quinta-feira, 23 de abril de 2015

DONA ALBERINA

DONA ALBERINA*


João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)


            Dona Albertina tinha ódio de quem falava da vida alheia. Por que cada um não cuidava de si, de sua casa, dos filhos e, se não tivesse; dos seus afazeres. Por isso saía pouco, fazia poucas visitas e conversava menos ainda. Nem sabia como Deus não castigava essa gente, enferrujando-lhe a língua de trapo. Quando corriam os boatos contra A ou B, largava-se para a igreja a rezar pelas pessoas envolvidas. Não lhe interessava saber se era verdade ou não. Defeitos todas tinham, e talvez o pior de todos fosse justamente aquele de retaliar a conduta dos outros.
            Mas a coisa não parava. Ninguém respeitava ninguém. E certo dia deliberou-se a fazer uma campanha aberta contra as linguarudas. Falou com uma, falou com outra e a resposta era a mesma – “Deus me livre de meter-me com a vida alheia”.
            - Mas o que eu quero minha gente, é que não se fale de ninguém. Não temos nada a ver com o comportamento de nossos semelhantes.
            - Muito bem, dona Alberina e como à senhora quer se meter com a vida dos outros. Que temos nós a ver que alguém fale de alguém. É a liberdade de imprensa, falada e escrita. E depois faltaria assunto para as reuniões, os segredinhos, os bate-papos de todas as horas. Ora, seria um desastre, todo mundo de bico trancado só olhando uns para os outros. O mundo precisa se distrair.
            - Então minha comadre, o que se tem haver com a mulher do Cesário. Tem os seus namorados por que gosta de variar ou, quem sabe, o marido fede a molambo. Ele não se está incomodando e então que temos nós a ver com isso. E está aí, a Tilita namora um e outro, sai todas as noites, chega à hora que quer, e se fica a falar da menina, estragando sua vida. Tudo errado, erradíssimo. Todo mundo sabe que Chico Coró é um corno de mãos lavadas. Quem bota chifre nele é a mulherzinha que tem e o pobre é quem anda na língua ferina do povo. Sou contra essas misérias todas. Deixe o homem em paz. Acham pouco o peso da chifrada que a santinha da mulher lhe bota.
- Essa não! Não tem que ninguém saber da vida de ninguém. Mau costume, safadeza, pura safadeza. E veja só. Andaram espalhando que aquele rapagão é filho do vigário, segundo dizem as más línguas, não é sério. Diga-me cá que diabo se tem a ver com isto. Acha pouca à fraqueza do rapagão, a feiura de uma coisa dessas. Desumanidade. Cada um é o que quer ser. Deus fez o mundo assim e assim andará até que o diabo leve tudo numa nuvem de fumaça de enxofre. Eu é que não me conformo. Já o padre novo que chegou está sendo levado às vias da amargura. O que é que tem que o santo representante de Cristo tenha em casa uma arrumadeira nova e apresentável? Se tivesse um besuntão, velha e suja, diriam que o ministro era relaxado e miserável... Todo mundo sabe que um padre é proibido de fazer certas coisas. Juram castidades. Pois bem, nem isso respeitam.
- Está vendo aí. Faz hora que não falta assunto é porque a comadre não sai de casa, não gosta de conversa. Eu por exemplo não sabia dessas coisas que acaba de me contar. Mas, agora, já tenho matéria para entreter as amigas por algum bom tempo. E todos vão acreditar porque foi à senhora, quem disse.
- Vê bem! Se falares no meu nome, contarei o que sei de tua vida. Pensas que não sei do que te aconteceu, tempos depois de casada. Cala teu bico.
- Nunca me aconteceu nada, sinha desavergonhada.
- Sei que não, mas espalho. Não gosto disso, mas farei tranqüilamente.
- Pois podes ficar certa de que descasco a tua vida. Teu marido morreu de desgosto pela tua conduta e há quem diga que botaste veneno na boca do homem quando dormia. E quem sabe se não foi isto mesmo. Um homão sadio e forte daquele, morrer assim à toa. Prepara-te para o que der e vier. Sou uma mulher honesta, sempre fui e serei. E o que tem feito às ocultas depois de viúva. Estas pensando que o povo não sabe sinha crueira envenenada!
- Olha minha comadre. Vamos acabar com isso. Eu estava brincando contigo. Sabes que sou contra fuxicos.
- Pois bem. Ficas prevenida. E não te esqueças de tua vidinha de primeira zeladora da igreja. Andas com ciúme da arrumadeira do padre e estás te fingindo de defensora do santo vigário, como diz. Tu e ele comestes na mesma gamela. Apenas estou te advertido e isto será o mínimo que poderá te acontecer. Quem não vê e não sabe dos teus paleio com o padre Damião. Que diabo ficas fazendo na igreja o dia todo, antes e depois das rezas.
- Sou uma mulher viúva e respondo pelos meus atos. Não tenho que prestar contas a ninguém.
- Ah! É assim, não é? Pois as outras também são. Prepara-te. Já sei que toda a fuxicada desta cidade sai de tua boca suja.
- Suja, não. Escovo-o três vezes por dia.
- Pois vai te danar e não me apareça mais.
- Esta não. Não quero nem tolero inimizades, especialmente com as minhas comadres... Prepara uns bolinhos e um bom café que amanhã lá para as três da tarde, receberás minha visita.
- Se for, coloco veneno nos bolos...
- Bobagem, minha comadre. Faz de conta que não houve nada. É até divertido um bate-papo assim. Não foi um momento de boa intimidade? A vida sem esses arrebites é uma comida sem sal. É bem verdade que detesto falar da vida alheia, mas uma vez ou outra a gente tem que desopilar. E já sei que não sabes da última. Só para nós duas.
- Conta, conta minha comadre de minha alma!
- A arrumadeirinha do padre está mais cheia do que uma pitomba. E o padreca não sabe o que faça. Segundo me disse a sirigaita, seu vigário vai mandá-la embora. Vai fazer uma festa para arrumar dinheiro para ela. São dois descarados. Perdi a fé naquele sujeito. Eu que cuido da igreja, não recebo um tosteco e quando a bichota não estava lá, me tratava como se eu fosse alguma galinha pedrês. Estou disposta a fazer um escândalo. Isto mesmo vou dizer-lhe na próxima confissão. Vou descoser-lhe as orelhas. Ou divide comigo o rendimento da festa ou solto a língua no mundéu. Está muito enganado.
- Pois não é minha comadre. Só porque a safadinha é mais nova do que eu. Guarda segredo. Deixa comigo. O padreca vai ver quanto dói uma saudade.
- Já sabia a muito tempo de tuas ligações, mas isso é problema só teu.
- Ah! Menina é raro encontrar um que tenha vergonha nas fuças... Quando encontram qualquer facilidade enfiam logo a cabeça e entram de cara adentro, como se fossem os donos.
- Ora, se não têm a quem prestar contas. Não têm mulher, não possuem filhos legítimos, não têm um lar a zelar, vivem por aí, dando saltos sem peia e cabresto; bem alimentados e vadios. Tem as beatas para lhes dar tudo, até casa boa para morar. É uma organização terrível.
- Oferecem o céu e ameaçam com o inferno e os fracos e os ignorantes ajoelham-se aos seus pés pedindo perdão. Tem o céu garantido, façam o que fizerem. Queimaram muitos inocentes, juntaram fortunas e continuam explorando Cristo, forjicando histórias de Troncoso. Fazem o que querem, sem uma Ave Maria de penitência. Pelo contrário, são santificados.
É pecado mortal, dizer qualquer coisa de seu vigário. Se disser terá que ir pedir-lhe perdão. É pouco o que te acontecer...
- Ora, pensava que não podia recusar-lhe nada. E o safadório, botou-me de lado como um bagulho. Agora está santificando arrumadeira... E nem posso dizer nada. Mulher de padre não há mais reza que salve.
- Nem água benta tira-lhe mais a sujeira. Fazia do que fazia e, casava, batizava, celebrava, sem tomar banho ou lavar as mãos. Nunca me deu nada. Parecia que estava me fazendo um favor ou me santificando. Agora estou toda emporcalhada de corpo e alma e o besuntão esquecido do mal que me fez e da sujeira que me deixou. Seria bom mesmo que houvesse inferno para queimar-lhe a sem-vergonhice. Mas sabe que não há e dorme tranqüilo como um justo. Mas vai me pagar. Vou chupar-lhe as economias. Recorrerei até ao delegado dizendo que fui violentada.
- A culpa foi tua. É melhor ficares como estás. Ninguém irá dar-te crédito. A palavra do padre é sagrada... Gostastes da coisa, não foi...
- Foi mesmo. O que passou passou. É por isto que prezo a tua amizade. Sempre dais boas advertências. Além do mais é coisa feia mexer com a vida alheia... Um vigário merece todo respeito. O culpado é o direito canônico que não consente casamento de padre. Coitado deles. Tem que viver dessas beliscadas...

