sábado, 1 de novembro de 2025

FINADO

 

DIA DE FINADOS

Onde os poetas discordam da bíblia

 

            A Bíblia diz que todos irão ressuscitar, uns para a vida eterna e outros para a morte eterna (Dn 12.2). Quem tiver seu nome no livro da vida ressuscitará para a vida eterna, enquanto que aos demais, ressuscitarão para a perdição eterna, ou seja, para a segunda morte (Ap 20.11-15).

            Dia dos Fiéis Defuntos (em Portugal); Dia de Finados ou Dia dos Mortos (no Brasil), é uma data que a Igreja Católica dedica aos mortos e suas almas, no dia 2 de novembro de cada ano. É o terceiro e último dia da Estação de Todos os Santos.

            Desde o século II, alguns cristãos rezavam pelos falecidos quando visitavam os túmulos dos mártires. No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos já esquecidos. O abade Odilo de Cluny, no final do século X, pedia aos monges que orassem pelos mortos. Desde o século XI os Papas Silvestre II (1009), João XVII (1009) e Leão IX (1015) obrigavam a comunidade a dedicar um dia aos mortos. No século XIII essa data passa a ser oficialmente celebrada em 2 de novembro, um dia após a Festa de Todos os Santos. A doutrina católica evoca algumas passagens bíblicas para fundamentar sua posição (cf. Tobias 12,12; Jó 1,18-20; Mt 12,32 e II Macabeus 12,43-46) e é suportada por uma prática de quase dois mil anos.

 

 

Vozes da morte

 

Agora, sim! Vamos morrer, reunidos,
Tamarindo de minha desventura,
Tu, com o envelhecimento da nervura
Eu, com o envelhecimento dos tecidos!

Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos!
E a podridão, meu velho! E essa futura
Ultrafatalidade de ossatura,
A que nos acharemos reduzidos!

Não morrerão, porém tuas sementes!
E assim, para o Futuro, em diferentes
Florestas, vales, selvas, glebas, trilhos,

Na multiplicidade dos teus ramos,
Pelo muito que em vida nós amamos,
Depois da morte, inda teremos filhos!

Augusto dos Anjos

 

Solitário

Como um fantasma que se refugia

Na solidão da natureza morta,

Por trás dos ermos túmulos, um dia,

Eu fui refugiar-me à tua porta!

 

Fazia frio e o frio que fazia

Não era esse que a carne nos contorta...

Cortava assim como em carniçaria

O aço das facas incisivas corta!

 

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!

E eu saí, como quem tudo repele,

- Velho caixão a carregar destroços -

 

Levando apenas na tumba carcaça

O pergaminho singular da pele

E o chocalho fatídico dos ossos!

Augusto dos Anjos

 

 

A morte não é nada.

Eu somente passei

Para o outro lado do caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.

O que eu era para vocês,

Eu continuarei sendo.

Me deem o nome

Que vocês sempre me deram,

Falem comigo

Como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo

No mundo das criaturas,

Eu estou vivendo

No mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene

Ou triste, continuem a rir

Daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriem, pensem em mim.

Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado

Como sempre foi,

Sem ênfase de nenhum tipo.

Sem nenhum traço de sombra

Ou tristeza.

A vida significa tudo

O que ela sempre significou,

O fio não foi cortado.

Porque eu estaria fora

De seus pensamentos,

Agora que eu estou apenas fora

De suas vistas?

Eu não estou longe,

Apenas estou

Do outro lado do caminho…

Você que aí ficou, siga em frente,

A vida continua, linda e bela

Como sempre foi.

Santo Agostinho

 

À MORTE

Ó morte, eu te adorei, como se foras

O fim da sinuosa e negra estrada,

Onde habitasse a eterna paz do Nada

Às agonias desconsoladoras.

 

Eras tu a visão idolatrada

Que sorria na dor das minhas horas,

Visão de tristes faces cismadoras,

Nos crepes do Silêncio amortalhada.

 

Busquei-te, eu que trazia a alma já morta,

Escorraçada no padecimento,

Batendo alucinado à tua porta;

 

E escancaraste a porta escura e fria,

Por onde penetrei no Sofrimento,

Numa senda mais triste e mais sombria.

