domingo, 25 de setembro de 2016

POLITICAGEM ONTEM E HOJE

QUALQUER SEMELHANÇA É MERA COINCIDÊNCIA

Leiam este pedaço de diálogo do conto do meu pai e vejam se alguma coisa mudou na nossa politica.

PARAÍBA NOSSA TERRA NOSSA GENTE


João Henriques da Silva
 (In Memoriam – 20/09/1901 - 16/04/2003)
Escrito em 1986

... - Ah! Meu amigo, amizades sem eleitor é prato vazio para políticos. Não importa a qualidade da comida ou de onde ela sai. O que vale é a quantidade na hora do pega pra capar. O sujeito tem é que se eleger e para ele todo voto cheira bem. Olha aí o Serapião. Foi o mais votado do estado e apesar do que se sabe já se fala nele para futuro governador. E não te espantes que isto aconteça. O negocio é estar de cima seja com quem for e o estado que se amole. Ora, estais brincando com a turma. Dentro do mesmo partido e ninguém respeita voto dos outros. É como um bando enorme de urubus na carniça de um papa-capim.
                O boboca do Adelino ficou de tanga na última campanha para eleger um “grande amigo” e agora anda por aí tomando benção as ticacas. Parecia até que era quem iria se eleger. Festa, comícios, compra de votos, viagens, mentiras e promessas. Tudo improvisado em cima da hora. Não tinha base eleitoral. Gastou o que tinha e lascou-se. O homem não se elegeu e ainda se justificava.
- Pesava que o Adelino tivesse prestígio e o cara de pau, enganou-me. Devo-lhe a decepção que sofri. É pouco que tenha se esboroado economicamente. Não se faz isso com um candidato a deputado. Falta de respeito e consideração. Se não tinha votos deveria ter ficado onde estava.
- O Adelino teria o filho nomeado fiscal de rendas e a filha professora estadual, com boa remuneração e agora nem mel, nem cabaça.
Já o Buriango, um cabra de peia, cabo eleitoral espertalhão só por que conta com algumas dúzias de votos e acompanha o governo, foi nomeado, efetivo, fiscal da prefeitura. Sujeito de má fama, um velhaco, mas o importante é o eleitor. Infelizmente vive-se num mundo deformado em que o caráter das pessoas é coisa secundária. Sente-se necessidade, Dr. Januário, de gente de bem que faça alguma coisa para mudar a sola dos sapatos dessa cambada. E para chegar até lá tem que ser à base do voto. Criar bases na confiança do povo.
Depois de eleito, moralizar a administração, trazer benefícios honestos. Incentivar os empreendimentos úteis, acabar com a miséria. A pobreza é uma porta escancarada para a subordinação. Um par de “apragatas”, um vestido de chita, ou uma camisa de pano ordinário é quanto está valendo um voto. Uma lástima. A fome acaba com a vergonha das pessoas. Justifica-se. Descaramento é de quem compra para ludibriar o povo. E são tantos os descarados, os cínicos, que só se usando erva de rato e chicote.
- Entendo onde pretende chegar. Reagir contra a falta de vergonha. Concordo em gênero e número. Enrijecer a espinha, esclarecer o povo, fazê-lo independente e atirar os espertalhões que exploram, na esterqueira das pocilgas. Não morro de amores pela política, mas não há dúvidas de que é necessário conter essa onda de irresponsabilidade.
Nunca deixou de haver sujeira política, no entanto, o monturo já esta fedendo demais. Explora a pobreza e a miséria como se estivessem minerando ouro. Combate-se o banditismo armado, mas não se combate essa caterva de vagabundos que se cevam com os dinheiros públicos escanchados nas costas magras do povo.
Existem, sem dúvida, exceções. Homens de bem que se envergonham de pisar nos mesmos batentes por onde passam os depósitos de lixo humano.
- Há! Meu amigo, e pensam que o povo não os conhece. Vão e vem, com a cara mais lisa deste mundo, com um cinismo estarrecedor, batem nas mesmas portas, cantam as maiores mentiras, fazem maiores promessas e terminam se reelegendo, ano após ano, à falta de policiamento ostensivo. Será que há crime pior do que iludir a boa fé do povo e manter-se no erário público para cevar-se com o dinheiro que os honestos pagam até pela farinha que comem e o leite que alimenta os filhos?
- Parece-me que há gente de mais para legislar e, inclusive, toupeiras analfabetas que só se sabe que têm boca pelo mau hálito ou as burradas que dizem.
Bastariam, ao meu entender, três de cada Estado, escolhidos por sua sabedoria e honestidade. As câmaras deixariam de ser essa coisa heterogênea onde, enquanto alguns defendem o povo e engrandecem o País, muitos rincham, batem ou roncam, com se ali fosse uma cocheira, um canil ou uma hospedaria de vadios. Para que diabo, meu Deus, quer a Nação, esse bando de inúteis e marginais da política, vivendo à tripa forra e zombando do povo, como uns privilegiados. Será que os poderes públicos não enxergam esse absurdo!
- Ora, meu doutor, esses resíduos orgânicos são o adubo da roça dessa gente. E quanto mais fermentados e mais podres, maior o efeito em sua seara política. Não produz espigas nem grão, mas rendem votos com que se ajudam mutuamente e se sustentam em cima do trabalho e à boca dos cofres da Nação. Podem faltar escolas, merenda escolar, algodão e gaze nos hospitais, dinheiro para alentar a produção agrícola que lhes enche as tripas, contanto que se encastelem no poder e possam viver bebendo a melhor água, comendo o melhor pão e gozando todas as regalias. O povo é - como diziam Jararaca e ratinho – um Alagoano e um Paraibano – o povo é uma porção de ninguém. Pode a fome roer-lhes as vísceras e a seca trincalhes os ossos, isto é coisa natural e a culpa é das secas que Deus manda para castigar os que trabalham e cevam os espertalhões. Quem não pode viver, morre, já dizia um desses políticos de Pernambuco.

