Joaquim Pinto Madeira
OS TEMPOS MORTOS
Grijalva Maracajá Henriques*
REPORTAGEM DO PASSADO
INVASÃO DA CIDADE DE SOUZA POR PINTO MADEIRA
SÉCULO XIX
1832
FEVEREIRO
SOUSA – PARAÍBA
(Entre 15 e 18 de agosto 1831)
Os capitães-móres das villas de
Pombal e Souza comunicam ao Presidente da Provincia que por ali andam
emissarios de Joaquim Pinto Madeira procurando crear proselitos da sua politica
contra a Constituição.
Fevereiro de 1832
Constando ao Governo
da província que Joaquim Pinto Madeira e o Padre Antonio Manuel da Silva (1)
estavam preparando forças para invadir a Villa de Souza, pondo os seus
moradores em fuga, manda seguir àquella Villa as praças de milícias de Pombal,
partindo da capital o sargento-mór Francisco Sergio de Oliveira com regular destacamento.
Afim de animar o
povo da referida Villa faz publicar a seguinte
PROCLAMAÇÃO
Habitantes
da Villa de Souza, cara porção da Provincia Paraibana. Chega noticias a este
governo que alguns de vós atemorisados com o malvado e criminoso obrar de Joaquim
Pinto Madeira, pretendem largar os seus lares!... Não façaes tal. Os Paraibanos
nunca torcerão o rosto aos perigos huma vez aparecidos. O vosso governo
confiando muito na vossa coragem não tem té agora julgado necessario reunir
maior numero de forças para prender hum facinoroso que por ahi poderá passar
ocultamente em fuga depois de destroçado e perseguido pelas Tropas do Ceará.
Porem não devendo ser surdo dos vossos clamores, elle já fez marchar para esse
ponto o denodado Sargento mór Francisco Sergio de Oliveira, Cidadão probo, que
a vossa frente he capaz de repelir a esse execravel Madeira, idiota,
despresivel pelos seus crimes e indigno do nome Brazileiro. Marcharão também em
vosso socorro os intrepidos Pombalenses, marchará emfim toda a Província se
tanto for necessario para vos livrar de qualquer assalto. Habitantes da V.ª de
Souza! Valor e coragem: a virtude não teme o crime: guerra eterna ao idiondo
despotismo, a sanguenolenta anarquia e a todos os perturbadores do sucego
publico. Viva a Constituição do Imperio. Viva a Regencia. Viva a Assembleia
Geral Legislativa. Viva o Sr. D. Pedro Segundo. Paço do Governo da Par.ª 21 de
Fevereiro de 1832. Galdino da Costa Villar.
(1) Este padre morava no Jardim do Ceará e
era conhecido pelos alcunhas de PADRE PENCA ou BENZE CACETE, porque gostava de
pedir penca de bananas e havia benzido uma capoeira proxima a sua residência,
para que os QUYRIS** tivesse força sufficiente de quebrar as costellas dos
brasileiros amigos da Constituição e inimigos de Pedro I.
Depois de 30 de Abril de 1832
O espirito
publico no interior da Provincia estava em vacillação a vista dos factos
desenrolados no scenario político desde o anno passado, principalmente na zona
próxima dos limites com o Ceará, onde se achavam em campo o revolucionario
Pinto Madeira e as forças legaes que seguiam em seu encalço.
A
Villa de Souza, mais do que nenhuma, commungava desse estado de cousas, por
isso o governo mandara forças ali estacionar, não só para garantir as
autoridades no caso de um levante de partidos, como para obstar a invasão daquelle
caudilho, conforme lhe fora ordenado por Aviso Imperial de 3 de Março deste
anno.
EDITAL
“Galdino da Costa Villar, cavalleiro
da Ordem de Christo e Presidente da Provincia da Paraiba do Norte por S.A. I.
C. o Dr. D. Pedro 2º. Que Deus guarde &. Havendo este governo por ofticio
de 19 de Maio ordenado que os Snrs. Commandantes dos Corpos de 2ª. Linha participassem
que numero de praças disponíveis haviam em seus Corpos que podessem marchar
contra o malvado Pinto Madeira que se acha em oposição ao Systema Livre que nos
rege e Ordenado em 14 de Junho a immediata reunião e se não tendo té agora
effectuado: Este Governo a quem incube o cuidado de vos defender recorre ao
vosso patriotismo, Parahibanos que em todo o tempo tem sido decidido quando se
trata de defender a Liberdade, convida a todos os Cidadãos quer quizerem mais
esta vez servir a Liberdade que se venhão apresentar para formando-se a força
marcharem com a possível brevidade. Parahibanos, a Pátria requer vossa
coadjuvação e confio que vos prestarei gostosos a hum tal empenho. Vinde
marchai e debelar os inimigos ao nosso bem fez. Paço do Governo da Parahiba, 18
de Junho de 1832. Antonio Borges da Fonseca, secretario do Governo subscrevi.
Galdino da Costa Villar.
26 de Junho de 1832
Uma força do Ceará, em perseguição a
revolucionaria de Pinto Madeira, passando as fronteiras da província e
reunindo-se ao do Juiz de Paz de Souza, com o effectivo de mil homens, neste
dia, chega a povoação de São João de Souza, commettendo attentado de toda
natureza, em represália, maltrata os habitantes dessa povoação sob pretextos de
que eram partidistas daquelle revolucionario cearense.
