levam as pessoas a formarem suas opiniões que não necessariamente as suas condições financeiras.
Nunca passei fome, graças a Deus e ao trabalho de meus pais, mas da mesma forma que nunca faltou, também nunca sobrou.
Trabalho desde os 18 anos de idade, quando me submeti a concurso público e fui ser funcionária pública, trabalhar oito horas diárias e ganhar menos do que um salário mínimo, apesar da Constituição Federal já vedar tal conduta. Mas como já disse, isso é uma outra história.
O final de semana passado retrata exatamente um dos fatores que me levam a formar a opinião que tenho.
< strong>Um simples “boato” de que o Bolsa Família iria acabar foi suficiente para causar um caos em várias agências da Caixa Econômica Federal. Uma pessoa me disse que teve que pedir dinheiro emprestado para sair do seu sítio para receber o bolsa família que “ía acabar”…
A pergunta é: de que viveriam essas pessoas se o bolsa família acabasse?
A minha resposta: passariam ainda mais fome do que tinham quando começaram a recebê-lo.
E sabem porque? Porque agora, com a certeza do “benefício”, não se propõem mais a trabalhar, ou estudar ou se profissionalizar. Enfim. Estão escravizados.
É a isso que me oponho.
Quando esse programa foi implantado a situação das pessoas era caótica, lastimável.
Essas pessoas estão sendo tratadas como inúteis, incapazes. A partir do momento em que se implanta um programa de assistência sem uma política paralela de reestruturação, capacitação para restabelecimento de condições de trabalho, auto sustento, enfim, de independência, ou se considera que essas pessoas não tem capacidade para tanto ou não se está querendo ajudar, mas tão somente escravizar. É no que acredito.
A ONU, embora elogie o programa, critica o assistencialismo e o apelo político que ele gera. Segundo essa Organização o programa rendeu muita popularidade e votos, mas as desigualdades continuam elevadas com pequenos progressos.
Como programa de caráter EMERGENCIAL, o Bolsa Família foi importante, mas onde está a inclusão socieconômica sustentável das populações?
O saudoso Luiz Gonzaga já dizia em uma de suas canções, de composição com Zé Dantas: “Seu Doutor uma esmola para o homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão…”. É nisso que acredito muito antes de me tornar Juíza.
A Coordenadora do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil afirmou que da forma como o programa funciona, não tem sido útil para identificar e retirar as crianças do trabalho e que esse programa não tem impacto nenhum na redução do trabalho infantil.
Vejam a entrevista de Frei Beto http://www.google.com/url?q=
http%3A%2F%2Fnoticias.uol.com.br%2Fultnot%2F2008%2F03%2F15%2Fult23u1484.jhtm&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNF6DCgTvG8lM6Xgo_kMycw6UlILCg (que não é juiz), um dos líderes do Fome Zero e me digam o que acham.
O programa existe há 10 anos e pouquíssimo foi mudado na vida dessas pessoas. O que foi feito de efetivo para reestruturar essas famílias?
Visitem as casas dessas pessoas e me digam o quanto mudou!
Enquanto apresentam índices de redução de evasão escolar, em razão do Bolsa Escola, os adolescentes que passam pela Vara que ocupo não sabem a data de seus nascimentos, não sabem o seu nome completo, não sabem o nome de seus pais e, pasmem, não tem a menor ideia de seus endereços.
Que noção de civilidade esses meninos tem? Esses mesmos meninos que estão querendo jogar na prisão!?!
Quem ou que vai dar essa noção de civilidade senão um programa sério de educação, capacitação, dignificação das pessoas? Bolsa família não dignifica. Escraviza. É o que acho.
As pessoas se tornam escravas da vontade política e não formadoras dessa vontade. E isso para mim é um faz de conta sim.
Não disse que a Presidente era um faz de conta. Disse que o Brasil é um País de faz de conta.
Defender a redução da maioridade penal é um exemplo disso. Defender a pena de morte também. Fazem de conta que isso vai resolver a criminalidade e não vai. Da mesma forma que fazem de conta que cumprem o ECA, que existe há mais de vinte anos, e não cumprem. Nunca cumpriram.
Como eu posso cobrar de alguém a quem eu nunca dei a chance???
As pessoas não podem viver de esmolas. Precisam aprender a andar com as próprias pernas e precisam saber que isso é responsabilidade delas também.
