quinta-feira, 28 de novembro de 2013

OPINIÃO & NOTÍCIAS - GATO DO MATO



UM OUTRO GATO-DO-MATO*


Nova espécie de felino é descoberta no Brasil

A nova espécie foi batizada de Leopardus guttulus e tem o tamanho de um gato doméstico
Um novo felino foi descoberto por cientistas no sul do Brasil. Os resultados da pesquisa foram publicados na última quarta-feira, 27, na revista Current Biology. A nova espécie de gato-do-mato foi identificada através de uma diferenciação genética do que antes era considerado o único felino desse tipo  no Brasil, o Leopardus tigrinus.
O tigrinus vive no Nordeste e o que se descobriu é que, apesar da semelhança física, não há traços de hibridação no gato-do-mato encontrado na região Sul. A nova espécie foi batizada de Leopardus guttulus e tem o tamanho de um gato doméstico, com a pelagem de uma onça pintada. As poucas diferenças entre a nova espécie e o Leopardus tigrinus estão no pelo um pouco mais escuro e nas manchas maiores. A ideia é que um mesmo ancestral tenha se desenvolvido em áreas com condições diferentes.
A análise genética do estudo foi feita pela pesquisadora Tatiane Trigo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e sua equipe. Segundo ela, a continuação de estudos semelhantes é importante, e as  descobertas não imaginadas. Até agora, a espécie do Sul tem sido muito mais estudada que a do Nordeste.

DESCOBERTA RARA

A descoberta de novos felinos não é um fenômeno comum. A última ocorreu há mais de cinco anos, quando o leopardo-nebuloso das ilhas de Bornéu (Indonésia, Malásia e Brunei) e Sumatra (Indonésia) foi identificado.
O estudo também traz uma descoberta sobre o cruzamento entre a nova espécie Leopardus guttulus e o Leopardus geoffroyi, conhecido como gato-do-mato grande. Os estudiosos não sabem a causa da hibridação. Eles acreditam que as duas espécies não saibam
se diferenciar, ou então o desmatamento e a modificação dos habitats tenham influenciado o comportamento dos felinos.

Fontes: Público-Nova espécie de gato selvagem identificada no Brasil, Veja-Cientistas brasileiros descobrem nova espécie de gato selvagem.

Nota:
Chamo a atenção de todos da família caririzeira dos “Maracajás”, para uma nova raça de gatos. Do jeito que o mundo está se desenvolvendo e evoluindo, pensava eu que só havia Genérico em remédios, mas aí está à prova: um gato maracajá, Genérico dos Pampas, graças a Deus que não é no nosso Cariri Paraibano.

GM-Henriques.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ZEZITO






ZEZITO*
João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)

