segunda-feira, 21 de setembro de 2015

PLATÃO E A PEDAGOGIA


PEDAGOGIA
Platão
O filósofo grego previu um sistema de ensino que mobilizava toda a sociedade para formar sábios e encontrar a virtude
01/07/2011 15:32
Texto Márcio Ferrari Nova-Escola
Foto: Há mais de 2 mil anos, Platão já defendia instrução igual para meninos e meninas
Há mais de 2 mil anos, Platão já defendia instrução igual para meninos e meninas
Frases de Platão:
"A educação deve propiciar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza que podem ter"
"Ao longo dos anos, os antigos encontraram uma boa receita para a educação: ginástica para o corpo e música para a alma"
Platão nasceu por volta de 427 a.C. em uma família aristocrática de Atenas. Quando tinha cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, por quem tinha grande admiração. Como a maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na política. Contudo, a oligarquia e a democracia lhe desagradaram. Com a condenação de Sócrates à morte, Platão decidiu se afastar de Atenas e saiu em viagem pelo mundo. Numa de suas últimas paradas, esteve na Sicília, onde fez amizade com Dion, cunhado do rei de Siracusa, Dionísio I. De volta a Atenas, com cerca de 40 anos, Platão fundou a Academia, um instituto de educação e pesquisa filosófica e científica que rapidamente ganhou prestígio. Três décadas depois, ele foi convidado por Dion a viajar a Siracusa para educar seu sobrinho Dionísio II, que se tornara imperador. A missão foi frustrada por intrigas políticas que terminaram num golpe dado por Dion. Platão morreu por volta de 347 a.C. Já era um homem admirado em toda Atenas.
Na história das idéias, Platão foi o primeiro pedagogo, não só por ter concebido um sistema educacional para o seu tempo, mas, principalmente, por tê-lo integrado a uma dimensão ética e política. O objetivo final da educação, para o filósofo, era a formação do homem moral, vivendo em um Estado justo.
Platão foi o segundo da tríade dos grandes filósofos clássicos, sucedendo Sócrates (469-399 a.C.) e precedendo Aristóteles (384-322 a.C.), seu discípulo. Como Sócrates, Platão rejeitava a educação que se praticava na Grécia em sua época e que estava a cargo dos sofistas, incumbidos de transmitir conhecimentos técnicos - sobretudo a oratória - aos jovens da elite, para torná-los aptos a ocupar as funções públicas. "Os sofistas afirmavam que podiam defender igualmente teses contrárias, dependendo dos interesses em jogo", diz Sérgio Augusto Sardi, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. "Platão, ao contrário, pensava em termos de uma busca continuada da virtude, da justiça e da verdade."
Para Platão, "toda virtude é conhecimento". Ao homem virtuoso, segundo ele, é dado conhecer o bem e o belo. A busca da virtude deve prosseguir pela vida inteira - portanto, a educação não pode se restringir aos anos de juventude. Educar é tão importante para uma ordem política baseada na justiça - como Platão preconizava - que deveria ser tarefa de toda a sociedade.
O ideal da escola pública
Baseado na idéia de que os cidadãos que têm o espírito cultivado fortalecem o Estado e que os melhores entre eles serão os governantes, o filósofo defendia que toda educação era de responsabilidade estatal - um princípio que só se difundiria no Ocidente muitos séculos depois. Igualmente avançada, quase visionária, era a defesa da mesma instrução para meninos e meninas e do acesso universal ao ensino.
Contudo, Platão era um opositor da democracia - há estudiosos que o consideram um dos primeiros idealizadores do totalitarismo. O filósofo via no sistema democrático que vigorava na Atenas de seu tempo uma estrutura que concedia poder a pessoas despreparadas para governar. Quando Sócrates, que considerava "o mais sábio e o mais justo dos homens", foi condenado à morte sob acusação de corromper a juventude, Platão convenceu-se, de uma vez por todas, de que a democracia precisava ser substituída.
