quinta-feira, 30 de maio de 2013





DIÁLOGO SOBRE A MORTE*

- Mestre, - pergunta o discípulo – qual a maior certeza da vida?
- A morte. Ninguém fica para semente.
- Terrível pensar que um dia a Vida se extinguirá em nós!...
- A vida é eterna. A morte é apenas a outra face de uma mesma moeda.
- Deve ser muito triste partir...
- Considere a felicidade de regressar. Na espiritualidade não há as limitações físicas.
- Tenho medo.
- Naturalmente. Há o instinto de conservação e raros conseguem desapegar-se das situações humanas...
- Principalmente da família. Apavora-me a perspectiva de deixar os entes queridos...
- A morte não desfaz as ligações afetivas.
- Mas nos separa...
-... Transitoriamente. Nossos amados também morrerão.
- Tornarei a vê-los?
- Fatalmente. O amor é à força de gravidade das almas. Os que se amam legitimamente permanecem ligados para sempre.
- Não me conformo com a perspectiva de perder tudo.
- A Virtude e a Sabedoria são patrimônios inalienáveis. Sustentam nossa felicidade onde estivermos.
- Existe uma fórmula para definir quando chegará nossa hora?
- A Morte assemelha-se a um ladrão. Ninguém sabe quando virá.
- Como preparar-me?
- Vivendo cada dia como se fosse o último.
- Qual a orientação fundamental? Evitar o mal?
- Muito mais que isso: praticar o bem!
- Alguma prioridade? A família?...
-... Universal. Somos todos irmãos!...
A existência humana é apenas um momento na vida Eterna.
O grande problema é que os homens pretendem fazer desse momento uma eternidade, apegando-se às paixões e interesses do Mundo, distraídos das finalidades de aprendizado e renovação da jornada terrestre.
         Por isso desajustam-se diante da Morte.

*Extraído do livro Endereço Certo de Richard Simonetti.



sexta-feira, 17 de maio de 2013





CONVITE


Convidamos todos os cavaleiros do Nordeste a participar da 2ª. CAVALGADA DO AGRICULTOR, realizada na cidade de Lagoa Seca Paraíba, no dia 28 de julho de 2013. 




quarta-feira, 15 de maio de 2013





TRANQUILINO*
João Henriques da Silva
(In Memoriam 20/09/1901 – 16/04/2003)

