quarta-feira, 30 de abril de 2014

ALECRIM


ALECRIM*

 

João Henriques da Silva

(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)

 

 

Alecrim chegou à pensão de dona Lulu, quase uma menina. Moreninha de olhos esverdeados, rosto agradável e corpo ondulado. Parecia uma criatura ingênua e despreparada para prostituição. Alecrim não havia sido enganado por ninguém.

Entrara na vida espontaneamente, apenas sob a influência da moleca Zuza já uma perdida que se encontrava com os namorados livremente e lhe dizia que era a coisa melhor do mundo. Ela mesma procurara quem quisesse sair com ela. Terminou saindo de casa dizendo à mãe que iria cavar a vida. Apesar dos conselhos, pediu a benção e botou o pé no caminho.

A mãe já sabia que era uma menina perdida e talvez fosse melhor mesmo ir embora. Pelo menos não daria mal exemplo a irmãzinha que gostava tanto dela. Choraram com a sua saída. Talvez nunca mais a vissem. O destino lhes castiga. No entanto não havia mais o que fazer. E resolveram as duas a mudar-se para onde não fossem conhecidas. Evitariam as perguntas maledicentes:

- Cadê Alecrim?

- Fugiu com alguém. Era uma menina tão boazinha. Juntaram os trates e desapareceram sem dizer nada.

Instalaram-se numa cidadezinha distante e continuaram na lavagem de roupas para sobreviverem. Mas, aquilo era tão pouco que mal chegava para enganar o estômago. E tomaram uma decisão. Empregaram-se em casas de família, onde teriam alimentação e pousada, com algum dinheirinho para guardar como economia e no futuro ter alguma segurança de vida.

           E foi o que fizeram. De Alecrim nunca mais tiveram notícias, mesmo por não saber onde andavam.

           Alecrim instalou-se e tornou-se uma das meninas mais procuradas. No entanto não se juntava com gente de baixa categoria. Selecionava os seus parceiros e não havia cerco para sair com quem não desejava. Era uma profissional com clientela selecionada.

            A dona Lulu reclamava essa sua atitude. Poderia perder a freguesia. Alecrim teria que aceitar quem a procurasse!

- Nunca, dona Lulu. Neste caso vou embora. Sou sua pensionista, mas, tenho minhas preferências e minha maneira de viver. Não vou me emporcalhar com qualquer um. Além disso, não me tem faltado homem, como bem vê. Só quero aquilo que meu corpo aceita sem repugnância. Sou uma menina pobre, mas tenho certa classe. Se não me quer assim, até logo. O mundo é grande, tem muito espaço.

            Dona Lulu não disse mais nada. E se ficou imaginando o que pensava aquela rapariguinha estranha. Enquanto as outras pegavam qualquer um, ela se fazia de rogada, cheia de caprichos.

E Alecrim juntava dinheiro e já se ia enfarando daquela espécie de vida humilhante.

            O prazer que sentira no começo de sua carreira, desaparecera. Considerava-se um depósito de lixo humano. Até quando suportaria aquela vida de rameira, não sabia. Mas precisava de mais dinheiro para se iniciar noutro ramo de vida, ir ao encontro da mãe e da irmã, para dar-lhes algum conforto e viver com honestidade, num meio onde ninguém a conhecesse.

           Exigia o máximo dos seus amantes, chegava mesmo a mentir sobre sua situação de quase miséria. O que recebia não dava para comer e vestir e boa parte era para dona Lulu que sangrava o bolso de suas pensionistas. Tostão, sobre tostão, ia amealhando.          

           Alecrim - dizia-lhe dona Lulu, - precisa vestir melhor ficar com melhor aparência. Daqui a pouco ninguém vem mais te procurar.

            - Não se preocupe com minha aparência. Minha atração é noutra coisa. Quem fica comigo, volta sempre. O que estou a carecer é de um quarto mais atrativo, uma cama mais macia. O resto deixa comigo. E quem será que está lhe dando melhor rendimento. Alias, a senhora poderia exigir um pouco menos da gente...

            - Como, se já estás a exigir um quarto mais atraente e uma alimentação mais nutritiva. Vocês deveriam, aliás, me dar mais um pouco.

            - Credo! A senhora quer mais, sem ter que passar pelo que a gente passa. Deitar-se com qualquer um, entregar-se, ficar toda lambuzada, e receber uma ninharia, desses vagabundos que nos procuram?

            - Alecrim, quem é tua família, onde mora, o que faz?

            - Por ora não tenho família. Perdi-a, quando resolvi me perder. Eu mesma me estraguei. Não culpo ninguém. Por favor, não pergunte por minha família, a quem a humilhei e de que me separei para não humilhá-la a cada dia que se passava. E nem tenho coragem de procura-la enquanto permanecer nesta vida miserável. Mas, esperava liberta-me. Hoje sou uma quase descrente. Não tenho um ceitil de economia e nem dar para fazer. A senhora bem que poderia me ajudar.

            - Que queres mais, Alecrim? Tem comida, cama e amigos e o meu apoio. Quando se cai nesta vidinha, não se deve esperar mais. Ora não te falta amor, o ideal de uma jovem. Ou já está farta disso também. Assim não dá, menina. Vai te conformando...

