domingo, 27 de novembro de 2016

TEBAS

TEBAS O ESCRAVO ARQUITETO DO SÉCULO 18
O talento de construtor transformou o escravo Tebas em figura lendária; mas até hoje continua pouco conhecido.






EM 1755, A REFORMA DA CATEDRAL FICOU PRONTA, COM A TORRE - OS PROBLEMAS TÉCNICOS FORAM RESOLVIDOS PELO, ENTÃO, ESCRAVO:

Joaquim Pinto de Oliveira, o escravo Tebas, foi responsável pela construção de obras importantes durante o século 18, como a torre da primeira Catedral da Sé, Chafariz da Misericórdia, talhou a pedra de fundação do Mosteiro São Bento, ergueu o frontispício da Igreja da Ordem Terceira Carmo, este tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), entre outras obras. Contudo, até hoje tão pouco se sabia a respeito da vida dele, que o historiador Nuto Sant'Anna chegou a levantar a hipótese de que ele fosse branco e o habilidoso escravo Tebas não passasse de lenda. Mas, Leituras da História encontrou documentos inéditos que comprovam a existência desse escravo arquiteto.
Para Benedito Lima de Toledo, professor emérito da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, a notoriedade conquistada por Tebas está relacionada ao período em que ele viveu. No início do século 18, São Paulo era uma pequena cidade episcopal sem recursos financeiros, cujas escassas obras arquitônicas estavam em ruínas. Mas esse quadro começou a mudar a partir de 1840. Algumas das antigas igrejas e conventos foram totalmente reconstruídas e outras passaram por grandes reformas - tanto internas quanto externas. "Depois de primeira metade do século 18, tudo mudou e esse se tornou o tempo em que mais se construiu durante todo o período colonial", comenta Toledo. "E Tebas foi um escravo que conseguiu representar a forte religiosidade dessa época por meio de suas construções", acrescenta.
A outra face da notoriedade de Tebas são as histórias repassadas oralmente pelo povo, com o acréscimo de elementos dramáticos, e que acabaram se tornando falsas verdades. Vários textos encontrados tanto na Internet quanto em livros, relatam que, em 1750, Tebas pertencia ao padre responsável pela primeira Catedral da Sé. Um dia ele perguntou ao senhor por que não tinha torre na igreja. O eclesiástico respondeu não haver engenheiro capaz de construí-la, Tebas disse que executaria a obra sob as condições de receber a carta alforria e que o primeiro casamento realizado na catedral fosse o dele.
LIBERDADE E CASAMENTO
As dificuldades na construção da torre de fato existiram. Monsenhor Sylvio de Moraes Mattos cita na página 60 do livro A Igreja Matriz da Vila São Paulo e a Velha Sé, não publicado, mas disponível para pesquisa no arquivo da Cúria Metropolitana, que o primeiro bispo dom Bernardo pedira ao rei dom José (1750-1777) 10 mil réis para construir a torre, mas os engenheiros haviam esbarrado em problemas técnicos, os quais foram posteriormente resolvidos pelo, então, escravo.
Mas, de acordo com a certidão de casamento encontrada por nossa reportagem, o já alforriado Joaquim Pinto de Oliveira se causou com Natária de Souza, em 10 de junho de 1762, sob o sacramento de padre Antônio de Toledo Lara, bem depois da construção da torre. Na mesma certidão, consta que Tebas foi escravo de Bento de Oliveira Lima, um português reconhecido como grande mestre pedreiro, ou seja, ele nunca pertencera a qualquer padre.
Outro mito diz respeito ao verbete "Tebas", registrado no dicionário Houaiss, que significa aquele que é hábil, importante ou destemido. Mas, para Nuto Sant'Anna, a alcunha é alusiva à habilidade, à agudeza, à perspicácia do engenhoso tebano que decifrou o enigma da esfinge. Nesse caso, não foi o Tebas que deu significado ao termo, mas o Édipo de Tebas, o qual deu também significado ao apelido do escravo. A observação de Sant'Anna parece ser a que mais se aproxima da verdade. Pois, só em 1791, já mestre pedreiro renomado, é que Tebas assume o vulgo e passa a assinar Joaquim Pinto de Oliveira Tebas, aquele que construiu de tudo na São Paulo do século 18.
FORMAÇÃO E OBRAS
Tebas nasceu em 1721, em Santos, litoral sul de São Paulo. Ainda nessa cidade era escravo do português Bento de Oliveira Lima, célebre mestre de obras. Foi com esse português que o notável escravo teve os primeiros ensinamentos no ofício de pedreiro. Lima, pelo que tudo indica, teve notícias de que em São Paulo as construções estavam a todo vapor e decidiu migrar em busca de melhores oportunidades de trabalho. O português Bento de Oliveira Lima, célebre mestre de obras, foi quem deu os primeiros ensinamentos no ofício de pedreiro ao notável escravo. 
Não se sabe exatamente quando eles chegaram a São Paulo. Mas a ascensão de Tebas como construtor teve início nessa cidade, na década de 1750. Foi durante esse período que ele construiu a torre da primeira Catedral da Sé. "O que contribuiu para a fama de Tebas foi a capacidade de trabalhar em construções altas", relata Carlos Lemos, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, arquiteto há 62 anos. "Só ele construía as torres das igrejas na época", afirma Lemos. Depois da construção da torre, executou ainda a reforma do frontispício da catedral em 1760. A nova fachada passou a exibir um frontão barroco com curvas e antecurvas, substituindo o frontão triangular original, e a porta de entrada com arco batido tomou o lugar da antiga verga reta. Para trabalhar nessas obras, Tebas recebia o salário de 640 réis por dia, uma vez e meia o salário de um construtor branco.
Em 1765, a empreitada foi a construção da torre do Recolhimento de Santa Teresa, erguida a partir da técnica de taipa de pilão, predominante no século 18, e coberta por telhas de barro. No ano seguinte, 1766, Tebas se encarregou da construção do frontispício da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A importância histórica e artística das obras desse negro talentoso, explica o professor Benedito Lima de Toledo, está no fato de que praticamente não existiam engenheiros e, menos ainda, erudição nas construções. "Tebas partia da experiência de mestre-pedreiro, captava a religiosidade da época e dava sua marca pessoal às obras", relata. "Essa expressão da religiosidade é que o transformou em arquiteto e suas obras em arte", conclui Toledo.
Nos documentos do Senado da Câmara de 1791, em ata no arquivo mun. 6XII, pag. 160, Tebas aparece como proprietário de dois escravos, ambos de nome João. Ainda nesse ano, os três trabalharam na construção do Chafariz da Misericórdia, inteiro talhado em pedra e com quatro torneiras. A obra foi dirigida por Joaquim Pinto de Oliveira Tebas, segundo consta nos documentos e, por isso, ficou conhecido como o Chafariz do Tebas.
O Chafariz da Misericórdia foi o primeiro chafariz público de São Paulo. Situava- se em um pequeno largo na Rua Direita, esquina com a Quintino Bocaiuva e a Álvares Penteado. A água era conduzida por gravidade das nascentes do Caaguassú, no atual bairro do Paraíso, por meio de tubos produzidos com papelão betumado. Por essa construção, o historiador Affonso Antônio de Freitas atribuiu a Tebas também o legado de ter construído o primeiro sistema público de abastecimento regular de água em São Paulo.
A última obra de importância histórica executada por Tebas foi no Mosteiro São Bento. Em 1897, a fachada da igreja beneditina ostentava arcos abatidos nas envasaduras e frontão triangular com ornamentos talhados em pedra por Tebas. "Também foi o Tebas quem talhou a pedra de fundação do mosteiro", conta Emanoel Araujo, diretor-curador do Museu Afro Brasil.
OS ÚLTIMOS ANOS
No livro de confessados da Catedral da Sé, de 1803, no qual os padres registravam todos os moradores da região, consta que Tebas estava com 82 anos e era viúvo, possuía e residia em uma casa na Rua das Freiras, em companhia de três filhas: Escolásticas, Gertrudes e Joaquina, mais dois escravos, ambos de nome João. Possivelmente, os mesmos que o ajudaram na construção do Chafariz da Misericórdia. Sob o número 3.525, no recenseamento de São Paulo, do ano de 1777, aparece o nome Joaquim Pinto de Oliveira, casado com Natária de Souza e pai de uma liberta de 9 anos, também chamada Natária. No ano do livro de confessados talvez Natária filha já estivesse casada ou morta e por isso não aparece nos registros.
Em 1808, aos 87 anos, Tebas já não trabalha pegando no pesado. Obtera o título de Juiz de Ofício, conforme o documento descoberto por Nuto Sant'Anna (veja no Box): "Sem dúvida, essa foi uma das grandes conquistas de Tebas, pois uma posição importante como essa só era ocupada por portugueses", analisa Emanoel Araujo, diretor-curador do Museu Afro Brasil. O título de Juiz de Ofício, esclarece Carlos Lemos, professor da FAU, USP, era uma certificação de perito expedida exclusivamente pelo Quartel Militar de São Paulo, também conhecida como louvação. "Em visita ao Museu Histórico Ultramarino, em Lisboa, descobri um documento do Quartel Militar de São Paulo com os nomes de todos os louvados e Joaquim Pinto de Oliveira Tebas era o único negro da lista", atesta Lemos.
E foi nessa função que Tebas encerrou seus dias. De acordo com a certidão de óbito encontrada no arquivo da Cúria Metropolitana, Joaquim Pinto de Oliveira Tebas, morreu em 11 de janeiro de 1811, aos 90 anos, vítima de moléstia de gangrena. O velório e o sepultamento foram realizados pelo padre coadjutor José Veloso Carmo na Igreja de São Gonçalo, existente até hoje na Praça João Mendes, atrás da Catedral da Sé e a poucos metros do Marco Zero de São Paulo, a cidade que Tebas ajudou a construir.
Mais trabalhos:
Por: Wagner Ribeiro
http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESLH/Edicoes/50/artigo255932-1.asp