É dever dos Governos Federal, Estadual e Municipal oferecer essas condições e dos cidadãos escolher uma delas e seguir suas vidas com a dignidade que cada profissão oferece, porque todas as tem.
Vejo mulheres jovens e saudáveis pedindo dinheiro nas ruas. Cada uma com seus três ou quatro filhos. Mas nenhuma pede um emprego. Por quê?
Os senhores tem ideia de quantos cartões desse programa estão nas famosas “Bocas de fumo”?
Vejo homens jovens e saudáveis nas portas dos bares ou papeando nas esquinas em pleno dia da semana. Porque não estão trabalhando?
Qual o trabalho que as políticas públicas oferecem ou a capacitação?
É certo que existem alguns programas profissionalizantes. Mas são tímidos, limitados, e não recebem a milésima parte do investimento que o programa de “ caridade” gasta.
A quê isso vai nos levar, senhores? A quê nos levou até agora? Como estão essas pessoas? Sem fome? Tem certeza que R$ 130,00 (cento e trinta reais) realmente mata essa fome?
Não sou contra partido político algum. Sou contra políticas públicas inúteis e danosas ao futuro da nossa Nação. Sou e serei sempre.
É a minha opinião senhores. Respeitem. Discordem, mas respeitem. E não sejam tão simplistas assim. As coisas não são simples e não podem ser “explicadas” dessa forma principalmente por quem não me conhece.
O homem precisa ser dignificado e não escravizado.
As pessoas continuam sofrendo com a seca absolutamente TODOS OS ANOS HÁ DÉCADAS. E o que foi feito de política de irrigação, de política que permaneça que se perpetue e que de fato transforme a vida do sertanejo?
É contra isso que sou. Sou Nordestina com muito orgulho e me sinto humilhada com notícias como as que passaram no Jornal Nacional com pessoas “famintas” na porta do Banco para receberem suas migalhas.
Não precisamos disso. Somos inteligentes e capazes. Temos força e vontade de trabalhar. Só precisamos de oportunidades e onde elas estão? Onde está a água das chuvas do ano passado?
Bem. Não sei se melhorei muito a situação. Mas não foi essa a minha intenção. Precisava apenas explicar os meus motivos.
Aos que me criticaram com decência, fico com as críticas para refletir sobre elas na construção de minhas opiniões futuras.
Aos que apenas me agrediram, fico com a dor que me causaram e com o consolo de que o tempo cura quase tudo.
Aos que perderam alguns minutos de suas vidas para lerem essa minha resposta. Agradeço a atenção.
A todos. Reafirmo. Esta é a minha opinião. Não a de uma Juíza, mas a de uma mulher que quer muito mais do que esmolas para o cidadão brasileiro e, principalmente, para os jovens adolescentes.
Que Deus esteja conosco!
Cajazeiras – PB, 26 de maio de 2013.
Adriana Lins de Oliveira Bezerra – Juíza de Direito, Eleitora e Cidadã.

  *Obs. A ilustração é de minha responsabilidade.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

PADILHA


PADILHA*


João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)



Só pode ter sido o Padilha, onde anda o Padilha. Procura o Padilha. E nem sombra do Padilha.
Enquanto isso, Padilha ia-se enfiando mundo a fora. Ninguém havia de apanhá-lo. Andaria enquanto houvesse caminho. Mas, afinal de contas, o que havia de tão grave que somente poderia ter sido o Padilha. E que espécie de gente era esse Padilha. Sim, muito bem. Padilha era um sujeito magricela, altão, feioso, mas habilidoso e engraçado.  Ocupava-se em pegar um biscate aqui, outro ali e disso ia vivendo. Suas diabruras eram conhecidas. Não perdia ocasião para fazer uma brincadeira de bom ou mau gosto. E sempre se saia, espirrando para um lado ou para outro. Mas, já se sabia. O que aparecia de presepada no povoado era arte do Padilha. Além disso, existia uma turmazinha que lhe fazia as insinuações. E ele as aproveitava ao seu modo. Sabia escorregar e defender-se. “Ora quem sou eu”. Fazem as coisas e o besta do Padilha que pague. E ia nessa desandada.