            Tranquilino chegou a casa pela madrugada, enfiou a chave na fechadura devagarzinho para não fazer ruído e acordar a mulher. Sabia que a patroa era capaz de torcer-lhe o pescoço pela desobediência.
            Ele magrinho, uma figurinha de nada, não tinha como enfrentar fisicamente a onça que tinha em casa, mas naquele dia aventurou-se, por insistência dos amigos.
            Era uma situação difícil que lhe havia criado, uma verdadeira tentação do capeta. Mas não havia mais jeito. Procurava enxergar em plena escuridão e rezava pra que dona Mangerona estivesse ferrada no sono profundo.
No entanto, foi infeliz, tropeçou numa cadeira, derrubou-a e foi aquele barulhão no silêncio da madrugada. Ficou parado, de ouvidos abertos, rondando o ambiente. Não ouviu nada. Tranquilizou-se um pouco, mas de repente aconteceu a desgraça. A luz acendeu-se e Tranquilino foi surpreendido no meio da sala, aparvalhado. Rodou a cabeça devagarinho, com espanto nos olhos e assustado.
- Sim senhor, seu Tranquilino. Boa hora de chegar a casa. E ainda por cima de tudo, derrubando cadeiras, perturbando o sono dos outros. Que acha. Vosmecê está esquecido de que eu era o teu amorzinho, a tua queridinha e que eras somente meu?
Engraçado. Naquele tempo não me parecias ter tão fraca memória. Anda move-te daí. Vai tomar um banho com sabão de lavadeira, tirar o cheiro da farra e depois me apareças!
Fiquei só, como não tivesse dono. Perdei o sono, preocupei-me, rezei por ti, fiz o que uma esposa fiel pode fazer para resguardar o seu bem amado. E me chegas a estas horas, palitó no ombro, gravata sem nó, cheirando a bebidas espirituosas.
Mas não te preocupe, meu amorzinho. Tudo vai correr bem. Afinal de contas és o dono da casa, não achas? E a culpa é da tua mulherzinha aquela mesma que casou contigo por amor.
- Mangerona, deixa que te explique. As coisas acontecem. Não fui eu, foram os amigos que me prenderam para um bate-papo.
- Onde?
- No clube. Sabes como é. Conversa vai, conversa vem e o tempo passa sem a gente perceber. Imagina que saí só e ainda os deixei-os lá. Saí à força, só para correr para casa. Entendes?
- Vem cá.
Tranquilino aproximou-se cauteloso, com o coração do tamanho de uma moedinha de centavo.
Mangerona cheirou-lhe a roupa, o pescoço e não teve dúvida. Havia cheiro de outras mulheres. Em casa não havia daqueles perfumes, e nem era cheiro próprio do Tranquilino.
- Muito bem. Donde saiu esse perfume de pó de arroz vagabundo e esse cheirinho de loção ordinária?
- Ora, mulher. Houve dança no clube. Dancei algumas partes, mas sem qualquer intenção. Tu não me saias do pensamento, Mangerona.
- Não me adianta estar em teus pensamentos e tu agarrado com outra, seu sem vergonha. Vou tirar isto a limpo. Esta tua conversa está me parecendo furada, ouvistes?
Tranquilino escorregou-se para o banho, antes de mais perguntas indiscretas. Saiu do banheiro, como entrara em casa. Bem de mansinho. Entrou para o quarto e já encontrou Mangerona deitada, esperando-o. Tentou dormir para um lado, fechando os olhos a força, quando Mangerona chamou-o. Queria tirar a prova dos nove fora. Tranquilino fracassou. A farra e o estado emocional o deixaram em frangalhos. Tentou reagir, compreendendo a situação, mas foi tudo inútil.
- Levanta-te daí. Vai para o sofá ou para onde quiseres. Comigo não se deita um desmilinguido de tua qualidade. Eu bem sabia que ias negar fogo. Passastes à noite agarrado com tuas parceiras e chegas aqui mentindo. Não me procures mais. Queres me misturar com essas quengas da ponta da rua. Estás muito enganado.
- Juro por Deus, Mangerona, que nada aconteceu do que estás pensando.
- Pois sim, saberemos depois...
Logo depois do café, Mangerona saiu. Não disse onde pretendia ir. Informou-se. Não tinha havido festa no clube. A festa tinha sido na pensão de dona Fidoca. Pensão de mulheres. Foi lá onde estivera Tranquilino. Não havia dúvida.
O traçado Dalí por diante seria outro. Não havia se casado pra ser arrumadeira com um marido dançando com quenga e deitando-se com elas...
Calada estava calada ficou; esperando perdão ou esquecimento total. Tranquilino tranqüilizou-se. Era só desabafo, conversa fiada.
Mal sabia que a panela da vingança estava fervendo a todo vapor. Estava pertinho do almoço.
- Vem cá, Tranquilino. Vamos para o quarto. Tira a roupa, deita-te aí.
Preparou-se e deitou-se também. Tranquilino suou frio e terminou desmoralizado.
- De que diabo serviu me casar com um Zé Mingau da tua qualidade. É por isso que muitas mulheres traem os maridos. Se continuares assim. Vou me virar.
- O que é isso Mangerona? Uma mulher não deve abrir a boca para dizer semelhante disparate.
- Disparates é deixares uma mulher nova, asseada, até bonita como eu para ir se refocilar nos cabarés. E tu foste. Sei de tudo. Daqui por diante vais ver a terra tremer nos teus pés. É bom te avisar. Contarei tudo a papai se não deres conta do recado. E vou pedir para fazer uma operação em tu, uma vez que não serve para nada, dá-se fim logo a essa molambeira. Conhece papai, não é? Nem é bom imaginar. Faca cega ou Queixada de burro. Vais ver. Saia novamente à noite, chegue fora de hora e verás como se fala fino. Conheces muito bem minha raça.
- Mas mulher, não fiz nada de mal. Foi um acaso, insistência de amigos.