           - Conformando como, se não tenho dinheiro, estou separada da família e o amor de que a senhora me fala não passa de uma sujeira. A senhora já foi o que sou e sabe como é. Alem disso a gente vai envelhecendo e com mais algum tempo cai no abandono. Quem tem sorte como à senhora, abre uma pensão e vai viver das infelizes que caem na vida. Mas quantas têm essa oportunidade. Onde irão cair, por exemplo, a Mani e a Bia, já com aquele corpão gorduroso, enrugados e envelhecendo fora do tempo. Minha sorte não será outra se não me cuidar cedo e livrar-me da voragem do tempo e desta vida que levamos. As mulheres dos lupanares desgastam-se precocemente. Se pelo menos tivessem quem nos desse um pouco de amor. Mas não somos mais do que depósitos de lixo, das impurezas que fermentam nesses patifes, que a troco de quase nada, nos levam para o matadouro e ainda obrigadas a fingir loucuras amorosas, quando se tem repugnância, nojo e desenganos. O começo é apenas uma espécie de lua de mel da prostituição. Depois o fogo se apaga, os desejos desaparecem e passamos a ser como as cinzas frias daquilo que a gente era. Matam-me as lembranças de minha mãe e de minha irmã. Antes só pensava nos prazeres da carne como se a vida consistisse apenas nisso. E somente depois que tudo se apaga é que se vê como são falsas e passageiras as ilusões. Cada homem que se encosta a mim é como uma ferida que se abre no meu destino. Já me emporcalhei demais. Meu corpo não suporta mais esses desejos humanos da concupiscência. É como se escarrassem dentro de mim sem pena sem dó.

            Diga-me, por favor, dona Lulu, como poderei livrar-me antes que seja tarde demais?

- Ah! Minha filha. A gente vai caindo, caindo nesse atoleiro e ninguém aparece para nos entender à mão. Onde nos conhecem, ninguém nos quer fora do bordel onde nos entregamos a qualquer porco. Queres te salvar, some, desaparece para onde seja uma estranha e procura um emprego qualquer. Larga os homens como que foge de uma doença contagiosa. Do contrário irás envelhecer e apodrecer igualmente a um fruto azedo e aguado que cai e que somente os germes da terra o querem.

           - Mas dona Lulu, aonde se chegar, a primeira perguntar é para saber quem é a gente, e donde veio ou se traz alguma recomendação. Ninguém confia na gente. E se advinham ou suspeitam que somos mulheres da vida, então, fecham-se todas as portas. Entrar num lar é como entrar a contaminação: - Deus nos livre. Tenho meu marido e meus filhos para zelar. O que eu desejava mesmo era ir para minha mãe e minha irmã. Somente elas poderão me compreender e me dar acolhida, apesar do que fiz e do que sou.

            - Então vai!

            - Mas não queria chegar lá sem nada para lhes dar. O que tenho é tão pouco ainda.

- Então te aguenta, procura tomar um pouco mais do que tem dado. Economiza e toma o teu destino.

            Alecrim tomou o conselho e passou a sacrificar-se mais. Recebia quem a procurasse. Já estava perdida e não escolheu mais ninguém. Insinuava-se mesmo e teve uma surpresa. A gentalha lhe remunerava melhor do que sua clientela escolhida. Tinha ainda que aguentar ainda quase um ano servindo de lata de lixo.

            Depois somou as suas economias, arrumou os seus trastes, despediu-se de dona Lulu e das companheiras e deu no pé. Mas teve sua grande decepção. Ninguém dava notícias da mãe e da irmã. Apenas sabiam que se tinham ido. Como encontra-las. E começou sua peregrinação.

            De povoado em povoado a procura da lavadeira, até que parou em Riacho de Sal, desalentada. Não sabia mais aonde ir. Ali não poderiam estar num lugarejo tão insignificante. Resolveu, então, apelar para os vigários das paróquias. Desejava encontrar a mãe e a irmã. Que ajudassem. E assim andou de lugar em lugar como uma pateta. Alguns padres quiseram ficar com ela. Rejeitou. Queria era sua mãe. Já estava cansada de homens. Habituava-se a não sentir mais os prazeres dos encontros.

            E somente na quarta cidade, quando o vigário anunciou seu nome á procura da mãe e da irmã, teve a ventura de encontrá-las. Ambas assistiram à missa e tiveram vontade de gritar que estavam ali e ao saber onde estava Alecrim.

            Foram para pertinho do padre, esperar que a missa terminasse, mas antes disso, lá no meio dos fiéis avistaram Alecrim que, por sua vez, já as havia visto. Fechou os olhos para ver se era um sonho ou realidade que procurava. Encontraram-se e a vida recomeçou para as três.

            Alecrim nada falou de sua vida real. Simulou que sempre viveu em casas de família como empregada doméstica. Juntara algum dinheiro para poder retornar. Narrou o drama para reencontrá-las. O pouco dinheiro que lograra economizar, quase tudo quanto ganhará, entregou-o a mãe para que ela aplicasse e pudesse ter uma vida melhor.

            Ela e a mana sustentariam os empregos. Ela própria substituiria à mãe e até que se tornassem independentes.