sábado, 26 de novembro de 2016

CUBA EM FESTA

HOJE EXISTEM DOIS LOCAIS EM FESTA: CUBA E O INFERNO.






O povo cubano até que enfim festeja a morte tardia do pior bandido que a terra já possuiu. O povo estar em festa, só que não pode, ainda, gritar publicamente nas ruas por ser a pior ditadura do mundo. Mas, porém, lá nas profundezas dos infernos também haverá tertúlia. Quando souberam que esta turma citada em baixo iria recepciona-lo na entrada do Haden, mandaram crema-lo, pensando que escaparia do bota-fora, vejam a linha de frente para as boas-vindas: Azarape, Cabrunco, Cão, Canhoto, Capa-Verde, Capeta, Capiroto, Chifrudo, Coisa Ruim, Cramulhão, Crinado, Danado, Demo, Dos Quintos, Encardido, Espírito-de-Porco, Excomungado, Ferra-Brás, Indesejado, Lá de baixo, Mau, Mefisto, Pastor Negro, Pé-de-Bode, Pé-Preto, Pedro Botelho, Peneireiro, Rabo-de-Seta, Ranheta, Renegado, Sarnento, Satanás, Sete-peles, Temba, Tinhoso, Tranca-Rua, Zarapelho, Asmodeu, Azazel, Belzebu, Cadreel, Lúcifer, Mastema, Mefistófeles, Satã, Sier, Ferra Brás, Satanás. Afora os convidados especiais entre vivos e mortes que estarão no “beija mão”, muitos seus conhecidos e outros que serviram de exemplo para esta besta-fera.
AL CAPONE, BARRABÁS, BUTCH CASSIDY, LAMPIÃO, BIN LADER, ADOLF HITLER, JOSEF STALIN, MAO TSÉ-TUNG, MUAMMAR AL-GADDAFI, HOSNI MUBARAK, AUGUSTO PINOCHET, BENITO MUSSOLINI, FRANCISCO FRANCO, JOSEF STALIN, HONG XIUQUAN, FRANCOIS “PAPA DOC” DUVALIER, NICOLAE CEAUSESCU, IDI AMIN, KUBLAI KHAN, CHIANG KAI-SHEK, HIDEKI TOJO, POL POT, GENGHIS KHAN, OSAMA BIN LADEN, YAHYA JAMMEH, MUAMMAR GADDAFI, THAN SHWE, REI ABDULLAH, OMAR HASSAN AL-BASHIR, ISLAM KARIMOV, BEN ALI, ALEKSANDER LUKASHENKO, CHIANG KAI-SHEK, HIDEKI TOJO, LEOPOLDO 2º, KUBLAI KHAN, IMPERATRIZ CIX, JOSEPH STALIN, CHARLES TAYLOR, SLOBODAN MILOSEVIC, HARRY TRUMAN, NERO, TITO, MOBUTU, HIDEKI TOJO, IVAN IVANOVICH, IDI AMIN, JEAN-BÊDEL BORKASSA, PINOCHET, VIDELA, MENGISTU HAILE MARIAM, MUGABE, LEOPOLD II, entre outros, que irão futuramente, e, se brincar Lula, vai aparecer de leve com sua camarilha de bajuladores...