- Ou de amigas, seboso. Espero-te à noite. Quero ver se vais cumprir com os seus deveres. Não agüento mais. O prazo terminará improrrogavelmente à meia noite de hoje. Amanhã será tarde.
Tranquilino não via como dar conta do recado. A noite de farra pesada deixara-o na lona. E nem era isso. O pior era a insegurança em que se encontrava diante daquela pressão e do estado emocional.
O velho Madeira era afamado. Ele e a raça toda. Não fazia diretamente, mas, era useiro e vezeiro em mandar fazer. Não tinha que se meter com uma família violenta, e manhosa daquela. Sabia que o ciúme envenena qualquer um. E a dona Mangerona não era flor que se cheirasse. Bastaria uma pequena leviandade para entornar o caldo.
E tomou uma decisão. Preparou-se para fugir, caso viesse a falhar, como era provável. Já era um fraco e naquele arrocho, era quase certo.
Mas o diabo é Mangerona andava de olho nele e pressentiu certos preparativos. Percebera que havia trocado de roupa e havia apanhado dinheiro na gaveta da cômoda. Uma figurinha desmilinguida daquela, dominaria facilmente.
Tranquilino tomava garapa de açúcar para acalmar jos nervos e se exercitava psicologicamente. Mas a coisa não regia a ponto de inspirar confiança. Abriu a porta e saiu às pressas, sem que a mulher pressentisse.
Foi direto para a casa do dr. Raíz. Precisava urgentemente de revigorante. Pagava o quanto cobrasse que fosse eficaz. O doutor preparou-lhe um chá forte e deu-lhe para beber.
- Deste frasquinho aqui, beba uns quinze minutos antes do aperto. Isto é mesmo que um guindaste do cais do porto.
Tranquilino voltou exultante, com o frasquinho no bolso traseiro. Em casa, na hora prevista, bebeu o conteúdo. Procurou a mulher, fez-lhe alguns carinhos e sentiu-se preparado para qualquer eventualidade.
Inesperadamente, dona Mangerona, aborreceu-se com o alisado de Tranquilino e sentenciou:
- Não quero mais nada contigo hoje. Vai-te pra lá. Deixa-me em paz.
- Mas, Mangerona, minha nega como pode ser isso. Ora queres ora não queres. Não te entendo.
- Quem determina sou eu. Andastes pela rua. Certamente tomastes alguma porcaria. Perdestes o tempo. Quero a coisa ao natural. Conheço essa tua pressa. Sai de perto de mim.
Tudo perdido pensou Tranquilino. Ficou-se lá para um canto, pensando na vida. Não era medo da mulher, era receio de um encontro com o pai dela, bicho perverso que não ia mais mandava friamente.
Havia se casado por amor. Quase rico não interessava o dinheiro do sogro. E agora estava naquela travessia terrível. Se pelo menos fosse um homem de coragem. Mas não era. O medo o dominava inteiramente.
A mulher chama-o para o jantar. Tranquilino não se mexeu. Olhou para ela como se pede uma esmola. E foi ai que dona Mangerona teve pena dele.
- Porque não queres vir jantar, Tranquilino?
- Estou sem apetite, disse desconsolado. Não queres mais saber de mim e assim não vale apena viver. Fiz tudo pra ti agradar e me humilhastes. Só tenho uma saída. Vou me suicidar ou terei que cometer uma violência. Levou-te a força para onde eu quiser. E vou te dizer mais. É agora mesmo. Entra, vai para o quarto. Em casa que mulher é quem manda, homem não mora. Levantou-s e apontou o dedo indicador, a porta da alcova. Mangerona obedeceu como se não fosse mais ela.
- Bobagem, meu amorzinho. O que tu queres e que tua mulherzinha não quer?
E o jantar esfriou.
- Espere que vou esquentar, meu bem.
E foi assim, em circunstancias tais, que veio a luz do dia, o primeiro filho do casal, nutrido como dona Mangerona e sem nenhuma semelhança com o pai.
- Estás vendo aí, Tranquilino, deve ter a cara do sujeito que te vendeu a droga para beber. Não foi propriamente tu o autor. Zela-te para fazer alguma coisa tu mesmo.
Mas, ao mesmo tempo deixaram à porta de Tranquilino, pela madrugada, um garotinho de poucos dias que era o seu retrato. Mirinzinho, olhos castanhos e miúdos, boca pequena, orelhas iguais a dele. O nariz então era a marca registrada dele.
 Dona Mangerona viu-o primeiro. Tomou-o nos braços e correu para Tranquilino. - Que coisa estranha. Como parece contigo, Tranquilino?
- Vamos colocar noutra porta, Mangerona.
- Quem cria um cria dois. Não tem culpa de ter nascido. E mesmo faço questão de ter em casa qualquer coisa feita por ti. Vai-se saber depois que é a mãe. Em cidade pequena tudo se sabe.
Na verdade, Tranquilino já sabia. Havia sido ele quem pedira para deixá-lo em sua casa, mas negara de pés juntos. 
- Meu nada, mulher. Sempre te fui fiel. Essas coisas sempre acontecem. Não podem criar e entregam a pessoas generosas e amigas com és.
- Não te preocupes. Temo apenas uma coisa, isto é, que papai note a semelhança contigo. Sabes que ele é um puritano e não tolera traições conjugais.
- Não é meu, não é meu, não é meu, mas por amor de nosso filho legítimo, não digas a ninguém que o Aquilininho se parece comigo. Evita complicações.
- Oi, sabes o nome do menino? Estás muito adiantado. Confessa logo tua tramóia. Bastará se teu filho para aumentar o bem que terei pelo coitadinho que a mãe desprezou.
- Nada, mulher, foi o nome que me veio de repente. Mas podes mudar.
- Se é teu mesmo, foi gerado por acaso e ele não tem culpa.
- Estás louca, Mangerona.
- Não é apenas para ter recordação tua como homem. Quero prestar-te uma homenagem.
- Vou te mostra quem é Tranquilino. Da próxima vez será parto duplo. Prepara-te.
- Vou ficar esperando pelo milagre... Sem garrafada.

