quarta-feira, 30 de julho de 2014

SONHAR COM MORTOS

SONHAR COM PESSOAS QUE JÁ MORRERAM


Postado por MIDELI GRACIA em 26 julho 2014 às 12:49Exibir blog

Sonhar com pessoas que já morreram tem sido na história da humanidade um dos tipos de sonhos mais intrigantes e, por isso, existe sobre esse tema uma infinidade de análises diferentes para seus significados.
Quando sonhamos com uma ou mais pessoas que já morreram, na verdade, nada tem de perigoso, funesto ou de mau agouro.
Como todos os outros sonhos, eles podem ter duas origens motivadoras possíveis.
Uma origem possível para esse tipo de sonho pode ser resultado de uma necessidade do inconsciente em adaptar-se com uma experiência, vivida no dia a dia, relacionada com a pessoa falecida. Alguém pode, por exemplo, em um período recente ter visto uma foto do falecido, pode ter ouvido ou participado de uma conversa sobre a pessoa ou ainda ter tido uma simples lembrança ou saudades da pessoa falecida. Embora esse fato não lhe tenha despertado maior atenção, isso fica registrado em sua mente. Num determinado momento, enquanto dorme, em um estágio menos profundo do sono, essas lembranças são revividas ou revistas, em forma de sonho, para adequar a experiência vivida aos seus conteúdos emocionais de forma que aquela (a experiência) fique registrada de uma maneira menos incômoda possível em seu inconsciente.
A outra origem possível para "sonhar com pessoas que já morreram", pode ser uma experiência vivida na dimensão espiritual. E para bem entender esse tipo de sonho é necessário saber o que ocorre quando uma pessoa dorme.
"Quando uma pessoa dorme e o sono atinge um estágio mais profundo, o corpo físico relaxa e afrouxam-se os laços fluídicos que prendem o corpo espiritual ao corpo carnal. Aí o espírito desvencilha-se do corpo físico, ao qual fica ligado apenas por um "cordão fluídico" e volta ao plano espiritual onde vai interagir naturalmente com outros espíritos, sejam eles desencarnados ou encarnados.
Quando está no mundo espiritual, o espírito tem mais faculdades do que tem quando está em estado de vigília. Lembra-se de todo o seu passado em outras vidas e, às vezes tem contato com fatos do futuro, pode comunicar-se com outros espíritos desse ou de outro mundo. Importante ainda entender que, o que se vê no mundo espiritual, ambientes, paisagens, meios de locomoção nada tem de semelhante ao que temos na Terra. Por isso, muitas vezes lembramos de coisas e vivências que parecem surreais, é porque não há como traduzir o que vemos lá para algo semelhante ao que temos no plano físico".
Entendido isso, vamos à explicação da outra forma de analisar esse tipo de sonho e, para isso, vamos recorrer a um exemplo:
Vamos dizer que: "O Sr. Fulano sonhou com seu pai já falecido e que ele encontrava-se em um leito de hospital. Mas não era um hospital como os que conhecemos aqui. Era muito diferente, as paredes não eram de alvenaria, mas de raios de luz e não haviam lâmpadas, apenas raios de luz que iniciavam a uma determinada altura e terminavam na altura de algo que seria o piso, que também era muito diferente dos nossos pisos. Estes eram como uma névoa, também luminosa, que cobria os pés até um pouco acima dos tornozelos. A cama parecia uma lâmina muito fina de vidro, porém, sem a consistência do vidro, que cintilava e tremulava como aquelas visões que temos à distância e um pouco acima de um asfalto muito quente. O corpo "espiritual do pai" sobre a cama tinha conectado em seu chakra coronário um fio fosforescente que surgia do nada a aproximadamente um metro acima de sua cabeça".
Vamos, então, ver dois entendimentos possíveis deste sonho:
Primeira Possibilidade: O Sr. Fulano, enquanto dormia, em um estágio mais profundo do sono, seu espírito desprendeu-se do corpo físico passando para o plano espiritual e foi realmente a um Hospital em algum lugar do outro lado da vida, onde seu pai encontrava-se em tratamento e visitou-o, como fazemos normalmente em uma visita a alguém internado em um hospital terreno.
Segunda Possibilidade: O Sr. Fulano, enquanto dormia, em um estágio mais profundo do sono, seu espírito desprendeu-se do corpo físico passando para o plano espiritual e encontrou-se com alguém do lado de lá que falou-lhe sobre seu pai. Contou-lhe que seu pai encontrava-se internado em um hospital e passava por um tratamento de readaptação ao mundo espiritual e reorganização das energias. Ocorre que para contar alguma coisa, um ser espiritual não o faz de forma verbal como nós encarnados, eles não possuem mais o aparelho fonador. Os espíritos se comunicam de mente para mente, transmitem imagens mentais. Assim para contar ao Sr. Fulano sobre seu pai, o espírito passou para ele, de forma telepática, as imagens que viu quando esteve no hospital. Ao acordar, o Sr. Fulano lembra que teve um sonho em que via seu pai deitado em um leito hospitalar e que era um hospital diferente dos que conhecemos por aqui, mas não sabe identificar o mecanismo através do qual isso aconteceu.
Dificilmente as lembranças que temos dos sonhos são retrato fiel do que se passou lá na dimensão espiritual, por isso, a necessidade de bom-senso e conhecimento para se analisar os sonhos.

