quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

PREVISÃO PÁRA O ANO 2016


PLANETA VÊNUS


PREVISÃO PARA O ANO DE 2016

COPIADO (ipsi literis) DO LUNÁRIO E PROGNÓSTICO PERPÉTUO DE VALENCIANO JERONYMO CORTEZ EM 1594*.

Da qualidade e efeitos do planeta venus, e das cousas a elle sujeitas

            Venus, conforme Alfragano, é menor que a Terra 9 vezes; seu metal é o cobre, e tem domínio sobre as partes vergonhosas, assim do homem, como da mulher; e está distante da Terra 25 milhões de léguas.
Este planeta tem seu assento no terceiro céo. É frio, humido temperadamente, aqueo, feminino, nocturno e algum tanto fleugmatico, amigo da natureza humana. Esta estrela é a que mais alumia de noite depois da Lua e é a que costuma chamar Luzeiro da manhã ou do anoitecer; mostra-se algumas vezes de dia depois de saído o sol, e especialmente no inverno.
Tem domínio sobre as mulheres e gente moça; sobre os músicos e bem falantes: sobre os ditosos e bem afortunados; sobre os justos e prudentes; sobre os agradecidos e piedosos; e finalmente sobre todos os que se prezam de políticos e asseiados.
Vênus tem domínio em particular sobre o cobre, azougue, sal amoníaco e ouro; sobre a pimenta, o açafrão, rosas, cravos, tâmaras, almíscar, âmbar, perolas e balsamos: sobre os gatos cervaes e corças, serpentes, formigas e aranhas. Nas arvores, as macieiras e as de singular cheiro. Nas cores, o branco declinante a verde. Sua força e domínio é para o meio-dia.

Prognosticação do Planeta Venus

O dia d’este planeta é sexta feira; sua hora a primeira e a oitava. No anno que entrar n’este dia não faltarão aguas. O inverno será pesado e mui frio; a primavera ventosa; o estio humido e aprazível; o outono em partes sêcco e ventoso, e em partes com muitas aguas, haverá muitos mantimentos, ainda que demonstra que serão caros.
A vindima será muita boa. De azeite e mel haverá abundancia. Denota mal de olhos e que morrerão muitos meninos de bexigas e que muitos homens graves e de estimação padecerão trabalhos. Haverá muitas romarias e dissenções em diversas partes do mundo. No gado miúdo denota mortandade. E finamente denota que se sentirão alguns terremotos em diversas partes.

A physionomia que dá Venus

Os que nascem debaixo do domínio d’este planeta teem a cara redonda, carnosa e bem córada, e alguma cousa vermelha; os olhos alegres, pretos e inquietos; sobrancelhas pretas, formosas e algum tanto juntas; os cabelos corredios e estendidos, ainda que alguns os teem crespos; e no rosto costumam ter algum signal, o nariz encarvado, o beiço de baixo mais grosso que o de cima, a boca  mediana: a garganta formosa; os peitos estreitos; a estatura do corpo pequena e poucas carnes e as pernas avultadas. Se venus foi oriental no nascimento, faz a pessoa grossa, branca e de boa estatura. Se foi occidental, será pequena de corpo e calva da cabeça.

As condições que influe Venus

Os venereos são de compleição quente, húmida e fleugmatica; costumam ser eloquentes, prudentes, ditosos e bem afortunados, agradecidos, amigáveis, justos e piedosos e doces palavras, amigos de musicas e passatempos, de danças, jogos, do ocio, inclinados a mulheres, composturas e ornatos. Finalmente, prezam-se de andar bem tratados e com vestidos cheirosos e mui poucas vezes se inclinam ás letras.
Os da natureza de Venus são inclinados a officios e artes alegres, vistosas, polidas e agradáveis, como são a arte de cantar e tocar; e assim muitos dão em ser poetas, organistas e mestres de solfa; a outros os inclina a serem bordadores, douradores e pintores; a outros a serem cereeiros, tecelões, corretores e comediantes.

Vênus

Um dos astros mais brilhantes da noite
Vênus é um planeta que faz parte do Sistema Solar. Está localizado entre os planetas Mercúrio e Terra. Tem esse nome em homenagem a Vênus (deusa do amor da mitologia romana). Vênus é um dos astros mais brilhantes do céu no período noturno.
Características de Vênus
- Vênus possui composição, tamanho e massa parecidos com as do planeta Terra.
- A área da superfície de Vênus é de 4.60×108 km².
- A massa deste planeta é de 4.8685×1024 kg.
- O diâmetro de Vênus é de 12.103 quilômetros.
- Vênus é o planeta mais quente do sistema solar. A temperatura média na superfície deste planeta é de 461°C.
- Possui órbita eclíptica circular com excentricidade abaixo de 1%.
- A velocidade orbital média deste planeta é de 35,02 km/s.
- Vênus não possui satélites naturais (luas).
- A atmosfera de Vênus é formada principalmente por: dióxido de carbono (96,5%), nitrogênio (3,5%) e outros gases em menor quantidade (dióxido de enxofre, argônio, monóxido de carbono, vapor de água, hélio, neônio).
- A pressão atmosférica na superfície de Vênus é extremamente alta (cerca de 90 vezes a da Terra).
- Os ventos na parte superior das nuvens podem alcançar os 400 km/h.
- O núcleo do planeta Vênus é parecido com o da Terra, pois é formado por ferro coberto com manto rochoso. Já a superfície é constituída basicamente por basalto.
Curiosidades
- O ano de Vênus corresponde a 224 dias terrestres.
- No planeta Vênus o período de translação é menor do que o período de rotação.
- O planeta Vênus é conhecido popularmente como "Estrela Dalva".

- A distância entre Vênus e o planeta Terra é de, aproximadamente, 40,2 milhões de km.