Para ele, o poder deveria ser exercido por uma espécie de aristocracia, mas não constituída pelos mais ricos ou por uma nobreza hereditária. Os governantes tinham de ser definidos pela sabedoria. Os reis deveriam ser filósofos e vice-versa. "Como pode uma sociedade ser salva, ou ser forte, se não tiver à frente seus homens mais sábios?", escreveu Platão.
Estudo permanente
A educação, segundo a concepção platônica, visava a testar as aptidões dos alunos para que apenas os mais inclinados ao conhecimento recebessem a formação completa para ser governantes. Essa era a finalidade do sistema educacional planejado pelo filósofo, que pregava a renúncia do indivíduo em favor da comunidade. O processo deveria ser longo, porque Platão acreditava que o talento e o gênio só se revelam aos poucos.
A formação dos cidadãos começaria antes mesmo do nascimento, pelo planejamento eugênico da procriação. As crianças deveriam ser tiradas dos pais e enviadas para o campo, uma vez que Platão considerava corruptora a influência dos mais velhos. Até os 10 anos, a educação seria predominantemente física e constituída de brincadeiras e esporte. A idéia era criar uma reserva de saúde para toda a vida. Em seguida, começaria a etapa da educação musical (abrangendo música e poesia), para se aprender harmonia e ritmo, saberes que criariam uma propensão à justiça, e para dar forma sincopada e atrativa a conteúdos de Matemática, História e Ciência. Depois dos 16 anos, à música se somariam os exercícios físicos, com o objetivo de equilibrar força muscular e aprimoramento do espírito.
Aos 20 anos, os jovens seriam submetidos a um teste para saber que carreira deveriam abraçar. Os aprovados receberiam, então, mais dez anos de instrução e treinamento para o corpo, a mente e o caráter. No teste que se seguiria, os reprovados se encaminhariam para a carreira militar e os aprovados para a filosofia - neste caso, os objetivos dos estudos seriam pensar com clareza e governar com sabedoria. Aos 35 anos, terminaria a preparação dos reis-filósofos. Mas ainda estavam previstos mais 15 de vida em sociedade, testando os conhecimentos entre os homens comuns e trabalhando para se sustentar. Somente os que fossem bem-sucedidos se tornariam governantes ou "guardiães do Estado".
O aprendizado como reminiscência
Platão defendia a idéia de que a alma precede o corpo e que, antes de encarnar, tem acesso ao conhecimento. Dessa forma, todo aprendizado não passaria de um esforço de reminiscência - um dos princípios centrais do pensamento do filósofo. Com base nessa teoria, que não encontra eco na ciência contemporânea, Platão defendia uma idéia que, paradoxalmente, sustenta grande parte da pedagogia atual: não é possível ou desejável transmitir conhecimentos aos alunos, mas, antes, levá-los a procurar respostas, eles mesmos, a suas inquietações. Por isso, o filósofo rejeitava métodos de ensino autoritários. Ele acreditava que se deveria deixar os estudantes, sobretudo as crianças, à vontade para que pudessem se desenvolver livremente. Nesse ponto, a pedagogia de Platão se aproxima de sua filosofia, em que a busca da verdade é mais importante do que dogmas incontestáveis. O processo dialético platônico - pelo qual, ao longo do debate de idéias, depuram-se o pensamento e os dilemas morais - também se relaciona com a procura de respostas durante o aprendizado. "Platão é do mais alto interesse para todos que compreendem a educação como uma exigência de que cada um, professor ou aluno, pense sobre o próprio pensar", diz o professor Sardi.
Para pensar
Platão acreditava que, por meio do conhecimento, seria possível controlar os instintos, a ganância e a violência. O acesso aos valores da civilização, portanto, funcionaria como antídoto para todo o mal cometido pelos seres humanos contra seus semelhantes. Hoje poucos concordam com isso; a causa principal foram as atrocidades cometidas pelos regimes totalitários do século 20, que prosperaram até em países cultos e desenvolvidos, como a Alemanha. Por outro lado, não há educação consistente sem valores éticos. Você já refletiu sobre essas questões? Até que ponto considera a educação um instrumento para a formação de homens sábios e virtuosos?


domingo, 20 de setembro de 2015

CENTO E CATORZE ANOS...