TEXTO: Ronaldo Cardim: Terapeuta Corporal e Psicoterapeuta Holístico



terça-feira, 29 de julho de 2014

ANIVERSSÁRIO DE MORTE DE LAMPIÃO

Aniversário de morte de Lampião
07/07/1897 – 28/07/1938

Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, nasceu em 7 de julho de 1897 na pequena fazenda dos seus pais em Vila Bela, atual município de Serra Talhada, no estado de Pernambuco. Era o terceiro filho de uma família de oito irmãos.
Lampião desde criança demonstrou-se excelente vaqueiro. Cuidava do gado bovino, trabalhava com artesanato de couro e conduzia tropas de burros para comercializar na região da caatinga, lugar muito quente, com poucas chuvas e vegetação rala e espinhosa, no alto sertão de Pernambuco (chama-se Sertão as regiões interiores e distantes do litoral, onde reinava a lei dos mais fortes, os ricos proprietários de terras, que detinham o poder econômico, político e policial). Em 1915, acusou um empregado do vizinho José Saturnino de roubar bodes de sua propriedade. Começou, então, uma rivalidade entre as duas famílias. Quatro anos depois, Virgulino e dois irmãos se tornaram bandidos. Matavam o gado do vizinho e assaltavam. Os irmãos Ferreira passaram a ser perseguidos pela polícia e fugiram da fazenda. A mãe de Virgulino morreu durante a fuga e, em seguida, num tiroteio, os policiais mataram seu pai. O jovem Virgulino jurou vingança.
Lampião formou o seu bando a princípio com dois irmãos, primos e amigos, cujos integrantes variavam entre 30 e 100 membros, e passou a atacar fazendas e pequenas cidades em cinco estados do Brasil, quase sempre a pé e às vezes montados a cavalo durante 20 anos, de 1918 a 1938.
Existem duas versões para o seu apelido. Dizem que, ao matar uma pessoa, o cano de seu rifle, em brasa, lembrava a luz de um lampião. Outros garantem que ele iluminou um ambiente com tiros para que um companheiro achasse um cigarro perdido no escuro.
Comparado a Robin Hood, Lampião roubava comerciantes e fazendeiros, sempre distribuindo parte do dinheiro com os mais pobres. No entanto, seus atos de crueldade lhe valeram a alcunha de "Rei do Cangaço". Para matar os inimigos, enfiava longos punhais entre a clavícula e o pescoço. Seu bando sequestrava crianças, botava fogo nas fazendas, exterminava rebanhos de gado, estuprava coletivamente, torturava, marcava o rosto de mulheres com ferro quente. Antes de fuzilar um de seus próprios homens, obrigou-o a comer um quilo de sal. Assassinou um prisioneiro na frente da mulher, que implorava perdão. Lampião arrancou olhos, cortou orelhas e línguas, sem a menor piedade. Perseguido, viu três de seus irmãos morrerem em combate e foi ferido seis vezes.
Grande estrategista militar, Lampião sempre saía vencedor nas lutas com a polícia, pois atacava sempre de surpresa e fugia para esconderijos no meio da caatinga, onde acampavam por vários dias até o próximo ataque. Apesar de perseguido, Lampião e seu bando foram convocados para combater a Coluna Prestes, marcha de militares rebelados. O governo se juntou ao cangaceiro em 1926, lhe forneceu fardas e fuzis automáticos.
O governo baiano ofereceu 50 contos de réis pela captura de Lampião em 1930. Era dinheiro suficiente para comprar seis carros de luxo.
Lampião morreu no dia 28 de julho de 1938, na Fazenda Angico, em Sergipe. Os trinta homens e cinco mulheres estavam começando a se levantar, quando foi vítima de uma emboscada de uma tropa de 48 policiais de Alagoas, comandada pelo tenente João Bezerra. O combate durou somente 10 minutos. Os policiais tinham a vantagem de quatro metralhadoras Hotkiss. Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros foram mortos e tiveram suas cabeças cortadas. Maria foi degolada viva. Os outros conseguiram escapar.
O cangaço terminou em 1940, com a morte de Corisco, o "Diabo Loiro", o último sobrevivente do grupo comandando por Lampião.
Existe uma grande polêmica em torno desse personagem fantástico que foi Lampião. Quem foi? Um bandido sanguinário, assassino e perverso? Um homem revoltado? Um justiceiro? Herói? Como conseguiu sobreviver tanto tempo lutando contra sete estados com poucos homens?
Na realidade muitas histórias se contam sobre ele, sua vida e suas andanças. Sanfoneiro, repentista, cantador, poeta, místico, muitas vezes juiz outras enfermeiro e até dentista, Virgulino gozou do respeito e da admiração da maioria da população pobre e oprimida do Nordeste. Odiando a injustiça e o poder sufocante do coronelismo, imperante na região, Lampião era a referência do povo contra os poderosos. Bandeou-se para o cangaço, por ser essa a única opção daqueles que, vítimas da perseguição dos poderosos coronéis, queriam lutar ou vingar-se de alguma forma.
Homem de fibra, coragem, inteligência superior, grande estrategista militar, exímio atirador e disposto a fazer justiça com as próprias mãos, semeou o terror contra seus inimigos em suas andanças pelos estados de: Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Sergipe.
Apesar das agruras da vida de cangaceiro, conseguia ser alegre, festeiro, protetor de sua família perseguida, um homem de fé e esperança.
Pelas inúmeras pessoas que matou e feriu, angariou o ódio de muitos e até de familiares, que, por sua causa, foram mais perseguidos, muitos mortos ou com suas vidas arrasadas pelas volantes da polícia.

Capitão Virgulino
Lampião

Seus pais casaram no dia 13 de outubro de 1894, na Matriz do Bom Jesus dos Aflitos, em Floresta do Navio, tendo seu primeiro filho em agosto de 1895, que chamaram Antônio em homenagem ao avô paterno. O segundo filho nasceu dia 07 de novembro de 1896, e foi chamado de Livino. Depois de Virgulino, o casal teve mais seis filhos, quase que ano a ano que foram: Virtuosa, João, Angélica, Maria (Mocinha), Ezequiel e Anália.