Em 20.4.85
*O conto pertence ao livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.


terça-feira, 21 de abril de 2015

MILLOR FERNANDES

MILLOR Fernandes:

                Os militares estão receosos de que o povo os chame novamente, como aconteceu em 64. A surra impiedosa e sistemática de difamações, calúnias e injúrias que lhes foi dada desde 85, sem que ninguém minimamente os defendesse, os tornaram tímidos e envergonhados. Agora, talvez estejam pensando conforme pronuncia o velho provérbio português: "Quem pariu Mateus que o embale".
Militar é incompetente demais!!!Militares, nunca mais!
Ainda bem que hoje tudo é diferente, temos um PT sério, honesto e progressista.
Cresce o grupo que não quer mais ver militares no poder, pelas razões abaixo.
Militar no poder, nunca mais. Só fizeram lambanças:
 I
Tiraram o cenário bucólico que havia na Via Dutra de uma só pista, que foi duplicada e recebeu melhorias; acabaram aí com as emoções das curvas mal construídas e os solavancos estimulantes provocados pelos buracos na pista.
II
Não satisfeitos, fizeram o mesmo com a rodovia Rio-Juiz de Fora.
Com a construção da ponte Rio-Niterói, acabaram com o sonho de crescimento da pequena Magé, cidade nos fundos da Baía de Guanabara, que era caminho obrigatório dos que iam de um lado ao outro e não queriam sofrer na espera da barcaça que levava meia dúzia de carros.
III
Criaram esse maldito do Proálcool, com o medo infundado de que o petróleo iria acabar um dia.
Para apressar logo o fim do chamado "ouro negro", deram um impulso gigantesco à Petrobras, que passou a extrair petróleo 10 vezes mais (de 75 mil barris diários, passou a produzir 750 mil); sem contar o fedor de bêbado que os carros passaram a ter com o uso do álcool.
IV
Enfiaram o Brasil numa disputa estressante, levando-o da posição de 45ª economia do mundo para a posição de 8ª, trazendo com isso uma nociva onda de inveja mundial. Além do mais, com sua incompetência, tiraram o sossego da vida ociosa de 13 milhões de brasileiros, que, com a gigantesca oferta de emprego, ficaram sem a desculpa para o famoso "estou desempregado".
v
Em 1971, ainda no governo militar, o Brasil alcançou a posição de segundo maior construtor de navios no mundo.
Uma desgraça completa
VI
Com gigantesca oferta de empregos, baixaram consideravelmente os índices de roubos e assaltos.
Sem aquela emoção de estar na iminência de sofrer um assalto, os nossos passeios perderem completamente a graça.
VII
Alteraram profundamente a topografia do território brasileiro com a construção de hidrelétricas gigantescas (Tucuruí, Ilha Solteira, Jupiá, Itaipu),o que obrigou as nossas crianças a aprenderem sobre essas bobagens de nomes esquisitos.
VIII
O Brasil, que antes vivia o romantismo do jantar à luz de velas, teve que tolerar a instalação de milhares de torres de alta tensão espalhadas pelo seu território, para levar energia elétrica a quem nunca precisou disso.
IX
Implementaram os metrôs de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, deixando tudo pronto para atazanar a vida dos cidadãos e o trânsito nestas cidades.
X
Esses militares baniram do Brasil pessoas bem intencionadas, que queriam implantar aqui um regime político que fazia a felicidade de cubanos, russos e chineses, em cujos países as pessoas se reuniam em fila nas ruas apenas para bater papo, e ninguém pensava em sair a passeio para nenhum outro país.
XI
Foram demasiadamente rigorosos com os simpatizantes daqueles regimes, só porque soltaram uma "bombinha de São João" no aeroporto de Guararapes, onde alguns inocentes morreram de susto apenas.
XII
Os militares são muito estressados. Fazem tempestade em copo d'água só por causa de alguns assaltos a bancos, sequestros de diplomatas... Ninharias que qualquer delegado de polícia resolve.
XIIl
Tiraram-nos o interesse pela Política, vez que os deputados e senadores daquela época não nos brindavam com esses deliciosos escândalos que fazem a alegria da gente hoje.
XIV
Os de hoje é que são bons e honestos. Cadê os Impostos de hoje, isto eles não fizeram! Para piorar a coisa, ainda criaram o MOBRAL, que ensinou milhões a ler e escrever, aumentando mais ainda o poder desses empregados contra seus patrões.
XV
Nem o homem do campo escapou, porque criaram para ele o FUNRURAL, tirando do pobre coitado a doce preocupação que ele tinha com o seu futuro. Era tão bom imaginar-se velhinho, pedindo esmolas para sobreviver.
XVI
Outras desgraças criadas pelos militares:
Trouxeram a TV a cores para as nossas casas, pelas mãos e burrice de um Oficial do Exército, formado pelo Instituto Militar de Engenharia, que inventou o sistema PAL-M.
Criaram ainda a EMBRATEL; TELEBRÁS; ANGRA I e II; INPS, IAPAS, DATAPREV, LBA, FUNABEM.       
XVII
Tudo isso e muito mais os militares fizeram em 22 anos de governo. Pensa!!
Depois que entregaram o governo aos civis, estes, nos vinte anos seguintes, não fizeram nem 10% dos estragos que os militares fizeram!!!!
Graças a Deus!
Ainda bem que os militares não continuaram no poder!!
Tem muito mais coisas horrorosas que eles, os militares, criaram, mas o que está escrito acima é o bastante para dizermos:
"Militar no poder, nunca mais!!!", exceto os domesticados.
XVIII
Ainda bem que hoje estão assumindo o poder pessoas compromissadas com os interesses do Povo.
XIX
Militares jamais!
Os políticos de hoje pensam apenas em ajudar as pessoas e foram injustamente prejudicadas quando enfrentavam os militares com armas às escondidas com bandeiras de socialismo.
Os países socialistas são exemplos a todos, vejam: Cuba, Venezuela, Colômbia, Bolívia, Argentina, e outros.
XX
ALÉM DISSO, NENHUM DESSES MILITARES CONSEGUIU FICAR RICO.
ÊTA INCOMPETÊNCIA! ! !