            No inicio, nem tinham noção do que fazer, mas com algumas semanas dona Zefinha teve uma idéia: vender miudezas, aquilo que as mulheres sempre necessitam em casa. E arrumou o seu pequeno bazar. Na rua onde moravam não havia nada do seu ramo. E logo colocou uma tabuleta declarando que não poderia vender fiado.

            E com o passar do tempo o pequeno negócio começou a prosperar. E então, o sortimento foi aumentando e depois de um ano, as três não necessitavam mais de empregos. Quem passasse e andasse por ali anos depois, poderia ler no frontão da casa, o letreiro: Casa das Miudezas. E como era de prever, a filha rosedá, casara-se bem, com um merceeiro e as duas ficaram na santa paz do senhor.

            Alecrim não se separaria da mãe e nem pensava em casamento. Estava farta de homens e até quando a conheci. Conservava-se retraída e de fogo apagado, como se não pudesse esquecer que havia sido por muito tempo uma lata de lixo das impurezas humanas. Procurou cuspir fora restos das lembranças.

 

Julho, 12 de 1986. 

 

*O conto pertence ao livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.

                    

                    

terça-feira, 22 de abril de 2014

Descobrimento do Brasil


22 DE ABRIL E O DESCOBRIMENTO DO BRASIL

1500?/2014

514 anos

 

 

Hoje é dia de se comemorar o "Descobrimento do Brasil". Mas, antes de qualquer comemoração é bom que tenhamos um tempinho para refletir sobre como e quem descobriu essas terras tão ricas e que parecem ser pobres pelo caráter social da população.

Segundo o Professor Ailton Lopes em seu site http://www.ailton.pro.br, tudo aconteceu mais ou menos assim:

No século XVI, baseando-se na mitologia do povo celta, o cartógrafo genovês Angel Dalorto desenhou uma ilha em um de seus mapas. A porção de terra cercada estava a oeste do sul da costa da Irlanda. Para o cartógrafo, era ali o lugar que São Brandão, um monge irlandês que se aventurou para o alto-mar no ano de 565, descreveu como a Terra Abençoada, onde havia abundância, clima ameno e igualdade entre seus habitantes. Curiosamente, no mapa de Dalorto essa ilha se chamava Ilha do Brasil. Portugal ameaçou enviar uma frota às terras descobertas por Colombo, e a Espanha lhe propôs discutir um acordo sobre as terras a descobrir. Essa foi a origem do Tratado de Tordesilhas (7 de junho de 1494).

Duarte Pacheco Pereira, nomeado Cavaleiro da Casa Real, participou como negociador português. Especialista em geografia e cosmografia reivindicou para Portugal as terras que fossem descobertas a até 370 léguas a oeste de Cabo Verde. Historiadores sustentam a hipótese de Duarte Pacheco ter sido o verdadeiro "descobridor do Brasil", em 1498, viajando em segredo. O único registro desse feito é um trecho meio obscuro do livro Sobre os Mares do Mundo, escrito pelo próprio Pacheco entre 1505 e 1508. Nesse relato, ele conta que, em 1498, explorou a "parte ocidental" do Oceano Atlântico, encontrando "uma grande terra firme, com muitas ilhas adjacentes" e coberta de "muito e fino brasil". Isso reforça a tese de que a viagem de Pedro Álvares Cabral foi uma operação secreta arquitetada pela Coroa portuguesa, dois anos depois da verdadeira descoberta, para formalizar a posse das terras.

Em 26 de janeiro de 1500, o navegador espanhol Vicente Pinzón teria chegado a um novo território no além-mar, desconhecido pelos reinos de Portugal e Espanha. Pinzón partiu em novembro de 1499 do Porto de Palos e, em sua jornada pelo Atlântico, passou pelas Ilhas Canárias e Cabo Verde. Veterano explorador que comandou a caravela Nina na descoberta da América, em 1492, Pinzón disse que, ao chegar à costa, identificou "um ponto escuro e depois um dorso de pedra, um promontório".

Ele seguiu viagem em direção ao norte, ao largo de um litoral com poucas baías seguras para ancoragem e desembarque. Quando enfim conseguiu chegar à terra, o espanhol e seus homens enfrentaram a fúria dos índios potiguares. "Mataram oito dos nossos soldados e mal houve um que não tivesse sido ferido", descreveu. O local seria Cabo de Santo Agostinho, no litoral pernambucano. Ele costeou o litoral até a foz do Rio Amazonas, descoberta por ele. Ali, encontrou-se com outro espanhol, Diego de Lepe, e juntos avançaram até o rio Oiapoque.

Esta é apenas uma das muitas deduções que os historiadores e pesquisadores fazem acerca da chegada dos europeus às nossas terras. Na verdade, o que mais fica esclarecido é que em todas as hipóteses que são consideradas, em todas as narrativas que os pesquisadores fazem descrição referente ao "descobrimento" há personagens que sempre aparecem, e são personagens humanos: os Índios. Por isso, não podemos considerar tanto a expressão "DECOBRIMENTO DO BRASIL".