Virgulino foi batizado aos três meses de nascido, na capela do povoado de São Francisco, sendo seus padrinhos os avós maternos: Manuel Pedro Lopes e D. Maria Jacosa Vieira. A cerimônia foi oficiada por Padre Quincas, que profetizou:
- "Virgulino - explicou o padre - vem de vírgula, quer dizer, pausa, parada." E arregalando os olhos: - "Quem sabe, o sertão inteiro e talvez o mundo vão parar de admiração por ele".
Quando menino viveu intensamente sua infância, na região que chamava carinhosamente de meu sertão sorridente! Brincava nos cerrados, montava animais, pescava e nadava nas águas do riacho, empinava papagaio, soltava pião e tudo o mais que fazia parte dos folguedos de seu tempo de menino.
A esperteza do menino o fez cair nas predileções de sua avó e madrinha que aos cinco anos o levou para a sua casa, a 150 metros da casa paterna.
À influência educativa dos pais, que nunca cessou, acrescentou-se a desta senhora - a "Mulher Rendeira" - a quem o menino admirava quando ela, com incrível rapidez das mãos, trocando e batendo os bilros na almofada e mudando os espinhos e furos, tecia rendas e bicos de fino lavor
A primeira comunhão de Virgulino foi aos sete anos na capela de São Francisco, em 1905, juntamente com os irmãos Antônio (dez anos) e Livino (nove anos). A crisma aconteceu em 1912, aos quatorze anos e foi celebrada pelo recém empossado primeiro bispo D. Augusto Álvaro da Silva, sendo padrinho o Padre Manuel Firmino, vigário de Mata Grande, em Alagoas.
No lugar onde nasceu não havia escola e as crianças aprendiam com os mestres-escolas, que ensinavam mediante contrato e hospedagem, durante períodos de três a quatro meses nas fazendas. Seu aprendizado foram os professores Justino Nenéu e Domingos Soriano Lopes.
Ainda menino já trabalhava, carregando água, enchiqueirando bodes, dando comida e água aos animais da fazenda, pilando milho para fazer xerém e outras atividades compatíveis com sua idade. Mais tarde, jovem, robusto passou aos trabalhos de gente grande: cultivava algodão, milho, feijão de corda, abóbora, melancia, cuidava da criação de gado, e dos animais. Posteriormente tornou-se vaqueiro e feirante.
Seu alistamento eleitoral e de seus dois irmãos Antônio e Livino foi feito em 1915 por Metódio Godoi, apesar de não terem ainda os 21 anos exigidos por lei. Sabe-se que votaram três vezes: em 1915, 1916 e 1919.
A vida amorosa dos três irmãos era como a de qualquer jovem de sua idade, e se não houvessem optado pela vida de cangaceiro, certamente teriam cada um constituído sua família e tido um lar estável como foi o de seus familiares. Até entrar para o cangaço, Virgulino e seus irmãos eram pessoas comuns, pacíficos sertanejos, que viviam do trabalho (trabalhavam muito como qualquer sertanejo) na fazenda e na feira onde iam vender suas mercadorias. Virgulino Ferreira da Silva na certa seria sempre um homem comum, se fatos acontecidos com ele e sua família (que narraremos na página "Porque Virgulino entrou para o cangaço") não o tivessem praticamente obrigado a optar pelo cangaço como saída para realizar sua vingança. Viveu no cangaço durante anos, vindo a falecer numa emboscada no dia, na fazenda Angicos, no estado de Alagoas.
A Mulher Rendeira
Virgulino, por ser muito esperto, atraiu a predileção de sua avó e madrinha de batismo, D. Maria Jacosa. Quando o menino completou cinco anos de idade, levou-o para morar em sua casa.
O menino espantava-se com a rapidez com que sua avó trocava e batia os bilros na almofada, mudando os espinhos nos furos, tecendo rendas e bicos de refinado gosto.

Porque Lampião era chamado de Capitão?

Muito curiosa a história de sua patente de oficial do exército, obtida do governo federal.

No início do ano de 1926, a Coluna Prestes percorria o Nordeste em sua peregrinação revolucionária, trazendo apreensão aos governantes e colocando em risco a segurança da nação segundo avaliação do governo central.
Em meados de janeiro, estavam prontos para entrar no Ceará. A tarefa de organizar a defesa do estado coube, em parte, a Floro Bartolomeu, de Juazeiro. A influência de Floro, perante todo o país, devia-se ao seu estreito relacionamento com o Padre Cícero Romão. Por sugestão do Padre Cícero, só havia em todo Nordeste uma pessoa que poderia combater a Coluna e sair-se bem da empreitada. Indicou então o nome de Virgulino.
Floro reuniu uma força de combate, composta, em sua maioria, de jagunços do Cariri. Os Batalhões Patrióticos, como foram chamados, ganharam armas dos depósitos do exército, porque tinham apoio material e financeiro do governo federal.
A tropa, organizada, foi levada por Floro a Campos Sales, no Ceará, onde se esperava a invasão. Floro mandou uma carta a Virgulino, convidando-o a fazer parte do batalhão.
O convite foi aceito nos primeiros dias de março, quando a Coluna Prestes já estava na Bahia. Em virtude da doença e posterior morte de Floro, em 8 de março, coube ao Padre Cícero a recepção a Lampião.
Lampião chegou à vizinhança de Juazeiro no princípio de março de l926. Só atendeu ao convite porque reconheceu a assinatura de Cícero no documento. Acompanhado por um oficial dos Batalhões Patrióticos, entrou na comarca de Juazeiro em 03 de março, tendo os cangaceiros uma conduta exemplar. Prometeram a ele, o seu perdão e o comando de um dos destacamentos, caso aceitasse combater os revoltosos. Lampião e seu bando, entrou na cidade no dia 04 de março. Na audiência com o Padre Cícero, foi lavrado um documento, assinado por Pedro de Albuquerque Uchôa, inspetor agrícola do Ministério da Agricultura, nomeando Virgulino capitão dos Batalhões Patrióticos. Esse documento dava livre trânsito a Lampião e seu grupo, de estado a estado, para combater a coluna.
Receberam uniformes, armamentos e munição para o combate.  Lampião já tinha pensado muitas vezes em deixar o cangaço. Sem dúvida, aquela era uma grande oportunidade, proporcionada pelo seu protetor e padrinho Padre Cícero. Estava disposto a cumprir sua parte no trato e todas as promessas feitas ao Padre.
Daquele momento em diante, passou a chamar a si próprio de "Capitão Virgulino".
Maria Bonita

Até 1930, ou início de 31, não se tem registro da existência da mulher no Cangaço.
Aparentemente, Lampião foi o primeiro a arranjar uma companheira. Maria Déia, que ficou conhecida posteriormente como Maria Bonita, foi a companheira de Virgulino até a morte de ambos. Maria Bonita chamava-se Dona Maria Neném, e era casada com José Nenem. Foi criada na pequena fazenda, de propriedade de seu pai, em Jeremoabo/Bahia e vivia em companhia do marido na cidadezinha de Santa Brígida. Maria não tinha bom relacionamento com o marido.
Lampião costumava passar várias vezes pela fazenda dos pais de Maria, porque a mesma ficava na fronteira entre Bahia e Sergipe. Os pais de Maria Bonita, sentiam pelo Capitão uma mistura de respeito e admiração. A mãe contou a Lampião que sua filha era sua admiradora. Um dia, ao passar pela fazenda, Virgulino encontrou Maria e apaixonou-se à primeira vista. Dias depois quando o bando retirou-se, já contava com a presença dela ao lado de Lampião, com o consentimento de sua mãe.
Maria Bonita representava o tipo físico da mulher sertaneja: baixa, cheinha, olhos e cabelos escuros, dentes bonitos, pele morena clara. Era uma mulher atraente.
Governador do Sertão
Durante o tempo em que esteve preso por Lampião, Pedro Paulo Magalhães Dias (ou Pedro Paulo Mineiro Dias), inspetor da STANDAR OIL COMPANY (ESSO), conhecido como Mineiro, testemunhou a vida dos cangaceiros e traçou o perfil de Virgulino, segundo sua avaliação.
Lampião pediu à empresa um resgate de vinte contos de réis pelo prisioneiro e acertou que se o resgate não fosse pago, mataria Mineiro. Mineiro viveu os dias de cativeiro, atormentado por terrível temor de ser morto por Lampião. Finalmente, percebendo o estado de espírito do prisioneiro, Virgulino tranquilizou-o afirmando:
- "Se vier o dinheiro eu solto, se não vier eu solto também, querendo Deus".