quinta-feira, 16 de abril de 2015

ANIVERSÁRIO DE MORTE DE JOÃO HENRIQUES DA SILVA






ANIVERSÁRIO DE MORTE
DOZE ANOS
20/09/1901 – 16/04/2003
MINHAS HOMENAGENS ATRAVÉS DESTAS DUAS FOTOS E DE SUA HISTÓRIA DE VIDA

Biografia do agrônomo João Henriques da Silva


Nasceu na Fazenda Arara, município de Esperança no dia 20 de setembro de 1901 e desencarnou no dia 16 de Abril de 2003 na cidade de Maceió/Alagoas.
Filhos de Manoel Virgolino da Silva e Maria Narcisa da Silva, todos brejeiros da paraibana.
Casado com Nícia Maracajá Henriques, nascida na fazenda Nova Vista município de Gurjão no dia 4 de agosto de 1913 e desencarnou no dia 11 de novembro de 2003 na cidade de Maceió/Alagoas.
Casamento realizado no dia 10 de novembro de 1928 e que perdurou por quase 75 anos, até sua morte. Nasceram os filhos: Robério Maracajá Henriques, Níobe Maracajá Henriques, Parsival Maracajá Henriques, Ceres Maracajá Henriques e Isis Maracajá Henriques.
Vida profissional:
Estudos preliminares na cidade de Esperança/PB
Cursou o Seminário Maio de João Pessoa Paraíba
Estudou no Liceu Paraibano nos anos de 1919/20
Foi diplomado pela Escola Mineira de Agronomia e Veterinária de Bello Horizonte em 1923.
Sorteado para o Exército: Caderneta Militar: Classe 1901 – 1ª. Linha – nº. 1966 – Série A – 4ª. Divisão – 8ª. Brigada de Infantaria – 12º. Regimento – 2º. Batalhão – 7ª. Cia. Incorporado a 11 de maio de 1923. Belo Horizonte/MG.
13 de outubro de 1925 – Nomeado agente de estatística do algodão no estado da Paraíba, Ministério da Agricultura. 1º. Serviço como Agrônomo foi preparar um campo experimental de algodão e feijão no município de boqueirão, na várzea onde hoje se encontra o açude Epitácio Pessoa.
24 de abril de 1927 - Sócio benemérito do Vera Cruz Foot-Ball Club – Esperança/ Paraíba.
24 de maio de 1926 – Recebeu carta do Dr. Alfeu Domingues, indicando seu nome para administrar a Fazenda de Sementes de Pendência, Paraíba. (hoje Emepa)
27 de agosto de 1928 – Colaborador do Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animais da Secretaria da Agricultura Indústria e Comercio – São Paulo.
02 de fevereiro de 1929 – Representante da Sociedade de Agricultura da Paraíba – em portaria da mesma data.
Na década de 1930, fez um curso de especialização sobre plantas têxteis, no Rio de Janeiro.
16 de julho de 1931 – Colaborou nos estudos para a construção do açude público de Soledade/Paraíba, junto a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas.
25 de maio de 1932 – Aceito como sócio por unanimidade da Sociedade de Agricultura/Paraíba do Norte.
01 de março de 1933 – Nomeado Inspetor de 2ª. Classe da 1ª. Seção Técnica da Diretoria de plantas têxteis – Ministério da Agricultura.
04 de julho de 1933 – Diretor do campo de sementes de plantas têxteis do Ministério da Agricultura em Pendência, estado da Paraíba.
22 de outubro de 1935 – Sub-Assistente da Diretoria do serviço de plantas têxteis do Ministério da Agricultura – Alagoinha Paraíba.
12 de dezembro de 1935 – Designado para chefiar a estação experimental de Alagoinha, Ministério da Agricultura do Estado da Paraíba – Seleção de variedades de algodão.
15 de julho de 1936 – Diretor do laboratório de sementes do ministério da Agricultura, sediado em João Pessoa estado da Paraíba.
10 de janeiro de 1937 – Participou do Boletim da Diretoria de Fomento da Produção Vegetal e de Pesquisas Agronômicas, com vários artigos, impresso pela Secretaria de Agricultura, Comercio, Viação e Obras Públicas, por vários anos.
01 de março de 1937 – recebeu telegrama do Dr. Oscar Guedes, comunicando que o governo de Pernambuco solicitou, junto ao Ministro, sua colaboração para trabalhar naquele estado.
12 de março de 1937 – Confirmação do Senhor Ministro da Republica, para prestar seus serviços em plantas têxteis do estado de Pernambuco.
31 de maio de 1937 – Designado por portaria para colaborar com o Governo de Pernambuco na execução dos serviços relativos ao fomento da produção vegetal.
02 de dezembro de 1937 – O Ministro da republica solicita urgentemente 2ª. Via do seu trabalho sobre o Caroá.
12 de setembro de 1938 – Nomeado efetivamente para exercer o cargo de Assistente-Chefe da 2ª secção técnica da diretoria do Fomento da Produção, pelo então Interventor federal do Estado da Paraíba, Dr. Argemiro de Figueiredo, durante nove anos consecutivos.
29 de julho de 1938 – Aclamado como vice-presidente da caixa beneficente dos funcionários do serviço do algodão no Estado de Pernambuco.
12 de setembro de 1938 – Nomeado efetivamente assistente técnico da diretoria de Fomento da Produção do Estado da Paraíba.
03 de novembro de 1938 – Nomeado como membro do Conselho Regional de Geografia e Estatística, do Estado da Paraíba (Dr. José Mariz – Interventor Federal).
Em 1938 publicou uma monografia ilustrada sobre o Caroá, pelo Departamento Nacional de Produção Vegetal do Ministério da Agricultura, com 35 páginas. (Até hoje sendo pesquisado e citado em vários trabalhos)
04 de abril de 1939 – Designado para exercer a função de professor da cadeira de Defesa Sanitária do Algodão e Estatística do curso de Classificação de Algodão, no estado da Paraíba. (Dr. Lauro Montenegro).
08 de novembro de 1939 – Nomeado membro consultivo da subcomissão de Abastecimento do estado da Paraíba (o presidente do sub-comercio).
04 de maio de 1940 – A Gray Herbarum da Harward University solicita ao Ministério da Agricultura, Departamento Nacional de Produção Vegetal, serviço de plantas Têxteis, seu trabalho publicado sobre Caroá, Cambridge, Massachusetts, USA.
20 de maio de 1940 – Condecorado com a medalha de prata, comemorativa do Cinquentenário da Republica, conferida pelo senhor Presidente da República, em 20 de maio de 1940. E diploma alusivo, rubricado pelo Chanceler e Presidente dos Conselhos das Ordens Nacionais do Cruzeiro do Sul, do Mérito Naval e do Mérito Militar.
04 de setembro de 1940 – Designado como Diretor de Fomento da Produção para inspecionar, no interior do estado, os serviços de Cooperativismo e Classificação do Algodão (Dr. José Guimarães Duque – Secretário).