Os nossos índios já estavam aqui, eles eram os donos das terras, elas já haviam sido descobertas. Porém, pode-se dizer que hoje, hipoteticamente, está completando 510 anos que os portugueses chegaram à costa brasileira e começaram a desenvolver estratégias que culminaram no domínio político e econômico por alguns séculos, e que a forma de desenvolvimento aplicada, talvez tenha sido inadequada, visto que mesmo sendo uma terra rica, até hoje, os aspectos socioeconômicos da nossa sociedade têm demonstrado o contrário. É isso!

Profª Mônica Freitas

 

Nota do postador:

Ninguém da mídia falou desta data. Por quê?????????

A Pretinha Cristina


A PRETINHA CRISTINA*

João Henriques da Silva

(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)

 

 

 

            Dona Zefa criou a Pretinha Cristina como se fosse sua filha legitima. Ninguém sabia quem era o pai de Cristina; e a mãe morrera no parto. Alguém teria que socorrer a pretinha e foi dona Zefa quem a levou. E jurou caprichar para fazer da menina uma moça direita. Só por ser pretinha daquele jeito, não queria dizer que não pudesse ser uma criatura igual às outras. Quando a apanhou já notara que Cristina possuía umas feições agradáveis. Nem tinha lábios grossos nem nariz achatado. O cabelo também não era encarapinhado. Estava visto que deveria ter uma mistura de sangue. Mas Dona Zefa era uma mulher pobre, que levava a vida a fazer cestinhas de palha e de cipó para manter-se. A sorte é que era muito hábil em seu artesanato e tinha a sorte de não lhe faltar encomendas. Nas horas vagas fazia cocada e bolo-pé-de-moleque para entregar nas bodegas. Era uma ajuda. Graça ao seu trabalho tinha sempre uma sobrazinha de dinheiro. Sabia que cuidar da menina lhe tomaria um bocado de tempo, mas não seria ela que iria desprezar uma menina sem pai e sem mãe. Talvez um dia, quem havia de saber, tivesse alguém para ampará-la na dura velhice. Dependeria da sorte, mas o pior era não ter esperança nenhuma. Na verdade não confiava muito em criar filho dos outros, mas toda regra tinha exceção. Cristina poderia ser uma boa filha e por que não. Iria criá-la com essa intenção. E o fato é que Cristina foi crescendo, tornou-se uma mocinha e foi aí que Dona Zefa teve medo. O diabo da negrinha era bonita demais para não deixar de preocupá-la. Bonita e alegre. Talvez fosse lhe dar muito trabalho. Era lógico que cairiam em cima dela. O mundo estava salpicado de malandros e desses que achavam que as negrinhas não tinham dono e era de quem fosse mais esperto. E uma daquela, então, era um desafio. Dona Zefa, por isto, andava de olho em cima dela. Não gostava de mandá-la pra rua sozinha e muito menos acompanhada por certas bichotinhas cheias de liberdade. A coisa, ela sabia, começava de uma conversinha, de um olhar atrevido, de uma indireta. Mas sabia também que nem todas as moças se deixavam levar facilmente. Em todo caso não saía da vigilância e dos conselhos de uma forma indireta; sem dar a entender que estava com receio de alguma coisa. O certo mesmo era demonstrar que possuía o máximo de confiança em Cristina.

            E certo dia Cristina lhe falou com ares de contrariedade.

            - Olha mãe, tem uns sujeitinhos que andam me olhando como se fosse uma novidade. Outros procuram me acompanhar com vontade de falar comigo.

            - Tem nada não, minha filha. Os homens são assim mesmo. Não podem ver uma mulher bonita que não fiquem todos assanhados. E quando não se dá confiança eles param de perseguir. O que querem é explorar as moças inexperientes e depois as deixam para um canto como se fosse uma vassoura velha e imprestável. Não se pode, nem de longe, confiar neles. Quando há boas intenções, procuram as moças em suas casas para uma conversa clara e honesta.

            - Pois é mãe, nem se preocupe comigo, moleque, comigo vai rodar. Fui criada com muito amor e sei muito bem o que quero. Se tiver de querer alguém, será para me casar e se a Senhora aprovar e consentir. Fora disso, vão perder tempo com esta negrinha aqui. Se estiverem julgando que negro é coisa á toa e sem dono, estão enganados. Não me dou não me troco e nem me vendo.

- É assim que se faz minha filha. E tem mais. Casamento mesmo é necessário ter muito cuidado. Há muito sujeito safado que quando vêem que não conseguem nada prometem e juram casar, abandonando as coitadas logo depois que fazem o que queriam. É uma artimanha dos canalhas. E o mundo está cheinho deles. Pra te falar a verdade às vezes é melhor nem casar. Eu mesma tenho experiência disso. Casei-me mocinha e inexperiente e fui atirada fora quando o sujeito bem quis. Procurei vingar-me.

            - E vingou-se?

            - Que nada. Mulher é bicho frágil. Nem me vinguei, por falta de coragem, e nem me casei mais...

            Dona Zefa não iria contar o que fez e o que poderia acontecer se abusassem de Cristina. Pior ainda. Cristina, negrinha bonita como era, tornava-se difícil escapar. Saía de uma, mais cairia nos braços de outro. Até parecia que a coisa tinha os dias marcados. Em todo caso demonstrava confiar em Cristina para dar-lhe mais resistência. A confiança ajudaria muito.