Resolveu libertar Mineiro, antes porém, teve uma longa conversa com ele. Falou para Mineiro, por sentir-se naquele momento Senhor Absoluto do Sertão, que poderia ser Governador do Sertão. Mineiro perguntou-lhe, caso fosse governador, que planos teria para governar. Ficou surpreso com as respostas, que revelaram ter Virgulino conhecimento da situação política da região, conhecendo seus problemas mais urgentes.
Lampião afirmou:
- "Premero de tudo, querendo Deus, Justiça! Juiz e delegado que não fizer justiça só tem um jeito: passar ele na espingarda! Vem logo as estradas para automóvel e caminhão!
- Mas, o capitão não é contra se fazer estrada? - objetou Mineiro.
- Sou contra porque o Governo só faz estrada pra botar persiga em cima de mim. Mas eu fazia estrada para o progresso do sertão. Sem estrada não pode ter adiantamento, Fica tudo no atraso. Vem depois as escolas e eu obrigava todo mundo a aprender, querendo Deus. Botava, também, muito doutor (médico) para cuidar da saúde do povo. Para completar tudo, auxiliava o pessoal do campo, o agricultor e o criador, para ter as coisas mais barato, querendo Deus" (Frederico Bezerra Maciel).
Mineiro ouviu e concordou com Virgulino. O que acabara de ouvir representava uma parte da sabedoria do cangaceiro.
Lampião então, senhor de si, ditou para Mineiro, uma carta para o governador de Pernambuco, com a seguinte proposta:
" Senhor Governador de Pernambuco.
Suas saudações com os seus.

Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor pra evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas... Se o senhor estiver de acordo, devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do sertão, fico governando esta zona de cá, por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda os seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço.
Aguardo resposta e confio sempre.
Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão.

Seria Mineiro o portador dessa carta, colocada em envelope branco, tipo comercial, com a subscrição:
- Para o Exº Governador de Pernambuco - Recife" (Frederico Bezerra Maciel)

Mineiro notou que quase todos os cangaceiros eram analfabetos. Lampião sabia ler bem, mas escrevia com muita dificuldade. Antônio Ferreira lia com dificuldade e não escrevia. Apenas Antônio Maquinista, ex-sargento do Exército, sabia ler e escrever.
Enfim Lampião solta Mineiro, num ato que se transformou em festa, com muitos discursos e a emoção dos participantes.
Mineiro reconheceu nos cangaceiros, pessoas revoltadas contra a situação de abandono do sertão. Agradeceu a Deus os dias que passou na companhia de Lampião e seus cabras. Teceu elogios a Virgulino por sua personalidade capaz e inteligente. Afirmou que levava a melhor impressão de todos e que iria propagar, que o capitão e os seus, não eram o que diziam deles.
Lampião pediu então a Mineiro que dissesse ao mundo a verdade.
Despediu-se mineiro de todos, abraçando um por um os cangaceiros:
Luís Pedro, Maquinista, Jurema, Bom Devera, Zabelê, Colchete, Vinte e dois, Lua Branca, Relâmpago, Pinga Fogo, Sabiá, Bentevi, Chumbinho, Az de Ouro, Candeeiro, Vareda, Barra Nova, Serra do Mar, Rio Preto, Moreno, Euclides, Pai Velho, Mergulhão, Coqueiro, Quixadá, Cajueiro, Cocada, Beija Flor, Cacheado, Jatobá, Pinhão, Mormaço, Ezequiel Sabino, Jararaca, Gato, Ventania, Romeiro, Tenente, Manuel Velho, Serra Nova, Marreca, Pássaro Preto, Cícero Nogueira, Três cocos, Gaza, Emiliano, Acuana, Frutuoso, Feião, Biu, Sabino

Fonte: www.geocities.com

domingo, 20 de julho de 2014

Padre Cícero

Minhas homenagens ao aniversário de morte do meu “Padim Ciço”.


Pequena Biografia do Padre Cícero - O Cearense do Século

Dados Pessoais

Padre Cícero Romão Batista nasceu em Crato (Ceará) no dia 24 de março de 1844. Era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, conhecida como dona Quinô.
Aos seis anos de idade, começou a estudar com o Prof. Rufino de Alcântara Montezuma.
Um fato importante marcou a sua infância: o voto de castidade, feito aos 12 anos, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales.
Em 1860, foi matriculado no Colégio do renomado Padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras-Paraíba. Aí pouco demorou, pois a inesperada morte de seu pai, vítima de cólera-morbo, em 1862, o obrigou a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das duas irmãs solteiras.
A morte do pai, que era pequeno comerciante no Crato, trouxe sérios aperreios financeiros à família, de tal sorte que, mais tarde, em 1865, quando Cícero Romão Batista precisou ingressar no Seminário da Prainha em Fortaleza, só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o Coronel Antônio Luiz Alves Pequeno.

Ordenação

Padre Cícero foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870. Após sua ordenação retornou ao Crato, e enquanto o Bispo não lhe dava paróquia para administrar, ficou ensinando Latim no Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo Prof. José Joaquim Teles Marrocos, seu primo e grande amigo.

Chegada a Juazeiro

No Natal de 1871, convidado pelo Prof. Semeão Correia de Macêdo, Padre Cícero visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro (então pertencente a Crato), e aí celebrou a tradicional Missa do Galo.
O padre visitante, de 28 anos de idade, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, olhos azuis penetrantes e voz modulada causou boa impressão aos habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no dia 11 de abril de 1872, lá estava de volta, com bagagem e família, para fixar residência definitiva no Juazeiro.
Muitos livros afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho (ou visão) que teve, segundo o qual, certa vez, ao anoitecer de um dia exaustivo, após ter passado horas a fio no confessionário do arraial, ele procurou descansar no quarto contíguo à sala de aulas da escolinha, onde improvisaram seu alojamento, quando caiu no sono e a visão que mudaria seu destino se revelou. Ele viu, conforme relatou aos amigos íntimos, Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra a Última Ceia, de Leonardo da Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão de pessoas carregando seus parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo dos retirantes nordestinos. Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade, mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente ordenou: E você, Padre Cícero, tome conta deles!