Tem que prevalecer é a lei do mais forte, do mais esperto e mais manhoso. Estão aí os nossos sertões abandonados, vivendo de esmolas nas épocas das grandes crises. E dessas esmolas que nos manda, grande parte vai parar nas mãos dos espertalhões, na gaveta dos barracões a troco de produtos, residuais das colheitas, alimentos tão sórdidos que o difícil é saber onde podem ser encontrados. Mas ninguém viu ninguém vê. Muitas vezes a intenção do Governo é legitima e oportuna, em forma de socorro, mas à beira das estradas estão os salteadores de dentuça de fora já antegozando a fartura dos lucros em cima da miséria do povo faminto, destroçado pela seca. É um desaforo que se deixe na impunidade esses exploradores dos infortunados e da própria ação governamental. E ai do empregado que denuncie o descalabro. No mínimo será afastado para não se meter a besta...

terça-feira, 20 de setembro de 2016

ANIVERSÁRIO DE MEU PAI

Vinte de setembro. Relembrando esta data, me lembrei de Raimundo Correia, quando bateu a saudade:
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... Mais outra... Enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bandos e em revoada...

Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.

Cento e quinze anos faz hoje que nasceu meu pai – João Henriques da Silva.  Parece que estou vendo como se meu lar fosse um pombal e minha família em revoada partindo para outros sítios sem querer voltar, como os sonhos.

Partiu primeiro minha irmã Níobe, se avexou, não sei por que tanta pressa, ainda tinha tanto que fazer.
Depois lá se foi o Robério. Eita danado! Os cabras, seus leitores ficaram virado na peste. Reclamando das suas crônicas inteligentes.
 Aí quase beirando os cento e dois anos, partiu o Dr. João. Acho que realmente havia cumprido sua missão, já era tempo mesmo, já não aguentava ser mandado por ninguém.
De saudade; pouco tempo depois voou minha mãe, quase setenta e cinco anos de casada, e, como os pombos, não podiam jamais se separar, pois são monógamos, lá se foi ela atrás dele.
Não demorou muito, corre o Parsival a procurá-los, achando que os traria de volta. Também; não podia ir mais a rua trocar seus relógios. Desistiu!
Pela escala de idade, vivo dizendo que quem vai agora é minha irmã Ceres, mas se dana logo e diz que não pode, pois tem que ainda regurgitar para seus filhotes, - cada um mais velho do que ela.
 Isis a mais nova, fim de rama, não posso prever, apenas seguimos a ideia de que primeiro parte os mais velhos, então vamos deixar que o tempo se arrume com ela.
Aí fico eu, morrendo de inveja deles juntos lá em cima, e de saudade também, doido pra da um voo solo, e com medo de deixar meu poleiro sem ter cumprido minhas obrigações. 
Ah! Se a gente pudesse dominar o destino e previr o futuro! Mas seria bom? Como a gente iria enfrentar as presepadas do passado que deixamos de acertar contas? Era bom se Jesus tivesse resolvido deixar Lázaro vir contar pra gente. Nos dias de hoje era até fácil, danava um e-mail pro céu e rapidinho vinha à resposta, em forma de boleto, com todos os dados pra gente pagar, nalgum banco aqui da terra, ou nas prisões do dia a dia neste mundo de meu Deus.

Campina Grande, 20 de setembro de 2016
Grijalva Maracajá Henriques