Vênus

 É o segundo planeta do Sistema Solar em ordem de distância a partir do Sol, orbitando-o a cada 224,7 dias. Recebeu seu nome em homenagem à deusa romana do amor e da beleza Vénus, equivalente a Afrodite. Depois da Lua, é o objeto mais brilhante do céu noturno, atingindo uma magnitude aparente de -4,6, o suficiente para produzir sombras. Como Vénus se encontra mais próximo do Sol do que a Terra, ele pode ser visto aproximadamente na mesma direção do Sol (sua maior elongação é de 47,8°). Vénus atinge seu brilho máximo algumas horas antes da alvorada ou depois do ocaso, sendo por isso conhecido como a estrela da manhã (Estrela d'Alva) ou estrela da tarde (Vésper); também é chamado Estrela do Pastor.
Vénus é considerado um planeta do tipo terrestre ou telúrico, chamado com frequência de planeta irmão da Terra, já que ambos são similares quanto ao tamanho, massa e composição. Vénus é coberto por uma camada opaca de nuvens de ácido sulfúrico altamente reflexivas, impedindo que a sua superfície seja vista do espaço na luz visível. Ele possui a mais densa atmosfera entre todos os planetas terrestres do Sistema Solar, constituída principalmente de dióxido de carbono. Vénus não possui um ciclo do carbono para fixar o carbono em rochas ou outros componentes da superfície, nem parece ter qualquer vida orgânica para absorvê-lo como biomassa. Acredita-se que no passado Vénus possuía oceanos como os da Terra, que se evaporaram quando a temperatura se elevou, restando uma paisagem desértica, seca e poeirenta, com muitas pedras em forma de placas. A água provavelmente se dissociou e, devido à inexistência de um campo magnético, o hidrogênio foi arrastado para o espaço interplanetário pelo vento solar. A pressão atmosférica na superfície do planeta é 92 vezes a da Terra.
A superfície venusiana foi objeto de especulação até que alguns dos seus segredos foram revelados pela ciência planetária no século XX. Ele foi finalmente mapeado em detalhes pelo Projeto Magellan em 1990-91. O solo apresenta evidências de extenso vulcanismo e o enxofre na atmosfera pode indicar que houve algumas erupções recentes. Entretanto, a falta de evidência de fluxo de lava acompanhando algumas das caldeiras visíveis permanece um enigma. O planeta possui poucas crateras de impacto, demonstrando que a superfície é relativamente jovem, com idade de aproximadamente 300-600 milhões de anos. Não há evidência de placas tectônicas, possivelmente porque a crosta é muito forte para ser reduzida, sem água para torná-la menos viscosa. Em vez disso, Vénus pode perder seu calor interno em eventos periódicos de reposição da superfície.

*LUNARIO PERPETUO
Lunario Perpetuo é o nome pelo qual ficou mais conhecido um almanaque ilustrado com xilogravuras composto por Jerónimo Cortés e publicado em Valência em 1594, e reeditado inúmeras vezes ao longo de séculos, com variações em seu título e conteúdo. O título completo original era Lunario perpetuo el qual contiene los llenos y coniunciones perpetuas de la Luna, declarando si seran de tarde o de mañana. Con la prognosticacion natural, y general de los tiempos; y de los effectos e inclinaciones naturales que causan los Signos y Planetas en los que nacen debaxo de sus dominios. Finalmente contiene algunas electiones de medicina, navegacion y agricultura, sin otras cosas de consideracion y provecho; con un regimiento de sanidad a la postre.
Este almanaque surgiu numa época em que tais publicações eram populares, favorecidas pela recente invenção da imprensa de tipos móveis, que barateou enormemente o preço dos livros e os tornou acessíveis para a população de baixa renda. Para muitos camponeses os almanaques foram os únicos livros que leram em suas vidas, e onde aprenderam as primeiras letras. Como seus congêneres, o Lunario Perpetuo oferecia conselhos e orientações sobre os mais variados aspectos da vida, incluindo tabelas das fases da lua, dos eclipses do sol e das festas móveis, previsões do tempo, horóscopos, elementos de direito, navegação, teologia, saúde, agricultura, maneiras de interpretar o comportamento dos animais, biografias de santos e papas, e outros dados de interesse geral. Gozou de amplo favor das elites bem como do povo, recebendo muitas reedições, sendo um dos livros escritos em castelhano mais populares de todos os tempos. Era particularmente útil para os agricultores, dando-lhes instruções para organizar sua rotina ao longo do ano e com isso fazer boas colheitas. Seu autor, ativo entre o fim do século XVI e o início do século XVII, ganhou reputação como excelente astrólogo e matemático, e como um investigador da natureza. O livro foi expurgado pela Inquisição em 1632, tendo como base a edição de Barcelona de 1625. Depois de revisto, circulou principalmente com o título de El Non Plus Ultra del Lunario y pronostico perpetuo, general y particular para cada Reyno y Provincia, mas popularmente se tornou conhecido apenas como Lunario Perpetuo, Lunario ou mesmo Prognostico. A primeira edição foi perdida, e os exemplares mais antigos a sobreviver são da edição de Madrid de 1598.
Foi publicado em português pela primeira vez em 1703, com tradução de Antônio da Silva e Brito. Logo se tornou muito popular no Brasil, tanto que, segundo Câmara Cascudo, que mantinha um exemplar na sua mesa de cabeceira, foi o livro mais lido no nordeste brasileiro durante dois séculos. Disse o folclorista que "não existia autoridade maior para os olhos dos fazendeiros, e os prognósticos meteorológicos, mesmo sem maiores exames pela diferença dos hemisférios, eram acatados como sentenças". Capistrano de Abreu também era um admirador do livro, e embora não acreditasse em "feitiços", consultava suas previsões astrológicas. Ainda hoje ele exerce fascínio e se mantém como uma referência na cultura popular nordestina. O músico Antônio Nóbrega publicou um álbum inspirado no Lunario. Também foi traduzido para o francês.


ANO NOVO - 2016






CARTA DE ANO NOVO
Emmanuel

Ano Novo é também oportunidade de aprender, trabalhar e servir. O tempo como paternal amigo, como que se reencarna no corpo do calendário, descerrando-nos horizontes mais claros para necessária ascensão.
Lembra-te de que o ano em retorno, é novo dia a convocar-te para a execução de velhas promessas que ainda não tivestes a coragem de cumprir.
Se tens inimigos faze das horas renascer-te o caminho da reconciliação.
Se foste ofendido, perdoa, a fim de que o amor te clareie a estrada para frente.
Se descansaste em demasia, volve ao arado de tuas obrigações e planta o bem com destemor para a colheita do porvir.
Se a tristeza te requisita esquece-a e procura a alegria serena da consciência tranquila no dever bem cumprido.
Ano Novo! Novo Dia!
Sorri para os que te feriram e busca harmonia com aqueles que te não entenderam até agora.
Recorda que há mais ignorância que maldade em torno de teu destino.
Não maldigas nem condenes.
Auxilia a acender alguma luz para quem passa ao teu lado, na inquietude da escuridão.
Não te desanimes nem te desconsoles.
Cultiva o bom ânimo com os que te visitam dominados pelo frio do desencanto ou da indiferença.
Não te esqueças de que Jesus jamais se desespera conosco e, como que oculto ao nosso lado, paciente e bondoso, repete-nos de hora a hora: - Ama e auxilia sempre. Ajuda aos outros amparando a ti mesmo, porque se o dia volta amanhã, eu estou contigo, esperando pela doce alegria da porta aberta de teu coração.