Antero de Quental

 

Minha morte nasceu

 

Minha morte nasceu quando eu nasci.

Despertou, balbuciou, cresceu comigo...

E dançamos de roda ao luar amigo

Na pequenina rua em que vivi.

 

Já não tem mais aquele jeito antigo

De rir e que, ai de mim, também perdi!

Mas inda agora a estou sentindo aqui,

Grave e boa, a escutar o que lhe digo:

 

Tu que és a minha doce prometida,

Nem sei quando serão as nossas bodas,

Se hoje mesmo... ou no fim de longa vida...

 

E as horas lá se vão, loucas ou tristes...

Mas é tão bom, em meio às horas todas,

Pensar em ti... saber que tu existes!

Mário Quintana

 

 

 

A morte absoluta

 

 

Morrer.

Morrer de corpo e de alma.

Completamente.

 

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,

a exangue máscara de cera,

cercada de flores,

que apodrecerão – felizes! – num dia,

banhada de lágrimas

nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

 

Morrer sem deixar porventura uma alma errante…

A caminho do céu?

Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

 

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,

a lembrança de uma sombra

em nenhum coração, em nenhum pensamento,

em nenhuma epiderme.

 

Morrer tão completamente

que um dia ao lerem o teu nome num papel

perguntem: “Quem foi?…”

 

Morrer mais completamente ainda,

– sem deixar sequer esse nome.

Manoel Bandeira

 

 

A Morte

           

Oh! que doce tristeza e que ternura

No olhar ansioso, aflito dos que morrem...

De que âncoras profundas se socorrem

Os que penetram nessa noite escura!

 

Da vida aos frios véus da sepultura

Vagos momentos trêmulos decorrem...

E dos olhos as lágrimas escorrem

Como faróis da humana Desventura.

 

Descem então aos golfos congelados

Os que na terra vagam suspirando,

Com os velhos corações tantalizados.

 

Tudo negro e sinistro vai rolando

Báratro a abaixo, aos ecos soluçados

Do vendaval da Morte ondeando, uivando...

 Cruz e Sousa

sábado, 27 de setembro de 2025

Camões desgostoso

 

RESPOSTA DE UMA ALUNA FEITA PARA CONTRADIZER O SEGUINTE VERSO DE CAMÕES

 

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;

 

É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;

 

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.

 

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

 

                           Luís de Camões

 

 

Ah! Camões,

se vivesses hoje em dia,

tomavas uns antipiréticos,

uns quantos analgésicos

e Prozac para a depressão.

Compravas um computador,

consultavas a Internet

e descobririas que as dores que sentias,

esses calores que te abrasavam,

essas mudanças de humor repentinas,

esses desatinos sem nexo,

não eram feridas de amor,

mas somente falta de sexo.

 

 

 

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

 

POESIAS ESCONDIDAS

 

As pérolas das poesias, muitas vezes estão onde a gente nunca espera. Num verso de um violeiro, na conversa de um matuto, num papo de um bêbado, na filosofia de um preso, na cadência de um samba, na briga de arranca saia, na entoada de um vaqueiro, no canto solitário de um jangadeiro, no gorjeio de um sabiá laranjeira, na metodologia de um matemático, num grito de um baleeiro no meio da feira pedindo para passar, quando a lua pede licença ao sol para se mostrar, no murmúrio das ondas cheias de planctos, no bacurau a baca da noite anunciando a escuridão, as faíscas de “estrelas” percorrendo os vastos céus, o cego pedindo licença numa briga, no silencio da natureza as plantas se confundido, as abelhas desenhando sonoramente seus caminhos de ida e volta, as borboletas nas suas formas de danças descrevendo a espetacular  transformação da vida, os doidos entre doidos sussurrando suas verdades, a ameba dizendo ao mar sou o primeiro, o machado feroz batendo constantemente para dizer que sou mais forte, no coice da mula preta rimando sua raiva, na estrada enganadora, nos desvios e nos atalhos traiçoeiros, no copo recebendo o gargarejar da bebida, na descarrega do banheiro, no vómito de um bêbado, na queda de um velho, no relinchar de um cavalo, na queda de um muro, na enchente de um rio, na queda de uma cachoeira, num deslizar de uma pedra, numa picada de uma cobra, na queda de um raio, numa batida de caminhão, no tropicão de um moleque, na carreira de um cavalo doido, num trem desgovernado,  numa lamparina sem gás, numa panela fervente, numa barriga com fome,  numa briga de foice, num algodão doce fiado,  num  balanço quebrado, numa botija esquecida, num paralelepípedo quadrado, num arco íris sem cor, num vento sem volta, numa mentira safada, cabra de peia ordinário, sertão sem fim à vontade, buraco com terra dentro, maré seca no mangue, transição dos planetas, maribondo  assanhado, caixa d’água vazando, zoada do pica-pau, coelho fazendo  amor, piolho coçando muito, um adeus desesperado, saudade que nunca volta, desgraça pouca é lucro, mentira nunca se esconde, papagaio fala a verdade, o papa reza missa, a rezadeira lhe benze, o trem corre nos trilhos, os rios despejas nos mares, o fogo solta faísca, o mundo dar muitas voltas, a casa amarela foi herança, chuva com sol casa raposa com rouxinol, água na pedra não fura, quem balança não cai, tijolo de cemitério, caminho que não acaba mais, todo pobre é enxerido, quem casa não casa mais; Tudo isso espremendo sai verso, mas queria saber dos versos escondidos nas músicas dos esquecidos cancioneiros, boêmios, amantes da noite, poetas arrependidos, perdidos nos amores, e por ai vai.