*O conto faz parte do livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.















João Henriques da Silva
CHICO CROATÁ*

Moço forte, um desadorado no trabalho, mas inconstante e um vira mundo. Parecia que o sangue só lhe andava fervendo como a panela de Pedro Malazarte.
Poderiam gostar dele ou não, só vivia de leu em leu, de fazenda em fazenda, sempre alegre, mostrando a dentadura perfeita e alva.
            - Já me vou, patrão. A vida da gente é muita curta para se estar muito tempo num lugar só. Quando os pés me pedem para andar, não tenho o que fazer senão dar no pé, sem voltar onde já estive. Conhecer mais gente, mais lugares, trabalhos diferentes, até que um dia venha a me aquietar. Às vezes me chamam de doido, mas não há nada disso. Nasci assim mesmo, um andarilho. Fico agitado quando demoro demais em qualquer parte. Perco o sono, a vontade de comer, a cabeça esquenta e os pés começam a ginetear. É uma coisa muito esquisita, mas não posso me controlar.
            - Toma um remédio Croatá. Uma garrafada que acalme esses teus nervos. Desta forma nunca farás nada. Será sempre um itinerante, trabalhando apenas para comer. Quando ficares velho, estarás perdido e abandonado. Este mundo velho de hoje, Croatá, não tem pena de ninguém. Está todo mundo seguindo o exemplo dos padres. Ninguém dá nada a ninguém. Padre cobra até a missa de corpo presente, mesmo que o defunto não tenha deixado nem saudade. Se não tem dinheiro, o diabo que tome conta dele. Fica por aí, Croatá, baixa esse fogo de viver correndo terra. Faz um tratamento.
            - Tratamento de que! Sou forte como um touro marroá, não sinto dores, não tenho preguiça, não me canso. Remédio para que, então. É assim mesmo. Uns gostam  de estar parados, dormindo ou cochilando, outros são impacientes, agitados como sou. Além disto, não tenho vícios. Não fumo, não bebo, não jogo. Pra que remédio. Não parar é simplesmente uma forma de viver, que Deus me deu.
            - Mas vem cá, Croatá, nunca encontras em que te apegar uma coisa qualquer que te corte a vontade de sair, andar, mudar de ambiente?
            - Não, nunca. Para mim as pessoas são mais ou menos iguais, me tratam da mesma forma, me pagam com o mesmo dinheiro.
            - Mas nem as mulheres te prendeu, Croatá?
            - E sabe a senhora, D. Maria Arruda, nem pensei muito ainda. Também elas não se importam comigo. Parece que nem me vêem.
            - Quem deve procurar a mulher é o homem, sem bobação. Olha pra elas, chamas-lhe atenção, conversa com elas. Aposto que, quando gostares de uma, deixarás este hábito de andarilho.
            - Ora, pelo que observo, mulher dá muito trabalho, especialmente quando está para ter filhos. Além disso, dá até pena vê-las deformadas, com enjôos e assustadas. O melhor mesmo é estar longe delas, e livre de tantas obrigações que o casamento impõe.
            - Talvez em parte tenhas razão, mas Deus fez o homem para as mulheres. É uma lei natural. Nem entendo como se pode viver sem gostar de mulheres.
            - Não é não gostar. É porque considero mulher um animalzinho perigoso. Existem umas que casam com um e vão gostar de outros. E no final de contas quem passa pela vergonha e pela humilhação é o marido. Não diz que a mulher é uma quenga não, o marido é que é o corno, o safado, o desmoralizado. É uma  lei do cão. E se o marido enganado mata a mulher torna-se, na boca dos justos, um bandido.
            - Matar uma mulher, que absurdo. Na mulher “não se bate nem com uma flor”... É sempre assim. Por isto é melhor mesmo fazer como eu faço não me meter com elas.