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

VAQUEJADA



Grijalva Maracajá Henriques

12.10.2016

Pense num moído grande este negócio de proibir vaquejada, festa tradicional do Nordeste. Onde emprega milhares de pessoas, onde os animais são mais bem alimentados do que todos os outros, a lei da vaquejada não permite maus tratos, nem nos cavalos nem nos bois e nem dos vaqueiros.
Durante o tempo que brinco e assisto, nunca vi um animal quebrar uma perna, – sei que às vezes quebra, porém nunca assisti – um rabo quebrado ou um cavalo estropiado. Quando um vaqueiro ou um tratador tenta bater no animal para forçar a entrar no brete, é logo contido pelos demais companheiros e às vezes afastado daquele serviço.
Minha gente tenho ouvido e visto pela mídia, tanta gente conversando miolo de pote e externando seus pensamentos sobre o assunto, sem nunca ter ido ver uma vaquejada. Agora, esse povo “falador” não se preocupa com outros animais que sofrem para alimenta-los: como o frango de corte que vive cinquenta e seis dias sem dormir. O próprio boi, sevado sem ter o direito de dar umas voltinhas ou de fazer carinhos numa vaca amada. O carneiro, o bode, o porco, o coelho, a galinha e o peru gordo, o peixe, o camarão, a ostra, o cavalo que recebe injeção de veneno de cobra para produzir soro, assistam o comportamento do animal quando sente que vai servir de cobaia.
“Um cavalo recebe o veneno em pequenas e sucessivas doses, que não prejudicam a sua saúde. Ele então começa a produzir anticorpos contra a peçonha. Por que são usados os cavalos? “Poderia ser qualquer animal, mas o cavalo é dócil e tem um rendimento maior na produção de anticorpos que outros mamíferos”, diz a bioquímica Hisako Higashi, do Instituto Butantan
Após dez dias, amostras de sangue são retiradas do cavalo até se constatar que já há anticorpos suficientes no corpo do animal o que leva, em média, 15 dias. Quando isso ocorre, até 16 litros de sangue são colhidos. Então, separa-se o plasma, parte do sangue onde ficam os anticorpos. O restante é reintroduzido no animal”.
Será que estes ambientalistas e naturalistas comem estas iguarias? Será que tomam o leitinho dos pobres bezerros que passam o resto do dia berrando de fome? Será?
Em Barretos (sul) existe a maior festa de gado e cavalo do Brasil, lá os bichinhos não sofrem, porque são amarrados pelos “quibas”. No sul tem também festa onde os vaqueiros laçam os bezerros pelos pés e os derrubam, fazem também uma espécie de vaqueja, outros rodam em tambores até os cavalos ficarem tontos. Meu Deus. Acho isto uma hipocrisia! Lá pode; aqui no Nordeste é crime!
Agora o pior de tudo, desta gente faladora é comer um franguinho assado com cerveja quando assisti uma luta de MMA, BOXE ou outra onde jorre sangue e olhos estufados, é uma satisfação que só vendo.
Assisto desolado, na Praça da Bandeira aqui em Campina Grande duas crianças, uma de seis e outra de oito vivendo vinte e quatro horas cheirando cola, tíner ou outra desgraça qualquer: O pai chorando (assisti) não pode leva-lo para casa porque a lei não permitiu pega-los pelos braços ou orelhas e carrega-los à força. Nos sinais de Campina, perambulando como sonâmbulos pelas ruas meninos e meninas cada qual com sua garrafinha contendo seus “direitos” dados pelo governo e incentivados por esta gente faladora, nenhum destes, vêem nada, não fazem nada. Então não falem do que não sabem.
Tenho Dito!


domingo, 25 de setembro de 2016

POLITICAGEM ONTEM E HOJE

QUALQUER SEMELHANÇA É MERA COINCIDÊNCIA

Leiam este pedaço de diálogo do conto do meu pai e vejam se alguma coisa mudou na nossa politica.