Quando aconteceu o pior. Padilha estava chateado de levar tanta culpa, inocentemente, dizia ele. Então preparou uma de grosso calibre. Aí, sim iriam ver quem era Padilha. E não o veriam mais. Que fossem para a casa do diabo! Mas o que foi, afinal, o que Padilha arrumou. Coisa simples. Preparara durante dias e dias, um monte de bilhetinhos. Contara a casa dos mais importantes da vila e teve a paciência de anotar os nomes dos casais. O bilhetinho, lacônico dizia apenas: “Fulano, tua mulher está de namoro serrado com o marido de fulana. Não sabes, mas eu sei. Abre teus olhos.” E pelas altas horas da noite, enfiou-os sorrateiramente por baixo das portas.
A vila, ao amanhecer entrou em pé de guerra. As ameaças de mata-mata, de separação, as descomposturas estremeciam a terra e os céus. Pelo visto não havia uma mulher honesta, nem um marido que prestasse. A confusão era a maior de todos os tempos. Até as mulheres mais puras e os homens mais honestos, estavam todos no rolo.
- Corre, chama o Padre Benedito. Para ver se acalma os ânimos e controla a situação a vila vai se acabar. Só pode ter sido arte do demônio. Uma presepada dessa só pode ter saído da cabeça maligna do capiroto, dizia a zeladora, solteirona, Ambrosina.
E de repente, alguém se lembrou do Padilha para mandar chamar o vigário na sede da Freguesia.  - “Corre, chama o Padilha”.
Que Padilha que nada. Ninguém dava noticia dele. Num fuzuê daquele, Padilha não havia aparecido, era para estranhar. Daí surgiu logo à idéia que deveria ter sido artimanha dele. Outro fora às carreiras chamar o Padre Benedito. - “Vai voando Jota. Mata o cavalo, mas chega depressa”. Já anda todo mundo armado. O diabo está solto.
O Padre chegou, mas amedrontado. Nem sabia por que o metiam numa embrulhada daquela. Arrependeu-se até do dia que tinha tido falta de juízo de se meter no Seminário. Estava ai em que deu sua besteira, em vez de chamarem o delegado e a policia embalada, apelam para ele. E logo para um assunto daquela natureza. Tinha nada que ver com desonestidade da mulher ou do marido de ninguém. Ora favas, o fato é que enquanto ruminava essas coisas, entrou na vila e foi direto à igreja. Já informado do que havia, benzeu-se. Pois não era. Tinha aquela gente toda em conta de honestíssima e dava tudo numa água suja daquela. Nem sabia por onde começar e muito menos o que fazer. Muitas mulheres correram para a igreja. Pelo menos ficariam um pouco amparadas. E Padre Benedito começou o interrogatório. E a primeira pergunta foi a quem atribuíam a denuncia:
- Ninguém sabe.
- Tem alguém desaparecido.
- Que se saiba, só o Padilha.
O lembrete deste nome contagiou todo mundo.
- Foi, foi só arte do excomungado do Padilha.
E a suposição correu logo pela cidadezinha inteira. Não havia dúvida, tinha sido obra do Padilha. Aquilo não era qualidade de gente. Quem conhecia a letra do Padilha?
- Eu,
- Eu,
- Também eu.
E a letra foi conhecida era mesmo do Padilha. E já se foram convencendo que não passava de uma infernal brincadeira do patife. Os ânimos serenaram e a coisa virou gracejo. O Padre Benedito, tomou a deixa para falar.
- Será possível, minha gente, esta cidade é reconhecida como uma terra de gente honesta e digna. Nunca se registrou um caso, sequer de prevaricação. E, pois, como é que de um momento para outro passa a reinar tanta desconfiança. Voltem aos seus lares, peçam desculpas uns aos outros e procurem descobrir o caluniador, no caso, ao que parece, esse tal de Padilha.
- Corre todo mundo. Descubram e peguem o Padilha. O Padilha não pode escapar. É um patife. Queremos Padilha aqui. Somente Padilha seria capaz de praticar uma diabrura dessas. Pega o Padilha, amarra o Padilha, queremos o Padilha, vivo ou morto.
Ora Padilha. Padilha já andava longe. Mais longe do que pensavam.
- Haveremos de apanhá-lo! Ajude a gente, Padre Benedito.
- O que posso fazer é o excomungar. E lá vai brasa.
Abriu o livro e pronunciou as palavras de condenação.
- Pelo menos para o céu não vai mais.
- Procura Padilha, minha gente. Ele tem que nos pagar todo este alvoroço.
