O
vendedor de bassoura piaçava
Zé Bertino vendia vassouras de
piaçavas (Leopoldínia piaçaba) na esquina da padaria do seu Anfrísio há muitos
anos. Vassoura bem feita, seguras, grandes e não soltavam as fibras. Era boa
para todo serviço, durava até se acabar. O preço era tabelado há muitos anos no
valor de 10 reais.
Tinha criado e formados vários
filhos com a venda de suas vassouras. Pobre mais honesto, cabra de caráter
conhecido por toda a cidade de Mamangava. Todas as manhãs, lá pelas seis horas
já estava no seu posto de trabalho, chovesse ou fizesse sol. Levava sempre uma
dúzia das bichinhas de cabo bem polido. Sempre feito de resto de
madeiras cambará, louro, angelim ou eucalipto. Todas feitas
uniformemente com 1,40 m de altura.
Certo dia aparece na esquina em frente à padaria do seu
Anfrísio, logo depois que seu Bertino tinha feito sua exposição, outro vendedor
de vassouras!
Abismado com o desaforo e a coragem do desconhecido, seu Bertino quase tem um
troço. Senta-se no seu velho tamborete feito de massaranduba e fica espiando
para o inesperado inimigo.
— Que diabo está
acontecendo com o mundo?
— Quem mais tem o
direito de fabricar vassouras boas e dos preços que vendo?
— Quem é o safado com
tanta audácia?
Lá do outro lado o cabra grita bem alto!
Provocando mesmo seu concorrente.
— Vassouras boas e baratas ao preço de nove reais!
— Não acredito no que estou ouvindo.
— Esse picareta pensa
que pode comigo, vai ver o que é saber negociar.
No outro dia, seu Bertino
colocou uma cartolina com os seguintes dizeres: vassouras da legítima piaçava
por oito reais. Quando o safadório do Chicuca viu a tabela
com o novo preço do seu Bertino, gritou bem alto!
— Vassouras da melhor qualidade, só hoje pelo preço de sete reais.
— Não percam essa
oportunidade.
Pronto! Seu Bertino teve um faniquito grande e teve que
ser socorrido pelo dono da padaria. Foi para casa. Doente e arrasado com o
mundo cruel e ingrato. Durante a noite matutou um jeito de acabar com essa
concorrência desleal e ingrata. Chamou um dos filhos e bolou uma nova
estratégia.
Logo cedo, antes do seu oponente chegar, colocou uma nova
cartolina com o preço de 6,00 reais em letras bem grandes e posicionou o
menino bem na frente do local onde Chicuca ficava;
orientado para gritar bem alto o novo preço, logo que o bandido
e sem caráter abrisse suas vendas. Mas, o vendedor oponente já chega com
duas vassouras nas mãos, tomando a frente das pessoas que passavam gritando.
— Vassouras melhor do que essas não existem.
— O preço caiu, agora são
cinco reais cada.
Nesse dia seu Bertino não
vendeu uma sequer. Juntou as bichinhas debaixo dos braços e seguiu
cabeça baixa puxando o filho pelo braço, como se ele tivesse culpa.
À noite dona Francisquinha,
vendo a situação do esposo, reúne a família e pedem que ele deixe esse negócio
de vassouras, pois, além do trabalho de fazê-las ainda tinha, agora, que
enfrentar um negociante sem escrúpulo.
— Não posso parar com esse trabalho, só sei fazer isso e não darei o direito de
um malfazejo zombar comigo. Vou a até as últimas consequências, mas não
desisto.
Pei bufo! De manhã estavam os dois nos mesmos
locais, um olhando para o outro.
Zé Bertino gritava.
— Vassouras ao preço de banana. Custam apenas quatro reais.
Chicuca, com um riso cínico e debochado gritava por sua vez.
— Vassourinha das boas, maneirinhas e bem acabas. Promoção no
momento três reais.
Mais um dia e uma noite nessa expectativa para ver quem vencia ou quem parava
de baixar os preços primeiro.
Amanheceu nublado e querendo
chover. Seu Zé Bertino pensou. Acho que ele hoje não vem. Lá não tem
onde se amparar da chuva. Tomara que esse sujeito dos quintos dos infernos não
apareça.
Aperreado, seu Zé leva a mão a
pala e fica olhando para todos os lados para ver se descobre entre os
transeuntes, o descarado com seu mói de vassouras aos ombros.
Pois, não é que o avista caminhando em sua direção. Sente um nó na barriga e um
frio correndo pelas batas das pernas. Quis se sentar ou bater em retirada,
mas tinha decidido ficar e ver no que ia dar aquela peleja
descabida. E foi logo começando aquela ladainha de venda.
— Vassouras de piaçava, preço imperdível, só dois reais, são as últimas, não
percam essa oportunidade.
Dizendo isso e já com a
certeza que o cara não podia mais baixar o preço e, já antecipando
sua vitória. Ouviu alto e de bom som, aquele grito desentoado do
enxerido Chicuca.
— Vassoura hoje é de um real, se aproximem e leve o instrumento mais útil de
uma casa, varre sujeira do chão e das pessoas também.
Seu Bertino, quase chora. Os
olhos ficaram vermelhos, quis espumar, o zumbido dos ouvidos aumentou com a
pressão lá pelos 16, quis gritar, mas só saiu um urro abafado pela
boca travada da raiva incontida.
Partiu feito demônio para cima
do seu oponente. Ia esganar o filho do belzebu. Já no meio do caminho
Lembrou-se da mulher e dos filhos e respirou três vezes e diminuindo os passos,
rezou rapidamente uma Ave Maria e então seus impulsos esfriaram e com a calma
veio o raciocínio.
— Bom dia, meu senhor.
— Queria conversar
com vosmecê calmamente sobre os nossos negócios.
— Há muitos anos que
faço vassouras de piaçava. Retiro esse material das terras do Dr. Eusébio sem
pagar nada.
— Os pregos usados cato
dos caixões que são jogados no lixo do armazém de seu Damião.
— As aspas que serve
para prender o conjunto vem da oficina de seu Abílio mestre funileiro que não
me cobra nadinha; a madeira para os cabos e a base de sustentação tiro pelas
fazendas da redondeza.
— Então só entro com o
meu trabalho da confecção e a venda. É como se tudo fosse roubado por isso,
posso vender muito barato, no entanto, não sei como pode vender tão
em conta.
— Meu caro senhor posso vender mais baixo do que os seus preços, porque uso de
outra técnica muita mais lucrativa e eficiente. Eu já roubo a vassoura pronta.
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