 No meu pouco sofrimento da vida, classifiquei várias poesias escondidas em músicas de autores às vezes desprezados, mas que foram eternizadas.

 

Chão de estrelas

Minha vida era um palco iluminado

Eu vivia vestido de dourado

Palhaço das perdidas ilusões

Cheio dos guizos falsos da alegria

Andei cantando a minha fantasia

Entre as palmas febris dos corações

 

Meu barracão no morro do Salgueiro

Tinha o cantar alegre de um viveiro

Foste a sonoridade que acabou

E hoje, quando do Sol, a claridade

Forra o meu barracão, sinto saudade

Da mulher pomba-rola que voou

 

Nossas roupas comuns dependuradas

Na corda, qual bandeiras agitadas

Pareciam um estranho festival

Festa dos nossos trapos coloridos

A mostrar que nos morros mal vestidos

É sempre feriado nacional

 

A porta do barraco era sem trinco

Mas a Lua, furando o nosso zinco

Salpicava de estrelas nosso chão

Tu pisavas nos astros, distraída

Sem saber que a ventura desta vida

É a cabrocha, o luar e o violão.

 

ROSA

Tu és divina e graciosa
Estátua majestosa
Do amor!
Por Deus esculturada
E formada com ardor

Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida
Pelo beija-flor

Se Deus
Me fora tão clemente
Aqui neste ambiente de luz
Formada numa tela
Deslumbrante e bela

Teu coração
Junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado
Sobre a rosa e a cruz
Do arfante peito teu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral
Oh! Alma perenal
Do meu primeiro amor
Sublime amor

Tu és de Deus
A soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração
Sepultas um amor

O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes
Cheios de sabor
Em vozes tão dolentes
Como um sonho em flor

És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim
Que tem de belo
Em todo resplendor
Da santa natureza

Perdão!
Se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh, flor!
Meu peito não resiste
Oh, meu Deus
O quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar
Em esperar
Em conduzir-te
Um dia ao pé do altar

Jurar aos pés do Onipotente
Em preces comoventes
De dor, e receber a unção
Da tua gratidão

Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te
Até meu padecer
De todo fenecer

 

A DEUSA DA MINHA RUA

a deusa da minha rua

Tem os olhos onde a Lua

Costuma se embriagar

Nos seus olhos, eu suponho

Que o Sol, num dourado sonho

Vai claridade buscar

 

Minha rua é sem graça

Mas quando por ela passa

Seu vulto que me seduz

A ruazinha modesta

É uma paisagem de festa

É uma cascata de luz

 

Na rua, uma poça d'água

Espelho da minha mágoa

Transporta o céu para o chão

Tal qual o chão da minha vida

A minh'alma comovida

O meu pobre coração

 

Espelhos da minha mágoa

Meus olhos são poças d'água

Sonhando com seu olhar

Ela é tão rica e eu tão pobre

Eu sou plebeu e ela é nobre

Não vale a pena sonhar

 