            Cristina, na escola, chamava atenção. E não era para menos. Com um rostinho daquele e um corpo tão bem modelado, despertava cobiça. Quando chegava e quando saía das aulas sempre tinha alguém a observá-la e a procurar atraí-la. Bem que ela notava isso. E foi ficando envaidecida e o capeta começou a catucá-la lá por dentro, a sentir umas coisas diferentes como se o sangue se agitasse nas veias e o corpo desabrochando como uma flor que espera só mais um pouco para se abrir. Cristina teve vontade de contar tudo a Dona Zefa, mas poderia ser só uma tolice, uma coisa passageira. Mas, que nada, todos os dias o calor e aquela esquisitice iam aumentando. Procurava fugir daquelas agonias, era mesmo que não estar tentando nada. Não havia outra saída senão contar a Dona Zefa o que lhe estava acontecendo sem ela querer.

            - É Cristina, isto acontece com todas as moças em tua idade. Vai indo, indo e essa coisa sai do mesmo jeito que chegou.

            - Mas, mãe, já faz tempo que começou e só faz aumentar. Será que sou diferente das outras moças. Quem sabe, sangue de preta. Acho que alguém que me deseja, está botando olhado. Pode ser? Há tanta gente que olha pra mim.

            - Bem que pode, ma não ligues para isto.

            - Olhe, quando noto que alguém está olhando para mim a coisa aumenta. E por que será!

            - Qualquer um que olhe, ou tem alguém em especial que ferva mais dentro de ti?

            - É, tem um. E já não é tão moço.

            - Preto ou branco?

            - Alvo. E Deus me livre de negro, já sofro de mais por isso.

            - Pois é. Não se deixe envolver que isto passa. São fases na vida das mulheres.

            Cristina terminou os estudos que podia fazer. Agora era ajudar a mãe Zefa ganhar dinheiro e cuidar mais dela. Era a sua vez. Já havia feito demais e notava que estava cansada ou quase. Tomou para si quase todos os serviços dos doces que os meninos vendiam na rua ou encomendavam. Preta bonita continuava a ser visada pelos espertalhões. No entanto, tudo inutilmente. Cristina só namoraria para casar. Não adiantava procurar envolve-la. Certo seria que qualquer deslize seu a levaria á perdição. Já não era mais uma menina e entendia muito bem o que significavam as ligações passageiras ou os casamentos por simples paixão, paixão que se acaba com a tal de lua-de-mel. Seguiria a orientação de mãe Zefa, certa, certíssima de que só lhe encaminharia para o bem. Afinal, não se preocupava com casamento. No seu tempo aconteceria se tivesse de acontecer. Cristina fez prosperar as atividades da casa. E como possuía inclinação para bordado e costura, comprou uma maquina à prestação.

            Tomou as primeiras encomendas, desincumbiu-se satisfatoriamente. Era mais um derivativo rentável. Já não necessitava mais de caçar emprego. O bom mesmo era ter uma profissão liberal, sem dever favor político a ninguém. Mãe Zefa já parecia outra. Com aparência invejável para sua categoria social. Cristina deixara a escola, mas não deixara os livros. O seu desejo era adquirir maiores conhecimentos. Português, geografia, matemática e ciências naturais eram revistos e avançava sempre. Mais tarde, por iniciativa de uma ex-colega, treinou datilografia, pondo a sua disposição a máquina do escritório de seu pai, nos dias de domingo, feriados e dias santos. Fez progresso relativamente rápido. A colega acenava-lhe a possibilidade de inscrever-se em concurso bancário ou de algum órgão oficial.

            Cristina fez-lhe um reparo. Preta como era dificilmente teria vez para nomeação. Quem haveria de querer negra em sua repartição.

            - Nem pense nisso, Cristina. Dependerá somente da classificação. No Brasil não há descriminação de cor.

            - Não há, mas preferem as morenas e as brancas. Preto é preto mesmo, enquanto o mundo for mundo.

            - Olha uma moça com as tuas feições, bonita, simpática e alegre, quem não deseja. Verás.

            Quase um ano depois, foi aberta inscrição para um instituto de previdência. Muito a custo Cristina inscreveu-se. Teria que ir a Capital. Reforçou os estudos dentro da programação. Memória não lhe faltava. E não era pequena sua sorte. Classificada em sexto lugar e logo depois nomeada. Muita gente de boa família ficou na poeira.

            Quando Cristina - a pretinha – chegou aprovada, a cidade não comentava outra coisa. – “A Pretinha Cristina, sem pai, sem mãe, sem parentes, vai ser nomeada para a previdência. Está aí o que é esforço, boa vontade e coragem. Os filhos de família nem foram lá e se fossem não seriam aprovados. A negra Cristina tem raça”.

            Depois de nomeada, começou a ser prestigiada. Convite para clubes e festas e não faltava quem pretendesse casar com o seu ordenado. De recusa em recusa, Cristina chegou onde desejava. Casar com quem não necessitava de seu ordenado.