São os votos de Grijalva maracajá Henriques para o ano de 2016.
 Ano este que esta sob a influência do planeta Vênus. Segundo o Lunário e prognóstico perpétuo de Valenciano Jeronymo Cortez.






quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

MARACAJÁ


Gato-maracajá
Grijalva Maracajá Henriques

Apanhados sobre a etimologia da palavra Maracajá, realizado em vários sites e em livros de histórias.
História Geral do Brasil de Francisco Adolfo de Varnhagen, p.97, V. I, 4ª Ed. Edições Melhoramentos 1948 (1ª. Edição 1854) onde descreve o seguinte...Os senhores da Capitania de São Vicente chamavam-se a si, uns, Guaianás; outros, que não queria esquecer a sua procedência dos Tamoios (avós), chamavam-se Termiminós (netos), e outros finalmente se chamariam Tupinambás. Alguns dos vizinhos os tratavam, como se vê de Staden, por Tupiniquins, ou quando contra eles assanhados e em guerra, por Maracaiás ou gatos bravos...
...ARARIBÓIA
A bravura, hoje imortalizada em bronze, corria nas veias e convertia em aço os músculos desse filho de Maracajá-Guaçu, cacique da tribo dos Temiminós. Se era necessário pôr a coragem a serviço de invasores, como os portugueses, contra outros, os franceses, que assim fosse. Mas a Terra Brasilis haveria de ser defendida, a qualquer custo, e com ela a cultura-mãe de cada guerreiro, esculpida em liberdade para caçar, pescar, procriar; moldada nas visões de beleza de um paraíso na terra; forjada num ingênuo, porém imprescindível desejo de vida feliz, em paz e numa harmonia que deveria reinar entre os homens vivendo num mundo fraterno. Araribóia lutou e venceu. Foi festejado e, irônica, mas sinceramente, recebeu um nome de branco: Martin Afonso de Souza.

...Ilha do Governador era Maracajá, Vaz Lobo era Guiraguaçu-mirim, Icaraí era Icoioo, São Gonçalo era Mutuá. O que era o Rio de Janeiro antes da chegada dos portugueses é o que mostra o livro “O Rio Antes do Rio” (Ed. Babilônia Cultura Editorial, 432 págs, R$ 59,90), do jornalista Rafael Freitas da Silva, que conta como era a vida doméstica, política e cultural dos primeiros cariocas: os índios.

... A Família Tupi, ou tupi-guarani, compreendia mais de uma centena de línguas, faladas em áreas que pertencem atualmente ao Brasil e a alguns países hispano-americanos. Pelo menos cinco delas eram faladas no
Rio de Janeiro pelos seguintes povos:
1. Tupinambá ou Tamoyo, habitantes das zonas de lagunas e enseadas do litoral, do Cabo Frio até Angra dos Reis.
2. Temiminó ou Maracajá, localizados na Baía de Guanabara.
3. Tupinikin ou Margaya no litoral norte fluminense e Espírito Santo.
4. Ararape ou Arary, no vale do Paraíba do Sul.
5. Maromomi ou Miramomim, na antiga Missão de São Barnabé.

Reino:   Animalia
Filo:       Chordata
Classe:  Mammalia
Ordem:                Carnivora
Família:                Felidae
Género: Leopardus
Espécie: L. wiedii
Nome binomial
Leopardus wiedii
( Schinz, 1821)
Distribuição geográfica
Margay area.png
Sinónimos
Felis wiedii
O gato-maracajá (Leopardus wiedii) é um felino nativo de América Central e América do Sul. Tem, como característica, uma cauda mais longa do que seus membros posteriores. Os seus pelos são amarelo-escuros nas partes superiores do corpo e na parte externa dos membros. Tem manchas sob a forma de rosetas com uma região central amarela por todo o corpo, da cabeça à cauda.
Etimologia
"Maracajá" é um termo oriundo do tupi mbaraka'ya
Descrição
Dentre suas habilidades, o gato-maracajá pode caminhar nas pontas dos galhos dos arbustos. Também possui grande capacidade de salto e suas garras são proporcionalmente mais longas do que as da jaguatirica. O período de gestação é de 81 a 84 dias, e a expectativa de vida é de cerca de 13 anos. Tem capacidade de virar em 180 graus as articulações do tornozelo, o que o possibilita transitar com facilidade entre troncos e árvores. Seus hábitos são noturnos e alimenta-se de pequenos roedores e aves, que caça nas árvores.
Ele consegue imitar o som de suas presas para atraí-las, como o chamado de filhotes de saguis da espécie Saguinus bicolor (soim-de-coleira), atraindo, dessa forma, os adultos para uma emboscada.
Recentemente, cientistas descobriram que ele também consegue imitar os sons de alguns pássaros e roedores. No Brasil, o gato-maracajá pode ser encontrado com mais frequência na Floresta Amazônica.
Significado de Maracajá
sm (tupi marakaiá) Zool Denominação muito comum no Norte para designar os gatos-do-mato em geral, especialmente a jaguatirica (Felis pardalis) e as subespécies de Felis wiedii. Var: maracaiá.
Definição de Maracajá
Classe gramatical: substantivo masculino
Separação das sílabas: ma-ra-ca-já
Plural: maracajás.