Inesperadamente uma magricela velha amiga de Padilha, e que lhe dava hospedagem, gritou de lá.
- Foi pouco. Foi embora e me deixou por culpa de vocês todos. Tudo quanto aparecia nesta povoeta de borra, era ele quem fazia. Coitado e nunca praticou nada de ruim. Suas brincadeiras não ofendiam a viva alma. Agora eu sei quem fazia aquelas coisas. Se me apertarem eu digo. E sei também quem presta e quem não presta.  Padilha me contava tudinho. É melhor deixarem Padilha em paz. Não deveria ter feito assim com todo marido e somente com aqueles que mereciam. Aliás, vocês sabem muito bem quem são os bons e os ruins, os errados.
- Cala a boca, mula. Dá o fora daqui, ou queres pagar pelo que Padilha fez?
- Não me insulte que eu falo e haverá muita surpresa.
Padre Benedito, o apaziguador, meteu-se no meio.
- Vem cá, como é mesmo o teu nome!
- Avenira Padilha, prima de Padilha,
- Vem cá perdoa tudo isto. Vai para casa.
- Mas o senhor amaldiçoou Padilha e ele não vai mais para o céu quando morrer!
E o Padre Benedito segredou-lhe ao ouvido:
- Foi tapeação. Eu enrolei esses bobocas, magotes de cornos. Aqui só tem mesmo corno. Conheço isto aqui. Toma estas notas. Vai para casa...

Em, 25/07/1985
*O conto faz parte do livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.




O MESTRE AMARO


O mestre Amaro*


João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)

**O conto de hoje que transcrevo é em homenagem ao meu pai que desencarnou, há onze anos passados, com quase 102 anos. Lúcido e com uma saúde de bicho, apenas findara o seu tempo de luta aqui na terrinha. Quem quiser saber se suas histórias são verdadeiras é só ir encontrar-se com ele e tirar suas dúvidas!

O mestre Amaro tinha a cabeça como um granito. Era inútil querer mudar as suas idéias. Fincava o pé na parede e dali ninguém o tirava. Obstinado como era por isto mesmo vivia só. Solteirão e teimoso. Ninguém conhecia parente seus e muito menos de onde havia vindo. Nunca falava nessas coisas.
            Sabia-se apenas que existia e não dava o braço a torcer. Não encolhia, nem esticava. Resistência do tempo de pé de serra.
            Chegara a um grau de velhice como se Nosso Senhor houvesse congelado sua idade. Dali parecia não sair. Mais um ano que chegasse parecia não lhe alterar o vigor nem as convicções.
            Mesmo assim, todos gostavam do velho Amaro, de quem também não se conhecia o sobrenome. Poderia ser: Ferreira, Prudêncio ou Moreira, tanto fazia.
Também não aparecia em Macambira, alguém que o reconhecesse. Dava até a idéia que havia caído de algum planeta de lá das bandas do infinito. E não adiantava fazer sondagens, pois, não soltava nem um peido...
            Homem esquisito, como nunca se havia visto. O que era curioso é que fumava, bebia moderadamente e não perdia festas que estivesse dentro do seu figurino social. Também não era mão fechada. Usava uma profissão limpa e honesta: Marcenaria. No ramo era especialista. Fosse uma porta, uma janela, um brinquedo para a garotada, tudo fazia com perfeição e entregava invariavelmente na data marcada.
Só uma coisa não fazia nem a peso de ouro, que era caixão de defunto. Nem queria ouvir falar. Quando passava em frente a uma casa mortuária virava a cara para um lado e fechava os olhos. Nem conseguia entender como havia quem se dedicasse a uma profissão tão fúnebre.
Se passava um enterro pela sua porta, batia a janela ia parar no fundo do quintal.
Tudo que cheirasse a morte e no outro mundo lhe apavorava. Quando um dia foram convidar para o enterro do velho vigário já aposentado da paróquia, colocou a mão nos ouvidos e desapareceu.
Ninguém sabia a razão, que era seu grande segredo. Havia escapado de ser enterrado vivo, por um milagre.
Tivera um troço, foi considerado morto, e quando despertou estava dentro do caixão, cercado de quatro velas acesas e o povo do velório rezando uma ladainha.
Não era para menos, um quadro daquele. Nunca lhe saíra da memória a idéia de ter despertado debaixo de sete palmos de terra, sem ter por quem gritar, isto é, sem alguém para ouvi-lo e salva-lo. Não poderia haver desespero maior.