Apostolado

Uma vez instalado no lugarejo, formado por um pequeno aglomerado de casas de taipa e uma capelinha erigida pelo primeiro capelão Padre Pedro Ribeiro de Carvalho, em honra de Nossa Senhora das Dores, Padroeira do lugar, ele tratou inicialmente de melhorar o aspecto da capelinha, adquirindo várias imagens com as esmolas dadas pelos fiéis.
Depois, tocado pelo ardente desejo de conquistar o povo que lhe fora confiado por Deus, desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares, como nunca se tinha visto na Região. Dessa maneira, rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes, passando a exercer grande liderança na comunidade.
Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e a prostituição. Restaurada a harmonia, o povoado experimentou, então, os primeiros passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo Capelão. Para auxiliá-lo no trabalho pastoral, Padre Cícero resolveu, a exemplo do que fizera Padre Ibiapina, famoso missionário nordestino, falecido em 1883, recrutar mulheres solteiras e viúvas para a organização de uma irmandade leiga, formada por beatas, sob sua inteira autoridade.

Milagre

Um fato incomum, acontecido em 1º de março de 1889, transformou a rotina do lugarejo e a vida de Padre Cícero para sempre.
Naquela data, ao participar de uma comunhão geral, oficiada por ele na capela de Nossa Senhora das Dores, a beata Maria de Araújo ao receber a hóstia consagrada, não pôde degluti-la pois a mesma transformara-se em sangue.
O fato repetiu-se outras vezes, e o povo achou que se tratava de um novo derramamento do sangue de Jesus Cristo e, portanto, era um milagre autêntico.
As toalhas com as quais se limpava a boca da beata ficaram manchadas de sangue e passaram a ser alvo da veneração de todos.

Reação da Igreja

De início, Padre Cícero tratou o caso com cautela, guardando inclusive sigilo por algum tempo. Os médicos Marcos Madeira e Idelfonso Correia Lima e o farmacêutico Joaquim Secundo Chaves foram convidados para testemunhar as transformações, e depois assinaram atestados afirmando que o fato era inexplicável à luz da ciência. Isto contribuiu para fortalecer no povo, no Padre Cícero e em outros sacerdotes a crença no milagre.
O povoado passou a ser alvo de peregrinação: as pessoas queriam ver a beata e adorar os panos tintos de sangue.
O professor e jornalista José Marrocos, desde o começo um ardoroso defensor do milagre, cuidou de divulgá-lo pela imprensa.
A notícia chegou ao conhecimento do Bispo D. Joaquim José Vieira, irritando-o profundamente. Padre Cícero foi chamado ao Palácio Episcopal, em Fortaleza, a fim de prestar esclarecimentos sobre os acontecimentos que todo mundo comentava.
Inicialmente, o bispo ficou admirado com o relato feito por Padre Cícero, porém depois, pressionado por alguns segmentos da Igreja que não aceitavam a ideia de milagre, mandou investigar oficialmente os fatos, nomeando uma Comissão de Inquérito composta por dois sacerdotes de reconhecida competência: os Padres Clicério da Costa Lobo e Francisco Ferreira Antero.
Os padres comissários vieram, assistiram às transformações, examinaram a beata, ouviram testemunhas e depois concluíram que o fato era mesmo divino. O bispo não gostou desse resultado e nomeou outra Comissão, constituída pelos Padres Antônio Alexandrino de Alencar e Manoel Cândido.
A nova Comissão agiu rapidamente. Convocou a beata, deu-lhe a comunhão, e como nada de extraordinário aconteceu, concluiu: não houve milagre!
O povo, Prof. José Marrocos, Padre Cícero e todos os outros padres que acreditavam no milagre protestaram.
Com a posição contrária do bispo, criou-se um tumulto, agravado quando o Relatório do Inquérito foi enviado à Santa Sé, em Roma, e esta confirmou a decisão tomada pelo bispo.
Todos os padres que acreditavam no milagre foram obrigados a se retratar publicamente, ficando reservada ao Padre Cícero uma punição maior: a suspensão de ordem.
Durante toda sua vida ele tentou revogar essa pena, todavia, foi em vão. Aliás, ele até que conseguiu uma vitória em Roma, quando lá esteve em 1898. Entretanto, o bispo, por intransigência, manteve-se irredutível na decisão tomada inicialmente.
Cem anos depois o milagre de Juazeiro foi alvo de estudos pela Parapsicologia. Segundo estudiosos dessa ciência, um caso de aporte foi o que teria acontecido com a beata. A tese do embuste, defendida por muitos padres e escritores, foi descartada pelos parapsicólogos.


Vida Política

Proibido de celebrar, Padre Cícero ingressou na vida política. Como explicou no seu Testamento, o fez para atender aos insistentes apelos dos amigos e na hora em que os juazeirenses esboçavam um movimento de emancipação política.
Conseguida a independência de Juazeiro, em 22 de julho de 1911, Padre Cícero foi nomeado Prefeito do recém-criado município. Além de Prefeito, também ocupou a Vice-Presidência do Ceará.
Sobre sua participação na Revolução de 1914 ele afirmou categoricamente que a chefia do movimento coube ao Dr. Floro Bartolomeu da Costa, seu grande amigo. A Revolução de 1914 foi apoiada pelo Governo Federal e tinha o objetivo de depor o Presidente do Ceará Cel. Franco Rabelo. Com a vitória da Revolução, Padre Cícero reassumiu o cargo de Prefeito, do qual havia sido retirado pelo governo deposto, e seu prestígio cresceu. Sua casa, antes visitada apenas por romeiros, passou a ser procurada também por políticos e autoridades diversas.
Era muito grande o volume de correspondências que Padre Cícero recebia e mandava. Não deixava nenhuma carta, mesmo pequenos bilhetes, sem resposta, e de tudo guardava cópia.

