quarta-feira, 20 de setembro de 2023

 

Hoje, 20 de setembro de 2023, meu pai estaria completando 120 anos, se não tivesse partido para outros sertões, a vinte anos atrás.

Para não esquecer que ainda continua vivinho da silva, segue abaixo mais um pequeno romance com cento cinquenta páginas, que será publicado logo mais.

 

PARAÍBA NOSSA TERRA NOSSA GENTE

 

João Henriques da Silva

 (In Memoriam – 20/09/1901 - 16/04/2003)

Escrito em 1986

 

Januário, estudante de direito, havia saído dos sertões das Espinharas e sempre pensando em voltar para sua terra, onde lhe havia enterrado o umbigo e desejava também que enterrassem os ossos. Era só terminar o curso e já estaria com o pé no caminho. Não conseguia adaptar-se ao ambiente sofisticado das cidades do litoral. E não era só. O clima mais úmido e aquele calor abafado das grandes cidades davam-lhe certo mal-estar. O bom mesmo era encher os pulmões com os ares do sertão, conviver com a natureza virgem, ter diante de si vastos horizontes. Tinha saudades do badalar dos chocalhos, das acauãs, dos gaviões peneira pendurados no espaço, e das jandaias e graúnas a cantarem nas copas dos carnaubais. Nunca mais tinha visto o sol nascer e nem se pôr na fímbria do horizonte. As ruas estreitas e compridas, o casario escondendo a visão e o mundo, aquela gente desconhecida indo e vindo apressada com quem está fugindo de alguma coisa, causava-lhe medo e desalento. E o pior de tudo é que ninguém compreendia ou aceitava o seu apego ao sertão. Aquilo era coisa de matuto que não se encontrava com a civilização. E daí advinha às discussões quase sistemáticas com os colegas que, afinal de contas, só conheciam o sertão através dos jornais que noticiavam os horrores das secas e o cangaço, dos antigos sertões sem rodovias, sem açudes, arrebentados pelos longos verões, ignoravam tudo.

Januário ouvia, já sem comentar, histórias que faziam do sertão, uma terra arrasada pelo próprio homem, que devastou as primitivas matas e afugentou as chuvas. Terra de gente indolente e atrasada. Por todos os seus males, o homem era o responsável. Não podia entender aquela facilidade de afirmações, originadas de quem jamais tivera a preocupação de pesquisar as causas do subdesenvolvimento da região.

 

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