PARAÍBA NOSSA TERRA NOSSA GENTE


João Henriques da Silva
 (In Memoriam – 20/09/1901 - 16/04/2003)
Escrito em 1986

... - Ah! Meu amigo, amizades sem eleitor é prato vazio para políticos. Não importa a qualidade da comida ou de onde ela sai. O que vale é a quantidade na hora do pega pra capar. O sujeito tem é que se eleger e para ele todo voto cheira bem. Olha aí o Serapião. Foi o mais votado do estado e apesar do que se sabe já se fala nele para futuro governador. E não te espantes que isto aconteça. O negocio é estar de cima seja com quem for e o estado que se amole. Ora, estais brincando com a turma. Dentro do mesmo partido e ninguém respeita voto dos outros. É como um bando enorme de urubus na carniça de um papa-capim.
                O boboca do Adelino ficou de tanga na última campanha para eleger um “grande amigo” e agora anda por aí tomando benção as ticacas. Parecia até que era quem iria se eleger. Festa, comícios, compra de votos, viagens, mentiras e promessas. Tudo improvisado em cima da hora. Não tinha base eleitoral. Gastou o que tinha e lascou-se. O homem não se elegeu e ainda se justificava.
- Pesava que o Adelino tivesse prestígio e o cara de pau, enganou-me. Devo-lhe a decepção que sofri. É pouco que tenha se esboroado economicamente. Não se faz isso com um candidato a deputado. Falta de respeito e consideração. Se não tinha votos deveria ter ficado onde estava.
- O Adelino teria o filho nomeado fiscal de rendas e a filha professora estadual, com boa remuneração e agora nem mel, nem cabaça.
Já o Buriango, um cabra de peia, cabo eleitoral espertalhão só por que conta com algumas dúzias de votos e acompanha o governo, foi nomeado, efetivo, fiscal da prefeitura. Sujeito de má fama, um velhaco, mas o importante é o eleitor. Infelizmente vive-se num mundo deformado em que o caráter das pessoas é coisa secundária. Sente-se necessidade, Dr. Januário, de gente de bem que faça alguma coisa para mudar a sola dos sapatos dessa cambada. E para chegar até lá tem que ser à base do voto. Criar bases na confiança do povo.
Depois de eleito, moralizar a administração, trazer benefícios honestos. Incentivar os empreendimentos úteis, acabar com a miséria. A pobreza é uma porta escancarada para a subordinação. Um par de “apragatas”, um vestido de chita, ou uma camisa de pano ordinário é quanto está valendo um voto. Uma lástima. A fome acaba com a vergonha das pessoas. Justifica-se. Descaramento é de quem compra para ludibriar o povo. E são tantos os descarados, os cínicos, que só se usando erva de rato e chicote.
- Entendo onde pretende chegar. Reagir contra a falta de vergonha. Concordo em gênero e número. Enrijecer a espinha, esclarecer o povo, fazê-lo independente e atirar os espertalhões que exploram, na esterqueira das pocilgas. Não morro de amores pela política, mas não há dúvidas de que é necessário conter essa onda de irresponsabilidade.
Nunca deixou de haver sujeira política, no entanto, o monturo já esta fedendo demais. Explora a pobreza e a miséria como se estivessem minerando ouro. Combate-se o banditismo armado, mas não se combate essa caterva de vagabundos que se cevam com os dinheiros públicos escanchados nas costas magras do povo.
Existem, sem dúvida, exceções. Homens de bem que se envergonham de pisar nos mesmos batentes por onde passam os depósitos de lixo humano.
- Há! Meu amigo, e pensam que o povo não os conhece. Vão e vem, com a cara mais lisa deste mundo, com um cinismo estarrecedor, batem nas mesmas portas, cantam as maiores mentiras, fazem maiores promessas e terminam se reelegendo, ano após ano, à falta de policiamento ostensivo. Será que há crime pior do que iludir a boa fé do povo e manter-se no erário público para cevar-se com o dinheiro que os honestos pagam até pela farinha que comem e o leite que alimenta os filhos?
- Parece-me que há gente de mais para legislar e, inclusive, toupeiras analfabetas que só se sabe que têm boca pelo mau hálito ou as burradas que dizem.
Bastariam, ao meu entender, três de cada Estado, escolhidos por sua sabedoria e honestidade. As câmaras deixariam de ser essa coisa heterogênea onde, enquanto alguns defendem o povo e engrandecem o País, muitos rincham, batem ou roncam, com se ali fosse uma cocheira, um canil ou uma hospedaria de vadios. Para que diabo, meu Deus, quer a Nação, esse bando de inúteis e marginais da política, vivendo à tripa forra e zombando do povo, como uns privilegiados. Será que os poderes públicos não enxergam esse absurdo!
- Ora, meu doutor, esses resíduos orgânicos são o adubo da roça dessa gente. E quanto mais fermentados e mais podres, maior o efeito em sua seara política. Não produz espigas nem grão, mas rendem votos com que se ajudam mutuamente e se sustentam em cima do trabalho e à boca dos cofres da Nação. Podem faltar escolas, merenda escolar, algodão e gaze nos hospitais, dinheiro para alentar a produção agrícola que lhes enche as tripas, contanto que se encastelem no poder e possam viver bebendo a melhor água, comendo o melhor pão e gozando todas as regalias. O povo é - como diziam Jararaca e ratinho – um Alagoano e um Paraibano – o povo é uma porção de ninguém. Pode a fome roer-lhes as vísceras e a seca trincalhes os ossos, isto é coisa natural e a culpa é das secas que Deus manda para castigar os que trabalham e cevam os espertalhões. Quem não pode viver, morre, já dizia um desses políticos de Pernambuco.

Tem que prevalecer é a lei do mais forte, do mais esperto e mais manhoso. Estão aí os nossos sertões abandonados, vivendo de esmolas nas épocas das grandes crises. E dessas esmolas que nos manda, grande parte vai parar nas mãos dos espertalhões, na gaveta dos barracões a troco de produtos, residuais das colheitas, alimentos tão sórdidos que o difícil é saber onde podem ser encontrados. Mas ninguém viu ninguém vê. Muitas vezes a intenção do Governo é legitima e oportuna, em forma de socorro, mas à beira das estradas estão os salteadores de dentuça de fora já antegozando a fartura dos lucros em cima da miséria do povo faminto, destroçado pela seca. É um desaforo que se deixe na impunidade esses exploradores dos infortunados e da própria ação governamental. E ai do empregado que denuncie o descalabro. No mínimo será afastado para não se meter a besta...

terça-feira, 20 de setembro de 2016

ANIVERSÁRIO DE MEU PAI

Vinte de setembro. Relembrando esta data, me lembrei de Raimundo Correia, quando bateu a saudade:
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... Mais outra... Enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bandos e em revoada...

Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.

Cento e quinze anos faz hoje que nasceu meu pai – João Henriques da Silva.  Parece que estou vendo como se meu lar fosse um pombal e minha família em revoada partindo para outros sítios sem querer voltar, como os sonhos.

Partiu primeiro minha irmã Níobe, se avexou, não sei por que tanta pressa, ainda tinha tanto que fazer.
Depois lá se foi o Robério. Eita danado! Os cabras, seus leitores ficaram virado na peste. Reclamando das suas crônicas inteligentes.
 Aí quase beirando os cento e dois anos, partiu o Dr. João. Acho que realmente havia cumprido sua missão, já era tempo mesmo, já não aguentava ser mandado por ninguém.
De saudade; pouco tempo depois voou minha mãe, quase setenta e cinco anos de casada, e, como os pombos, não podiam jamais se separar, pois são monógamos, lá se foi ela atrás dele.
Não demorou muito, corre o Parsival a procurá-los, achando que os traria de volta. Também; não podia ir mais a rua trocar seus relógios. Desistiu!
Pela escala de idade, vivo dizendo que quem vai agora é minha irmã Ceres, mas se dana logo e diz que não pode, pois tem que ainda regurgitar para seus filhotes, - cada um mais velho do que ela.
 Isis a mais nova, fim de rama, não posso prever, apenas seguimos a ideia de que primeiro parte os mais velhos, então vamos deixar que o tempo se arrume com ela.
Aí fico eu, morrendo de inveja deles juntos lá em cima, e de saudade também, doido pra da um voo solo, e com medo de deixar meu poleiro sem ter cumprido minhas obrigações. 
Ah! Se a gente pudesse dominar o destino e previr o futuro! Mas seria bom? Como a gente iria enfrentar as presepadas do passado que deixamos de acertar contas? Era bom se Jesus tivesse resolvido deixar Lázaro vir contar pra gente. Nos dias de hoje era até fácil, danava um e-mail pro céu e rapidinho vinha à resposta, em forma de boleto, com todos os dados pra gente pagar, nalgum banco aqui da terra, ou nas prisões do dia a dia neste mundo de meu Deus.