É por isso, sempre pensava que enterro só deveria ser feito quando o defunto estivesse fedendo. Perto dele ninguém falava em coisas mortuárias. Dava no pé.
O velho Amaro, cinqüenta anos, não envelhecia. Zelava-se. Não fazia excessos. Nem no trabalho nem nas diversões. Tudo era bem medido. Fazia barba diariamente, não relaxava o corte de cabelo e tinha nojo de quem usava bigode, costeletas ou cavanhaque. Considerava imoral.
Não usava gravata, nem sapato apertado. Eram incômodos e atrapalhavam a circulação. Da mesma forma cinturão apertado. O seu era só para compor.
Cômodo mesmo era o suspensório, que não fazia pressão e deixava todo o corpo arejado. Era outra coisa muito mais saudável. Desde muito cedo conservava o hábito de fazer economias sem quebrar o seu ritmo de vida.
De tudo quanto ganhava líquido, guardava vinte por cento. Nem lhe fazia falta e era uma garantia para quando chegasse à fase de não poder mais trabalhar ou satura-se da profissão.
Mensalmente aquela quantia e algumas sobras iam render juros no banco. Não devia a ninguém e nem vendia fiado. Preferia dar. Quem vendia fiado, vez por outra perdia o dinheiro e o amigo.
E já havia passado pelo que passara o certo mesmo era não ter qualquer contrariedade.
O velho Amaro gostava de mulheres. Tinha sempre, sigilosamente, seus “quebras-resguardo”. Embora não tivesse a quem prestar contas, além da sociedade, gostava de ser cauteloso. Para esse lado não confiava em amigos. Não podia haver confiança, quando se fala em mulher. Sempre o diabo atenta.
Mesmo sem se prender a nenhuma, não aceitava dividir o pão com seu ninguém. E quando percebia que a sua preferida pestanejava para alguém, desfazia logo o ninho.
Sem esperar o velho Amaro, conheceu Mirícia, mulher nova ainda e reservada. Parecia até demais para ele, mas a diaba passou a querer-lhe bem. E fazia questão de repetir-lhe que era ele o segundo homem de sua vida. Abandonara o primeiro porque gastava com as outras, enquanto sempre lhe fora fiel. Afinal de contas passara a não lhe dar atenção.
Foram apenas alguns meses de convivência. Menos de um ano. Havia jurado não se ligar mais a outro, embora tivesse que curtir a solidão. Não estava se oferecendo, confiava e gostava do velho Amaro. Poderia ser uma ligação para sempre. Não o faria por necessidade financeira, mas exclusivamente para ter um bom companheiro que atendia os seus desejos de mulher ainda moça. Não pesava em casamento. Não tinha essa pretensão. Precisava sim, de afeto e de alguém a quem pudesse dizer que pertencia.
Os bordados e costuras que fazia eram suficientes para não necessitar de vender amor. Além disso, não era nenhuma mariposa. Havia sido apenas, uma criatura infeliz em sua primeira experiência.
Que ficasse com ela até quando sentisse que deveria terminar. Não queria entrar e sair de homem em sua vida. E deveria ser horrível receber alguém que não se deseja. A não ser alguma sádica ou depravada.
O velho Amaro saiu rezando o credo. E contra os princípios, pela primeira vez sentiu uma pontinha de ciúme. Mirícia lhe parecia uma criatura inteiramente diferente das outras, mas se não fosse. E aquela confissão, aquela fraqueza fosse simplesmente um ardil?
Poderia ser uma espertinha preparando o lance. E o pior de tudo é que não tinha a quem pedir informações. Encontrou-a por acaso em plena feira, na mesma barraca, comprando as mesmas coisas. Foi ali o começo e o “apareça lá em casa”. Está aí o meu endereço. Vivo sozinha, esquecida do mundo. Conversaremos um pouco.
Mirícia estava ali há pouco tempo. Saíra de sua terra para não ver o ex-companheiro que prometera tudo e tudo lhe negara. No entanto lhe parecia sincera, simples e necessitada de amor.
Havia sentido isto muito bem. E ficou visitando-a. Ninguém batia a sua porta, ninguém a procurava. Não havia mais dúvidas de que Mirícia era uma mulher honesta. E nessa vai e vem, aconteceu o inesperado. Mirícia engravidou. O mestre Amaro de nada desconfiou até que Mirícia não teve mais como ocultar.