05 de abril de 1941 – Designado como Assistente do Governo do estado da Paraíba, junto à Sociedade de Agricultura da Paraíba (Dr. José Guimarães Duque – Secretário).
11 de dezembro de 1941 – Diretor da Diretoria de Fomento da Produção, respondendo pelo expediente da Secretaria de Agricultura, Viação e Obras Públicas do estado da Paraíba (Dr. Ruy Carneiro – Interventor).
25 de outubro de 1941 – Aceito como sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Parahybano. Com o número - (Ainda consta na lista do Instituto com a data 24.08.1941)
15 de dezembro de 1941 – Designado como representante do diretório regional de Geografia na Comissão de Revisão da Nomenclatura das Estações ferroviárias do Estado da Paraíba (José Leal – Secretário).
23 de fevereiro de 1942 – Designado para responder pelo expediente da Secretaria de Agricultura, Viação e Obras Públicas do estado da Paraíba (Samuel Duarte – Interventor Federal Interino).
17 de maio de 1943 – Ministrou curso técnico, junto a Legião Brasileira de Assistência. L.B.A.
15 de maio de 1945 – Assistente da Comissão de Controle dos Acordos de Washington, para o estado da Paraíba, com poderes para exercer o controle do Comercio e Indústria de Artefatos de Borracha e executar instruções ministradas pelo CCAM do Rio de Janeiro. Período de guerra – Arno Jaci Lorenzoni - Assistente para o nordeste.
28 de dezembro de 1945 – Designado para reorganizar o Horto Simões Lopes e Promotor do Estudo das variedades de coqueiro cultivadas no estado da Paraíba. (Dr. Manoel Tavares M.C. Filho).
02 de abril de 1947 – Designado para responder pelo expediente da Diretoria de Produção do Estado da Paraíba. (Felipe Pegado Cortez – diretor).
08 de abril de 1947 – Nomeado para diretor do Departamento de Classificação de Produtos Agropecuários da Paraíba  (Osvaldo Trigueiro – Governador).
28 de julho de 1948 – Designado como integrante da comissão técnica encarregada da organização e execução do plano de fomento da produção algodoeira do estado da Paraíba. (Osvaldo trigueiro).
17 de setembro de 1949 – Integrante da comissão do Vale do São Francisco, pelo estado da Paraíba, à frente do setor de terras e colonização.
05 de dezembro de 1942 – Foi prorrogado como integrante da Comissão do Vale do São Francisco, à frente do setor de terras e colonização.
27 de março de 1950 – Designado para chefe da Seção de Publicidade do Departamento da Produção do estado da Paraíba (Felipe Pegado Cortez)
25 de julho de 1950 – Designado como membro da banca examinadora do concurso de títulos para provimento do cargo da classe inicial da carreira de Agrônomo do quadro único do estado da Paraíba. (Severino Alves de Oliveira – Diretor Geral).
15 de abril de 1950 – Foi designado para chefiar e morar na Granja São Rafael em João Pessoa.  Faz. Experimental.
Na década de 1950, foi chefiar um departamento no Ministério da Agricultura, juntamente com o Dr. Oscar Guedes no Rio de Janeiro.
16 de março de 1951 – Designado como chefe da 2ª. Zona agrícola do estado da Paraíba, com sede em Campina Grande. (Dr. José Américo de Almeida).
28 de março de 1951 – Dispensado de responder pelo diretor nas suas faltas, no Departamento de Produção.
17 de setembro de 1952 – Nomeado diretor de Departamento de Produção do estado da Paraíba (Dr. José Américo de Almeida).
19 de novembro de 1952 – Designado para avaliar o gado pertencente ao patrimônio do estado, existente na Escola Presidente João Pessoa de Pindobal, no município de Mamanguape (José Fernandes de Lima – Secretário).
16 de dezembro de 1952 – Aceito como sócio da Associação dos Servidores Públicos no estado da Paraíba.
06 de fevereiro de 1953 – Escolhido como representante do Governo do Estado, para constituir a Comissão Permanente de Defesa do Algodão.
12 de fevereiro de 1954 – Aposentou-se pelo estado da Paraíba, como ocupante do cargo de Agrônomo, classe “Q”, do quadro permanente, lotado no Departamento da Produção. (governo de João Fernandes de Lima)
Em 1958, foi indicado pelo Dr. Carlos farias seu antigo colega, para trabalhar na Cia. De Progresso Rural – Pindorama – no município de Coruripe – Alagoas.
08 de agosto de 1959 – Designado para as funções de encarregado da Patrulha Moto mecanizada na Residência Agrícola de Penedo – Alagoas, da Comissão do Vale do São Francisco (portaria 25 de 10/08/1959).
                21 de agosto de 1959 – Designado para responder pelo expediente da Residência Agrícola em Penedo – Alagoas, na Comissão do Vale do São Francisco (portaria 27 de 21/08/1959).
17 de setembro de 1960 – Entrou como sócio para o Penedo Tênis Clube – Alagoas.
13 de maio de 1961 – Foi trabalhar na Fazenda Escola, na cidade de Porto Real do Colégio – Alagoas.
18 de abril de 1961 – Designado para responder pelo expediente da residência Agrícola de Penedo, extinta Comissão do Vale do São Francisco, Penedo – Alagoas ( portaria 1 de 18/04/1961).
24 de abril de 196/63 – Designado para responder pelo expediente da Residência Agrícola de Penedo – Alagoas.
13 de junho de 1966 – Oficio de agradecimento do Ministério da Agricultura – 3ª. Agencia Regional do Departamento Econômico em Pernambuco (Insumos Físicos) – por serviços prestados em Penedo Alagoas.
21 de julho de 1966 – presidência da Associação Rural de Penedo – Alagoas.
20 de setembro de 1966 – Entra para o Rotary Clube de Penedo – Alagoas.
03 de julho de 1967 – Contrato individual de trabalho – B – nº. 13. Como Agrônomo na Residência Agrícola de Penedo junto a SUVALE – Superintendência do Vale do São Francisco.
04 de novembro de 1968 – Curso de Treinamento de Equipes Executivas em Projetos de Irrigação, promovido pelo Ministério do Interior com a colaboração do Centro Interamericano de Desenvolvimento Integral de Águas e Terras (CIDIAT).
21 de março de 1969 – Designado como coordenador do serviço de experimentação na área de atividades da 6ª. Agencia Regional da Suvale – melhoramento da Rizicultura da região – fito melhoramento e refertilização dos solos.