Espelhos da minha mágoa

Meus olhos são poças d'água

Sonhando com seu olhar

Ela é tão rica e eu tão pobre

Eu sou plebeu e ela é nobre

Não vale a pena sonhar

 

AO LUAR

Minha eterna e doce amada
A chamar-te me insinua
Nos acordes desta lira
Que de amor geme e suspira
Ante o albor níveo da lua
O rendado da neblina
Mais parece uma cortina
Numa festa de noivado

A lua é noiva bela
Recostada na janela,
Vê um palácio constelado
Que beleza nas estrelas
Ah! Se tu pudesses vê-las
Como estão no céu sorrindo
Espreitando com cautela
Pelas frestas da janela
Do quarto onde estas dormindo

Minh'alma dorme sonhando
Geme e chora te chamando
Pelo espaço como louca
Ah, se a aurora despontasse
Quem me dera que me encontrasse
A beijar a tua boca
Desperta, vem matar meu desejo
A minh'alma, vaga incerta
A procura do teu beijo
Dileta, tu formosa eu poeto
Quero para os tristes versos meus
As rimas dos beijos teus

A natureza te chama
O meu peito já reclama
A quentura dos teus seios
Os astros são já escassos
Vem, sufoca-me em teus braços
Antes que eu morra de anseios
As estrelas cintilantes
São lanternas dos amantes
Pelo espaço a flutuar

Como Deus é inspirado
Inventou para o pecado
Estas noites de luar
Desperta, vem matar o meu desejo
A minh'alma vaga incerta
A procura do teu beijo
Dileta, tu formosa eu poeto
Quero para os tristes versos meus
As rimas dos beijos teus.

BRIGAS

Veja só
Que tolice nós dois
Brigarmos tanto assim
Se depois
Vamos nós a sorrir
Trocar de bem no fim
Para que maltratarmos o amor
O amor não se maltrata não
Para que se essa gente o que quer
É ver nossa separação
Brigo eu
Você briga também
Por coisas tão banais
E o amor
Em momentos assim
Morre um pouquinho mais
E ao morrer então é que se vê
Que quem morreu fui eu e foi você
Pois sem amor
Estamos sós
Morremos nós

 OBS..

DANEM SÍ SEUS COMENTÁRIOS.

 

sábado, 20 de setembro de 2025

O MEU PALHAÇO

 

O MEU PALHAÇO

 

 Meu coração é um mísero acrobata,

Um palhaço sarcástico de arena:

Gargalha sempre, de feição serena,

Contrafazendo a mágoa que o maltrata.

 

Enquanto em riso a multidão desata,

Às piruetas desse clown em cena,

Ninguém descobre, na aparência amena,

A tragédia recôndita que o mata.

 

Mas eu me vingo desse pouco siso,

Ao paradoxo do meu próprio riso;

Porque a tragédia deste riso insano,

 

Que me remorde e que ninguém ausculta,

É irmão gémeo da tragédia oculta

Que existe em todo coração humano.

 

Silvino Olavo Martins da Costa (Esperança, 27 de julho de 1897 - Campina Grande, 26 de outubro de 1969) foi um advogado, jornalista e poeta paraibano.

Nasceu na fazenda Lagoa do Açude, então pertencente ao município de Campina Grande, filho do comerciante Coronel Manoel Joaquim Cândido e de Josefa Martins Costa. Seu pai era proprietário de terras e agricultor, vivendo da criação de gado e da plantação de algodão e cereais. Em 1915, o Coronel Cândido se transfere para a vila de Esperança, na época pertencente ao município de Alagoa Nova. Ainda adolescente, Silvino foge da casa dos pais e ruma para a capital Paraíba, sendo acolhido por uma tia. Decidindo estabelecer-se na cidade, consegue matricular-se no Colégio Marista Pio X, onde concluiu o secundário em 1920.

Ainda em 1920, muda-se para o Rio de Janeiro para cursar direito, diplomando-se em 1924. Retorna à Paraíba no ano seguinte, desempenhando um papel de destaque na campanha pela emancipação política de sua terra natal, Esperança. Em maio de 1925, por ocasião da inauguração do sistema de luz elétrica naquele município, Silvino profere, na presença do presidente de estado João Suassuna, o discurso Esperança - Lírio Verde da Borborema, publicado posteriormente. Em dezembro daquele ano a campanha obteve sucesso com a publicação da lei nº 624 criando o município de Esperança.