VELHOS BRINQUEDOS*

João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)

Há, na certa, gente que depois de crescida, gosta de fantasiar sua vida de menino. Ou por outra, começa a mentir, aparentando que teve uma infância dourada, repleta de brinquedos e diversões as mais variadas. Outras contam dissabores e uma vida lastimável de menino pobre. Saíram do nada e se fez gente a custa dos próprios esforços. Comigo e meus irmãos não se deu nada disso.
Tivemos uma infância comum, sem luxos, nem riquezas, mas também sem miséria. Sempre tivemos o essencial: casa, comida, roupas e o campo para nossas brincadeiras. Ninguém teve bicicleta, nem pistolas de plásticos ou automáticas ou outras espécies de brinquedos que saíram das fabricas. Minhas irmãs, essas tinham bonecas, geralmente de louça que eram um mimo e de plástico também. Mas não eram muitas.
Em compensação não faltavam outras diversões que não trocaríamos por nada neste mundo e que a meninada das cidades não possuía e invejavam. Caçar ninhos de passarinhos, armar arapucas e esparrelas para apanhar concriz, galos de campina e sabiás; montar a cavalo e em bezerros, andar trepado nas árvores, tomar banho nos açudes e lagoas, apanhar cumatí, murta, umbu e brincar de fazendeiro. Com vacas e bezerros de osso, inclusive vaqueiros. Era uma coisa rústica, mas gostosa. Sempre se ambiciona aquilo que não se tem. E as brincadeiras de esconde-esconde, de apostar careira, armar fojo para pegar preás, tantas coisas que ainda hoje nos deixa saudades.
Só o que nos contrariava era deixar tudo isso para ir à escola. As brincadeiras tinham mais força e a gente mesmo as inventava. Não nos faltava companheiros. As meninas de tia Aninha, de Manuel Gonçalves, de Robertinho, os negros de Nicolau, os Patrícios e muitos outros. Uma figura inesquecível era o Antônio de seu Pedro Vital, compridão, tolo e molenga. Nos dias de sábado e domingo quando o meu pai ia à feira ou a missa, a turma juntava-se para trancar os bezerros no curral, laçar, montar e cair. Era coisa para valer. Meu pai amansava carneiros para a gente montar. Chegou até a mandar fazer uma selinha de carneiro. Era uma delícia, e os meninos da rua davam uma perua ao diabo para uma semana na Arara¹ ou no Algodão. Sebastião e Egídio Lima tinham esses privilégios. O Egídio era moleirão, mas adorava. Lá em casa todos trabalhavam, fosse no que fosse. Não tinha essa história de viver penteando macaco. Na roça, em casa, levando recado. As coisas às vezes eram duras, mas meu pai e minha mãe sabiam muito bem o que estavam fazendo.
O Joaquim, o mais velho era meio escorão e cedo, inventou de negociar na cidade. E foi. Era um armazém de cereais e legumes que não durou muito. Passou para outro tipo de comércio. Positivamente naquela fase, não gostava de roça. Era metido a homem. Embirrento. Foi toda a vida assim.
Heleno queria ser o mais inteligente e mais sabido. E eu acho que era mesmo. De minha parte, sempre fui um boboca, mas arengueiro a toda prova.
Queria fazer pouco de mim e lá iam as brigas. Mas era tudo como fogo de palha. Passava logo.
- Vai João para ali, vai João pra acolá - e o besta ia.
Matias e José formavam uma canga. Fazia suas artimanhas às ocultas. Chegavam até a arrombar o açude velho e meu pai nunca soube... Das mulheres, as brigonas e valentes eram, Ana e Olivia. As outras, Mãezinha, Maria, Helena, Izabel e Rosa, eram nossa tabua de salvação. Olivia e Ana, também boas amigas, geniosas e de mãos pesadas... Tinha-se de pisar macio.
