segunda-feira, 10 de junho de 2024

EPAMINODAS

 

EPAMINONDAS

Já nasceu trabalhando. Ou rastejando pelo chão, pelo menos aperreava o pai quando este fazia algum trabalho em casa.

Nasceu de uma família pobre e honesta. Operários de fábrica de tecelagem. Prole grande e todos bulindo quando a idade dava para o serviço na velha fábrica na beira do Rio São Francisco.

Epaminondas cresceu nesse sistema de trabalho árduo e continuo, onde um dia de serviço não valia o suor do cabra. Era o sistema antigo da exploração da mão de obra do semianalfabeto. Das cinco da manhã as cinco da tarde. A boia do meio dia o acompanhava, fria e pouca. Dona Madalena acordava cedo para preparar os farnéis da turma e ficava até à tardinha ao pé do fogão esperando o retorno do chefe da casa e dos filhos mais crescidos para a ceia de costume.

Camisa aberta ao peito, calça arregaçada até o meio da canela; Epaminondas abria a portinha da sua bodega, que dava para uma rua importante e sentado num tamborete a beira do balcão, além de vender umas poucas bugigangas fazia trabalhos artesanais para aumentar a renda família.

Nunca parava de trabalhar. Era um incansável opífice.

As folgas eram sábado a tarde e o domingo. A tarde do sábado era arranjar sua bodega e remendar sua casa para caber cada ano mais um filho. O domingo era de Deus. Missa as cinco no convento mais próximo, vestido todo de branco e após suas devoções cumpridas. Pegava as velas de uma canoa, as tralhas de pesca e descia ao porto mais próximo para alugar uma pequena canoa e se danar rio acima a procura do peixe para dona Madalena preparar o de comer da família.

Era uma máquina! Ajudava quem podia com suas mãos fortes e sadias. Vizinho tinha problema, lá ia Epaminondas consertar, de graça. Não bebia, não fumava, não chamava nome feio, não desejava mal a ninguém. Vida decente como mandava o figurino da Igreja.

Trabalhou nesse rojão durante quase setenta anos sem um dia de folga, sem reclamar do trabalho que Deus lhe dera. Era um homem agradecido.

Mas, um dia o cabra quebra mesmo na emenda. Estourou pelas costas de tanto trabalhar, como diz o ditado popular.

Desde menino aos pés do padre, coroinha, acólito e depois pertencia as inúmeras irmandades:  as do Santíssimo Sacramento, da Misericórdia e da Santa Cruz dos Militares e quando ia a missa portava uma medalha dourada dependurada por uma faixa azul.

Tava com o lugar reservado no céu. Tinha certeza disso.

Bateu as botas e quando acordou já foi aos pés de Pedro.

Encantado de ver a iluminação etérea. Caiu de joelho de cabeça baixa, aguardava a ordem de entrar no paraíso.

- Filho – disse Pedro, tenho acompanhado todo a sua vida desde sua ida para a terra até seu glorioso retorno a casa do pai. Cumpriu toda a determinação que lhe foi dada. Parabéns.

Abriu um livro e começou a ler silenciosamente, página por página.

- Filho aqui conta toda sua luta e acho que você vai continua com toda sua experiência de trabalho incansável para o desenvolvimento aqui do céu. Já tínhamos um lugar reservado para você. Você vai trabalhar no setor onde se quebrar pedra de corisco por sua inesgotável força de vontade ao trabalho divino.