... Maracajaguaçu.
Gato Bravo Grande foi um dos Fundadores da Serra.
Foi o Principal, isto é, o Cacique Chefe dos Índios Temiminós que, com o padre Braz Lourenço, construiu a Aldeia e a Igreja que daria origem depois o povoado de Conceição da Serra, hoje Serra.
Era Temiminó, do Grupo Tupi.
O grupo de  Índios Tupis, pela posição que ocupava no litoral, foi o que manteve maior contato com os Portugueses. Foi o que deu maior contribuição na formação da Cultura Brasileira e o que, pela miscigenação, mais se integrou à população.
Nasceu no Rio de Janeiro, em  1501.
Com vinte anos de idade já era um dos principais líderes de sua Tribo, graças a atos de bravura. Mudou-se para o Espírito Santo em 1555, quando já tinha 54 anos de idade.
Pesquisadores informam que Maracajá era um felino que habitava as matas virgens e de tamanho que chega quase ao triplo do gato doméstico.
GATO BRAVO
                A escritora Cybelle M. Ipanema, residente na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, no livro de sua autoria “História da Ilha do Governador”, relata o seguinte:
“Maracajá é uma espécie de felino, o Felis Pardalis”.
O escritor Ermano Stradelli, citado pelo escritor, J. Romão da Silva descreve-o: Fulvo (amarelado) claro, de manchas mais ou menos regulares, em forma de roseta ou anel... Chega quase ao triplo do tamanho do gato doméstico.”
No “Novo Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa”, em texto com a supervisão de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, a palavra Maracajá está escrita com a letra “Jota”  significa: “Espécie de gato bravo.”
 ESCRITA CORRETA
 As expressões “Jaraguai” e “Maraguai”, segundo o Dicionário de Língua Tupi, são variações das palavras Maracaia  ou Maracajá, cujo o significado é o mesmo: Gato do Mato; Gato Bravo do Mato, ou simplesmente Gato.
Maracajá significa “Gato do Mato”.
Segundo o Dicionário Tupi, de autoria de Gonçalves Dias, publicado pela primeira vez em 1858, e republicado pela Livraria São José, em 1970.
A palavra Guaçu é de origem indígena. Guaçu segundo os dicionários é um adjetivo Tupi-guarani, de dois gêneros, que entra na composição de vários nomes brasileiros, com o sentido de Grande.
Maracayaguaçu, Maracaiaguaçu ou Maracajaguaçu significam, portanto a mesma coisa: Grande Gato Bravo ou Gato Bravo Grande.
Leopardus wiedii
Gato-maracajá
Localização típica: "Brasilien", restrito por Allen (1919) à "norte do Espírito Santo, Brasil", e então restrito por Cabrera (1958), ao "Brasil, restringida al Morro de Arará, sobre o rio Mucurí, Estado de Baía".
Características gerais
Comprimento do corpo: 53-79 (); 46-59 ().
Comprimento de cauda: 33-51 (); 34-44 ().
Peso: 3-9 kg; 2,5-5 kg ()
A cor da pelagem é dum amarelo-escuro na maior parte do corpo, salpicada de manchas pretas que se espalham longitudinalmente da cabeça até a cauda. No interior das manchas das laterais do corpo existe um preenchimento de cor marrom. A região interior da pelagem dos membros, a região ventral, a parte inferior do pescoço e o focinho têm pelagem de fundo branco. O nariz pode variar em coloração dum marrom à um tom rosado. Os indivíduos que vivem em regiões montanhosas são marcados mais intensamente e a pelagem é mais grossa que nos animais das planícies. O crânio é pequeno e distintivamente arredondado. Os molares superiores anteriores estão presentes. É uma espécie de felino de pequeno porte, semelhante à um gato comum, com pele de jaguatirica. As pernas dianteiras são longas e dotadas de patas largas e flexíveis nas extremidades; as traseiras são dotadas de uma articulação no metatarso capaz de rotacionar até 180º sobre si mesma, caso único entre os felinos. Os olhos são grandes e castanhos, o focinho é curto e dotado de longas vibrissas sensoriais. As orelhas grandes estão posicionadas na direção frontal, com a parte de trás colorida dum marrom-escuro. A cauda anelada e comprida (mais longa que a da jaguatirica) o auxilia no equilíbrio. Os indivíduos machos são maiores que as fêmeas. Nenhum indivíduo com melanismo foi observado.
Chaves de classificação física: endotérmico; simetria bilateral; quadrúpede.
Dimorfismo sexual: macho maior.
Ontogenia e Reprodução
O período de estro dura entre quatro e 13 dias. Quando o macho monta a fêmea, ele a segura pelo pescoço usando seus dentes. A cópula é rápida, de 15 segundos à um minuto. O comportamento reprodutivo é o comum dentre a maioria dos gatos. O período de gestação é de 65 a 84 dias (podendo variar de 80-84 dias), nascendo, geralmente, apenas um filhote. Casos de gêmeos são raros. Os filhotes pesam cerca de 450 g quando nascem (em comparação, um filhote de gato-doméstico pode pesar 110 g no mesmo momento). As crias são marcadas por manchas negras uniformes. A cria come alimentos sólidos com cerca de 40 dias e pode chegar ao tamanho adulto em oito ou dez meses. Chegam à maturidade sexual por volta dos dois anos de idade. Se escapar dos perigos que rondam seus primeiros momentos de vida, o gato-maracajá pode viver até 13 anos de idade. Em cativeiro chega a viver 18.
Período de gestação: 65-84 dias.
Número de crias: 1.
Maturidade sexual: cerca de 2 anos.
Longevidade: 13 anos; 18 anos (cativeiro).
Chaves de características reprodutivas: vivíparo; sexual; dióico; fertilização interna.
Ecologia e Comportamento
Tem hábitos noturnos, embora descrito como animal mais diurno que a jaguatirica. É provavelmente um animal solitário. Em cativeiro, macho e fêmea vivem e dormem juntos mesmo fora do cio. Isso sugere que o gato-maracajá pode ter uma vida social quanto em estado selvagem, sendo solitários exceto quando na época reprodutiva. Como todos os pequenos gatos, o gato-maracajá pode miar. É um animal arborícola e terrestre, como muitos outros felinos, movimenta-se nas árvores com agilidade peculiar e rapidez. Pode saltar a grandes distâncias. Graças às suas patas traseiras, o gato-maracajá consegue descer dos troncos com a cabeça para cima, deslizando. Já se foi observado um gato-maracajá pendurado por apenas uma pata num galho. Mas pode também descer desta com a cabeça para baixo, como todos os verdadeiros mamíferos arborícolas, numa agilidade espantosa. Tal habilidade permite-lhe caçar presas que habitam as árvores, como alguns roedores e aves. Além destes, também alimenta-se de pequenos mamíferos arborícolas e terrestres, lagartos, rãs, insetos e até de frutos.
Estrutura social: Solitário.
Dieta: Pequenos mamíferos, aves, répteis, insetos e frutos.
Predadores principais: Homem.
Chaves de características comportamentais: móvel; arborícola; terrícola; noturno.
Chaves de características alimentares: onívoro; heterótrofo.
Habitat
Habita florestas tropicais equatoriais, cerrado, mata atlântica, pantanal e campos.
Bioma terrestre: floresta tropical; savana ou campo; pântano.
Distribuição Geográfica
Ocorre desde o México até a Argentina (todos os países sul-americanos, exceto o Chile); outrora também existiu no Texas (Estados Unidos da América).
Região Biogeográfica: neoártica (nativo); neotropical (nativo): brasiliana (nativo).
Distribuição Histórica
O gato-maracajá é uma espécie holocênica proveniente de felídeos terciários basais.
Era geológica: Cenozóico; Quaternário; Pleistoceno-Holoceno (dias atuais).
Estado de Conservação
O gato-maracajá está classificado no Anexo I da Convenção de Washington desde outubro de 1989. A espécie está ameaçada de extinção, tendo a sua pelagem muita procura, Em 1980, o Paraguai exportou mais de 22.000 peles das 30.000 comercializadas no mundo. Este país, nesse mesmo ano, exportou também 30.000 peles de jaguatirica, num total mundial de 45.000. Cerca de 15 gatos-maracajás precisam ser mortos para se confeccionar um casaco de peles.
Subespécies
Onze subespécies viventes foram descritas, com uma espécie pleistocênica:
Leopardus wiedii amazonica
Margaí-amazônico
A subespécie habitante das florestas amazônicas equatoriais, do Brasil, onde tem hábitos noturnos e captura pequenos mamíferos e aves.
Amazonas, Brasil.
 Leopardus wiedii amnicola
Margaí-pleistocênico
Subespécie mais primitiva e atualmente extinta, datada do Pleistoceno.
América Latina.
Leopardus wiedii boliviae 
Margaí-boliviano
Subespécie presente nos pantanais bolivianos e mato-grossenses, esta espécie captura mamíferos e outros pequenos animais dentre a vegetação.
Bolívia e Mato Grosso, Brasil.
Leopardus wiedii cooperi
Margaí-de-cooper
Esta subespécie outrora presente no Texas, vive atualmente em Nuevo Leon, no México. É uma das subespécies que habitam áreas menos tropicais.
Nuevo Leon, México e fronteira com o Texas.
Leopardus wiedii glacula
Margaí-mexicano
Outra subespécie habitante do México, vive desde Sinaloa ao norte de Oaxaca.
Sinaloa ao norte de Oaxaca, México.
Leopardus wiedii nicaraguae
Margaí-do-nicarágua
O margaí-do-nicarágua, espécie centro-americana, vive em área tropicais desde Honduras à Costa Rica.
Honduras à Costa Rica, América Central.
Leopardus wiedii oaxacensis
Margaí-oaxacano
Subespécie mexicana, o margaí-oaxacano vive de Tamaulipas à Oaxaca.
Tamaulipas à Oaxaca, México.
Leopardus wiedii pirrensis
Margaí-do-panamá
Subespécie presente do Panamá ao norte do Peru, em regiões de floresta tropical equatorial. Sua cauda é 10 cm mais longa que as subespécies locais de jaguatirica.
Panamá ao norte do Peru.
Leopardus wiedii salvinia
Margaí-da-guatemala
Subespécie centro-americana presente em Chiapas, Guatemala e em El Salvador.
Peru e noroeste da América do Sul.
Leopardus wiedii vigens
Margaí-do-orinoco
Subespécie que vive nas florestas amazônicas brasileiras, presente desde o Orinoco à bacia amazônica.
Orinoco à bacia amazônica.
Leopardus wiedii yucatanica
Margaí-de-iucatã
Subespécie norte e centro-americana, vive principalmente em regiões mexicanas.
Norte de Chiapas ao norte da Guatemala e Iucatã.
© Terry Moore               
Leopardus wiedii wiedii [Schinz, 1821] - In G. Cuvier, Das Thierreich, 1:235.
Margaí
A subespécie mais comum, vive em regiões de mata Atlântica, no Brasil e na Argentina.
Leste e centro do Brasil e Argentina.
Observações e Etimologia
Considerado por muito tempo dentro do gênero Felis, o gato-maracajá, nas últimas revisões de taxonomia foi colocado com seus parentes próximos no gênero Leopardus (Wozencraft, 1993). Essas três espécies, Leopardus wiedii, Leopardus pardalis e Leopardus tigrina têm 36 cromossomos, enquanto a maioria dos outros gatos têm 38. Também é conhecido por margaí. Margaí vem do Marguey, que significa ''gato-tigre''. Leo leão; pardus pardo, pintado. Wiedii em homenagem ao Príncipe de Wied, com sulfixo ''ii''.
Nomes vulgares: gato-maracajá (português); gato-do-mato (português); gato-selvagem (português); maracajá (português); margaí (português); gato-tigre (português, espanhol); margay (inglês); long-tailed-spotted-cat (inglês); little-ocelot (inglês); tree-ocelot (inglês); tigrillo(espanhol);langschwanzkatze(alemão).                                                                                                                                                                                                                   Protônimo: Felis wiedii Schinz, 1821.









quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

NATAL DE 2015


MEUS VOTOS DE UM MARAVILHOSO NATAL
Grijalva e família



Cartão de Natal

Ao clarão do Natal, que em ti acorda a música da esperança, escuta a voz de alguém que te busca o ninho da própria alma!... Alguém que te acende a estrela da generosidade nos olhos e te adoça o sentimento, qual se trouxesses uma harpa de ternura escondida no peito.
Sim, é Jesus, o amigo fiel, que volta.
Ainda que não quisesses, lembrar-lhe-ias hoje os dons inefáveis, ao recordares as canções maternas que te embalaram o berço, o carinho de teu pai, ao recolher-te nos braços enternecidos, a paciência dos mestres que te guiaram na escola e o amor puro de velhas afeições que te parecem distantes.
Contemplas a rua, onde luminárias e cânticos lhe reverenciam a glória: entretanto, vergas-te ao peso das lágrimas que te desafogam o coração...É que ele te fala no íntimo, rogando perdão para os que erram, socorro aos que sofrem, agasalho aos que tremem na vastidão da noite, consolação aos que gemem desanimados e luz para os que jazem nas trevas.
Não hesites! Ouve-lhe a petição e faze algo! ... Sorri de novo para os que te ofenderam; abençoa os que te feriram; divide o famel com os irmãos em necessidade; entrega um minuto de reconforto ao doente; oferece uma fatia de bolo aos que moram, sozinhos, sob ruínas e pontes abandonadas; estende um lençol macio aos que esperam a morte, sem aconchego do lar; cede pequenina parte de tua bolsa no auxílio às mães fatigadas, que se afligem ao pé dos filhinhos que enlanguescem de fome, ou improvisa a felicidade de uma criança esquecida.
Não importa se diga que cultivas a bondade somente hoje quando o Natal te deslumbra!... Comecemos a viver com Jesus, ainda que seja por algumas horas, de quando em quando, e aprenderemos, pouco a pouco, a estar com ele, em todos os instantes, tanto quanto ele permanece conosco, tomando diariamente ao nosso convívio e sustentando-nos para sempre.

Pelo Espírito Meimei.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

NOVATO



NOVATO*
João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)