Tivemos todos uma infância agradável. Trabalhava-se e ninguém se maldizia. As festas, passava-se na cidade todos de roupa e sapatos novos. As mulheres tinham que ter um vestido diferente para cada noite de novenário. Fora da escola e da preguiça nada mais me afligia.
Os outros, bem se notava, eram mais dedicados. O Heleno não era também muito afeiçoado a estudos. Gaseava quando podia e me agradava àquela solidariedade. José e Matias abandonaram cedo os estudos. Inventaram que não tinham boas cabeças para os estudos. Quem complicou a minha vida foi o Seminário. Quando o larguei, meu pai disse que eu não queria estudar. Cai na besteira de afirmar que queria, só não no seminário. E tive que sustentar a palavra. Terminei um estudioso, com pouca memória e inteligência comum. A moral de meu pai levou-me a formatura agronômica. Afinal, até agora não me arrependi. Creio que não paguei o quanto os meus pais e meus manos fizeram por mim. Quem sabe se o esforço foi pouco...
A vida na roça é saudável e divertida. Dispensa artifícios e coisas fabricadas a troco do metal sonante. Os fabricantes não pensam em distrair ninguém. A propaganda falsa interessa só para impingir os seus artifícios. Dia da criança, dias das mães, dos pais, dias de todo o mundo, é puro comércio, legítima exploração comercial. Uma vergonha nacional. Isso faz lembrar o escritor Ariano Suassuna, que criava uma seriema no quintal e não possuía televisor.
Um vendedor que o advertiu da falta de um televisor para distrair os filhos, que deveriam ter inveja dos filhos do vizinho. Ele replicou:
- É. Venha cá. Os outros têm televisões, mas não tem uma seriema como esta no quintal!
No campo há de tudo que é bom e divertido. Riachos correndo, lagoas cheias, açudes sangrando, pássaros, campos floridos, abelhas zumbindo, pássaros nos ninhos, milho verde, pitomba, ubaia, murta, goiaba, cavalos para montar, leite puro no curral, oxigênio para encher os pulmões e sem as poeiras da civilização. Se não fora o sacrifício da danada da escola, a felicidade da infância teria sido completa. É certo que depois, usufruem-se as vantagens de ter frequentado à escola, embora arrastado como bode para dentro d’água.
Minha ojeriza pela escola era tal que pedia a Deus que matasse todos os professores de uma porretada só. Enquanto existissem não haveria paz no reino das crianças...
E quantas vezes engoli as consequências de um primário chamuscado. Havia tanta distração no campo, que odiava à escola e dos professores que comiam à custa do sacrifício dos meninos que os pais empurravam para a escola, a fim de não criá-los burros.
Uma velha brincadeira era a gangorra ou o João-Galamarte². Balançar no sobe e desse ou rodar até cair tonto. As grandes fogueiras do São João e do mês das flores de maio, faziam parte de nossa vidoca de menino da roça. As bacias com água para ver o rosto e saber quem alcançaria o outro são João, os copos com água com clara de ovo para saber quem casa ou não. Se formasse uma capelinha era casamento certo. Tinha cabra nervoso que não via o rosto e saia com a certeza de não ver a outra festa.
Era motivo de vaias e galhofas. E não ficava nisso. Enfiar faca nas bananeiras para no dia seguinte tirá-la com as iniciais do nome do noivo ou noiva. Tudo isso era uma poesia encantadora.
Quem viveu na roça não conheceu os encantos da vida nas fazendas. Nas cidades tudo é artificial, irreal, sofisticado.
Em 10/04/85