Menino de beira de rua, ele e dona Martinha, a tia que o criara, era uma criaturazinha excelente. Poucas pessoas de sua idade teriam tão bons costumes. Conformado com a pobreza, apenas com duas roupinhas para trocar, não reclamava não se maldizia. Comia calado o que lhe desse e não punhas os pés na rua sem falar com a titia e dizer-lhe aonde ia. Voltava às horas certas, não perdia as aulas, nem chegava qualquer reclamação a seu respeito. Por isto a tia o adorava e repartia carinhosamente o pão e a farinha. Nunca dizia que tinha fome e se a comida fosse escassa, calado ficava. Havia, no entanto, uma particularidade em sua vida. Era louco por passarinhos. Sonhava dia e noite em ter pelo menos um papa-capim ou um golado na parede da salinha ou tomando sol na frente da casa. Tinha inveja dos outros meninos que amanhecia o dia mudando a água e a comida de seus pássaros e pondo-os para tomar sol. Era o seu maior sonho de menino sem nada. Seu único brinquedo era um carretel de linha Urso, vazio com um cordão enfiado para fazê-lo rodar. Ia todos os dias dar uma olhada nos passarinhos dos amigos, pregava os olhos nas gaiolas, ficava como se estivesse tonto ou virado o canto repetido do Golado e do papa-capim. Quem lhe dera tanta felicidade.
Sem tostão para a gaiola ou para um passarinho de feira. Zezito chegava de volta sempre sem o seu papa-capim. Se ao menos soubesse fazer uma gaiolinha de camará e palitos de folha de coqueiro, já seria meio caminho andado. Mas nem isto. De tanto meditar, pareceu-lhe encontrar uma saída. A tia fabricaria cocadas e ele iria vendê-las nas ruas, ganhando alguma coisa. Mas onde encontrar o dinheiro para o coco e a rapadura. A ideia enguiçou aí. Mas Zezito não desanimou, foi à bodega de seu Ambrósio e contou o que desejava. Comprar fiado dois cocos e duas rapaduras. Logo que a tia fizesse as cocadas e ele as vendesse iria direto parar. Seu Ambrósio conhecia Zezito. Sabia que era um garoto direito. Serio. E forneceu as mercadorias, prometendo que se andasse corretamente, poderia ir buscar mais. E a venda de cocadas foi aumentando. Zezito já comprava a dinheiro. No entanto, todas às vezes seu Ambrósio repetia: - Leve, paga depois!
Zezito um dia confessou a seu Ambrósio, seu maior desejo. Comprar um papa-capim engaiolado. Gostava demais de passarinhos e todos os dias ia ver os que seus amigos criavam. Seu Ambrósio ficou calado. E no dia seguinte, quando Zezito fora buscar coco e rapadura, lá estava uma gaiolinha na porta com um bonito papa-capim. Zezito ficou estatelado.
- Ah! O senhor também gosta de pássaros?
- Muito! E agora poderás ver este todos os dias. Canta que é um encanto.
- Que bom!
- Gostastes?
- Muito!
- Pois olha este aí; é teu papa-capim. Comprei para te oferecer. E leva também o saquinho de alpiste. Quando puder comprarás o teu Golado.
Zezito agradeceu com duas lágrimas pendendo-lhe dos olhos agradecidos.
- Nunca tive uma alegria igual, seu Ambrósio. Minha tia vai ficar tão alegre. Já não havia comparado um para mim porque não podia. Mas tinha tanta vontade de lhe dar uma gaiolinha com um passarinho. Estava juntando o lucro das cocadas para comprar.
Zezito cresceu. Estava um rapazinho; e as paredes da sala já estavam povoadas de gaiolas. Pela manhã mudava água, reabastecia os comedouros e botava para tomar sol. E ficava ali embevecido ouvindo-os cantar. Aquilo era o seu pequeno mundo. No meio da passarada, lá estava o vem-vem, avisando quando ia chegar alguém. Um xexéu-de-bananeira imitava no seu canto doce e fino, o canto de outros pássaros.
Zezito foi à casa de seu Ambrósio, fazer suas compras. Sua freguesia de cocadas exigia mais e mais. A tia desdobrava-se no fabrico. Já fabricavam também uns sequilhos fininhos e alvos que davam gosto. Tudo era pouco para a freguesia. O cestinho bem asseado e as guloseimas cobertas com um pano mais alvo do que os sequilhos, chamavam atenção. Era paladar para os mais escrupulosos. As cocadas e sequilhos de dona Martinha já criaram fama.
- Olha Zezito, quero fazer um negócio contigo. Vires trabalhar comigo. Aqui venderás os teus doces.
 - Mas tenho a freguesia para entrega.
- Mandarás um garoto, ganhando um pouco. Vende cá e lá. Dinheiro para tua tia. Ganhará aqui o bastante para vestir, comer e alimentar teus passarinhos. Sou um homem só. Viúvo, e, o único filho está casado e não depende de mim. E quem sabe se mais hoje, mais amanhã não poderemos morar todos juntos. Seria o mais certo, Zezito. Que tal.
- Ora, seu Ambrósio, não merecemos tanto. Minha tia é boa cozinheira e doceira, mas já anda pela casa dos trinta. Não se casou e nem fala nisto. Talvez só viéssemos dar-lhe trabalho. Os costumes do senhor não são os mesmos nossos.
- Aliás, Zezito, não sei por que tua tia não se casou. É uma morena bonitona e simpática.
- Quem quer moça pobre, seu Ambrósio. Não possui nem o casebre onde mora. Não tem roupas boas e só um sapato para os domingos, missas e festas. Quem iria querer uma criatura assim. Ela também não iria querer qualquer bicho que lhe aparecesse.
- Pois olha, fala com ela se estás mesmo disposto a vir trabalhar comigo. Nossa cara case a todos com sobra.
- Mas o senhor é solteiro, ou, viúvo e talvez venham a falar que se juntaram.
- Nada disto. Temos você para fazer companhia.
- Mas sabe como é a língua do povo.
-Tem-se nada a ver a língua do povo. Quem já foi ajudá-la ou ampara-la. Que eu saiba ninguém.
- Isto é verdade.
- Pois é. Fala com ela. Tomará conta da casa, fará suas cocadas e sequilhos e não nos faltará nada. E quem sabe, Zezito, se amanhã não serás o dono deste boteco. Tu e tua tia. O mudo dá muitas voltas. E uma delas é o caminho certo.
Zezito explicou a tia à proposta de seu Ambrósio. Parecia-lhe boa. Mas quem mandava era ela.
- Mas, meu filho, não tenho nem roupa para chegar lá como gente. A aparência das pessoas é tudo. Leva-se mais em conta o aspecto do que o que esta lá dentro.