28 de julho de 1969 – Designado para presidência da comissão de avaliação para fins de alienação em citação pública, das usinas de beneficiamentos de arroz no baixo São Francisco, nos estudos de Alagoas e Sergipe, pertencentes à Suvale.
05 de dezembro de 1970 - Entra como sócio para o Lions Clube de Penedo Alagoas.
13 de janeiro de 1970 – Criou a variedade de arroz – Suvale I 70, cultivada em 95º. Das várzeas de Sergipe e Alagoas. Foi destaque em todo Brasil.
21 de maio e setembro de1971 – Designado para substituir o chefe do Escritório Regional da Suvale em Penedo – Alagoas (portaria 6 de 21/05/1971).
07 de fevereiro de 1972 – Participou do curso de Genética – Tecnologia de Fibras e Classificação de Produtos Agropecuários (1º. Lugar).
15 de agosto de 1972 - Participou do II encontro de pesquisa-extensão, realizado no Instituto de Pesquisa Agropecuárias do Leste (programa de articulação pesquisa-extensão do leste – Ministério da Agricultura).
01 de março de 1973 – Publicou no Boletim nº. 19 com 117 paginas – O Arroz no Baixo São Francisco – Departamento de Valorização Rural da Suvale.
25 de março de 1973 – A Comissão Central da VII Convenção Distrital L-14, conferiu-lhe diploma de menção honrosa – Penedo Alagoas.
05 de maio de 1975 – Participou do curso de Método e Técnica de Pesquisa na Agricultura Irrigada, Petrolina – Pernambuco.
13 de junho de 1975 – Participou do curso de Métodos e Técnica de Pesquisas na Agricultura Irrigada, realizado no Núcleo Técnico Administrativo da Sudene em Petrolina – Pernambuco.
26 de junho de 1975 – Convidado para participar da reunião Nacional de Arroz, em Goiana – Goiás, pela Empresa de Pesquisa Agropecuária – Embrapa.
14 de agosto de 1975 – Contratado pela SUDENE / II CA. A fim de administrar aulas, na cidade de Petrolina – Pernambuco.
18 de outubro de1976 – Nomeado para compor a junta eleitoral desta 13ª. Zona, encarregada da apuração das eleições de 15 de novembro de 1976.
07 de novembro de 1977 – Designado para presidente e encarregado da avaliação das áreas das várzeas de Boacica, Marituba, Brejo Grande, Cotinguiba e Pindoba, no baixo São Francisco.
De 1977 a 1982 – Professor da Faculdade de Formação de Professores de 1º. Grau de Penedo. Fundação Educacional do Baixo São Francisco. Alagoas.
13 de abril de 1978 – Designado para representar a Codevasf no segundo seminário, realizado pelo governo do estado de Alagoas – Secretaria de Planejamento.
15 de julho de 1978 – Participou do encontro de técnicos da IV diretoria regional, sobre comunicação rural realizado em Penedo Alagoas – Codevasf.
28 de setembro de 1978 – Designado para servir como membro da junta de apuração do pleito de 15.11.1978. Penedo – Alagoas.
28 de novembro de 1978 – Participou do I Encontro do Arroz Irrigado do Baixo São Francisco – ABID / CODEVASF. Aracaju-Sergipe.
31 de março de 1979 – Cooperou como conferencista sobre rizicultura no baixo São Francisco e participou do I curso de Arroz Irrigado no baixo São Francisco. Penedo-Alagoas.
09 de junho de 1980 – Participou como instrutor do I curso especial de capacitação inicial pré-serviço. Salgado-Sergipe. Promovido pela Emater-Se.
13 de abril de 1981 – Designado para coordenar as atividades relativas à produção e beneficiamento de sementes e mudas no âmbito da 4ª. Diretoria Regional-Codevasf.
13 de abril de 1981 – Integrante da comissão estadual de sementes e mudas dos estados de Alagoas e Sergipe, representando a Codevasf 4ª. DR.
22 de maio de 1981 – Participou da palestra sobre uso de recursos de produção na cultura de coco no estado de Sergipe. Promovido pela associação de engenheiros agrônomos de Sergipe – AEASE.
29 de outubro de 1981 – Participou do I Treinamento em Planejamento de Sistema, realizado pelo Procenge – Recife – Pernambuco.
17 de novembro de 1981 – Designado como presidente da comissão de estudos e definições do modulo parcelar do projeto Cotinguiba/Pindoba – Sergipe.
25 de novembro de 1981 – Designado para responder pela 4ª. Divisão de produção e desenvolvimento rural – Aracaju – Sergipe.
31 de março de 1982 – Designado para exercer a coordenação das atividades de produção, no nível das atribuições regimentais da divisão de produção e desenvolvimento rural.
20 de agosto de 1982 – Instrutor do treinamento básico de engenharia rural – Provarzeas, realizado em Penedo – Al.
25 de novembro de 1982 – Participou no I Seminário de Pesquisa Agropecuária de Alagoas – promoção EPEAL / PLANALSUCAR.
16 de dezembro de 1982 – Coordenador do grupo para a elaboração, junto a FAO, do plano agrícola para a área de irrigação de policultura do projeto Cotinguiba / Pindoba, no estado de Sergipe.
24 de outubro de 1983 – Foi encerrado o contrato de trabalho, com a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco – CODEVASF. (com setenta e dois anos de idade).
26 de setembro de 1986 – Condecorado com a medalha do Mérito da Irrigação e Drenagem “José Augusto Trindade”. ABID. Brasília
16 de abril de 2003 – Desencarnou com a idade de cento e dois anos, sete meses e quatro dias. Em Maceió – Alagoas. (ainda lúcido).
21 de julho de 2004 – Concorreu, com seu nome, para homenagear um novo prédio da Codevasf em Penedo Alagoas.
08 de dezembro de 2005 – Homenageado como Patrono da Cadeira nº. 87 do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano – São João do Cariri – Paraíba, ocupado atualmente por Francisco de Assis Batista em 2005.
Foi sócio correspondente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.
Literatura:
Romances inéditos:
Gracinha a menina dos olhos verdes
Paraíba nossa terra nossa gente
176 contos.
Escrevia artigos no Boletim de Produção da Diretoria de Fomento da produção vegetal e de pesquisas agronômicas 1936/38.
Programas em várias rádios, sobre agricultura: Perguntas e respostas. Campina grande/PB e Penedo /Al.
Artigos no Jornal A União do estado da Paraíba e etc.