Nota do digitador:
¹ Fazenda Arara fica no Município de Esperança Paraíba, onde meu pai nasceu e se criou.
² Galamarte
Brinquedo que estava presente em quase todas as regiões do estado e muito lembrado com uma boa dose de nostalgia por todos aqueles que com ele brincaram. O galamarte, ou galamacho (Tibau do Sul), ou ainda, João Galamarte (Florânia), consistia numa tora de pau, com mais ou menos três metros de extensão, e com um furo no meio, justamente no seu centro de gravidade. Próximo às suas extremidades enfiava-se um pedaço de pau, que era o torno, uma espécie de suporte para as crianças se segurarem. Fazia-se uma base para recebê-lo, fincando-se no chão um pau bem resistente, geralmente pau-d’arco ou jucá, com a ponta afiada para encaixar no buraco feito na tora de pau. Essa base servia de eixo para a tora girar em círculo ou em movimento de cima para baixo, como uma gangorra.
A madeira para confecção do galamarte variava de região para região, e de acordo com a matéria-prima disponibilizada pela natureza: na região Oeste do estado, usava-se o tronco da carnaúba; na região do Seridó, a madeira utilizada era o pinhão; e, no litoral, era o galamache, árvore típica da mata atlântica. Cavalcante (2007) ressalta que o furo, para receber o eixo, era feito com ferro quente, para não haver risco de rachar.
A brincadeira consistia em girar o galamarte com duas crianças sentadas nas suas extremidades. O equilíbrio do peso, segundo Figueiredo (1966), se dava pela aproximação ou distanciamento das crianças dos extremos das hastes móveis.
Medeiros de Barros (2006), que teve sua infância em Tibau do Sul, nos fala que a brincadeira se “tornava boa”, porque ficava uma criança no meio, empurrando o galamarte, e, quando pegava velocidade, o desafio era tentar sair, sem que o pau nela batesse. Isso se tornava difícil, porque, à medida que a criança girava, ficava tonta, dificultando sua saída, já que tinha que correr em velocidade para escapar da tora. Às vezes a solução era deitar no chão para escapar, ou então, subir na tora, e ficar girando junto com as outras duas crianças. Em Florânia, o desafio era ver quem aguentava mais tempo girando. Girava-se o galamarte até uma das crianças cair tonta ou desistir do desafio. Acontecia, às vezes, de uma ou outra criança enjoar e vomitar. Assim Figueredo (1966) se refere ao galamarte:
[...] As crianças do sexo masculino brincam montadas, enquanto as meninas antigamente sentavam-se, à maneira inglesa de cavalgar. Agora, com o uso de calças masculinas entre mocinhas, todos montam-se no Galamarte, sem distinção de sexo. O brinquedo pode provocar sérios acidentes. Quando a criançada lhe dá movimento rápido demais, fora do comum, constitui verdadeiro perigo.
Usava-se carvão e sebo para diminuir o atrito da junção entre o eixo e a tora rodante, o que provocava um barulho muito parecido com os de um carro de boi. Cavalcante (2007) descreve o processo de preparação do carvão com o sebo:
[...] o melhor sebo é o de carneiro. Aí, nós pilava o carvão bem picadinho, pega o sebo e estendia [..] misturava bem misturadinho, o sebo com o carvão [...], quando acabava tacava dentro do buraco do galamarte. Aí vinha para a ponta do pião, colocava um bolão na ponta, dentro do galamarte colocava outro bolão, aí sentava em cima.
Esse rangido era muito peculiar, tanto que todas as pessoas que brincaram, fazem referência ao barulho provocado pelo Galamarte. Diziam que o “galamarte cantava”. Cavalcante (2007) lembra que na Cidade em que viveu, o rangido do galamarte era denunciador de que as crianças estavam brincando. O barulho era tão forte, que o galamarte era construído distante das casas e, mesmo assim, toda a vizinhança ouvia o barulho. Ele morava a uma distância considerável do local onde brincava com seus amigos, mas, ainda assim, o barulho do objeto lhe denunciava ao seu pai, que não queria que ele brincasse no galamarte, pois achava perigoso.
Melo, M. (1953, 104) descreve o galamarte:
Entre as brincadeiras dos meninos, há uma igualmente curiosa e interessante. É a do João-Galamarte (23). Pegava-se uma banda ou lasca de carnaúba, plainava-se por dentro, tiravam-se os nós que havia por fora, e no centro abria-se buraco a formão e a fogo. Feito isto, enfincava-se um pau preparado no chão: estava pronto o Galamarte. Os meninos montavam nas duas extremidades e começavam a rodar. Para que o Galamarte cantasse, usava-se sebo, carvão e gás.
Ainda sobre a brincadeira, havia um versinho que dizia:
João Galamarte
De pau e colher
Que vendeu a mulher