- Que nada. Já falei tudo com seu Ambrósio. Ele quer é assim mesmo. Deseja melhorar nossa vida. É uma pessoa tão simples.
Zezito pensava, por adiantamento, o que poderia acontecer juntarem-se os dois, casados ou não. E olhou para a tia examinando-lhe a embalagem. Era atraente, mesmo sem roupas novas, sem pó e sem perfume. E seria até bom que acontecesse para ela não envelhecer solteirona sem conhecer as coisas boas da vida.
 Ave Maria, parece que estou pecando e fazendo mau juízo, mas é isto mesmo. Sempre pensei em minha tia, naquele casebre sem aconchego de ninguém. Aquilo é menos de meia vida. Uma criatura tão boa e tão sem sorte. Quem ainda deu-lhe um pouco de alento foi aquela minha ideia de fazer cocadas para me dar dinheiro para comprar o papa-capim. Mas, talvez agora venha a ter um pouco de felicidade. Seu Ambrósio parece que está de olho nela. Deus queira que sim. Tia Martinha bem vestida, de vestido e blusa nova, bem penteada e pó de arroz, da pra se ver e desejar.
Zezito convenceu a tia. Sim, não era possível permanecer naquele desconforto, esquecida como um objeto qualquer em desuso.
- Arrume-se, tia e vamos embora logo amanhã. Mas precisa mudar os costumes e melhorar de aparência. Vá à vizinha, mande aparar o cabelo. Escove-se com um banho geral. Apare todos os excessos. Vista sua melhor roupa. Não use mais essa banha no cabelo. Vou buscar duas coisas para lhe dar.
Dentro de alguns minutos Zezito voltava com uma caixinha de pó de arroz e um vidrinho de loção. Baratos, mas daria a tia um cheiro de coisa limpa e saudável.
- Mas Zezito, para que isto, menino.
- Acho que toda mulher gosta destas coisas.
Zezito queira que a tia Martinha causasse uma impressão agradável. E no outro dia, quando estava preparada para sair, nem parecia à mesma. Mais nova mais atraente e apetitosa.
Não tinham o que levar além das escasso peças de roupa e pouca coisa de uso pessoal.
Ambrósio esforçou-se para não denunciar-se. Mas na realidade, era aquela mulher simples e acanhada, o que estava faltando dentro de casa e em sua vida.
Entregou-lhe a direção da casa, mas enguiçou no resto. Não sabia como atraí-la. Martinha lhe parecia esquiva e indiferente às suas meio veladas investidas. Até que certos dias estavam os dois sozinhos no silencio do casarão.
Ambrósio foi se chegando macio e cuidadoso como um gasto que se prepara para dar o salto.
- Ô Martinha, por que não te casastes? É raro uma moça com esse teu aspecto tão agradável, escapar das unhas dos gaviões.
- Ora, seu Marcolino, e quem havia de me querer. Não tinha nada para dar.
- Ora se tem. É porque essa gente é cega.
No dia seguinte nova investida e seu Marcolino percebeu que Martinha era inexperiente ou se fazia de inocente. O meio seria usar táticas mais avançadas. Dar umas diretas. Passar-lhe a mão pelas costas, pelos braços, pelo rosto. Assanha-la, enfim.
- Que é isto, seu Marcolino. Onde é que o senhor está querendo chegar?
E seu Marcolino meu gago, catando as palavras ao meio, aproximou-se mais e passou-lhe a mão pela cintura e foi descendo um pouco.
- Ai, seu Marcolino, o menino pode chegar por aí...
- Chega nada. Foi longe e mandei para demorar.
- Mas, eu sou ainda uma moça. Nunca fiz essa cosas. Nem sei como é, e, além disso, podem acontecer algumas cosa grave.
E seu Marcolino foi levando-a já sem ela perceber mais nada, para o lugar onde queria. Dai por diante, o Zezito tinha quer fazer mandado todos os dias. E a Martinha muitas vezes era quem mandava Zezito andar. Dar umas voltas pela cidade ou pelos campos a apanhar passarinho. Dera um alçapão novo para pegar papa-capim ou coleira, enquanto ela desarmava o alçapão de seu Marcolino. E sempre foram de sorte. Não apareceu novidade.
Seu Marcolino teve que tomar algumas gemadas, mas a fase perigosa passou. Alguns meses depois já era difícil reconhecer dona Martinha. Poucas mulheres do bairro onde morava, andavam tão correta no vestir e apresentava uma fisionomia mais agradável. Dona Martinha das cocadas só tinha mesmo uma coisa a menos, que o amor destruíra. Seu Marcolino tinha receio de perdê-la. Depois do que acontecera, sabia lá se a cabeça da Martinha, livre como estava e conhecendo o que era bom na vida, não o deixaria por outro. Nesta dúvida. Resolveu prendê-la, tornar mais difícil a separação. Nunca se sabia o que andava dentro dos outros e especialmente uma mulher boa daquela. Mal sabia que Martinha o amava e era quem tinha medo de perdê-lo. Vivia, por isso, cautelosa e procurando agradá-lo da mesa à cama. E, na incerteza, propôs-lhe casamento. Era melhor regularizar aquela situação sigilosa e darem-se os braços para uma vida social. aberta.
O padre Liberato casou-os. E foi aí que Marcolino convenceu-se mesmo de que estava com a razão, pois no momento de benzer as alianças, o espertalhão atirou-lhe um olhar cobiçoso de quem queria fazer ali mesmo um convite indecoroso. Em casa falou com Martinha.
- Olha, minha nega, não queiras negócio com aquele padreca. Quase te engole com os olhos na igreja.
- Ah! Já o conheço demais. Quando ia me confessar, ficava perguntando coisas...
- O que, por exemplo?
- Por que não havia me casado, o que era o destino de todas as mulheres bonitas. Deus havia feito Eva para dar de presente a Adão. Oferece-me zeladoria na igreja. Ficaria santificada. Mas eu dizia-lhe que não. Tinha um sobrinho para criar e não sobrava tempo.
- Então, queres morrer solteirona. Isso não agrada a Nosso Senhor, que gerou a mulher para doá-la aos homens.
- Nunca pensei em casamento. Não dá certo pra muita gente.
- Tolice, criatura, tolice. Farei teu casamento de graça. Mereces muito mais do que isso.
- Esquecia-se até de me dar a penitencia e concluía:
- Vai e pensa bem no que te aconselho. Não te esqueças de voltar à confissão...
- É mesmo um saláfra. Não voltes mais lá.
- Eu, nem morta.