            - Ora, seu Chico Croatá, mulheres desonestas, que traem os maridos são poucas e por exceção. Há tantas mulheres honestas. E além do mais, quase sempre os maridos são os culpados. Deixam suas mulheres em casa, no borralho e vão se ter com outras a custa de bom dinheiro ou ricos presentes. Uns chegam a sacrificar a família. E o que essas mulheres querem dos bestas é dinheiro, não tem amor a ninguém. E como as legítimas se vêem abandonadas e traídas, procuram se vingar, às vezes. A maioria fica em casa cuidando honestamente dos filhos e humilhadas. E se reclamam, apanham. Logo, a culpa quase sempre não é das mulheres. Algumas se casam com A ou B, por insistência do sujeito, sem lhe ter verdadeiro amor e, insatisfeitas, procuram outro que complete sua vida. Tudo acontece. Afinal de contas, a culpa dos desajustamentos é sempre dos homens. E somente eles, por safados que sejam não são as vítimas. E muitas quengas que convivem com eles, os descarados, ainda dizem que os homens procuram outras porque as esposas não têm atrativos, são umas desleixadas. Pois é, seu Chico Croatá, a mulher é quem corre risco e não os homens, que se consideram livres, independentes, donos das mulheres e do mundo. Duvido que uma mulher bem casada. Que tem um marido honesto e compreensivo, procure outro, a não ser que seja mesmo uma tarada.
            Chico Croatá se foi, mas, pensando naquelas coisas  a respeito das mulheres. Na verdade era esquisito que não tivesse dado atenção ao chamado belo sexo. Refletia que todo mundo andava até se matando por causa delas. Deveria ter mesmo qualquer coisa especial. E o que lhe custaria experimentar. Deveria se ajeitar, cuidar-se mais, roupas melhores, cabelo cortado, penteado, alpercatas novas e cara raspada. Talvez assim as donas ouvissem e gostassem dele. Quem podia saber se aquela sua inquietude não fosse mesmo falta de mulher. O diabo não perdia oportunidade para mexer e atormentar as pessoas. Ele sabia que não era doido, mas andava perto, segundo diziam.
            Croatá passou a olhar para as mulheres como se nunca as houvesse visto. Achava-as  atraentes, mas nenhuma parecia querer nada com ele. No entanto insistiu, perseverou, até que um belo dia uma delas tirou fino com ele. Chegou-se e foi se chegando, conversinha vai, conversinha vem, e travou-se no namoro. Do namoro ao noivado foi um pulo e do noivado ao casamento, um pulo ainda mais rápido. Oito dias depois, Croatá já era outra pessoa, mas revoltado com sua vida anterior. Não podia atinar como havia sido tão idiota. Bem que o chamavam de doido. Mas concluíra que não havia sido apenas doido, tinha sido o pai de todos os burros. Viver sem mulher até aquela idade era coisa para não se contar a ninguém. Mulher era a coisa melhor que Nosso Senhor Jesus Cristo havia fabricado.
            E chegava a discutir com os amigos, afirmando que a mulher dele, a Corina, era muito melhor do que a mulher de qualquer cristão batizado ou não.
            - Que nada, é só impressão tua.
            - Duvido! Pode ser igual.
- Mesmo assim, tenho certeza que não é. Vou te levar acolá a um cantinho para conheceres outras mulheres. E então verás que toda mulher tem um saber diferente.
            - Não, Deus me livre. Igual à minha não existe outra.
            - Tolice tua. Não acredito que a tua seja esse disparate todo.
            - Não acreditas, não é? Pois bem, só se sabe provando. Aparece lá em casa experimenta. Mas vai lá quando eu não estiver em casa. Deixarei tudo acertado. Depois me dirás se tenho ou não razão.
            Separaram-se. E Salustiano, chegou à conclusão de que Croatá era muito mais doido do que diziam. Doido varrido.
            E como não desejava decepcionar o amigo, não faltou no dia seguinte. Precisava ser correto com o amigo tão caridoso. Além disso, não devia brincar com doido.
            - Então! Que tal, é ou não é o que lhe disse.
            - Olha amigo Croatá, mulher igual à tua não existe mesmo.
            - A minha é um sabão da terra. A tua não tem comparação. Meus parabéns. É um homem de muita sorte. Um felizardo.
            - Pois é, volta lá quando quiseres. Amigo merece tudo. Agora tem uma coisa. Quero conhecer a tua mulher, pois não acredito que seja tão aguada como me dizes. Acerta com ela direitinho para amanhã.
            - Vê bem, Croatá, já te disse que minha mulher não tem gosto de nada e quem tem uma igual à tua, não cai na bobagem de experimentar outra.
            - Irei assim mesmo. Quero só tirar uma dúvida. Sabes como é. Doido tem cada idéia. Amanhã, amanhã mesmo. Amigo é para servir os amigos...
           