- O que é isso Mirícia? Estás ficando gordinha e com uma feição diferente, mais pensativa. Aconteceu alguma coisa?
- Sim, aconteceu. Peguei um filho sem esperar. Mais foi um descuido bom. Gostaria tanto de ser mãe, mas pensava que era incapaz de gerar. Foi naquele dia, creio que desfaleci de amor. E é isto que me dá maior felicidade.
Jamais havia me doado com tanto prazer. Foi como se houvesse casado com um príncipe encantado e tivesse vivendo o melhor sonho de minha vida. Até então, juro-lhe não conhecia o verdadeiro amor. Antes, tudo não passava de um ato, puramente carnal. Mas naquela noite para cá era como se estivesse me entregando de corpo e alma, mais alma do que corpo. E agora que serei mãe, sou uma mulher tão feliz como as outras. Deixarei de ser só. E só o que peço a Deus é que não seja uma mulher para não, por desventura, ter que amargar os dias de minhas tormentas e desilusões.
Minha única preocupação tem sido uma coisa que guardo em segredo. Mas não deve haver segredo entre nós. Pelo menos não deveria haver.
É uma coisa que não te diz respeito, nem de longe e peço que me perdoes em não revelar.
- Mas Mirícia, isto me deixa numa terrível dúvida. Tiras-me a parte da felicidade que me pertencia. Suponho que teu segredo é simplesmente algum zelo de tua parte. Não queres me magoar, talvez.
Será que esse teu filho não é também meu. Que não tenho metade dele. Que no momento de minha maior alegria, tenho também minha maior desilusão? Queria tanto que fosse meu. Sou também um homem só, sem ninguém que me dê continuidade. E agora me matas afogado na maior dúvida da minha vida.
Eu que te queria tanto. Que já te amava com se tivesse encontrado a verdadeira felicidade. Preparara-me para casar contigo. Sem te dizer nada, com certo receio de me recusares, de não pretenderes a te unir a alguém em definitivo. Preparava-me e esperava a oportunidade de te falar. E tudo agora se desmoronou em cima de mim.
O segredo de uma pessoa a quem se ama, por ínfimo que seja, é como se fosse uma montanha rolando por cima da gente. Hoje foi o meu dia aziago, o enterro de todos os meus sonhos.
- Não é nada disso, mestre Amaro. O que eu não queria era justamente não me insinuar. Tenho aquele filho que desejava e quando mais tarde perguntasse pelo pai, não saberia o que dizer ou teria que confessar que era um filho de uma mulher solteira. De uma mulher que não havia tido a ventura de se casar, embora amando tanto quanto te amo.
Não poderia acreditar que pensavas em casar com uma criatura como eu que já se encontra sem a pureza das virgens.
- Pela cruz Divina que cheguei a pensar que esse teu filho era filho de outro.
- Ah! Então, não tinhas confiança em mim. Supunhas que eu seria capaz de uma traição. É isto que querias dizer?
Não percebias que eu não era daquelas mulheres que trocam noites de ilusão por dinheiro. Nunca me faltou pão e nem roupas. Faltava-me sim, amor, carinhos, amizades. Sobrava-me solidão.
- É que um grande amor do tamanho do meu, desconfia até das onze mil virgens. Desde o dia do nosso primeiro encontro, comecei a ter ciúmes de ti, coisa que jamais havia sentido por outra mulher. Mas vais acabar com as explicações. Vai ou não, casar comigo? Sejas sincera para depois não te maldizeres.
- É o que eu mais poderia desejar Amaro. São duas grandes felicidades batendo ao mesmo tempo na mesma porta. Sempre fui uma mulher que nasceu para amar puramente. E não tive culpas de teres aparecido em minha vida e nem te querer tanto. Mas de ti não tinha o direito de exigir, nem pedir mais nada. Além da felicidade de ter um bom amigo. Não merecia mais nada. Casar contigo é assim como uma rosa que desabrocha novamente, numa manhã luminosa e orvalhada. Poderia pensar em tudo, menos numa felicidade tão grande. Quem sofreu como eu é que pode medir o tamanho das asas douradas da felicidade. Tenho medo de morrer de amores.
- Chega Mirícia, vem cá. Vamos festejar nossa felicidade.