Seu Teodósio, quarentão, afortunado, com uma boa fazenda e padaria, aventurou-se e falou com a Dona Zefa, fazendo uma sondagem: Casando com ele não precisaria de emprego e se desse errado e ela o abandonasse, não a deixaria sem apoio financeiro. Mas a mãe Zefa nada prometeu. Aprovaria ou não o que a filha pretendesse. Não tomaria qualquer iniciativa, para não sugestiona-la. Que fosse se aproximar da menina, fizesse sua declaração e só então saberia onde estava navegando. E isso era de certa forma difícil, pois Cristina nem adivinhava das intenções.

            Seu Teodosio mordeu a língua. Estava um tanto atordoado. Mas não queria que aquela negrinha bonita caísse nos braços de outro. Toda vida sentia atração pelas negrinhas. E Cristina era um sonho bom. Procurou meio, aproximou-se da menina, pisando macio como se fosse um gato atrás de pegar uma rolinha fogo-pagou. Fez elogio ao seu preparo, a conquista de um bom emprego e a muitas coisas que lhe vieram ao bestunto.

            - Veja seu Teodósio, o Senhor é branco, corado, simpático, quase rico. Como pode querer se casar com uma que nem família tem. Terá coragem de me abraçar ou tomar minha mão e dar passeio comigo. Ou me quer para ficar no borralho, tomando conta da casa e criando filhos. Hoje não tenho presas na vida. Cheguei onde jamais havia de esperar. Tenho meu emprego por concurso, faço costuras nas horas vagas e cuido de mãe Zefa, não lhe deixando faltar o essencial.

            - Sei, sei de tudo isto. E pensei que a menina poderia estar sonhando em se casar. Não a quero para ser minha escrava, mas para esposa, convivendo com igualdade e muito amor. Nada de mandar um no outro. Seria detestável e meus hábitos sempre foram de concordância quando as coisas andam certas. Alias já me conhece bastante. Por ventura quando ia fazer compras em nossa loja, dirigi-lhe algum gracejo ou a qualquer outra jovem. Acostumei-me ao respeito e á decência.

            - E se eu lhe dissesse que não pretendo me casar tão cedo. Ficaria zangada comigo?

            - Nunca. Ficaria apenas sentido e sempre a esperar. Esperar uma pessoa que se ama é viver na esperança. Dói menos do que um desengano. Também não sei se seria capaz de me aceitar. Alias, aconselharia a usar de toda franqueza. Ninguém é obrigado a gostar de alguém, mesmo que este alguém esteja morrendo de amores, como é o meu caso.  

            - Veja bem. Embora não me considere inferior às outras pessoas, sou uma preta e a sociedade faz discriminação. Estou cansada de ouvir. Que faz aquela preta no meio de brancos. Se eu me casasse consigo haveriam de dizer: - Aquele branco só pode ser doido, casar com aquela franga de urubu.

            - Pois olhe, seria o meu maior orgulho e estou certo que todos ficariam com ciúme e inveja. Isto sim. Mas, tenho de me conformar com minha pouca sorte. Perdoe-me ter alimentado essa esperança, vou, agora, viver de saudades. Seja feliz. E como dói a morte de uma grande esperança. De qualquer forma desejo ser um seu amigo e ter a sorte de sempre poder vê-la.

            - Mas não é tanto assim. Sabe, a gente tem que pensar, e quem nestes casos pensa por mim é mãe Zefa. Espere que eu fale com ela. Por hora, mesmo apreciando suas qualidades morais, não poderia dizer nada. E mesmo é bom um pouco de reflexão. E veja, casar-me consigo era coisa quem nem poderia sonhar. Então até breve. Sonhe de lá que eu sonho de cá. Reze para mãe Zefa. Vou rezar também. Eu mesma vou falar com ela. Não lhe diga nada.

            E Cristina aproveitou a hora do jantar para falar de Teodósio.

            - Bem Cristina. O Teodosio é uma pessoa honesta e ótima. Mas, neste particular quem...**. (Incompleto)

            ...Quem deve decidir é você própria, pois a vida de agora em diante é de sua inteira responsabilidade. Fiz o que pude por você. Tirando das tripas e do coração para lhe dar uma vida digna de qualquer moça rica, e, você minha filha correspondeu com todos os meus ensinamentos de uma mulher que também sofreu com uma vida cheia de dificuldades e de abandono.

- Sei mamãe! Tanto sei que ainda não faço nada sem a sua permissão e seus conselhos, mas casamento... Só a senhora tem experiência.

- Casamento filha, não é só amor e nem paixão, é em maior parte conveniência das duas partes. Casar por amor, com um vagabundo e preguiçoso, só por que é bonito e se estar cheio de ilusão, como fora o meu, e deu no que deu. Viver sozinha depois da grande decepção. Ainda bem que apareceu você na minha vida. Veja bem onde vai cair, espere um pouco mais até conhecer o escolhido e principalmente sua família. Não deixe que seu coração fale mais alto, o coração tem razões que a própria razão desconhece!

Cristina deu um tempo. Especulou a vida do Teodósio, foi conhecer a família, que morava em outra cidade e quando amadureceu de fato o seu coração, se decidiu.

O casamento foi uma festança, assim quis seu Teodósio. Mostrar a cidade que Cristina, sua esposa, que de agora em diante, não era mais a Pretinha Cristina e sim Cristina Nóbrega de Carvalho e Albuquerque.