Campina Grande, 20 de setembro de 2016
Grijalva Maracajá Henriques



domingo, 14 de agosto de 2016

DIA DOS PAIS

Todos os que fomos acalentados pelo amor paterno, com certeza, recordamos nosso velho com saudade. Particularmente, quando nós mesmos nos tornamos pais, as lembranças acodem aos atropelos.
Na acústica da alma, ainda ouvimos os passos firmes nas noites de trovoadas, a conferir em sua ronda, janelas, trancas, cortinas, o sono da criançada.
Se fecharmos os olhos, podemos sentir o deslizar da sua mão levemente pelo nosso rosto e o puxar cuidadoso do cobertor.
Vemos sua silhueta se perdendo na penumbra e ouvimos o último abrir e fechar da geladeira.
Recordamos da criança que fomos e que ficava à espera da sua volta do trabalho. Aqueles que tivemos pais cujo trabalho exigia muitos dias fora do lar, podemos sentir outra vez o coração aos atropelos, lembrando o som do carro dele, chegando, na madrugada.
Será que lembrou de trazer um presente? Será que a sua barba está por fazer e vai espetar o nosso rosto?
Recordamos o passeio dos fins de semana, do presente de aniversário, da ceia de Natal. Até das broncas após as nossas malandragens.
Igualmente lembramos dos carinhos à chegada de nosso boletim, a alegria após passar de ano. A comemoração em família pelas nossas vitórias: fundamental, ensino médio, vestibular, faculdade.
E quando chegamos à adolescência? Quantos cuidados! Quem são os seus companheiros? Com quem você vai sair? Aonde vai?
Não fume. Não beba. Não exceda a velocidade. Respeite os sinais de trânsito.
É hora de chegar? Não falei para chegar antes da meia-noite?
Filho, respeite os mais velhos. Faça um carinho nos seus avós. Quando, afinal, vai se decidir a trabalhar?
Garoto, vou lhe cortar a mesada.
Olhando as rugas estampadas no rosto de nosso pai, somos tomados de carinho e nos curvamos diante dele. Quantos anos vividos no calor do lar paterno. Quantas lições!
Lições que hoje repassamos para os nossos próprios filhos e, sem nos darmos conta, vamos repetindo os mesmos gestos dele. Daquele que há sessenta, setenta anos renasceu e um dia se tornou nosso pai.
Olhamos nossos filhos e, lembrando de como a generosidade de nosso pai, os seus cuidados nos fizeram bem ao caráter, nos esmeramos no atendimento aos nossos próprios rebentos.
Por tudo isso, outra vez, é que a nossa gratidão cresce no peito e explode em uma grande manifestação de afeto. E, como se nosso pai fosse uma criança pequena, abraçamos o velho e o embalamos em nossos braços, com a mesma canção de ninar que um dia ele embalou a nossa infância.


Autor: Momento Espírita

segunda-feira, 18 de julho de 2016

TURQUIA







PARTURIENT MONTES, NASCETUR MUS!

 Certo dia, uma Montanha começou a dar urros e inchar, dizendo que iria parir. O povo ficou cheio de temor, receoso de que algum monstro nascesse e viesse a destruir o mundo. Chegada à época do parto, estando todos reunidos em torno e em suspense, a Montanha pariu um Rato, transformando em riso o que antes era medo.
Hoje assistimos mais uma vez uma falsa montanha parir. Desta vez lá na Turquia. Só que invés de rato, pariu um DITADOR sanguinário, posto por inocentes eleitores, que acreditaram que a Esquerda Marxista/Comunista, pode dar a luz a uma Democracia!
G. Maracajá Henriques

O parto da montanha.

Fábula de Esopo.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

ADOÇÃO



UM OLHAR ESPÍRITA SOBRE A ADOÇÃO


Estou escrevendo este artigo na data em que se celebra o Dia da Adoção. Para nos fundamentarmos para a reflexão sobre o assunto, recordemos o início do diálogo entre Jesus e Nicodemos, registrado no capítulo 3, versículos de 1 a 17, do evangelho de João.
Narra o evangelista que havia um fariseu chamado Nicodemos (nome que significa: homem do povo), que era uma autoridade entre os judeus e que foi ter com Jesus certa noite, quando afirmou: “Mestre, sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode realizar os sinais miraculosos que estás fazendo se Deus não estiver com ele”, e antes que fizesse qualquer pergunta Jesus lhe disse: “Em verdade vos digo que ninguém poderá ver o Reino dos Céus se não nascer de novo”.
Nicodemos estranha aquela informação e, porque tinha compreendido que o mestre lhe falara de voltar à carne, questiona: “Como alguém velho como eu poderia entrar de novo no ventre de sua mãe?”.
O Messias então lhe responde: “O que nasce da carne é carne, o que nasce do espírito é espírito”. E continuam o diálogo...
Hoje é celebrado o Dia da Adoção. Mostrando perfeita sintonia com esse ensinamento do Mestre, os Espíritos superiores responsáveis pela codificação do Espiritismo afirmam a Allan Kardec que não é o Espírito que dá a vida ao corpo físico, mas que apenas o anima, o habita. Quem dá a vida ao corpo é o “fluido vital”.
Assim que um novo corpo é concebido, à medida que suas células vão se multiplicando, essa nova vida vai absorvendo das Energias Cósmicas uma energia específica que manterá a vida desse organismo que se forma, dando, com isso, a condição de um Espírito vir nele habitar, ligação essa, entre espírito e corpo, que já se inicia desde o momento da concepção, conforme nos ensinam os Espíritos superiores. Daí porque o espírita ser completamente contra o aborto.
Da mesma forma, não é porque o Espírito se retira que o corpo morre. Ao contrário, é porque o corpo morre que o Espírito tem de deixá-lo. Confirmando com clareza as palavras de Jesus de que o que é carne é carne, o que é espírito é espírito.
Segundo os Espíritos superiores, o Espírito é criação divina e se dá em outro lugar e não no instante da criação do corpo. O casal que se une apenas gera o organismo físico que servirá ao Espírito que nele vier habitar.
Segundo ainda os orientadores da codificação, quem designa qual Espírito virá habitar o corpo que se forma são entidades espirituais sábias, que trabalham junto aos orbes habitados, colaborando com a obra divina, através de leis específicas. Assim, o Espírito que virá viver na Terra junto a uma família normalmente é alguém que já tem laços anteriores com a mesma, laços esses que podem ser de simpatia ou mesmo de animosidade, vindo com a tarefa da reconciliação. Dizem ainda os benfeitores que é possível que o Espírito que reencarna possa não ter ligações anteriores, mas que venha por necessidades particulares, de maneira que esse primeiro encontro possa ser útil a ambos. Pode ser um Espírito que venha com uma tarefa da qual tenha que desincumbir-se na região onde vive a família que o acolherá.
Voltando ao tema Adoção, a conclusão que podemos tirar com tranquilidade e convicção é de que, independente de qual seja o ventre por onde deva vir a criança, o Espírito que ali reencarna deverá juntar-se à nova família que a adotará, ambos atraídos por leis divinas que tudo provê.
Então, quando estivermos sendo intuídos a adotar uma ou mais crianças, lembremos sempre: O que é carne é carne, o que é espírito é espírito