            Novato era o burrinho de sela de estimação do senhor meu pai. Aliás, dele somente não. De toda a família, além de ser ambicionado por todos que o conheciam.
Novato só não era gente porque não dava coice e nem possuía maus costumes. Manso, inteligente, sempre gordinho, andador, resistente, macio e simpático.
Sim. Um burro simpático e até brincalhão. Conhecia todo mundo e tinha uma aparência agradável.
A gente – a meninada – às vezes abusava de sua mansidão e de sua camaradagem. Quando foi ficando velho, começou a brincar com a gente, fazendo algumas peraltagens. Por exemplo: Comia quase sempre amarrado nos melhores pastos e quando a gente ia mudá-lo de local ou buscá-lo para alguma viagem, Novato não deixava chegar perto para desamarrar. Fazia que queria morder e corria pra cima da gente. Nunca fazia isso com pessoas grandes, a quem respeitava. Usávamos, então, uma tática. Enquanto uns ficavam pela frente procurando entretê-lo e desviando a sua atenção, outro ia por longe e desatava a corda. Então ele parava com as suas ameaças.
Mas, o engraçado era outro hábito que adquirira. Quando a gente ia buscá-lo, comumente, montávamos até quatro meninos de uma vez. Fazia uma fileira no lombo, e começava-se com converseira e risadagem. Novato não tolerava essa folia e quando menos se esperava, dava uma série de polpinhas miúdas para não machucar e jogava tudo no chão. Se a gente ia caladinho, nada acontecia. Levava tranqüilamente todo mundo. O negócio era algazarra. Nada disso fazia com pessoas grandes.
Meu pai só andava nele. Macio, bom andador e resistente, não se enfadava. Varava léguas e léguas de sertão, mudando a passada sem que fosse preciso estimulá-lo.
Sabia o que estava fazendo e o que meu pai gostava. Ora caminhava no baixo, ora num galopinho em cima de uma mão, que não enfadava ninguém. Mudava de passada por ele mesmo para não se enfadar tanto. Entendia tudo. Pai não gostava que outras pessoas montassem nele.
 E ai daquele que lhe batesse e desse uma esporada. Novato sabia o que fazer. E era mesmo. Conhecia todos os caminhos e parece que entendia para onde a gente ia. Era um burrinho bem educado.
            Certa feita aconteceu um fato curioso. A margem da estrada que saia para a Lagoa do Capim e que dava para vários lugares; ficava o canto do curral. Passava a dois ou três metros dela. Era por onde mais se passava. Pai mandou selar o Novato para ir, creio eu, a Esperança ou ao Riacho Fundo, terra de minha avó paterna. Foi saindo tranquilamente. Mas ao se aproximar da quina do curral, refugou e recuou inesperadamente, - o curral era de pau-a-pique. Torceu por dentro do mato, meu pai não gostava de teimosia. Tentou por várias vezes passar pelo caminho, mas não houve jeito. Ao aproximasse do canto do curral, Novato desviava-se rápido e só passava por longe.
Pai, parou, examinou tudo e nada observou de estranho. Podia ser cobra. Verificou o local, era limpo. Não encontrou nada que justificasse aquele medo de Novato. Teve que passar por fora e daí por diante, todas às vezes nunca mais passou direto. Pelos outros cantos passava tranqüilo. Vieram, então, várias suposições. Alguma cobra que meu pai não vira; alguma pessoa que estivesse escondido por trás do outro lado da cerca, e inclusive, a última suposição de pai; alguma assombração, coisa do outro mundo. Achava que não podia ser coisa a causar tanto medo a Novato, sem manha, sem cacoetes nas viagens. E meu pai, às vezes brincava. Se foi mal-assombrado, foi coisa muito feia. Podia ser alguma de Zé Furiba, o bicho mais feio das redondezas.
Os tempos foram se passando e Novato envelheceu. Meu pai resolveu aposentá-lo, como costumava fazer com os animais que havia servido por muito tempo. Soltou no pasto.
- De hoje em diante ninguém monta mais em Novato.
E assim foi. No entanto, era para não lhe falta nada. Comida, água, e banhos uma vez por outra. Sela no lombo, nunca mais. Iria morrer em seu poder.
Mas, infelizmente não foi assim. Certo dia Novato desapareceu. Os ladrões de cavalos, o furtaram.
Procurado por toda parte, nunca apareceu. Foi uma tristeza geral. A maior revolta de meu pai era saber que alguém deveria andar montado nele, já velho, esporeando-o e batendo-o.
Foi difícil conformá-lo.
E ainda hoje se tem saudade de quem foi tão bom e tão amigo. Nunca apareceu outro igual.

*O conto faz parte do livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.
Nota: Reminiscência da fazenda Arara onde nasceu e viveu sua adolescência.



quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

MINHA ROÇA DE MILHO


 MINHA ROÇA DE MILHO*
João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2993)