quarta-feira, 15 de abril de 2015

JOSEMAR



JOSEMAR*
João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/03/2004)


Josemar era dessas criaturas sumíticas que tinha pena de comer e de vestir. Qualquer coisa que dependesse de abrir a bolsa para tirar uma moeda, era-lhe tão penoso que preferia privar-se de tudo aquilo que não fosse absolutamente essencial, de vida ou morte. E não eram que lhe faltassem os meios para viver bem.
Herdara o suficiente para usufruir o que havia de melhor e trabalhava como um louco para acrescer os seus haveres. Para começo de conversa, não dava esmolas nem a cego nem a aleijado. Não tinha culpa de haverem nascido pobres ou de não possuírem nada. Era problema de cada um. Que fossem se queixar ao governo ou ao bispo. Tudo quanto possuía custara o suor de sua família e dele próprio. Se desse ou acabasse com o que tinha, amanhã ou depois, iriam dizer que era um vagabundo ou teria desperdiçado até a herança do pai. Não senhor, não tinha dinheiro não. Cada qual que cuidasse de si, como ele fazia. A mulher e os filhos dependiam dele e não pretendia morrer sem ter bens para inventário, o que considerava muito feio. - Fulano morreu e não possuía nem um pinico velho para deixar pra família. Essa não!
E então juntava, juntava, comprava mais terras, casas, sim, gostava de comprar casas, e se pudesse, seria dono de ruas inteiras. E não tinha nada que dar satisfação a corno nenhum! Quem fosse bonzinho que desse o que tinha. O problema era dele, e acabou-se. Quando seu vigário pedia para a igreja, festas ou consertos da matriz, sempre se recusava alegando quer não podia e por trás comentava que santo não comia, não vestia e portanto para que queriam dinheiro. Como era católico a sua maneira, certa ocasião ofereceu ao vigário algumas cuias de cal para ajudar na pintura da matriz. Houve até comentários a respeito. - Está para acontecer alguma coisa, ou seu Josemar fez alguma promessa!
Como era um homem considerado ricaço, às vezes pessoas pobres o chamavam para apadrinhar o filho. Não podia, era crente e o padre não permitia. Ora, era só o que lhe faltava, comprar camisa de batizado e ter que pagar o batizado. Essa não.
Sua casa comercial, um bazar, onde vendia de tudo, prosperava sempre, e havia uma particularidade. Não vendia caro. Queria era vender muito. Calculava uma porcentagem de lucro e não saia daí. O importante era saber que embolsava os vinte por cento, seguros. Disto fazia questão serrada. Enquanto outro vendia cinco e ele vendia cinqüenta e ganhava mais.
A filha única noivou, casamento para logo. Os irmãos homens, ambos trabalhando na mercearia, preocupavam-se com o casamento. O noivo, empregado da prefeitura, era instruído, mas de parcos haveres. A irmã não poderia casar-se como mendiga e já sabiam como o velho era amarrado de corda. Haviam de armar uma saída, fosse, como fosse para um casamento condigno. Além disso sabiam que o noivo só dispunha do magro ordenado, insuficiente que era para manter uma casa. O primeiro passo seria falar com a mãe e o pai para tomar a altura dos propósitos paternos. E foi ai que veio a grande surpresa.
- Vocês o que pensam de mim. Faço economia, não dou nada a malandro, mas para minha filha, ou melhor, para os meus filhos, o que tenho é para eles. Almira terá um casamento como ainda não foi visto nesta cidade. E veio então, a dúvida, se seria faustoso ou não visto pela pobreza.
- Em primeiro lugar, meninos. Já estou com a melhor casa reservada para Almira. O vestido de noiva e o enxoval, disso cuidara tua mãe e quero do melhor. E para coroar a festa um jantar para quem quiser comparecer. Sou econômico, mas não sou miserável.
- E a manutenção da casa?
- Não esqueci nada.
- Terá uma boa retirada da casa comercial e o marido deixará o emprego e abrirá uma loja! Creio que aquilo que vinha fazendo economia já basta para mudarmos de vida. Quando não se tem nada ou muito pouco, o caminho é poupar, enquanto se é moço e capaz, para ter conforto na velhice.
E é assim que passaremos a viver daqui por diante. Inclusive, não irei, mas dirigir a casa comercial. Vocês que tomem conta e a façam prosperar. Dará sobradamente para todos nós. Eu e a mulher iremos viver praticamente dos rendimentos bancários e outros. Mas nosso bem estar futuro depende de vocês dois. No entanto irão viver como gente. O que fiz até hoje, numa vida de parcimônia, tinha esse objetivo. Chegamos onde eu desejava. Só uma coisa recomendo. Não abram as mãos para vadios.
Igreja pede demais e não precisa de tanto dinheiro. Ali tudo se paga. Do batizado ao casamento. O que fazem de graça é a confissão e é o que sai mais caro. Confessam a troco dos segredos dos paspalhões. As coisas mais íntimas e mais sigilosas são declaradas aos padres. Coisas que nem os maridos nem os pais sabem. Mas sua reverendíssima conhece tudo, a título de um perdão sem nenhum valor. Todos sabem o que eles querem. Pois então, gavetas trancadas. Quem quiser dinheiro que vai suar e calejar as mãos como nós.