E lá se foram os dois para jantar no melhor restaurante da cidade.
- Quero que tenham ciúmes de nossa felicidade. Felicidade minha, tua e desse safadinho que vai nascer... Sei que vou matá-lo de beijos... Mato os dois... Tu e ele.
Durante o jantar no “Come-se Bem”, Amaro interpelou Mirícia. Não entendia como ela era tão confiante que se casaria com ele sem nada conhecer de seu passado. Não sabia bem quem era ele e muito menos de sua origem.
- Não sabes Mirícia, que te arriscas muito, apesar de nosso bem-querer. Se eu fosse, por exemplo, um criminoso perverso, um sujeito casado que abandonara a família, um procurado pela justiça. Conhece-me de pouco tempo e quem sabe se não sou um homem exigente demais, mandão digamos mesmo, intolerável?
- Olha mestre Amaro, uma mulher sofrida como eu, tem faro, vê as coisas que estão por trás do muro. Não creio que uma pessoa com os teus hábitos, com a tua conduta, com o teu recato, possa ter uma má procedência. Em todo o caso gostaria de saber mais sobre tua vida. Só por curiosidade. Só isto!
- Pois é minha “nega”, admiro teu julgamento. Na verdade nunca fui uma má criatura. Nasci pobre e ainda o sou, relativamente à riqueza de muitos. Creio que minha maior fortuna, hoje, é haver te conhecido e nos casarmos.
O comportamento é o meu caráter. Sempre fui assim desde menino. Tenho família no vale do Piancó, onde nasci. Quando desapreço daqui por alguns dias é porque vou visitá-la.
Hoje está muito melhor do que anteriormente. Já não se fala mais em pobreza. Não é rica, mas vive bem. Meu pai, e minha mãe estão bem velhinhos, mas saudáveis. Só se vendo como são felizes e como adoro vê-los. Cinco por cento do meu trabalho é para eles. Não é muito, mas é o que posso fazer-lhes. Aliás, não precisam disso. Não querem; no entanto, sabem que me magoam se não aceitarem.
- Não precisamos meu filho. Guarda para a tua velhice que o mundo dá muitas voltas.
- Para as voltas do mundo já tenho minha previsão. Dêem aos netos, aos afilhados. Também não é grande coisa. Não me faz falta.
Hás de ver como são duas criaturas adoráveis. Mamãe sempre me pergunta por que não me casei. Saí de lá quase menino. Um rapazinho inexperiente, mas um tanto teimoso. Saí para teimar com a vida.
- Mas o nome de tua família?
- Andrade.
- Andrade?
- Sim. Souto de Andrade.
- De onde? Deve ser brincadeira tua. Sou também Andrade Souto.
- Como?
- Isto mesmo. Filha de Idalina Souto de Andrade, naturalmente uma tua parente, que se foi para o sul de Pernambuco e nuca mais viu a família.
- Idalina Souto de Andrade, irmã de minha mãe, e de quem ela sempre fala que desapareceu com o marido numa grande seca.
Meu Deus, tu, minha prima legítima. Que coincidência, meu Deus. E minha tia Idalina onde anda?
- Vive lá mesmo com meu pai, dono de uma mercearia. Vivem bem. E foi de lá que fugi para a infelicidade.
- E porque não voltastes?
- Envergonhada do que fiz. Nem valia a pena recordar minhas amarguras.
- Ah! Não. Depois de casados iremos visitá-los. Imaginas o quanto tem sofrido sem notícias tuas.
- Imagino, sim. E não podes avaliar as minhas angustias por não vê-los há tanto tempo. Além disso, sou filha única. Cometi os mesmos erros de todas as moças apaixonadas. Paixão é uma espécie de doidice que ataca as pessoas e morre logo. Confundia paixão com amizade. Minha mãe e pai são tão bons, que nunca tive coragem de voltar a vê-los e nem de dizer como estou e quando sofria. Fizeram o máximo para evitar meu casamento, mas a tal paixão me cegara. Chegara a dizer-lhe que não queriam a minha felicidade.
Ah! Se tivesse o dom de adivinhar coisas do futuro. Morro de vergonha de voltar. Não quero que saibam que sofri.
- E onde mora o miserável que te traiu? Vou ajustar contas com ele, doa em quem doer.