     Dezenove de março, dia de São José, o protetor dos milharais. Quem deseja milho verde para a véspera de São João tem que semeá-lo naquela data. Mas naquele ano faltam as chuvas e foi quebrada a tradição pela maioria dos roceiros. Feliciano, entretanto, conservou-a fielmente. Era de fato fervoroso do Santo e confiava cegamente nele.
– Ora, vai Chover qualquer hora. São José não irá se esquecer da gente. Certamente houve qualquer coisa lá por cima. Alguma confusão ou falta de tempo. Quando menos se esperar a chuva chega, o milho nasce e findará dando boas espigas.
Feliciano chamou a mulher, pegou a enxada e o milho que havia guardado e lá se foram para a roça. A terra estava seca e quente, mas já preparadinha. Olhou para todos os cantos do céu e nem um fiapo de nuvem. O céu azul acinzentado não prometia nada. Aspecto de ano seco, desses em que só escapou padre e jumento.
- Vamos perder o trabalho e as sementes, Feliciano. A coisa não está de brincadeira.
- Olha Mariana, quem não tem fé não se salva. Quando Deus quer, mudo tudo de repente. Planta-se hoje, chove amanhã ou depois e os bestas que não plantaram vão ficar por aí se maldizendo. - Ah! Se eu soubesse...
- Vamos. Três sementes por cova e enterra bem.
 A enxada cortava o chão duro, carreira acima, carreira abaixo e Mariana semeando e fechando as covas com o pé. Quando o sol já procurava um buraco para se esconder e dormir, a roça de milho estava plantada. Feliciano de camisa suada e Mariana com os pés doidos; tomaram o caminho de volta.
- E se não chover, Feliciano?
- Chove mulher. Chove com toda certeza. São José não é qualquer santinho à toa não, Mariana. E a gente reza pra ele, acende uma vela e espera. O milho também espera na terra seca. E acaba com essa desconfiança. São José viu o nosso trabalho e qualquer hora dessa fala com São Pedro e vai ver a terra molhada, o milho nascido e encarreirado, fazendo inveja aos que duvidaram.
Oito dias depois céu era o mesmo. Impassível e cinzento. Mariana olhava para Feliciano sem dizer nada e tinha pena dele. – Coitado, com tanta fé e nada de chuva. Antes tivesse dado o milho às galinhas. Suou tanto para abrir as covas, certamente já pensando no milho maduro, na pamonha, na canjica, no milho cozido e assado.
- Oh! Meu São José ajude Feliciano. Ele tem tanta fé e tanta esperança. Bastarão algumas chuvas. A terra é tão boa e o milho é ligeiro. Repara que ele não tira os olhos do céu. Qualquer ruído que ouve à noite, pensa que é trovoada e às vezes levanta-se como se já estivesse sentindo o cheiro da terra molhada.
E o tempo não mudava. Feliciano não falava no assunto. A mulher também. Cada um guardava para si os seus temores, as suas preocupações. Mas Feliciano, intimamente já andava meio desconfiado. – Será que São José se esqueceu da gente, do seu dia, do plantio de milho para o São João, o colega dele? Doença não é, que santo não adoece. Só se foi alguma desavença entre São José e São Pedro. Tudo pode acontecer. Sei lá. Vai, Feliciano, tira essas bobagens da tua cabeça. E foi deitar-se calado, sem esperança. - A coisa estava ficando preta. Mas seja lá o que Deus quiser
Inesperadamente... Um relâmpago clareou a casa e o trovão roncou no espaço. Feliciano saltou da cama gritando pela mulher.
– Chuva, Mariana, chuva!...Eu não te dizia. Quando Deus tarda já vem no caminho.
E a chuva começou a cair e a água espanando nas goteiras.
- Faz um café, Mariana, vamos festejar. São José não é brincadeira. Também a gente queira que chovesse sem nuvens no céu! São José não fabrica nuvens. O que ele faz é mandar a turma peneirar a água. Trovão é o barulho das peneiras.
O dia amanheceu com um grande sorriso na boca do tempo. Tudo mudado. Subia no chão o cheiro gostoso da terra molhada. O sol veio saindo devagar, por detrás de nuvens prateadas.
 – Espia, Mariana, o bicho vem escondendo a cara com vergonha do que fez com a gente. Já estava secando até as cacimbas de beber. Parece que só anda morto de sede. Bebe toda água que encontra.
- Mas, Feliciano, o sol é bom para secar a roupa. Secar o feijão e o milho. Esquenta o tempo. Quando tem chuva não faz mal a ninguém. É até bom demais.
- Nem tinha pensado nisso. Mariana. Ele que perdoe minhas burradas.
- E tem mais, Feliciano. Sem o sol seria tudo escuro e como é que se podia trabalhar, viajar, ver as coisas.
- Quem te ensinou isso mulher?
- Ninguém. Basta pensar um pouco. O escuro faz medo. Quando o sol aparece fica tudo claro, tudo alegre.
- E tu que te lembra dessas coisas, onde é que o sol se esconde durante a noite?
- Sei lá. Só perguntado ao vigário.
- Agora é comigo. Não se esconde coisa nenhuma. O sol é uma lamparina grandona. Quando o gás se acaba, apaga-se e escurece sinhá boba.
Mariana achou graça.
- Vai cuidar de tua roça de milho, Feliciano. Só quem não vê as coisas; Todos os dias nasce de novo um sol que morre ao anoitecer. Isto sim!
Com a terra molhada e quente o milho botou a carinha de fora com toda a força de sua origem.
Feliciano diz a mulher:
- Olha Mariana, o milho já está ficando sabidinho. Bem que eu te falava. E com esta outra chuva que está começando a cair vai crescer aos pulos.
O mato começou a sair. Feliciano corria a enxada chegando-lhe terra. E o milharal viçoso já balançava as folhas ao vento, como se tivesse sendo acariciado. Feliciano não saia de junto. Nunca tinha visto um roçadinho mais bonito.
- O que é isso Feliciano. Alguma coisa no céu, Feliciano?
- Não Mariana. Estou olhando pra ver a situação das nuvens. O coitadinho do milho está querendo murchar. A terra está quase seca. Pede chuva mulher. Com mais um empurrãozinho de São Pedro a gente lucra. O milho já está querendo soltar o pendão e é quando mais necessita de chuva.
- Tem paciência, homem. O que se pode fazer, senão esperar e confiar em Deus?
Alguns dias depois Feliciano chamou Mariana.
 - Sabe de uma coisa minha nêga, vamos aguar o milho. Tem bastante água na cacimba. A gente não tem outra coisa para fazer. É até uma distração. Eu vou carregando água e tu vais botando nas touceiras. Uma caneca em cada uma.
- E será que vai dar certo.
- Tem que dar. Tu não molhas tuas plantas e elas crescem e botam flores. Com o milho será a mesma coisa.
E o trabalho recomeçava todos os dias. O milho deixou de murchar, soltava pendão e apontavam as espigas.
A notícia espalhou-se.
– Feliciano endoideceu. Está aguando o roçado de milho. É bom que se fique de olho nele. Era um homem tão aprumado do juízo e de repente acontece uma coisa dessas.
E os mais curiosos iam observar de longe.
 – Eu vi, eu vi mesmo. É uma pena.
E o milho crescendo e soltando as espigas.
- Agora é que precisa de água, Mariana. Vamos carregar mais a mão na aguação. Entrava dia e sai dia, semana inteira; saiam mais cedo e voltavam mais tarde.
- A coisa está piorando, minha gente. Estão saindo ainda com escuro e entram até pela noite, com o claro da lua. É bom avisar ao vigário, pedir que reze pelos dois.     Ninguém botava os pés em casa do Feliciano. E eles mesmos não sabiam o que estava acontecendo. E tome água no milho. São Pedro resolveu ajudar. Também já era demais aquele sacrifício. E ao pender do sol, formou-se uma nuvem escura do lado que vem às chuvas.
- Corre Mariana. Espia quem vem ali?
- O que, Feliciano?
- Uma chuva mulher. Vai cair aqui, na certa.
 E começaram a se formar as cordas d’água e a chuva a cair.
- E lá vem ela chegando. Olha, já está bem em cima da roça de milho. Já está tudo salvo Mariana. Eita santinho bom danado. É pena que não comam milho, senão iríamos manda-lhe uns atilhos de milho. As primeiras espigas.
- Não tem nada não. Leva para o padre Simão. É a mesma coisa. E diz que é para são José. Ele manda o recado sobre tua intenção.