O casamento de Almira será o marco de nossa mudança radical. Vão ver para que serviu nossa economia e para que vai ser o dinheiro que pacientemente amealhamos. Sem a poupança que fizemos, seriamos talvez a vida toda, pobres, sem oportunidade de ter o conforto que poderemos usufruir daqui para frente, se vocês dirigirem bem os nossos negócios.  Experiência tem de sobra e certamente não irão querer regredir.
Um colegial não passa anos na escola, num regime de mesada para depois de formado ter a vida que desejava? Pois bem assim fomos nós. Estamos saindo da mesada da, sumiticaria, como diziam por ai. E o que acontece. Os liberais, os bonzinhos, não juntaram e vão continuar quem sabe até quando, na dura expectativa do futuro. Precisamos somente de boa saúde e completa harmonia, sem desperdiçar, está visto. Como iria casar a menina, se estivéssemos como éramos a alguns anos passados? Só Deus poderia saber e ela, coitadinha. Chamem-na aqui!
E Almira chegou com ar de preocupação naturalmente pensando no seu humilde casamento. Tudo seria tão simples, tão moderno que iriam por reparo. E, como seria seu lar, com aquele pouquinho que o noivo ganhava no empreguinho da prefeitura. Aquilo lhe doía dia e noite como uma ferida no coração. E ia mais longe, pensando no passadio, no filhinho que chegasse e até no vestido para ir á missa e visitar os parentes e amigos. Não podia acreditar que o pai, com aquele rígido sistema econômico, abrisse a mão para dar-lhe, ao menos o essencial. E, por isto, era uma noiva triste que sentia necessidade de casar, e ao mesmo tempo, vontade de desistir. Afinal de contas, Almira tinha medo, mas o amor empurrava para frente.
Seria tão bom que o noivo possuísse uma casa para morar e ganhasse o suficiente para ter uma vida folgada. Mas, não era assim, bem sabia. Poderia ter algumas economias, mas o arranjo da casa absorveria logo. Por outro lado já lhe tinha dito que havia ido ao prefeito solicitar uma melhoria de vencimentos, mas sem resultado positivo. E tinha muita pena de Anselmo, a quem adorava.
Não adivinhava que as suas angustias estavam saindo como um fantasma em fuga. O pai lhe narrara tudo que ia fazer. Ela teria um dos mais atraentes casamentos da cidade, a casa mais nova e melhor já estava reservada, uma retirada normal estava certa e o Anselmo deixaria a prefeitura e abriria uma casa comercial bem arrumadinha, Almira nem podia acreditar em tanta fortuna. Sorria e chorava ao mesmo tempo, abraçada com o pai.
- Sei que curtistes muitos dias amargos. Tua mãe e teus irmãos também. De mim, nem quero falar. Mas chegou nossa libertação. As sombras do passado acabaram de se dissipar. Havia de ser assim. Antes tarde do que nunca; entendestes. Fui tido como cauíra, usurário e outros adjetivos, mas, a Deus querer, amanheceu para sempre, o nosso dia. Irás ter o casamento que mereces e a nos a satisfação de te ver feliz. Vai, conta tu mesma á tua mãe, embora ela não acredite, depois de tanta espera e de tanta mesquinharia de minha parte. Mas era tudo calculado, tudo medido, contado e pensado. Deus te abençoe e a todos nós. Toma nota desta data. E não esqueças de falar com teu noivo e de dizer-lhe que marque a data do casório. Isto é, com tempo para todos os arranjos que teremos de fazer. Quero que nem o teu noivo te reconheça no altar... E não te esqueças também de dizer-lhe que venha falar comigo. É uma excelente pessoa e quero ao mesmo tempo, mandar que mobile, contigo, a casa onde irão viver. Ele pode, aliás, ir logo se preparando para deixar a prefeitura. Não quero um genro meu naquela penúria. E, como é, está confiante?
- Ah! Papai, como se pode ser assim tão bom!...Sempre confiei que um dia nossa vida iria mudar.
Anselmo não desejava ser tão pesado ao sogro. Poderia tomar conta da nova casa comercial, mas apenas como uma espécie de gerente. Na verdade era pouco remunerado, mas também havia feito suas economias. De tostão em tostão, formara seu pé de meia, do qual só ele mesmo sabia. Não era grande coisa, mas, no entanto, para ele significava uma fortuna. O fato é que não teve para onde fugir. O sogro não o queria como gerente. A loja seria uma parte do que mais tarde pertenceria a filha. Cabia a Anselmo desenvolve-la, fazê-la crescer, juntar dinheiro e viver bem. Era somente isto que desejava.
E o certo é que três anos depois de casado, Anselmo poderia considerar-se um homem independente. Para seu lugar na prefeitura logrou a nomeação de um amigo mais necessitado do que ele e que vivia de um pequeno artesanato, apesar dos seus conhecimentos e do seu grau de instrução.
Após o casamento, á cidadezinha não falava noutra coisa. A não ser na transformação radical da família de Josemar. Só poderia ter sido um milagre. De outra forma não se poderia entender um salto tão brusco. De sovina que era passar para um bonachão daquele, só mesmo os poderes de Deus. Teriam força para fazê-lo. E o Padre da freguesia viu abrir-se uma clareira. Inventou de proceder reforma aos altares e no teto da igreja. Pedia sua ajuda.
- Pois não e ofereceu ao pároco, desta feita, dois sacos de cimento. - Dinheiro não tinha. O cimento saia da casa comercial e era mais prático. Pelo menos poupava ao trabalho de ir comprar e mesmo assim, houve uma tentativa de pegar alguns cobres para despesas de mão de obra. - Nada disso. Cada um dá o que pode. Se não serve, ficaremos como estava.