 

*O conto pertence ao livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.

**Dai por diante foi completado e feito certas modificações por Grijalva Maracajá Henriques, seu filho.

 

 

 

 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

TIRADENTES III


TIRADENTES

Aniversário de morte

222 anos

21 de abril de 1792/2014

 

 

PARTE III

 

 

Tancredo Neves e Tiradentes

 

Estamos reproduzindo texto encontrado na revista "O Mensageiro" endereço: www.omensageiro.com.br/artigos/artigo-168.htm. Que cada um tire suas próprias conclusões.

“... Eis por que um que vos parece justo, muitas vezes sofre. É a punição do seu passado”.

O Livro dos Espíritos -  Pergunta 984

No ano de1985, a nação brasileira passou por momentos de grande aflição e, até mesmo, de desespero.

A população, em sua grande maioria, orava conjuntamente para que a dor que lhes afligia fosse extinta. Nunca tantas pessoas se uniram, formando uma grande corrente de energia psíquica para que a doença inesperada não levasse à morte alguém que representava a esperança de um país.

Tudo inútil. A “fé que remove montanhas” não foi capaz de retirar o cálice do resgate da boca de um querido irmão em expiação.

Por que as preces e as correntes vibratórias do povo brasileiro e de outros países não surtiram efeito?

Qual o motivo espiritual da fatalidade que alcançou Tancredo Neves poucas horas antes da posse como Presidente do Brasil?

Se nos basearmos em conceitos dogmáticos das religiões tradicionais, de maneira nenhuma conseguiremos saber o porquê do intenso sofrimento sentido por Tancredo e pelo povo brasileiro. Mais uma vez foi dito que “não devemos discutir os desígnios divinos” e o mistério novamente surgiu, tentando responder o que não tem explicação sem o processo da Lei de Causa e Efeito.

Certamente muitas pessoas que oraram com fervor para a recuperação de Tancredo Neves lograram experimentar o desconsolo e a desesperança, assediadas pela decepção, diante do final dramático e acreditamos que, ainda hoje, muitos se lembram daquele episodio com muita tristeza e com muitas dúvidas.

Allan Kardec ensina: “A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa... Fé inabalável só é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da humanidade”.

Perguntou o mestre lionês à Espiritualidade:

“As vicissitudes da vida são sempre a punição das faltas atuais?”

Responderam os Espíritos:

“Não; já dissemos: são provas impostas por Deus, ou que vós mesmos escolhestes como Espíritos, antes de encarnardes, para expiação das faltas cometidas em outra existência, porque jamais fica impune a infração das leis de Deus e, sobretudo, da lei de justiça. Se não foi punida nesta existência, sê-lo-á necessariamente noutra. Eis por que um, que vos parece justo, muitas vezes sofre. É a punição do seu passado”.

Utilizando-nos do raciocínio que o Consolador nos oferece, busquemos novamente “O Livro dos Espíritos” para o esclarecimento que se faz necessário para, baseados na razão, esclarecermos o assunto em tela.

O Codificador da Doutrina dos Espíritos questiona o mundo extracorpóreo: “Qual a consequência do arrependimento no estado espiritual?”. Esclarecem, então, os Mestres do Além: “Desejar o arrependido uma nova encarnação para se purificar. O Espírito compreende as imperfeições que o privam de ser feliz e por isso aspira a uma nova existência em que possa expiar suas faltas”.

Portanto, existia um determinismo providencial no sentido de o Espírito Tancredo Neves, poder resgatar dívidas intensas contraídas em vida passada.

Os jornais, na época, noticiaram o depoimento de um dos componentes da equipe médica que cuidou do Presidente, que disse o seguinte:

“Aconteceram coisas muito raras com ele. Eu nunca vi leiomioma (tumor benigno) perfurar desse jeito. Sangramentos de sutura em geral ocorrem nos dois primeiros dias do pós-operatório e raramente no oitavo dia. Também nunca vi ocorrer infecção pelo actinomiceto como aconteceu com ele, porque o microrganismo é bastante raro. São coisas que nos deixam com uma sensação muito estranha. Fizemos tudo por Tancredo Neves, durante cerca de um mês nos dedicamos integralmente ao Presidente. Ele tinha à sua cabeceira os maiores especialistas, todos os recursos e equipamentos e toda a carga afetiva da equipe, que teve um grande envolvimento emocional com o tratamento. Fomos muito surpreendidos pelos fatos. Tudo foi feito e ele não respondeu a nada, nada deu certo. A sensação que fica é a de que havia, desde o primeiro dia, um caminho traçado que não pudemos mudar”.

É importante frisar que a Espiritualidade já tinha, há oito meses antes da desencarnação de Tancredo, dado uma pista, a qual, por certo, esclarece a causa desse drama vivido pelo Presidente e por todos os brasileiros.

Em 9 de agosto de 1984, o médium Dictino Álvares, em São Paulo, recebeu psicograficamente a seguinte mensagem:

“Estamos compromissados em significativa tarefa neste país que tem a missão histórica de celeiro espiritual do terceiro milênio e os tempos se aproximam”.