Encontro com Lampião

Com respeito a Lampião, Padre Cícero encontrou-se com ele em 1926. Aconselhou-o a deixar o cangaço, e nunca lhe deu a patente de Capitão, como foi dito em alguns livros. Na verdade, Lampião veio a Juazeiro a convite do Deputado Floro Bartolomeu para ingressar no Batalhão Patriótico e combater a Coluna Prestes. É possível que ele tenha usado o nome do Padre Cícero para tal, pois Lampião jamais recusaria um pedido de Padre Cícero. Dr. Floro não pôde receber Lampião e seu bando, pois já se encontrava no Rio de Janeiro para onde fora doente, chegando a falecer, coincidentemente, na época em que o famoso cangaceiro visitou Juazeiro. Como insistia em receber a patente de Capitão prometida por Dr. Floro, um dos secretários de Padre Cícero (Benjamim Abraão), convenceu Dr. Pedro de Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal residente em Juazeiro, a assinar um documento por eles mesmos forjado, concedendo a famigerada patente, que tantos aborrecimentos trouxe ao Padre Cícero, a quem muitos escritores atribuem a autoria.
A verdade é que, mais tarde, Dr. Uchoa foi chamado a Recife para se explicar junto às forças armadas sobre a concessão da patente, e ele, naturalmente temendo ser punido, não encontrou outra solução senão atribuir tudo ao Padre Cícero, certo de que ninguém seria capaz de repreender aquele virtuoso e respeitado sacerdote. Quem conhece a índole do Padre Cícero sabe perfeitamente que ele seria incapaz de praticar ato tão abjeto.


Importância

Padre Cícero é o maior benfeitor de Juazeiro e a figura mais importante de sua história. Foi ele quem trouxe para Juazeiro a Ordem dos Salesianos; doou os terrenos para construção do primeiro campo de futebol e do aeroporto; construiu as capelas do Socorro, de São Vicente, de São Miguel e a Igreja de Nossa Senhora das Dores; incentivou a fundação do primeiro jornal local (O Rebate); fundou a Associação dos Empregados do Comércio e o Apostolado da Oração; realizou a primeira exposição da arte juazeirense no Rio de Janeiro; incentivou e dinamizou o artesanato artístico e utilitário, como fonte de renda; incentivou a instalação do ramo de ourivesaria; estimulou a expansão da agricultura, introduzindo o plantio de novas culturas; contribuiu para instalação de muitas escolas, inclusive a famosa Escola Normal Rural e o Orfanato Jesus Maria José; socorreu a população durante as secas e epidemias, prestando-lhe toda assistência e, finalmente, projetou Juazeiro no cenário político nacional, transformando o pequeno lugarejo na maior e mais importante cidade do interior cearense.
Os bens que recebeu por doação, durante sua quase secular existência, foram doados à Igreja, sendo os Salesianos seus maiores herdeiros.
Ao morrer, no dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos, seus inimigos gratuitos apregoaram que, morto o ídolo, a cidade que ele fundou e a devoção à sua pessoa acabariam logo. Enganaram-se. A cidade prosperou e a devoção aumentou. Até hoje, todo ano, religiosamente, no Dia de Finados, uma grande multidão de romeiros, vinda dos mais distantes lugares do Nordeste, chega a Juazeiro para uma visita ao seu túmulo, na Capela do Socorro.
Padre Cícero é uma das figuras mais biografadas do mundo. Sobre ele, existem mais de duzentos livros, sem falar nos artigos que são publicados frequentemente na imprensa. Ultimamente sua vida vem sendo estudada por cientistas sociais do Brasil e do Exterior.
Não foi canonizado pela Igreja, porém é tido como santo por sua imensa legião de fiéis espalhados pelo Brasil.
O binômio oração e trabalho era o seu lema. E Juazeiro é o seu grande e incontestável milagre. Em março de 2001, em eleição promovida pelo Sistema Verdes Mares de Televisão, Padre Cícero foi escolhido O CEARENSE DO SÉCULO

Fonte: http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.phtml?cod=13287&cat=Artigos&vinda=S

quinta-feira, 17 de julho de 2014

CINE CAPITÓLIO

Antigo Cine Capitólio

Tava assistindo hoje um programa qualquer na TV, quando vi uns jornalistas indignados, com a situação do Cinema Capitólio - Campina Grande/Paraíba. O bicho tá cai não cai, o mato comendo por dentro, servindo de mijador e cagador e a noite ponto de encontro de usuários de drogas e outras besteiras mais. O povo que trabalha em redor do monstro anda com medo de morrer com sua fatal queda, ou o cheiro condenado de mijo.
Aí mostrou cenas de fiscais estudando e medindo todos os meses (não sei o que) para saber a hora quando o danado vai cair de vez.


O apresentador dizia que havia o jogo de empurra, empurra: Prefeitura, Ministério Público, Instituto do Patrimônio Histórico, Defesa Civil e o diabo a quatro, mais fiquei achando que quem vai dar jeito nele mesmo vai ser o diabo a quatro, como ocorreu na feira central com o antigo Cassino El Dourado; se lembram? Também era TOMBADO. (Esse tombamento aí significa ficar de pé, coisas da nossa língua).
Antigo Cassino El Dourado

Se fosse em tempos pretéritos já se tinha resolvido: o dono danava no chão e construiria alguma coisa que servisse para a sociedade e ganhar dinheiro com sua propriedade, que era particular, e não permitiria que tivesse sido indenizado pelo poder público e ter ficado do jeito que está, sendo uma ameaça        à segurança do povo que trafega por suas laterais.
Aí achei esta brincadeira abaixo, em forma de piada, que quase lembra o intuito da reportagem da TV.



“Bons tempos!!!!!!!!!!!!!!
Na época da 'chamada' ditadura...

Podíamos namorar dentro do carro até a meia-noite sem perigo de sermos mortos por bandidos e traficantes.
Mas, não podíamos falar mal do Presidente.
Podíamos ter o INPS como único plano de saúde sem morrer à míngua nos corredores dos hospitais.
Mas, não podíamos falar mal do Presidente.
Podíamos comprar armas e munições à vontade, pois o governo sabia quem era cidadão de bem, quem era bandido e quem era terrorista,
Mas, não podíamos falar mal do Presidente.
Podíamos paquerar a funcionária, a menina das contas a pagar ou a recepcionista sem correr o risco de sermos processados por "assédio sexual",
Mas, não podíamos falar mal do Presidente.
Não usávamos eufemismos hipócritas para fazer referências as raças (ei! negão!), credos (esse crente aí!) ou preferências sexuais (fala! sua bicha!) e não éramos processados por "discriminação" por isso,
Mas, não podíamos falar mal do Presidente.
Podíamos tomar nossa redentora cerveja no fim do expediente do trabalho para relaxar e dirigir o carro para casa, sem o risco de sermos jogados à vala da delinquência, sendo preso por estar "alcoolizado",
Mas, não podíamos falar mal do Presidente.
Podíamos cortar a goiabeira do quintal, empesteada de taturanas, sem que isso constituísse crime ambiental,
Mas, não podíamos falar mal do Presidente.
Podíamos ir a qualquer bar ou boate, em qualquer bairro da cidade, de carro, de ônibus, de bicicleta ou a pé, sem nenhum medo de sermos assaltados, sequestrados ou assassinados,

Mas, não podíamos falar mal do Presidente.