 Em 17.7.1986.

*O conto pertence ao livro “Vidas Nordestinas”, no prelo.

segunda-feira, 13 de maio de 2013


Hoje faz 125 anos que a Princesa Isabel sancionou a Lei Áurea, de nº 3.353 de 13 de maio de 1888.Trago minhas homenagens através dos versos do poeta Castro Alves.


Grijalva Maracajá henriques

O NAVIO NEGREIRO
Tragédia no Mar
’Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — doirada borboleta —
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta!
’Stamos em pleno mar. Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias
— Constelações do líquido tesouro...
’Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dois é o céu? Qual o oceano?...
’Stamos em pleno mar... abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem?... Onde vai?... Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste Saara os corcéis o pó levantam
Galopam, voam, mas não deixam traço
Bem feliz quem ali pode nest' hora
Sentir deste painel a majestade!...
Embaixo — o mar... em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meus Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! Ó rudes marinheiros
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! Esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia...
Orquestra — é o mar que ruge pela proa,
E o vento que nas cordas assobia...
Porque foges assim, barco ligeiro?
Porque foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu, que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviatã do espaço!
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas...
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?...
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! Que a noite é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como um golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
Às vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de languor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor.
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente
— Terra de amor e traição —
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos do Tasso
Junto às lavas do vulcão!
O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou —
(porque a Inglaterra é um navio
que Deus na Mancha ancorou)
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando orgulhoso histórias
De Nelson e de Aboukir.
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir...
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga iônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu...
...Nautas de todas as plagas...!
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu....
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais, ainda mais.... não pode o olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador
Mas que vejo eu ali... que quadro de amarguras!
Que cena funeral cantar!... Que tétricas figuras!...
Que cena infame e vil!... meu Deus! Que horror!
Era um sonho dantesco... O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
 Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
 Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas, espantadas
No turbilhão de espectros arrastadas,
 Em ânsia e mágoa vãs.
E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
 Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
 E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
 E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
 Cantando, geme e ri
No entanto o capitão manda a manobra
E após, fitando o céu que se desdobra
 Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
 Fazei-os mais dançar!...”
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da roda fantástica a serpente
 Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as sombras voam...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
 E ri-se Satanás!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar! porque não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós,
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são?... Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa musa,
Musa libérrima, audaz!
São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz.
Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados,
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão...
Homens simples, fortes, bravos...
Hoje míseros escravos,
Sem ar, sem luz, sem razão...
São mulheres desgraçadas
Como Agar o foi também
Que sedentas, alquebradas
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N' alma – lágrimas e fel. 5
Como Agar sofrendo tanto
Que nem o leite do pranto
Têm que dar para Ismael...
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram — crianças lindas,
Viveram — moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus...
... Adeus! ó choça do monte!...
... Adeus! palmeiras da fonte!...
... Adeus! amores... adeus!...
Depois o areal extenso...
Depois, o oceano de pó...
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p’ra não mais s’erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d’amplidão...
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... Cum’lo de maldade,
Nem são livres p’ra... morrer...
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim roubados à morte,
Dança a lúgubre coorte 6
Ao som do açoite... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar, porque não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...
Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do Sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
... Mas é infâmia demais... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