- Mas, seu Josemar, o senhor gastou tanto com o casamento de sua filha, como não pode dar uma contribuiçãozinha maior e em moeda corrente.
- Ah! Meu amigo, quem da o que tem a lhe faltar vem. Levei muitos e muitos anos me privando de muitas coisas para alcançar o degrau onde hoje estamos. Nunca ninguém foi nos perguntar se precisamos de alguma coisa. O que faziam era chamar-me de sovina, cauíra, miserável. Um homem rico vivendo como pobretão cauíra. Era assim que me tratavam. Não sabiam que estava me preparando para uma vida melhor. Não enriqueci, mas tenho de que viver folgado. Amo minha família. Quem quiser que faça o mesmo. Mas afinal de contas, não devo nada a ninguém e censure-me quem quiser. Pouco me importa que me tratem como antes. Não devo, durmo sem preocupações, minha família tem o que quer, não exploro ninguém, sempre vendi mais barato, sofremos, mas não fizemos mal a ninguém. O que é meu, adquirido com o meu suor e sacrifício da família, não sai assim à toa. Comecei puxando uma cachorra e nunca o senhor teve uma palavra de estímulo, de encorajamento. O senhor mesmo, cheio das granas jamais me facilitou nada. Eu era o pão duro, cauíra. Muitos outros, dadivosos estão ai se arrastando. Não falo com orgulho não, confio é no meu trabalho e em minha coragem. Minha família hoje vive zelada à custa de grandes sacrifícios iniciais. E pra que o senhor quer dinheiro, se não tem família, não tem um lar, como os outros.
- Para a igreja, é lógico.
- Já sabia que esta seria a resposta. Bem, o que me interessa é minha família e meus negócios. A igreja é como o senhor e o padre não sou eu. Cada um que vá viver do seu trabalho. Espero é que nos deixem na santa paz do Senhor e na certeza de que não temos nada para dar.
- A caridade manda que se dê um pouco do que tem aos necessitados.
- Sim, uma velhinha, um velhinho desamparados, sempre ajudei! A vadio e boa vida, não darei jamais. Sei o quanto nos custou o que hoje temos. Pimenta nos olhos dos outros não arde. E por que o senhor não distribui o que tem.
- Como se já ando pedindo!
- E onde foi que pedir já foi uma profissão. Por que não vai ensinar, abrir um colégio, ou uma casa de negócios. Não é possível que a igreja proíba. Só se vê isto no catolicismo. Os protestantes e outras seitas fazem suas pregações mas tem outras atividades. Embora também arrecadem dos bestas.
- Dispenso os seus dois sacos de cimento. Quero só o que é dado de boa vontade.
- E o senhor pensa que alguém lhe dá de boa vontade. Dão com medo do purgatório e do inferno. Ora essa. Tire essas duas coisas do caminho do céu e ninguém lhe dará um níquel, seu vigário.
- Ora, você só conversa bobagem. Precisa mudar de convicção. Quem dá aos pobres, empresta a Deus.
- Deus não precisa de empréstimo de ninguém. Tudo isso é lambança, Deus tem tudo para dar. É inútil querer convencer um homem como eu que sofreu o diabo para chegar onde estou. Tinha até pena de minha família. Passando precariamente cheia de restrições, enquanto eu estava com os olhos no futuro. E lá fora, as más línguas não me poupavam. Castigavam-me como se eu fosse um vil. Agora dispenso as bajulações, os agrados que bem sei, são todos falsos e interesseiros. Mudei apenas de regime de vida para dar o conforto à família e a mim mesmo. No mais continuo o mesmo. E, a Deus querer, continuaremos reforçando o patrimônio. Querer, Deus quer, pois sempre ajudou a quem é honesto e trabalha. Viu, que belo casamento o de minha filha? E é bom que olhe para o Anselmo, humilde empregado da prefeitura, hoje sólido, livre, com um bonito lar, um homem de bem.
Meus sacrifícios serviram para dar-lhe condições de vida condigna. Meus dois filhos, nem se fala, são dois homens lutadores, econômicos, sérios, e afortunados. Todos passaram comigo, não privações, mas restrições, talvez pensassem que eu iria ser o mesmo por toda vida. No entanto, hoje reconhecem que eu estava agindo com prudência e tino.
Passados alguns dias reuniu a família. Com a intenção de pedir-lhe desculpas pelos rigores de sua economia e explicar-lhes os seus planos: - Seriamos pobres toda vida e justamente quando fossem maiores as nossas necessidades. Na velhice, nos atos mais importantes de nossa vida. E sofreríamos muito mais e eu, provavelmente seria visto como um incapaz. E agora, pergunto–lhes se estava certo ou errado?
- Ora, nem se comenta. Certíssimo. Nós não teríamos tido uma decisão tão salvadora como esta. Não iremos pensar assim, no futuro.
- Fiz o que todo estrangeiro faz quando chega ao Brasil. Começa quase sem nada, não gasta o que consegue e anos depois estão ricos, mangando da gente. Segui apenas o exemplo dessa gente. E, pelo que vejo, de hoje em diante poderemos ter, sem sacrifícios, o que desejarmos. Mas não esqueçam o antigo ditado: “a economia é à base da prosperidade”.
- Sabe papai, - disseram-lhes os filhos: - vá descansar e deixe o resto por nossa conta. Já estamos, pensando em comprar uma fazendola, criar gado, produzir legumes e frutas para casa.
- Oh! Comprem, que eu tomo conta. Sempre sonhei com a vida sadia do campo.

Em, 15/07/1985

*O conto pertence ao livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.