- Não. Não. Basta vivermos a nossa felicidade. Já assisti o enterro da minha frustrada paixão. Frustrada e infeliz. E basta saber que o miserável anda se arrastando na pior miséria. Felizmente casei-me apenas no religioso. Tentou voltar para mim. Escreveu-me cinicamente. Não lhe dei resposta. Dele toda distância ainda é curta. Apesar disso, sempre vivi assustada, com medo de avistá-lo em qualquer curva do caminho.
- Bem, de hoje por diante podes ficar tranqüila. Nos casaremos com o juiz logo amanhã. Ou achas tarde... Já são onze horas da noite. Falta apenas uma hora para amanhã. Não adianta mais nos separarmos.
- Não, não se deve ver a noiva no dia do casamento. Vamos nos separar, só veremos agora no cartório. Somente depois das assinaturas, podes acender a tua lamparina e eu a minha. Deixa de tanto fogo.
- E como será mesmo o nome do menino?
- Caso seja homem, o nome do teu pai, se for mulher, o nome de minha mãe.
- Está apostado.
- Dito e feito.
- Vou te levar em casa antes das doze.
- Fica comigo.
- Nada disso. Amaro não quebra a palavra, minha prima. Depois eu desconto uma noite de atraso...
- Mas, como é que vou cuidar sozinha, este resto de noite, deste menino peralta?
- Se ele espernear dá-lhe umas palmadinhas... E olha, às onze horas no cartório.
- E vou só?
- Não, nunca. Já tens companhia aí dentro. Queres melhor?
Na hora exata casaram-se.
- Espere, são parentes. O mesmo sobrenome.
- Descobrimos ontem que somos primos.
- E onde tiraram esse sobrenome Souto de Andrade?
- Somos da gema de família no vale do Piancó.
- Vale do Piancó?
- Exatamente.
- Quando fui juiz lá, conhecia um casal de velhinhos, também Souto de Andrade. Duas criaturas adoráveis. Estive em casa deles em Nova Olinda.
- Em casa de meus pais, minha Nossa Senhora Aparecida! E que foi fazer lá o senhor?
- Andava visitando parentes distantes. Não sou de lá, mas é lá que estão as raízes de minha família. Onde andar um Souto de Andrade, está um parente. Então somos da mesma grei. Que coincidência curiosa. Meus parabéns, onde vão morar?
- Aqui mesmo.
- Então, seu mestre Amaro, vão jantar hoje lá em casa.
- Mas a gente havia feito uma aposta. Tirar o atraso.
- Tiram depois do jantar. Vá devagar, mestre Amaro: Coelho velho não agüenta carreira...
- Está ouvindo, Mirícia?
- E vais quebrar tua palavra...
- É conselho do Dr. Juiz. É melhor quebrar a palavra do que outra coisa...
Mas foi conversa do mestre Amaro. Depois do jantar, tiraram o atraso de uma noite perdida. Amor de casado era diferente. Era a posse legal dentro do código civil, com papeis passados. Tinha agora a vida toda pela frente e sem ter mais que “rezar” às escondidas.
- Mestre Amaro, casou-se minha gente!
- Com tal de Mirícia!
- Ah! Sei. A desquitada. Um pedaço de mulher. Vai tirar o sarro do mestre Amaro. Uma lapa daquela, descansada e do vale do Piancó, segundo dizem. Não dou um mês que não esteja andando de muletas. Bem que se sabia que o espertalhão estava andando pro lado de lá. Viu que não conseguia nada e terminou se casando. Segundo as más línguas, o padre Beldroega já havia mandado o sacristão convidá-la para ser a zeladora da igreja.
- Mas, agora, Deus nos livre que mestre Amaro venha, a saber, da tramóia do reverendo. Falam que também é do vale do Piancó e cabra daquelas bandas não torra pipoca com mururú.
- Vale a pena fazer uma fofocazinha para ver o que dá...
- Nem se meta. O padre Beldroegas é sim das bandas de Catolé do Rocha, terra de cabra doido, cala teu bico.
Dois meses depois, mestre Amaro, andava mais gordo e mais corado. A dona Mirícia anda empinada.
- Brinquem com o mestre Amaro... Ontem estive na oficina dele. Está fazendo uma cama de casal reforçada.
- Era encomenda?
- Que nada. Disse que a outra havia se quebrado...

*O conto pertence ao livro Vidas Nordestinas, no prelo.

**Grijalva Maracajá Henriques – Historiador Positivista.