 José Antônio V. de Paula


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segunda-feira, 6 de junho de 2016

MACHADO D E ASSIS

CEF tirou do ar propaganda com Machado de Assis branco, conforme defendi aqui. Fez bem. Mas chama o escritor de “afro-brasileiro”. Está errado! Então ele também era “euro-brasileiro”…

Por: Reinaldo Azevedo  22/09/2011 às 16:55

Escrevi aqui um longo texto no dia 14 sobre uma propaganda da Caixa Econômica Federal que apresentava um Machado de Assis mais branco do que as asas de um cisne. O título do artigo é este: Considerações sobre o racismo e Machado de Assis. Ou:  O racismo de contestação ainda não suporta preto bem-sucedido. Observava então, entre outras coisas, que não acreditava haver racistas na CEF, mas que a propaganda era, evidentemente, imprópria. Machado era mestiço, não branco. Defendi que a propaganda fosse suspensa porque veiculava uma inverdade. E estranhei o silêncio da Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial). Pois bem, o banco anunciou ontem que a propaganda não vai mais ao ar. O presidente da instituição, Jorge Hereda, emitiu uma nota (íntegra no pé do post).
É… Eu sei que muita gente acha a vida chata numa democracia, especialmente as pessoas que exercem cargos públicos. Sempre há alguém reclamando, torrando a paciência, dizendo que as coisas não são exatamente como se anunciam… E ter de agüentar a imprensa, então? Um porre! Há quem ache que a China descobriu o bom caminho. Por lá não tem esse negócio de divergência de idéias. O argumento vencedor é a bala na nuca… Sigamos.
A CEF agiu certo ao suspender a propaganda. Eu mesmo defendi que o fizesse. A razão é simples: Machado não era branco. Ponto! Afirmei que a propaganda, querendo ou não, concorria para a invisibilidade dos negros e mestiços. A Seppir também emitiu uma nota a respeito. O curioso é que o tenha feito só no dia 19 — o meu post é do dia 14…
Leiam a nota da CEF. Volto em seguida.
“A Caixa Econômica Federal informa que suspendeu a veiculação de sua última peça publicitária, a qual teve como personagem o escritor Machado de Assis. O banco pede desculpas a toda a população e, em especial, aos movimentos ligados às causas raciais, por não ter caracterizado o escritor, que era afro-brasileiro, com a sua origem racial.
A CAIXA reafirma que, nos seus 150 anos de existência, sempre buscou retratar, em suas peças publicitárias, toda a diversidade racial que caracteriza o nosso país. Esta política pode ser reconhecida em muitas das ações de comunicação, algumas realizadas em parceria e com o apoio dos movimentos sociais e da Secretaria de Política e Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) do Governo Federal.
A CAIXA nasceu com a missão de ser o banco de todos, e jamais fez distinção entre pobres, ricos, brancos, negros, índios, homens, mulheres, jovens, idosos ou qualquer outra diferença social ou racial
Jorge Hereda
Presidente da Caixa Econômica Federal”
Voltei
Pois é… Como a democracia é chata mesmo, critiquei a propaganda e agora faço reparos à nota de Hereda. A CEF não tem de veicular um filme publicitário em que aparece um Machado branco —  porque ele não era branco — nem tem de se desculpar recorrendo à linguagem militante. Essa história de “afro-brasileiro” é discriminação às avessas. Que a turma ligada a uma causa de fundo ideológico adote o vocabulário, vá lá. Um banco público tem de ficar fora disso. Machado era um mestiço brasileiro, a exemplo de mais de 40% da população hoje em dia. E mestiços são tão “afro-brasileiros” como “euro-brasileiros”. Ou eu perdi alguma coisa? O pai do escritor era descendente de negros e brancos; a mãe era açoriana, e a “origem racial” de nosso maior escritor era uma só:  a “raça humana”.
O Brasil tem hoje algo em torno de 6% de negros, pouco mais de 44% de mestiços e pouco menos de 50% de brancos. A militância junta os dois primeiros grupos e afirma que o Brasil é um país com maioria negra. Como é que mestiço se torna “negro”? Dizem os militantes que é sua condição social que determina a classificação — condição essa que seria condicionada pelo preconceito por causa da cor da pele. É a sociologia do chute e do achismo. Ora, se esse critério fosse bom, então a propaganda da CEF estaria certa. Afinal, no que dizia respeito às condições sociais e ao prestígio de que gozava já em seu tempo, Machado pertencia à elite brasileira, composta, na sua maioria, de brancos — embora a maioria dos brancos também fosse pobre no fim do século 19… Fosse assim, a CEF não teria o que corrigir, certo? Afinal, segundo esse critério vesgo, o escritor seria, de fato, branco!
Eu pedi, como deixei claro naquele dia, que a propaganda fosse tirada do ar porque veiculava uma informação errada, que contribuía para omitir, inclusive, um dado positivo de nossa formação: uma sociedade profundamente marcada pela escravidão rendeu-se ao talento de um escritor mestiço. Existe mais preconceito de classe no Brasil do que preconceito de cor ou de origem — constatação que os racialistas detestam, sei disso.

A CEF não precisa aderir à linguagem do racialismo para fazer justiça a Machado, aos mestiços e aos negros. Basta ser fiel à história.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

PEDRA ENCANTADA


- O autor tempos atrás -
14 de maio de 1838 – 14 de maio de 2016
178 anos da hecatombe da Pedra do Reino

Para relembrar a história da Pedra, nesta data, fui cutucar nos meus arquivos e encontrei minhas primeiras anotações sobre o caso.
Meu primeiro contato com a história da Pedra Bonita, Pedra do Reino ou Pedra Encantada, se deu com essa personagem há mais de trinta anos atrás. Tempo depois se tornou, minha dissertação (TCC) no curso de História na Universidade Estadual Vale do Acaraú e atualmente estou construindo, um texto literário, remontando a genealogia dos personagens, onde só se sabe que o Antonio Pedro era um mameluco vindo da Paraíba. O resto quem viver verá...