Ai, entrou o


Hoje a única coisa que podemos fazer...
...é falar mal do Presidente!”

Notas:
1-      Não só culpo o PT; culpo também os vinte e tantos anos, que divulgam que DEMOCRACIA é pura LIBERDADE, onde não existe regras e nem deveres, só direitos...
2 – Peço desculpas ao meu inesquecível irmão Jornalista Robério Maracajá, que tempos passados fizera parte de algum Instituto de conservação de Patrimônio, não sei qual teria sido: IPHAN, IPHAEP OU IHCG. Fora um dois quais lutou pelo Tombamento do referido prédio.



Tenho Dito!
Grijalva Maracajá Henriques – Historiador e chateado com a situação do nosso Brasil.

terça-feira, 15 de julho de 2014

6º. Encontro da Família Maracajá


INFLAÇÃO


INFLAÇÃO*

João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)

            A mulata Peitica não tinha jeito nem cura. Nascera praquilo mesmo e quem fosse fraco que saísse de sua frente. Não queria saber de quem era o homem. Casado, solteiro ou viúvo era tudo a mesma coisa. As mulheres que se cuidassem.
- Era só mesmo o que lhe faltava. Gostar de um sujeito ou poder arrancar-lhe dinheiro e não ia deixar para os outros. Essa, não. Era o que ela dizia habitualmente.
            E tinha tudo quanto o médico recitara para ocupar terreno. Tinha corpo e saliências bem proporcionadas para chamar a atenção e endoidar os seus preferidos. Subindo a ladeira ou descendo era à mesma coisa. Sabia morder e gingar o corpo como uma onça pintada no cio. Estava sempre assim.
Diziam os mais sabidos que a mulata era ninfomaníaca, um caso perdido. Não se satisfazia hora nenhuma. “Aquela quenga descarada, ainda vai se da mal”.  Mas tudo não passava de conversa fiada. A bichoca era mesmo atrevida. Quando a viam passar era certo que andava de bote armado. Tinha alguém em vista.
            Podia ser até o vigário da freguesia, o senhor Juiz, o sacristão ou o delegado de polícia. E tinha feitiço. Sua maneira de fazer o convite era olhar para o sujeito e agraciá-lo com um risinho safado.
            Podia, então, esperar na cama, tranqüilamente. Para isso mantinha sua casinha própria, com uma porta e uma janela, lá num cantinho discreto. Podiam entrar e sair sem serem vistos. Até nisso era esperta. Em casa tudo arrumadinho e no petisqueiro uma boa pinga e qualquer coisa, para tira-gosto.
            Tudo muito limpinho e num arranjo de fazer gosto. E ela própria só se vestia decentemente, igual a qualquer dona de casa reservada e exigente. O diabo era o balanço do corpo, aquele gingado doido.
            E tinha uma particularidade. Não gostava da rapaziada, dos pilantras, como dizia, pois geralmente era uma turma de lisos e não raro ainda preparavam fuzarcas. Gente de respeito era outra coisa.
            Na verdade o que interessava a Peitica era o dinheiro, sim, o dinheiro dos bestas. Amor mesmo, lógico que não arrepiava os nervos. Peitica negociava o que tinha de apresentável e atrativo, o corpo que Deus lhe dera de presente.
            Sozinha no meio do mundo, sem tendência pra ser empregadinha doméstica, valeu-se do material disponível. Ninguém pensasse que não tinha seus planos.
            Tostão que lhe sobrava era amealhado ciosamente, como uma reserva para o futuro, mesmo antes de sair de forma. E mais do que isso, pensava em se casar, ter um lar honesto, viver somente para um.
            O dinheiro daria jeito nisso. Teriam de chamá-la pelo nome próprio procedido de uma palavra decente. Dona Rosalinda Araújo dos Anjos. Teriam de ver. Não pensasse que era uma mariposa por vocação. Os encontros com um e com outro, não tiravam a dignidade. Para Peitica era simplesmente uma coisa à-toa...  Como cortar o cabelo, aparar as unhas ou raspar as pernas.
            O comerciante não é um ladrão porque vende mais caro que os outros. Compra que quiser. E depois não tinha sido ela quem inventou aquelas coisas.
            Quando deixasse aquele comércio que chamavam de imoral, seria a mesma mulher, com o mesmo corpo, a mesma fala os mesmos sentimentos ocultos. Não fazia aquelas coisas por safadeza, mas apenas como seu meio de vida, uma preparação para mudar e ser o que desejava.
            Certo dia foi se confessar e contou sua história. Relatou sua vida e seus propósitos. Padre Antônio recriminou-a:
- Poderia ter seguido outros caminhos.
            - Foi o destino, padre, o destino. Mas não tenciono continuar. Tão logo, junte algum dinheiro, caio fora dessa vida suja. Não engano ninguém. Recebo quem me procura e esqueço logo. Já estou completando meu tempo e ansiosa para despedir-me, embora todos os homens queiram que eu continue. Gostam de mim, mas eu na verdade não gosto de ninguém. Sou como bodegueiro que desconhece a freguesia. Pretendo casar-me e ter minha casa e meus filhos, vão ver a vira-volta que eu vou dar.
            - É minha filha, o mundo tem dessas coisas. Poderias ter me procurado que eu lhe teria dado um bom emprego de arrumadeira...
            - Mais o povo iria falar. “Seu vigário empregou Peitica, uma mulher da vida”.
            - Não tenho nada a ver com a língua do povo, Não dou satisfação a ninguém...
            - Pois, assim, o desejo ainda está no meu corpo. Largo a vida hoje mesmo. Ponho meu dinheirinho na caixa. Será que o senhor está falando sério, ou só para me contentar?
            - Que nada sinha tolinha, se muda para cá e deixa essa vida de mariposa. Podes até pegar alguma doença braba... Cuidará somente do arranjo da casa e me farás companhia nas noites de solidão. Não sabes o que é viver só, falando com as paredes ou com o invisível.
            - Não sei, porque nunca dormi sozinha, mas deve ser terrível.
- Minha ama – cozinheira - é uma velhota rabugenta, nervosa, sempre cheirando a tempero, coisa detestável. E depois da ceia sai de porta fora como um bicho. Nem diz boa noite seu vigário. Passa pra cozinha com o seu alho e seu cominho e suas infames folhas de hortelã, atrás de sua orelha.
            - Vou pensar.
            - Pensar uma ova. Vai, aluga tua casinha ou passa-lhe a chave e balança o corpo pra cá.