Dias depois
O capitão Gonçalo José da Costa que
servia de juiz de paz da Villa de Pombal, marchando com quinhentos e oitenta
homens para a comarca do Crato, a unir-se com as tropas legaes commandadas pelo
Major Francisco Xavier Torres, foi atacado na Villa do Icó pelas forças
revolucionarias de Madeira, resultado deste encontro a morte do alludido
capitão e a debandada dos revolucionarios.
Ainda
no corrente anno o Governo Provincial faz seguir um destacamento de cem praças,
sob o commando do sargento mor João Francisco Barreto, para auxiliar as forças
legas em operações no centro do Ceará contra Pinto Madeira.
(Ipsis Litteris)
Finalmente como se viu, Pinto
Madeira não invadiu a cidade de Sousa.
Só
pra relembrar:
A cidade de Jardim sul do Ceará fica
na região dos Cariris Novos, a uma distancia de Fortaleza de 537 km. Limita-se
ao Norte com a cidade de Porteiras e Abaiara; ao Sul com Pernambuco; ao Leste
com Jati e Penaforte; ao Oeste com Barbalha. Sua latitude: 07º34’57” sul e a
longitude: 39º17’53” oeste; Altitude de 648 metros. Jardim fica distante da cidade de Juazeiro do
Norte 46 km e para Salgueiro 72 km, dois principais centros comerciais mais
próximos. Situa-se abaixo das asas protetoras da Chapada do Araripe, “berço da
família de minha esposa, onde também possuo uma pequena casa em cima da
chapada, que vez por outra vamos de Campina Grande – PB, nos deliciar com o
clima e a vista que alcança vários quilômetros de Nordeste adentro”.
Referindo-nos ao texto acima citado de
Ireneu Ferreira Pinto, onde o povo de Sousa se alarmou com a presença do Cel.
Joaquim Pinto Madeira e do padre Antonio Manuel de Souza com sua gente
revolucionária, tinha de fato procedência, pois estes idealistas monárquicos
lutaram e estiveram de fato na Paraíba. João Brigído cita na sua obra: “A
revolta tinha-se circunscrito ao Jardim, Missão Velha, Barbalha, Milagres, S.
Matheus e Rio do Peixe da Paraíba...”.
Jardim teve participação na história de lutas
políticas e sociais do pretérito passado como a Revolução de 1817, a
Confederação do equador em 1824 e a revolução inventada por Joaquim Pinto
Madeira em 1832 contra a cidade de Crato e os liberais.
Joaquim Pinto Madeira tinha o título de
coronel, nascido na cidade de Barbalha do sítio Coité, Ceará. Nasceu em 1783 e
foi fuzilado no lugar chamado de Barro Vermelho em 28 de novembro de 1834;
próximo à antiga Vila do Crato, com 51 anos de idade. Morto por ódio de
vingança pessoal e não por ter defendido D. Pedro I e por ser adorador
incondicional da Monarquia.
Com
a abdicação do Imperador Pedro I, veio às regências que por fina força não
atendia os lamentos de seus antigos correligionários como foi o caso do Pinto
Madeira, que durante a Confederação do Equador ajudou as forças imperiais
lutando e derrotando os revolucionários da vila de Crato. Fora agraciado por
merecimento com o título de Comandante Geral das Armas do Crato e do Jardim.
Criou-se
uma rivalidade entre os povos das duas cidades vizinhas e quando foi destronado
Pedro I, O Pinto achou que era obra dos Liberais e dos republicanos contra os
quais havias travado lutas; juntou-se com o padre Antonio Manuel de Souza
nascido no Rio Grande do Norte em 1776 e morrendo em Jardim no dia 5 de
setembro de 1857, completamente cego; fora um político e sacerdote muito
dinâmico, eleito em 1822, deputado geral à Assembleia Constituinte, porém não
tomou posse por esta ter sido dissolvida; Junto com Madeira fundou uma milícia
de mais de mil homens para empreender lutas contra a Vila de Crato, que
funcionava como Republica do Cariri.
Na
falta de armas brancas e de fogo, usavam-se cacetes.*** Para encorajara os seus
bravos soldados o padre os benzia e como a demanda era muito grande chegou a
benzer uma pequena mata nos arredores da cidade, para facilitar o seu trabalho
e assim ficou conhecido com o padre “benze-cacetes”.
*O autor é historiador
e pesquisador.
Notas de esclarecimentos:
**Quyris ou Quiris:
Quirites foi o primeiro nome dos cidadãos de Roma Antiga. O singular é quiris
que significa “lança”. Combinado com a frase populus Romanus Quiritum denotava
o cidadão individual, em contraste com a comunidade. Dai quiritium ius no
direito romano é a cidadania romana completa. Posteriormente, o termo perdeu as
associações militares, devido á concepção original do povo como uma tropa de
guerreiros, e foi aplicado, às vezes em um sentido depreciativo aos próprios
romanos em assuntos domésticos, enquanto Romani passou a ser reservado para as
relações externas. (Acho que este era o que o autor do livro queria dizer...).
***Cacete - cla.va
Ex.: Mas
se ergues da justiça a clava forte
verás que um filho teu não foge à luta
(Joaquim Osório Duque Estrada- Hino Nacional Brasileiro)
Fontes:
Pinto,
Ireneu Ferreira, - Datas e Notas para a Historia da Parahyba - Imprensa
Official – Parahyba do Norte 1916 – V. II p120.
Donato,
Hernâni, Dicionário das batalhas brasileiras – 2ª. Ed. ampl. – São Paulo:
IBASA, 1996. P113.
Brigído,
João, Ceará (Homens e Fatos) – Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001 p56/62.
Napoleão Tavares Neves, médico e historiador.
Wikipédia