“Equipes espirituais de escol canalizam vibrações e as borrifam na mente daqueles que têm a responsabilidade de dirigir esta terra predestinada”.

“Elo de fraternidade emana do mais alto, impulsionando um inconfidente à pátria do Evangelho”.

“Sentimos que os irmãos desejariam que fôssemos mais objetivos, mas todas as coisas têm uma razão de ser e nem tudo nos é permitido revelar”.

É indiscutível que Tancredo Neves estava profundamente vinculado à Inconfidência Mineira.

1. Tiradentes e Tancredo nasceram em São João Del Rei;

2. Morreram na mesma data (21 de abril);

3. Ambos órfãos de pai na infância:

4. Tancredo residiu em São João Del Rei na Rua Tiradentes n. 224;

5. E estátua de Tiradentes em São João Del Rei, resultou de iniciativa do então deputado estadual Tancredo Neves:

6. A expressão “Nova República”, lançada por Tancredo, foi usado por Tiradentes quando foi acareado com Alvarenga Peixoto, na Fortaleza da Ilha das Cobras;

7. Ambos deram suas próprias vidas pelo ideal de liberdade em nossa pátria: Tiradentes - mártir da Inconfidência, Tancredo - mártir da Nova República.

Por certo o Presidente foi a reencarnação de um personagem da Insurreição Mineira, que regressou à vida física com uma missão de resgate: lutar e dar a sua vida pela libertação de nosso país.

Assim como Tiradentes, ele não conseguiu ver a chama da liberdade acesa em solo brasileiro.

Joaquim José da Silva Xavier morre por enforcamento, tendo sido seu corpo esquartejado e expostos seus restos em vários lugares.

Tancredo de Almeida Neves sofre os cortes no abdômen, possibilitando o “esquartejamento” pelo retalhamento das vísceras em seis cirurgias e no embalsamamento, e o enforcamento progressivo pela traqueotomia e insuficiência respiratória. O corpo do Presidente é também exposto em vários lugares ao público.

Que debito teria o Espírito Tancredo contraído em vida pretérita, que justificasse tamanho sofrimento atual?

Teria sido esse Espírito, reencarnado na época da Inconfidência um obstáculo à concretização do movimento libertador de Tiradentes e demais conjurados?

Poderia esse Espírito ter sido responsável pela derrocada do movimento da Conjuração Mineira e pela posterior punição dos Inconfidentes?

Lembramos que o traidor Joaquim Silvério dos Reis denunciou Tiradentes e demais companheiros ao Visconde de Barbacena, governador da Capitania de Minas Gerais, na data de 15 de Março, sim, 15 de Março de 1789.

Em 15 de Março de 1985, Tancredo é submetido à intervenção cirúrgica de urgência, privando-o de tomar posse na Nova Republica. Sofreu as consequências do esforço, da dedicação e da estoica entrega de si mesmo aos superiores interesses do país, já que a doença o atacara muitos dias antes da data prevista para a posse e a cirurgia tinha sido postergada para depois do compromisso solene perante o Congresso Nacional.

Tancredo se sacrificou, deu a sua própria vida para que todos os brasileiros pudessem respirar novamente a atmosfera da liberdade em nossa pátria.

Que misterioso desígnio esse que o privou de tomar posse! Somente a doutrina da reencarnação pode explicar esse estranho destino de um homem que luta para levar seu povo à Terra Prometida da Paz e da Liberdade e não consegue penetrá-la.

Que enigmática fatalidade impedindo que um ideal de libertação seja acionado pelas próprias mãos de seu maior criador!

Tancredo de Almeida Neves (22 letras).

Joaquim Silvério dos Reis (22 letras).

Que o Divino Mestre ilumine esse Espírito que certamente de vida a dois personagens importantes da História do Brasil e conseguiu em sua última existência resgatar um pesado débito para com o nosso país.

Agradecemos a Jesus por estar nos iluminando, através da doutrina do “Consolador”, sepultando o milenar mistério e deixando cair todos os véus, principalmente o véu do dogmatismo, da ignorância e do preconceito.

A Doutrina Espírita tem um grande recado a dar ao mundo e todos nós que a abraçamos somos impelidos a levar por toda a parte a mensagem consoladora de Jesus.

Bezerra de Menezes, através da abençoada mediunidade de Divaldo Pereira Franco, no encerramento do Congresso Internacional de Espiritismo/1989, realizado em Brasília, disse:

“Tendes (os espíritas) o compromisso de acender, na escuridão que domina o mundo, as estrelas luminiferas do Evangelho de Jesus...”.

“... Jesus é o mesmo hoje como era há 2000 anos atrás. Restaurado na palavra consoladora da Doutrina Espírita, Ele nos conclama à união dos corações para a unificação do ideal da verdade”.

Que a Paz do Doce e Amorável Jesus penetre no Espírito Tancredo Neves e, também, alcance a todos os que vivem nesse país, destinado a ser o celeiro espiritual do 3º. Milênio.

Fonte: O Mensageiro

 


 

 

*Os textos foram simplesmente copiados dos sites citados, e excluídos dados que eram repetidos. Assim o fiz, para que os leitores tenham outra visão da vida e morte de “Quincas Xavier”, em várias deliberações intelectuais de leituras.