*O conto pertence ao livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Zé Limeira



ZÉ LIMEIRA



Orlando Tejo*

O meu nome é Zé Limeira
De Lima, Limão, Limansa
As estradas de São Bento
Bezerro de Vaca Mansa
Valha-me, Nossa Senhora
Ai que eu me lembrei agora:
Tão bombardeando a França


Ninguém faça pontaria
Onde o chumbo não alcança
E vou comprá quatro livro
Prá estudá leiturança
Bem que meu pai me dizia:
Jesus , José e Maria,
São João das Orelha mansa


Ainda não tinha visto
Beleza que nem a sua,
De cipó se faz balaio
A beleza continua
Sete-Estrelo, três Maria
Mãe do mato pai da lua


A beleza continua
De cipó se faz balaio
Padre-Nosso, Ave-Maria,
Me pegue senão eu caio
Tá desgraçado o vivente
Que não reza o mês de maio


Sei quando Jesus nasceu,
Num dia de quinta-feira,
Eu fui uma testemunha
Sentado na cabeceira
São José chegou com um facho
De miolo de aroeira
Um dia o Reis Salamão
Dormiu de noite e de dia,
Convidou Napoleão
Pra cantá pilogamia
Viva a Princesa Isabé
Que já morô em Sumé
No tempo da monarquia


Zé Limeira quando canta
Estremece o Cariri
As estrêla trinca os dente
Leão chupa abacaxi
Com trinta dias depois
Estoura a guerra civí

ZÉ LIMEIRA

*Extraído do livro de Orlando de Meira Tejo – Zé Limeira, o poeta do absurdo.







Orlando Tejo rodeado por dois violeiros