HISTÓRIA DE PEDRA BONITA
De tanto ouvir Tatiz (Beatriz Pereira Neves) tia de minha esposa, falar sobre a batalha da Pedra do Reino me deixava tão curioso que puxava conversa com ela insistentemente até me contar religiosamente como acontecera tudo.
Naquela época já na casa dos setenta anos ou mais. Hoje, com um século de experiência vivida, lúcida e bonita, apenas o que mudou na sua vida foi sua residência. Antes morava numa casa própria, com todo conforto, onde era dona da sua vontade. Hoje, aos cuidados de médicos, alugou um apartamento no hospital do seu sobrinho para ser mais bem assistida.
Nasceu no dia 17 de janeiro de 1910 na cidade de Jardim sul do Ceará, no sítio Belo-Horizonte (em casa construída por seu pai e que ainda continua em perfeito estado de conservação, onde hoje mora minha sogra com sua família); debaixo das asas protetoras da Chapada do Araripe, onde sempre corre forte e saudável refrigério, de inverno a verão e que sustenta vários engenhos de rapadura.
Diplomada pelo Colégio das Dorotéias em Fortaleza. Voltando a sua cidade natal, ensinou a centenas de alunos no Grupo Escolar de Jardim, até à sua aposentadoria.
Toda vez que eu ia a passeio a Jardim, tinha por obrigação de visitá-la, para vê-la e para ouvi-la contar histórias verídicas da sua família: Os Pereiras: Onde tinha de Barão a Cangaceiro (Barão do Pajeú e os lendários Sinhô Pereira e Luis Padre) tinha quase tudo escrito em agendas e cadernos, mas nunca precisava deles para narrar essas histórias, sabia tudo de cor, é uma autêntica historiadora.
Um dia ela me mostrou numa agenda o que havia escrito sobre a Pedra do Reino; a qual xeroquei e transcrevo agora ipsis litteris:
Nota – Desencarnou em 2012.

Beatriz Pereira Neves
(Manuel Pereira era irmão do meu avô materno Joaquim)