S. Paulo, 18 de Abril de 1868.
Castro Alves

Reunião do Instituto



PROVÍNCIA DA PARAHYBA DO NORTE 

SERTÃO DOS CARIRYS DE FORA 

VILLA REAL DE SÃO JOÃO DO CARIRY 

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAPHICO DO CARIRY 

CASA DE JOSÉ LEAL RAMOS 


SAIBAM TODO (A)S QUE NO DIA DEZOITO DE MAIO DO ANNO DOUS MIL E TREZE DA GRAÇA DO NOSSO SENHOR JESUS CHRISTO REALIZAR-SE-Á NA VILLA REAL DE SÃO JOÃO DO CARIRY REUNIÃO ORDINÁRIA E DE ANIVERSÁRIO DA VILLA REAL DE SÃO JOÃO DO CARIRY OBEDECENDO A SEGUINTE PAUTA:

8:00 H - RECEPÇÃO NA SEDE DO IHGC PELA PHILARMÔNICA N.Sª DOS MILAGRES

8:30 H – VISITA AO MUSEUM REGIONAL DO CARIRY BALDUÍNO LELLYS

9:00 H – CAFÉ DA MANHÃ CLUBE MUNICIPAL
9:30 H - COMPOSIÇÃO DA MESA/HINO NACIONAL/MUNICIPAL/PADROEIRA
9:45 H - RECEPÇÃO AOS CONVIDADOS PELO INTENDENTE DA VILLA DE SÃO JOÃO DO CARIRY MARCONE MEDEIROS
10:00 H - HOMENAGEM AO CONFRADE FALECIDO DORGIVAL TERCEIRO
10:15 H - LANÇAMENTO DE LIVROS:

-MANEJO DE PLANTAS XERÓFILAS NO SEMIÁRIDO. COORDENADORES FREDERICO CAMPOS PEREIRA; MARISTELA DE F. S. SANTANA; DANIEL DUARTE PEREIRA; ANNY KELLY DE OLIVEIRA LIMA; RICARDO PEREIRA VERAS

-A FRONTEIRA DA EXISTÊNCIA-O QUE VÍ DO LADO DE LÁ E O QUE FIZ DO LADO DE CÁ... AUTOR BOB MOTTA

-DIAMANTE BRUTO: HISTÓRIA, POLÍTICA, EDUCAÇÃO E CULTURA NO SERTÃO PARAIBANO. AUTOR FANCISCO PEGADO

- EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO BÁSICA ÀS ESPERIÊNCIAS EDUCATIVAS NO CONTEXTO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO. ORGANIZADORES FRANCISCO PEGADO E MICHELE SATO

-EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DA PRÁTICA EDUCATIVA A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NO SEMIÁRIDO PARAIBANO. ORGANIZADOR FRANCISCO PEGADO

-EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O SEMIÁRIDO. ORGANIZADOR FRANCISCO PEGADO

-EDUCAÇÃO AMBIENTAL: FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NO BIOMA CAATINGA. AUTOR FRANCISCO PEGADO

-BIOMA CAATINGA: ECOLOGIA, BIODIVERSIDADE, EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS. ORGANIZADOR FRANCISCO PEGADO

- CIÇO DE LUZIA. AUTOR EFIGÊNIO MOURA

11:15 H - LANÇAMENTO DO DOCUMENTÁRIO BOA VISTA: FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS. 1938-1962. DIREÇÃO CONFRADE FLÁVIO ALEX