No final de 1925, já instalado na capital Paraíba, é chamado para chefiar a redação do periódico O Jornal. Esse posto na imprensa lhe permite conhecer alguns dos principais literatos da época, como Órris Soares, Eudes Barros, Severino Alves Ayres e Peryllo Doliveira. Nesse período, Silvino Olavo torna-se um respeitado funcionário público e homem de letras, colaborando com publicações como o jornal A União e a revista Era Nova. Foi uma das figuras mais destacadas do meio literário paraibano em sua época, participando ativamente do que foi chamado "Grupo dos Novos", que promovia tertúlias das quais participavam escritores como Peryllo Doliveira, Eudes Barros e Américo Falcão.

Destacando-se também na vida política, chegou a ser Oficial de Gabinete do presidente estadual João Pessoa, engajando-se em 1930 na campanha da Aliança Liberal na qual seu chefe era vice-presidente da chapa de Getúlio Vargas. Devido a seu destaque na produção literária, Silvino Olavo foi um dos que recepcionou o escritor Mário de Andrade em janeiro de 1929, junto a José Américo de Almeida e Ademar Vidal.

Nesse período começou a apresentar os primeiros sinais de esquizofrenia. Com o assassinato de João Pessoa e a subsequente Revolução de 1930, seu quadro apresenta uma piora e ele é internado na Colônia Juliano Moreira, em João Pessoa. Lá ficou, em completo ostracismo, até ser resgatado em 1952 por seu cunhado Valdemar Cavalcanti.

Passou seus últimos anos sob os cuidados do cunhado, com a saúde mental fortemente abalada. Morreu em 26 de outubro de 1969, vítima de complicações renais, no Hospital João Ribeiro na cidade de Campina Grande.

A obra de Silvino Olavo é considerada um dos principais exemplos da influência da escola simbolista na Paraíba, sem, no entanto, segui-la de forma doutrinária. Para o crítico João Lelis, Silvino promove uma transição entre o simbolismo e formas mais livres, considerando-o um pioneiro do modernismo no estado. Assim também o caracteriza Gemy Cândido, que o considera dotado de uma "estranha capacidade de assimilar o moderno". Essa preocupação do equilíbrio entre o tradicional e o moderno já pode ser identificada, por exemplo, em seu poema Idealismo vão, que faz parte de Cisnes, seu primeiro volume de poesias publicado no Rio de Janeiro em 1924:

Embora os problemas de saúde mental tenham interrompido suas publicações, a obra de Silvino continuou exercendo influência inclusive para novas gerações de escritores. A coletânea de poesias que lançou a chamada Geração 59 foi originalmente dedicada "a dois grandes poetas, Augusto dos Anjos e Silvino Olavo".

 Obras publicadas

Cisnes, 1924. Poesia

Estética do Direito, 1924. Ensaio

Esperança - Lírio Verde da Borborema, 1925. Discurso

Cordialidade, estudo literário, 1ª série, 1927. Ensaio

Sombra Iluminada, 1927. Poesia

Bibliografia

ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz. São Paulo: Duas Cidades, 1983.

BATISTA, Simone Vieira. A trajetória intelectual de Silvino Olavo: uma análise histórica, cultural e educacional. 2011. Dissertação (Mestrado em Educação) - Centro de Educação, Universidade Federal da Paraíba.

BRITO, Vanildo Ribeiro de (org.). Geração 59. João Pessoa: Edições Linha D'Água, 2009.

CÂNDIDO, Gemy. História crítica da literatura paraibana. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura, 1983.

DEUS, João de. A vida dramática de Silvino Olavo. João Pessoa: Unigraf, 1990.

DOLIVEIRA, Peryllo. Obra poética. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura, 1983.

LELIS, João. Maiores e menores. João Pessoa: Editora Teone, 1953.

OLAVO, Silvino. Cisnes - Sombra Iluminada. João Pessoa: Secretaria da Educação e Cultura do Estado, 1985.