Por um dedo de mel

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A VITORIA PIRO DA MENTIRA

A VITÓRIA PIRO DA MENTIRA.


A mentira que mais foi repetida durante a campanha eleitoral do ano passado, até a exaustão tal qual um mantra, assegurava que todos os políticos são iguais. E nesse mantra o que mais impressionava era a origem dos vocalistas: a esquerda brasileira.
Por mais estranha que seja tal ocorrência, a esquerda afirmando que os seus quadros eram iguais aos quadros dos demais partidos, se tornou a estratégia desesperadora de defesa do partido governista frente às descobertas de que os seus "heróicos" tesoureiros não só levantavam recursos para as campanhas eleitorais na forma legal, mas de todas as formas. E, muitas vezes, os recursos financeiros, embora registrados conforme a lei eleitoral, em verdade tinham origens ilícitas.
E mais ainda, os tesoureiros e os beneficiados diretos não só utilizavam esses recursos nos gastos de campanha, mas se apropriavam de uma parte bem mais significativa para os seus tesouros pessoais.
Em suma, tudo que se afirmavam anteriormente sobre os políticos tidos como da direita, valia para os que mais se exaltaram em denunciá-los. Sendo que defendendo, hipocritamente, que assim o fizeram para o bem do trabalhador brasileiro.
Apesar de tudo, havia uma razão, assim a propaganda eleitoral dizia, para votar nos políticos do partido no poder: eles eram iguais aos demais, mas eram de esquerda.
Eram os espertalhões da esquerda que venceram os espertalhões da direita, em uma metáfora de que o podre continuava como sempre foi, mas alguns pobres agora eram mais ricos do que os antigos ricos.
Nestes novos ricos estava a resposta que os pobres poderiam continuar dando aos antigos ricos: a grande vitória dos podres de espírito. Não confundir com o conceito evangélico de pobres em espírito.
Neste quadro de tamanha perplexidade, a propaganda agressiva e sanguinária da esquerda pela quarta vez venceu as eleições presidenciais no País. Mas, o pior ainda estava por vim.
A presidente reeleita não sabia para que mesmo foi a escolhida. Mentiu tanto sobre os outros que terminou por optar em executar o que ela afirmava ser o "programa de governo" dos seus adversários. Simplesmente porque não possuía nenhum programa de governo e sabia que manter a política do seu governo anterior era inviável.
Mas, na campanha, quando cobrada pela ausência de um programa de governo, ela afirmava que não era necessário porque o seu futuro governo seria igual ao em exercício. Por isso mesmo era que os trabalhadores deveriam votar nela. Os demais candidatos oponentes iriam, proclamava a propaganda política do partido no poder, retirar as conquistas da classe trabalhadora que, hoje, ela pretende fazer. Na vã ilusão de que, pagando qualquer preço, continuará ocupando o cargo de Presidente, mesmo sem nenhum efetivo poder.
Enquanto tudo isso se passa, o seu partido pretende, sem sair do lugar, voltar a se apresentar como o Partido da Oposição, libertador das práticas originárias da corrupção. Práticas que este mesmo partido elevou a categoria de meio de libertação dos trabalhadores.
Um verdadeiro enredo de terror promovido pela Vitória Piro da Mentira que colocou o corpo político do partido no poder na temperatura que o conduz à morte.


Hiran de Melo