11:35 H – LANÇAMENTO DO HINO DO IHGC PELO SÓCIO HONORÁRIO RONIERE SOARES

11:50 H – DECLAMAÇÕES E IMPROVISOS PELOS POETAS ZÉ DE CAZUZA, ENOQUE FERREIRA E FELIZARDO NUNES

12:30 H –ENTREGA DE TÍTULOS DE SÓCIOS HONORÁRIOS

POR FAVOR, INDO OU NÃO, RESPONDAM A ESTA MENSAGEM PARA TERMOS A CERTEZA QUE A RECEBERAM

A DIRETORIA

P.S. A PARTIR DESTA MENSAGEM PODEM UTILIZAR TAMBÉM MEU NOVO ENDEREÇO ELETRÔNICO PARA RESPOSTAS E CADASTRAMENTO: DANIELKIRIRY@HOTMAIL.COM

sábado, 11 de maio de 2013


PEDRA DO REINO



*




Grijalva Maracajá Henriques**
TEMPOS MORTOS
Reportagem do passado
Tragédia na Pedra do Reino
Maio de 1838

                Pedras. Silenciosas testemunhas, da extravagante força da fé de um povo, isolado, pobre, faminto, - d’água, comida e esperança, - recorreram ao imaginário para aliviar as frustrações que a realidade lhes impôs.  Influenciados por idéias antigas de um esquisito filho de índia e um aventureiro; que usou da fé religiosa, associado a uma fracassada vontade de ser um paladino para praticar, através da lenda sebastianista, verdadeira loucura, até então nunca vista, e criar seu próprio reino do centro do Sertão Nordestino. As torres para ele eram catedrais, faróis que iriam iluminar seu pretenso reino, e que ao mesmo tempo desencantar o reino perdido de D. Sebastião, para quando este surgisse magnanimamente desencantado, pelo menos, o elevasse como uns dos seus príncipes guerreiros.
No dia 14 de maio de 1838, faz exatamente 175 anos, que teve início à matança discriminada de crianças, adultos e até cachorros para acalmar a consciência esquizofrênica de um mameluco, e seus parentes, como uma espécie de “epidemia vesânica de caráter religioso” ou “loucura transmitida às multidões” que os acompanhavam, como dizia Nina Rodrigues, “uma loucura epidêmica.”
Fôra mais ou menos assim que tomei conhecimento pela primeira vez, através de uma tia de minha esposa: Beatriz Pereira Neves, historiadora moradora de Jardim – Ceará, filha de uma das testemunhas que assistiu a chegada do vaqueiro-fugitivo, na fazenda de seu tio o Major Manuel Pereira da Silva, que com seus irmãos e amigos colocaram fim naquela absurda matança ocorrido entres os dias 14 a 18 de maio de 1838.
Como estudante no curso de Licenciatura em História, logo me apaixonei pelo tema. Fiz entrevista com a dona Tatiz, (gravada em fita cassete) conversei bastante com o ilustre Médico/Historiador Napoleão Tavares Neves de Barbalha - Ceará, também da família Pereira, que gentilmente enviou todo material pertinente a genealogia dos Pereiras e principalmente dos fatos da Pedra Bonita.
Tomei coragem e nos desviamos do roteiro inicial que íamos e nos aventuramos por estradas carroçáveis entre São José de Belmonte e o reino encantado para redescobrir as curiosas pedras. Realmente são encantadoras (também acho que tem alguém encantado por lá...) passei uma manhã tirando fotos e pisando de leve para não abafar e talvez ouvir sons que não fossem das folhas dos catolezeiros: como choro de criança, latidos agoniados de cães, gritos de “Viva El Rei”, berreiros de homens e mulheres sendo trucidados, pelos Ferreiras, primos e irmãos do primeiro “rei” da Serra Formosa.
Resolvi então pesquisar mais profundamente as causas que levou a tanta violência o sebastianismo no Nordeste. Achei várias interpretações sociais, políticas, culturais e outras mais. No entanto, findei optando por um caminho que me conduziu  ao meu Artigo Científico no curso de Especialização em História do Brasil e da Paraíba, no momento oportuno apresentarei e postarei neste mesmo blog.

*Nas fotos aparecem o autor, sua esposa e filha.
**O autor é historiador e pesquisar.