Dezoito dias depois, o milho estava maduro. São João estava na porta. Mas ninguém tinha milho verde. E um são João sem canjica, sem pamonha, sem milho cozido e assado, é assim como uma festa sem vinho e sem mulher. Não tem graça.
- Sabes Mariana, vamos vender o milho. Fazer algum dinheiro.
- Mas o do padre Simão é de graça. Milho do santo.
Feliciano foi à cidade oferecer milho.
-Tenho milho verdinho, verdinho, para quebrar na hora. Vendo lá no sítio. E dava o preço da espiga ou da mão de milho. A notícia espalhou-se.
- Deve ser conversa de Feliciano. Dizem que ele andava avariado do juízo, aguando pé de milho. Em todo caso vamos até lá verificar. Foi um espanto geral. Milho espigado, cobrindo a terra limpa.
Na véspera de São João foi uma correria. Feliciano quebrava o milho e Mariana contava o dinheiro. A bolsa ia ficando recheada. Foi o dia de maior trabalho e de maior alegria.
- Está aí, minha gente. A doidice de Feliciano. A doidice dele era coragem de trabalhar, sabedoria e muito juízo. Ao redor de cada fogueira de São João só se falava na roça de milho de Feliciano. Ora se não fosse à doidice do homem, o São João não teria graça. Padre Simão recebeu a mão de milho de São José.
- Tu sabes Feliciano, santo não come milho, mas não te preocupes, pois eu sou o representante da turma celeste. Milho, peru, galinha gorda, um queijinho que quiseres oferecer a qualquer santo, não te esqueças que eu sou o representante autorizado.
- Pois não, seu vigário.
Passados meses, dona Mariana foi se confessar. E contou ao padre Simão que havia feito uma promessa, prometendo um peru a São Bento se a vaca de leite não morresse da picada de cobra. E não morreu. Pedia ao padre para trocar a promessa por uma penitencia qualquer. Não sabia onde morava São Bento.
- Ora minha filha, endereço de santo é comigo. Sou bem relacionado com todos eles. E São Bento não irá gostar dessa troca. Pode mandar o peru para cá que eu encaminho. Agora, outro assunto. O São João esta se aproximando. Não se esqueçam do milhozinho de São José. Assim terão sempre boas safras.
Mariana contou seus pecados, umas bobagens e findou confessando que tinha muita vontade de ter um filho, mas o Feliciano só pensava nas roças de milho. Sou uma mulher moça e sadia, mas não há jeito.
– Ora minha filha, padre Simão é versado nestas questões e pode resolver o problema.
- Então vou falar com Feliciano pra ele vir falar com o senhor.
- Feliciano! Deus me livre. És tu, criatura, quem deves vir e sem ele saber. Essas coisas se fazem em segredo.
Já de volta, Mariana entendeu a virada do padre. E o resultado é que nem mandou o peru de São Bento, nem mais o milho de São José. Desta feita seu vigário errou o pulo do gato. Com o dinheiro do peru e do milho, Mariana comprou um oratoriozinho para os dois santos de sua devoção. Estava pago a promessa. E todos os anos Feliciano mandava vender milho ao padre Simão. E Mariana recomendava:
- Cobra mais caro, Xexeu...
- E por que mais caro, mulher.
- Ora Feliciano. Padre ganha dinheiro sem trabalhar, não tem mulher nem filho pra sustentar. E quer comer tudo de graça. Puxa no preço, Xexeu...
- Pode vir castigo pra cima da gente, Mariana. E deixar de chover e o milho secar, sem dar espigas.
- Deixa comigo, Feliciano. São José está aí para nos proteger. E ele e São Bento. O padre falou que era bom ser devoto de São Cornélio, mas não gostei da lembrança. É um santo de nome esquisito. Perguntei a professora que nome era esse Cornélio e ela explicou: - Cornélio vem de corno que é a mesma coisa que chifre. E com chifre, aqui, só as vacas e o rebanho de cabras. Não achas? Ou queres ser devoto de santo e com chifre?
- Vôte, mulher. Vamos ficar só com os outros mesmo. E santo com chifre não cabe no oratório... E ficou assim!
A roça de milho de Feliciano aumentava de ano para ano. Quem queria milho verde era com ele. Caísse ou não caísse chuva. Tudo ia bem. Mas certo dia bate à porta de Feliciano, uma figura diferente das outras. Sujeito, calçado de botas, chapéu de campo e par de óculos. Antes que perguntasse quem era, o bicho foi logo falando.
- Sou um agrônomo. O prefeito aí do Serrote informou que o senhor estava produzindo milho sem chuva. E por isso vim conhecê-lo se puder ajudá-lo.
- Ah! Meu amigo, o trabalho é pesado. O senhor não vai agüentar. Carregar água na cabeça para aguar milho é para bicho da roça, como eu.
E contou toda a sua história. Dele e de Mariana.
- Vamos até lá. Quero ver.
A roça era perto e o milharal estava espigado, mesmo quase sem chuva.
- Muito bem seu Feliciano. Tem os meus parabéns. Mas se o senhor quiser, pode-se facilitar o seu trabalho. Fazer irrigação com uma moto-bomba. E assim, poderá plantar mais. Instala-se a moto-bomba aqui junto da cacimba e manda-se água para o milharal.
- Seria bom demais. Mas o senhor sabe. Não tenho dinheiro para comprar a tal de moto-bomba e nem os canos de que o senhor falou.
- Isso não será problema. O governo empresta tudo e vem instalar, sem despesas para o senhor. Basta comprar o combustível e o óleo para o motor. Tudo muito simples. O restante o senhor mesmo faz.
Depois dos acertos, lá se foi o agrônomo.
- Mariana, ou Mariana. Se o negócio der certo, vamos ficar ricos. E o doutor disse que a gente pode plantar outras coisas. Até capim para os bichinhos que a gente cria.
- E será que isso vai mesmo dar certo. Em todo caso, é tudo por conta do doutor.
E o agrônomo Jeremias não tardou. Chegou com o equipamento e mais um auxiliar. Colocou a moto-bomba no local adequado, instalou os canos e botou a estrovenga pra funcionar. A água espirou dentro da roça de milho e foi se espalhando. Feliciano e Mariana não podiam conter a sua alegria.
- Mas doutor, que invenção tão boa foi da cabeça do senhor?
- Não, Feliciano. Já se usa muito por aí. Estou apenas ensinando como se faz. E agora é só aprender a guiar a água, para que ela corra entre as carreiras de milho, feijão ou qualquer outra coisa.
Na safra seguinte e logo depois do milho colhido, Dr. Jeremias chegou com as máquinas puxadas a boi. O solo e os sulcos foram preparados. O milho foi semeado, acasalado com feijão de corda e fava.
E no dia seguinte, muita gente para assistir a irrigação. No meio, o prefeito, o vigário e até o Dr. Juiz. Padre Simão, meio encabulado. - Dona Mariana podia ter contado alguma coisa...
A experiência foi ótima. Feliciano foi elogiado. Alguém chegou até a comentar que na próxima eleição deveria ser vereador. Mas outro contestou:
- Já queres estragar o homem. Que mal ele te fez...
Padre Simão, benzeu as instalações e a roça de Feliciano. Deu uma rabiscada de olho em Mariana com ares de quem pede perdão. E intimamente lamentou-se;
- Perdi o peru e o milho verde. Pelo menos isso, Mariana...
O bicho não tinha mesmo cura... Por trás do breviário, a malícia.
A roça de milho com outras lavouras foi crescendo e já não havia mais época para plantar. Com chuva ou sem chuva Feliciano ganhava dinheiro. No meio da caatinga seca e pelada, a roça de Feliciano, manchava de verde o sertão. O sol espiava lá de cima e inundava de luz e vida, tudo quanto nascia e crescia na terra molhada.
- Manda, manda Mariana, um pouco de milho verde ao padre Simão. Ele benzeu a roça e deu a entender que não se esquecesse dele.
 - Manda por tua conta. Eu sei muito bem qual é o milho que ele quer. Não facilitar Feliciano... Padre Simão já possui o apelido de Quero-Quero, passarinho arrancador de milho.
- Pode ser, mais ninguém arranca milho na minha roça
- Mas só se o chão for duro.
- Não planto pra bicho comer. Em roça de Feliciano ninguém mexe...
- Não mexe, mas já tentaram. Quero-Quero é bichinho teimoso... Toma sempre cuidado, Feliciano.

*O conto faz parte do livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.