Questão de Pedra Bonita – hoje Pedra do Reino
Este histórico é resultado de uma pesquisa em livro de Gustavo Barroso, Dr. Antonio Áttico de Souza Leite, Pe. Correia de Albuquerque, do vaqueiro de Manoel Pereira* (José Gomes) testemunha ocular e de minha mãe, filha de um dos combatentes.
Desde 1819 era pregado nos sertões, em versos ou falsas histórias a ressurreição de D. Sebastião, rei de Portugal, desaparecido na batalha de Alcácer Quibir. #
Perto de Vila Bela, hoje Serra Talhada e, distante mais ou menos 14 léguas da fazenda Carnaúba de Joaquim Pereira (meu avô materno) existem um cenário adequado à tragédia que se ia desenrolar.
Ali naquele sertão de solo áspero encontram-se duas torres de pedra, uma com 150 palmos ou 30 metros de altura e outra com 148 palmos ou 29 metros. Uma delas é coberta de mica brilhante, recebeu o nome de Pedra Bonita. Entre as duas, há um corredor arejado e claro. Ao pé de uma delas, larga área formada por 3 grandes lajes que se apóiam nas duas torres. Depois um amontoado de rochas com um terraço em cima. Do outro lado uma laje baixa lembrando um altar, e pouco adiante uma vasta caverna com a capacidade para 200 pessoas e em derredor muitos catolezeiros, que ao sopro do vento produzem sons que parecem verdadeiros gemidos.
No começo do ano de 1836 apareceu nesta região um caboclo chamado João Antonio dos Santos, que diziam ter vindo do Catolé do Rocha, Paraíba, o qual mostrava aos habitantes ignorantes daquelas brenhas umas pedrinhas bancas e brilhosas; dizendo serem brilhantes de uma mina oculta que descobrira. Lia também trechos em versos de um velho folheto sebastianista no qual se contava que D. Sebastião desapareceu na batalha Alcácer Quibir ressuscitaria quando se lavasse com sangue humano aquelas pedras erguidas no campo, e “quando João se casasse com Maria”, aquele reino desencantaria. Logo João Antonio casou-se com uma jovem chamada Maria, e começou a receber a maior sagacidade, dos moradores da redondeza, gado, dinheiro, etc., dizendo que seriam devolvidos em dobro, por El Rei D. Sebastião.
Seduzidos pelas promessas da mina de diamante, afluía gente de toda aquela redondeza para o local misterioso. A pedra chata começou a servir de altar. O terraço passou a ser a tribuna de onde o sagaz João Antonio pregava para o povo pulando que nem um cabrito. A caverna grande se chamava casa santa e era abrigo dos fanáticos. A pequena, o santuário. Seu próprio pai Gonçalo José dos Santos, seu irmão Pedro Antonio e seus tios e parentes Carlos Vieira e irmãos, José Maria Juca e João Filé, seus cunhados João Ferreira, acreditaram piamente e espalhava o novo credo, o mais que podia; assim foi atraindo gente de Piancó, dos Inhamúns, do Cariri, do Riacho do Navio, das duas margens do São Francisco, etc. As pessoas mais esclarecidas, alarmadas com as teorias empregadas em tais reuniões, reclamaram a presença do velho missionário Francisco José Correia de Albuquerque, pedindo nova missão. Este veio instalou-se na fazenda Cachoeira, perto da Pedra Bonita, e mandou chamar João Antonio dos Santos à sua presença, o qual depois de ouvir o padre, confessou publicamente os embustes de que lançara. Não lhe entregou as pedrinhas brilhosas, e prometeu ir embora, o que o fez, seguindo para o Rio do Peixe, daí para os Inhamúns, sendo preso anos mais tarde no interior de Minas Gerais.
Na sua ausência o seu cunhado João Ferreira, assumiu o seu lugar proclamando-se rei do reino encantado e João Antonio, embusteiro nato, de longe instruía. João Ferreira usava na cabeça uma coroa de cipó de japecanga e falava ao povo do terraço da pedra, cantando e pulando como um possesso do demônio. Em seguida levava-os para a Casa Santa onde bebiam o vinho encantado, uma composição de jurema e manacá com que se embriagam até cair.
Ali Frei Simão, que na era outro senão seu primo Manoel Vieira, que se fez de frade, fazia casamento e em seguida entregava a noiva ao Frei para ser dispensada, dispensa esta, que consistia em passar à noiva a 1ª. Noite com o Rei, que no dia seguinte a entregava ao marido, já dispensada. Terminada a bebedeira os fanáticos fumavam cachimbos para verem as riquezas, segundo dizia José Gomes, testemunha ocular, que contava também, que todos os dias seu Tio José Joaquim em companhia de outros, saia e quando voltavam por caminhos furtados traziam homens, mulheres e cães que encontravam; como sucedeu com ele.
Sempre que o rei João Ferreira pregava, dizia que seu cunhado, o rei João Antonio, estava reunindo gente no cariri, de onde, voltaria brevemente para ajudá-lo na restauração do reino e que aquele reino era encantado e só desencantaria quando as pedras e os campos vizinhos fossem banhados com o sangue de inocentes, jovens, velhos e irracionais. Isto era necessário não só para apressar a vinda de D. Sebastião, trazendo as riquezas, como também, para que as criaturas ali imoladas ressuscitassem com todas as vantagens: brancas, ricas, poderosas, moças e imortais. Os cães se levantariam como valentes dragões para devorarem aqueles que não acreditassem.      Então começou a matança que durou 3 dias: 214,15 e 16 de maio de 1838. Na manhã do dia 17 o rei João Ferreira foi destronado, porque Pedro Antonio, irmão de João Antonio, o fundador deste embuste, tremendo, subiu ao terraço da pedra e disse ter sonhado com D. Sebastião, dizendo que faltava somente a presença dele, que era o verdadeiro rei, para o reino desencantar. João Ferreira ao ouvir isto, tremia que nem vara verde e os fanáticos gritavam pedindo sua morte. Os irmãos Vieira agarraram-no e mataram-no, quebrando-lhe a cabeça e extraindo as entranhas. Seu cadáver foi atado a duas árvores fortes por causa dos berros, roncarias e dos sinistros movimentos que ele depois de morto executava com a boca, com o ventre e com os braços. Era de fato um possesso do demônio.
Então Pedro Antonio tomou a coroa e ficou sendo D. Pedro I. A estas alturas já se encontravam em derredor da pedra os cadáveres de 14 cães, 30 crianças que as mães colocavam seus corpos na pedra para serem degolados, na ânsia de vê-los ressuscitados ricos, poderosos e imortais. A idade deles ia de 10 a 8 anos. Havia também os cadáveres de 11 mulheres, estando duas com filhinhos no ventre; 12 homens que morreram de espontânea vontade, e o do rei João Ferreira atado as duas árvore.
No dia da matança fugiu dois meninos apavorados, que foram contar ao fazendeiro de Poços, Manoel Ledo, o que estava ocorrendo na Pedra Bonita. Neste mesmo dia 14 de maio, fugiu também amedrontado José Gomes, (o vaqueiro de Manoel Ferreira de Serra Talhada), que se achava sumido há vários dias e presumiam que ele estivesse lá, o que realmente aconteceu. No campo, o vaqueiro encontrou Alexandre Pereira, irmão do seu patrão (Manoel Pereira) e atemorizado que vinha gritou: não me mate seu Alexandre. Este respondeu: tu és besta, negro, que mal te posso fazer? Monta aqui na garupa do meu cavalo. O vaqueiro obedeceu e cravou-lhe um punhal nas costas.
Manoel Pereira que já era sabedor do que estava se passando na Pedra Bonita, dos roubos de gado etc. e com a morte do irmão (dia 14 de maio) no dia 18 de maio de 1838 reuniu seus oito irmãos: Antonio, Cipriano, Francisco, João, Joaquim, (meu avô materno) Sebastião, Simplício, Vitorino e alguns acostados e marcharam sem detença para Pedra Bonita. Não tiveram sorte, porque lá não havia ninguém. Os fanáticos não suportando a fedentina dos cadáveres em putrefação, haviam se retirado para uns umbuzeiros um pouco distante. Dirigiram-se para lá e deram com o rei Pedro Antonio com uma coroa de cipó de japecanga à cabeça, nu da cintura para cima, comandando grande número de homens, mulheres e meninos armados de facão e cacetes.
Os fanáticos investiram como verdadeiras feras contra aquele punhado de homens, aos gritos de: viva El Rei D. Sebastião. Travou-se luta tremenda entre o diminuto grupo de Manoel Pereira e o aluvião de endemoniados, dos quais 16 foram mortos, inclusive o próprio rei. Manoel pereira perdeu mais um irmão, Vitorino, que era coxo de uma perna e 4 acostados e houve muitos feridos da parte dos fanáticos. Os sebastianistas recuaram, mas esbarraram com a força do capitão Simplício Pereira (que não foi no grupo dos irmãos, mas pela Serra Vermelha) e chegava em marcha forçada, os atacavam pela retaguarda e deu-se a derrota completa e a maioria rendeu-se, dizendo que se entregavam a Manoel Pereira. Simplício ao saber da morte do irmão Vitorino, dos 4 acostados, além da morte de Alexandre, que o trouxera até ali, indignado, quis linchar todos os prisioneiros, mas Manoel Pereira, apesar da morte dos dois irmãos, não consentiu que tocasse num fio de cabelo dos vencidos e os entregou à justiça. Simplício ficou indignado com a atitude do irmão, mas obedeceu.
Manoel Pereira mandou chamar o Pe. Correia Albuquerque, que veio e mandou abrir grande cova, nela sepultado todas as carcaças e ossadas, diante das duas colunas de pedra e colocou sobre a sepultura grande cruz de madeira tosca.
O satânico João Antonio dos Santos criador desta idéia demoníaca que anos antes se retirara da Pedra Bonita, conforme prometera ao Pe. Correia, mas que de longe instruía os fanáticos, logo que soube do acontecimento de Pedra Bonita, levantou acampamento e mandou um recado a Manoel Pereira, dizendo que vinha voltando para a Pedra do Reino e desta vez era pra valer. Então Simplício Pereira nomeou dos homens da sua confiança, oficial de justiça, (Isidório e outro) e mandou-os ao encontro de João Antonio. Este estava num samba quando chegaram os dois cabras, prenderam-no, algemaram–no e vinham trazendo de volta, mas como a viagem era longa e fatigante, um dos homens adoeceu de maleita, com febre alta, o outro camarada, com medo de adoecer também, pois já começava a sentir ameaça da doença e temendo que o preso usasse de algum sortilégio e os matasse, combinou com o amigo e resolveram matá-lo, o que fizeram no lugar denominado, Lagoa Encantada, 3 léguas antes da Vila de xique-xique e trouxeram as duas orelhas e alguns documentos, a fim de provarem que o haviam matado.
Assim terminou o drama satânico da Pedra Bonita, hoje Pedra do Reino.

Notas sobre o croqui.

1)                25 crianças imoladas de 1 a 8 anos
2)                12 homens
3)                11 mulheres
4)                14 cães
5)                Grupo de fanáticos mortos no combate
6)                Tribuna de pedra onde o rei pregava
7)                Caverna ou casa santa
8)                Cruz de madeira tosca
9)                Catolezeiros
10)            Imbuzeiros, local do combate.
11)            Rampa da matança
12)            Cadáver do rei João Ferreira atado a duas árvores
13)            Duas torres de pedra