EPAMINONDAS
Já nasceu
trabalhando. Ou rastejando pelo chão, pelo menos aperreava o pai quando este
fazia algum trabalho em casa.
Nasceu de uma família
pobre e honesta. Operários de fábrica de tecelagem. Prole grande e todos
bulindo quando a idade dava para o serviço na velha fábrica na beira do Rio São
Francisco.
Epaminondas cresceu
nesse sistema de trabalho árduo e continuo, onde um dia de serviço não valia o
suor do cabra. Era o sistema antigo da exploração da mão de obra do semianalfabeto.
Das cinco da manhã as cinco da tarde. A boia do meio dia o acompanhava, fria e
pouca. Dona Madalena acordava cedo para preparar os farnéis da turma e ficava
até à tardinha ao pé do fogão esperando o retorno do chefe da casa e dos filhos
mais crescidos para a ceia de costume.
Camisa aberta ao
peito, calça arregaçada até o meio da canela; Epaminondas abria a portinha da
sua bodega, que dava para uma rua importante e sentado num tamborete a beira do
balcão, além de vender umas poucas bugigangas fazia trabalhos artesanais para
aumentar a renda família.
Nunca parava de
trabalhar. Era um incansável opífice.
As folgas eram sábado
a tarde e o domingo. A tarde do sábado era arranjar sua bodega e remendar sua
casa para caber cada ano mais um filho. O domingo era de Deus. Missa as cinco
no convento mais próximo, vestido todo de branco e após suas devoções
cumpridas. Pegava as velas de uma canoa, as tralhas de pesca e descia ao porto
mais próximo para alugar uma pequena canoa e se danar rio acima a procura do peixe
para dona Madalena preparar o de comer da família.
Era uma máquina!
Ajudava quem podia com suas mãos fortes e sadias. Vizinho tinha problema, lá ia
Epaminondas consertar, de graça. Não bebia, não fumava, não chamava nome feio,
não desejava mal a ninguém. Vida decente como mandava o figurino da Igreja.
Trabalhou nesse rojão
durante quase setenta anos sem um dia de folga, sem reclamar do trabalho que
Deus lhe dera. Era um homem agradecido.
Mas, um dia o cabra
quebra mesmo na emenda. Estourou pelas costas de tanto trabalhar, como diz o
ditado popular.
Desde menino aos pés
do padre, coroinha, acólito e depois pertencia as inúmeras irmandades: as do Santíssimo Sacramento, da Misericórdia e
da Santa Cruz dos Militares e quando ia a missa portava uma medalha dourada
dependurada por uma faixa azul.
Tava com o lugar
reservado no céu. Tinha certeza disso.
Bateu as botas e
quando acordou já foi aos pés de Pedro.
Encantado de ver a
iluminação etérea. Caiu de joelho de cabeça baixa, aguardava a ordem de entrar
no paraíso.
- Filho – disse
Pedro, tenho acompanhado todo a sua vida desde sua ida para a terra até seu
glorioso retorno a casa do pai. Cumpriu toda a determinação que lhe foi dada.
Parabéns.
Abriu um livro e
começou a ler silenciosamente, página por página.
- Filho aqui conta
toda sua luta e acho que você vai continua com toda sua experiência de trabalho
incansável para o desenvolvimento aqui do céu. Já tínhamos um lugar reservado
para você. Você vai trabalhar no setor onde se quebrar pedra de corisco por sua
inesgotável força de vontade ao trabalho divino.