            - Seu vigário essa confissão está comprida demais. Não acha? E ali tem uma velhota esperando pra contar os pecados.
            - Que espere. Aquilo não tem mais nada para pecar... E como é? Vens ou não vem fazer companhia ao padre Antonio?
            - É perigoso, seu vigário. Onde foi casa é tapera. Não posso parar assim de repente. Depois me dá alguma agonia e o senhor não vai me deixar sair.
            - Sair para onde? Tenho santo remédio para acalmar essas agonias.
            - Mas remédio não cura essas coisas, seu padre.
            - Verás. Caso não cure, poderás sair à noite ou a qualquer hora.
            - Quer dizer...
            - Uma mão lava a outra sinha burrinha. Eu te curo e tu me curas.
- Apareça lá em casa. Sem batina ninguém conhece. Qualquer hora.
- É difícil menina louca. Sou um padre. Espero-te lá em casa.
            - Então tenho que demorar uns dias enquanto vendo a casa. Já tenho quem queira.
            - Vai pelo menos me visitar. Não precisas demorar muito. Podemos até ir agora.
            Peitica tinha suas cisma. Andar com padre virava mula sem cabeça. Olhou para o corpo, bamboleou-se e imaginou aquele corpo bonito e atrativo transformado numa mula. Deus que a livrasse.
            Levantou-se do confessionário e foi saindo. Espera-me que eu chego. Irei para ficar para sempre. E não vai demorar. Já estou sonhando com a nova vida.
            Saiu às pressas. Passou logo pela casa de dona Zumira fechou o negócio. Recebeu o dinheiro, arrumou a mala e pegou a primeira boléia de caminhão.
            Padre Antonio, impaciente amolava as pontas. Esqueceu o breviário. Virou incêndio. Inquieto, ia e vinha com o olho na porta da entrada. Dentro dele, gritavam tumultuadamente, todos os desejos. E a Peitica não aparecia. Não havia outro jeito. Tinha mesmo que procurá-la.
            Desabotoou a batina, entonou-se a paisano, penteou-se a rigor, perfumou-se e botou-se pra lá. Bateu palmas e apareceu-lhe dona Zumira.
            - O senhor por aqui, a estas horas? A quem procura?
            - A Peitica. Mandou me chamar para se confessar. Estava doente. Foi o recado que mandou.
            - Mais confessar assim sem batina, padre Antonio? Aproveite e me confesse também.
            - A Peitica já se foi? Disse-me que ira ser minha arrumadeira. Deve estar por lá a estas horas.
            Padre Antonio voltou correndo. A endiabrada bem que disse que não demoraria mais. Seria para sempre. Desencontrei-me. Não quis ir pelo dia para não ser vista. Espertinha a endiabrada. O certo é que está no papo.
            Mas, Peitica já andava longe.
E foi um desapontamento. Tomou um banho quente e quase estopara pensando na traição. E o pior é que tinha sido visto fora de hora sem batina, em casa suspeita.
            Enquanto isso, Peitica, com o seu nome verdadeiro instalava-se noutra cidade. Colocou o dinheiro no banco, empregou-se como balconista, e tempos depois se casou com um babaca, gente direita e que dispensava suas economias para manter a casa.
            Mandou ao padre Antonio um cartão participando-lhe o casório. Padre Antonio rasgou-o em pedacinhos, como se estivesse fazendo em pedaços sua primeira e frustrada aventura. O diabo é que havia assanhado a fera dos instintos e não teve outro jeito senão ir visitar dona Zumira. E foi outra decepção. Não posso sair, estou com visitas.
            - Apareça outro dia. E sempre que ia, chegava atrasado. - Tenho visita.
            Moleca da peste. Acendeu a coivara e danou-se no mundo.
            Quando menos esperava dona Zumira foi se confessar. Contou seus pecados, todos eles amorosos. Padre Antonio não se conteve.
            – A senhora recebe muitas visitas, não é?
            - Como sabe o senhor?
            - Ora, fui visitá-la vários dias e sempre está com visitas.
            - Estou sempre sobrando. E a Peitica? Quer mais de uma?
- Que Peitica que nada. A mulata me enganou. Foi embora daqui e já se casou.
Marque um horário pra seu vigário.
            - Deus me livre. Estaria perdida pro resto da vida. Quem iria perdoar tão horrível pecado.
            - Pecado coisa nenhuma, criatura. Um padre é um bicho como outro qualquer.
            - Então vá mais cedo. Antes das oito horas. Mas leve dinheiro. Minha profissão é muito penosa. É a pior de todas.
            - Mas eu sou o vigário. Podia ser só por amor.
            - Então, deixa como está. O que não custa dinheiro é sonho, continua sonhando com a mulata Peitica.
            - Quanto mais ou menos?
            - Como se trata de um caso especial, e, o senhor é rico, vinte mil cruzeiros por cada vez.
            - Estás louca. Vinte mil!
            - Então se vire como puder. Tenho muitos compromissos e a inflação leva tudo...
            - Faz um abatimentozinho, criatura.
            - Quem quer o que é bom, paga caro.
            - E se eu não gostar?
            - Paga mais!
            Viciou-se. E não teve outra saída. Aumentou os preços das missas, batizados e casamentos. Tinha que enfrentar o custo de vida e a inflação... Não adiantam reclamar!
            É isto mesmo, quem quer o que é bom, paga caro. É necessário manter o roçadinho limpo, o caminho do céu...
            - E sabe de uma coisa curta e certa? Traga-me dinheiro novo. Aquele dinheiro velho, de escola, dilacerado e sujo, mande pro bispo. E da próxima vez traga-me dois contos de reis emprestados, vou pagando com o serviço... Senão...
            - É isto mesmo. Só quem não prestava era a negra Peitica. Mas o pior de tudo foi minha burrice. De hoje em diante não me escapa nem as corujas do sótão.
            Mas nesse momento bateram à porta.
             Padre Antonio foi sondar quem era. Peitica nua e crua.
            - Cheguei padre Antônio! ... Demorei mas cheguei.
            - Entre e vai direta arrumar meu quarto...
           

            *O conto faz parte do livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.